Não foi uma vitória qualquer, foi uma daquelas vitórias que resistem à erosão do tempo. Mais do que relançar a equipa na Liga dos Campeões alimenta a história, como poucas, a história do clube.
MONTE CARLO — É fácil e preguiçoso descrever, assim de início e em menos de um fósforo, a vitória do Benfica como épica. E, no entanto, cá estamos a dizer que se não foi andou pelo menos perto de ser. Ficará ao critério de cada um. O que é certo é que, para começar, relança o Benfica na qualificação para a fase seguinte da Liga dos Campeões. E também é certo foi grande noite europeia dos encarnados, daquelas que resistem à erosão do tempo e que alimentam, com grandeza, a história do clube. Sentiu isso quem festejou, e como festejou nas bancadas, e quem esteve lá dentro. Foi uma vitória imperfeita e, também por isso, só a eleva, porque obrigou a equipa a superar contrariedades.
Foi uma vitória num jogo carregadíssimo de emoções, com duas equipas a querer ganhar ganhar, com velocidade e perigo constantes, com oportunidades, com golos validados e golos anulados, com incertezas e dúvidas, com lances bonitos e erros dramáticos, com uma expulsão validada e outra protestada, com mudanças no controlo do jogo, com grande ambiente nas bancadas, com o Benfica a vencer depois de duas vezes em desvantagem.
Mesmo com o conforto de três vitórias e um empate nos quatro primeiros jogos foi o Mónaco que entrou com urgência de marcar, como se o apuramento dependesse do resultado, superintenso a pressionar a saída de bola do Benfica, a ganhar duelos e a cortar linhas de passe, a sufocar os encarnados, a lançar vagas fortes e rápidos de ataque, a criar oportunidades e a marcar aos 13’ depois de uma saída velocíssima para o contra-ataque que nasceu de uma falha de pressão dos encarnados que desequilibrou a equipa a deixou caminho livre para a baliza de Trubin.
O Benfica demorou a encontrar-se — passes errados, no início da construção ou já no meio-campo adversário, dribles falhados e pouca bola. Começou a reagir depois dos 15’, a encontrar referências de saída para o ataque e a chegar à baliza. Aos 16’ Pavlidis teve uma oportunidade, mas estava em fora de jogo, aos 18’ as águias beneficiaram do primeiro canto e, nesse período, o jogo estava aberto, descontrolado e produzia faíscas nos duelos.
O Mónaco, no entanto, esgotou o combustível inicial ao mesmo tempo que o Benfica ganhou confiança e serenidade e, mesmo sem o conforto de quem domina um jogo, assumiu a iniciativa. O Benfica foi crescendo na construção ofensiva e na recuperação da bola, o Mónaco intimidou-se e sentiu o perigo, cometeu erros. À meia hora já o Benfica tinha tomado conta das operações — Carreras quase marcou 32’ num remate que sofreu um desvio de um defesa, Di María foi isolado por Ben Seghir e permitiu a defesa de Majecki aos 37’, Otamendi cabeceou com perigo no canto logo a seguir, Akturkoglu esteve perto de empatar aos 40’, num lance que nasceu de uma falta que deveria ter valido a Carreras o segundo amarelo. Por essa altura já o miniestádio da Luz fervia com iminência de golo. Que, porém, não chegou, mas alimentou, antes do intervalo, a esperança dos benfiquistas nas bancadas.
Os primeiros 10’ da segunda são de loucos. Embolo rematou ao poste de Trubin, um minuto depois o Benfica empatou por Pavlidis, que aproveitou um corte de Caio Henrique para a terra de ninguém, antecipou-se a Majecki e rematou sem alguém pela frente. No minuto seguinte Akliouche também marcou, mas estava fora de jogo, quatro minutos depois voltou o Benfica a marcar, mas desta vez foi Di María que estava fora de jogo antes de fazer o passe para Bah. Uf, quem conseguia respirar? E logo a seguir Singo foi expulso.
O lance acabou por arrefecer o jogo. Lage tentou mexer nele para ganhar, substituiu Florentino e Pavlidis por Amdouni e Arthur Cabral, aos 65’. Aos 67’ já estava a perder outra depois de Magassa ter surgido na área do Benfica para marcar um penálti em movimento. O Benfica acusou o golo e foi depois o Mónaco a ameaçar Trubin, uma, duas e três vezes, mesmo com menos um. Teria forças para tanto e para mais? Foi tendo porque o Benfica voltou a falhar, partiu-se em dois quando perdeu a bola. Mas voltou a renascer como fénix e voltou a empatar, depois de um grande cruzamento de Di María para grande cabeceamento de Di María. Depois só deu Benfica. E deu para Di María encontrar Amdouni e este marcar o golo da vitória. E que vitória.
DESTAQUES:
A figura do Benfica: (8)
Depois dos dois golos ao FC Porto e dos três ao Estrela da Amadora, acreditou-se que esgotara os remates certeiros. E a ideia confirmou-se aos 35', quando, isolado pela esquerda, rematou forte, mas o pé de Majecki evitou o 1-1. Aquela possibilidade no pé esquerdo do Di María dos dois últimos jogos, era golo certo. Porém, se não era dia de golos do craque de Rosário, era dia de assistências. E bastaram quatro minutos para que o estonteante e magnético pé esquerdo do argentino colocasse duas bolas na cabeça de Arthur Cabral e de Amdouni. Aquilo, meus caros, nem sequer foram passes. Foi obrigar brasileiro e suíço a colocarem a bola no fundo da baliza. Não havia outra hipótese, perante aqueles passes longos, se não que ambos marcassem. Se Di María esteve em grande nos jogos com FC Porto e Estrela da Amadora, agora foi a vez de Ángel Fabián aparecer. Um e outro personificam um dos mais talentosos futebolistas que passaram por Portugal nas últimas largas épocas. O primeiro andou a marcar golos, o segundo dedicou-se no Mónaco às assistências. Vejam e deliciem-se, que pode não durar muito mais...
Depois dos dois golos ao FC Porto e dos três ao Estrela da Amadora, acreditou-se que esgotara os remates certeiros. E a ideia confirmou-se aos 35', quando, isolado pela esquerda, rematou forte, mas o pé de Majecki evitou o 1-1. Aquela possibilidade no pé esquerdo do Di María dos dois últimos jogos, era golo certo. Porém, se não era dia de golos do craque de Rosário, era dia de assistências. E bastaram quatro minutos para que o estonteante e magnético pé esquerdo do argentino colocasse duas bolas na cabeça de Arthur Cabral e de Amdouni. Aquilo, meus caros, nem sequer foram passes. Foi obrigar brasileiro e suíço a colocarem a bola no fundo da baliza. Não havia outra hipótese, perante aqueles passes longos, se não que ambos marcassem. Se Di María esteve em grande nos jogos com FC Porto e Estrela da Amadora, agora foi a vez de Ángel Fabián aparecer. Um e outro personificam um dos mais talentosos futebolistas que passaram por Portugal nas últimas largas épocas. O primeiro andou a marcar golos, o segundo dedicou-se no Mónaco às assistências. Vejam e deliciem-se, que pode não durar muito mais...
Trubin (6) - Adiou por milésimos de segundo o primeiro golo do Mónaco, desviando remate cruzado de Vanderson, mas já não conseguiu evitar o golo de Ben Seghir. De resto, nem sequer teve muito trabalho, mas, quando o teve, não cometeu erros.
Bah (6) - Muitas dificuldades iniciais para tapar os caminhos para a baliza de Trubin, tal como, aliás, de quase todos os jogadores do Benfica. Foi subindo de rendimento ao longo dos jogo e bem merecia que aquele golo que marcou de pé esquerdo, quase a abrir o segunda parte, não tivesse sido anulado por fora de jogo de Di María no momento da assistência do argentino.
Tomás Araújo (7) - Claramente o jogador em melhor forma da defesa do Benfica. Mesmo usando uma coxa elástica na perna esquerda, foi sempre o 112 que socorria à esquerda, à direita e ao meio. Há falha de Bah? Ele vai lá. É Otamendi que falha? Vai lá ele. O Carreras falha? É ele que vai. Florentino falha? É também ele que vai lá.
Otamendi (6) - Não está ao nível do Otamendi do Mundial-2022, nem ao nível dos primeiros tempos de Benfica. Porém, o nome de Nicolás Hernán Gonzalo Otamendi continua a impressionar, sobretudo os adversários. Duas ou três falhas defensivas poderiam ter manchado o rendimento do argentino, mas nenhum deles colocou em perigo a baliza de Trubin.
Carreras (6) - Muitos problemas defensivos, sobretudo nos primeiros 45 minutos. Teve muita sorte em não ter sido expulso ainda na etapa inicial, mas depois foi subindo de rendimento e tornou-se importante na forma como o Benfica atacou nos últimos minutos.
Aursnes (6) - Ajudou a fechar o lado direito da defesa e mais tarde, pelo tempo fora, passou a ajudar nas tarefas ofensivas, embora, tal como os restantes médios, tenha estado demasiado suave durante algum tempo.
Florentino Luís (5) - Amarelado logo ao minuto 5, passou os restantes 40 até ao intervalo a arriscar demasiado, com agarrões e cortes no limite do sensato. Melhorou a agressividade após o intervalo e saiu a meio do segundo tempo, com Bruno Lage a não querer, decerto, correr mais riscos.
Kokçu (6) - Demasiado passivo nas piores fases do Benfica, embora, pelo meio, tivesse arrancado algumas aberturas muito perigosas. Melhorou um pouco na entrada da segunda parte, mas deixou que Mangassa, no remate para o 2-1, o fizesse sem qualquer oposição.
Pavlidis (7) - Sim, falhou golo certo, embora em posição de fora de jogo; sim, poderia ter dado melhor direção a um remate de cabeça; sim, parece por vezes demasiado trapalhão. Porém, sim, sim, sim, só ele acreditou que poderia ter sorte naquele atraso insólito de Caio Henrique para Majecki. E teve: sorte e crença. Primeiro teve crença, depois teve sorte. E marcou um dos golos mais fáceis da carreira. Mas aquela crença valeu muito, muito...
Akturkoglu (6) - Tentou muito, mas conseguiu pouco. Procurou ser uma espécie de ala pelo lado esquerdo. A abrir a segunda parte teve cruzamento perfeito para o desvio quase perfeito de cabeça de Pavlidis. Nada expedito, porém, a fechar a zona central da área do Benfica, o que permitou que Magassa fizesse o 2-1 sem ponta de pressão.
Arthur Cabral (7) - Quatro golos em 2024/2025. Golo no Bessa aos 90+1. Golos ao Estrela da Amadora aos 86 e 90. Golo ao Mónaco aos 84. O brasileiro está a especializar-se em saltar do banco e marcar golos nos últimos minutos. Além disso, golos esteticamente bem bonitos. Pode não ser titular, mas tem toda a confiança de Bruno Lage e está a ganhar a confiança dos benfiquistas.
Amdouni (7) - Entrou e, tal como Arthur Cabral, marcou de cabeça após passe de Di María. Teve ainda mais duas ou três boas movimentações, mas sem êxito. O ponto alto, claro, foi o golaço que transformou a igualdade no 3-2 final.
Leandro Barreiro (-) - Pouco mais de cinco minutos em campo para ajudar a defender e para ver a obra de arte de Di María no golo de Amdouni.
Rollheiser (-) - Poucos minutos em campo, mas a satisfação de ter substituído o compatriota Ángel Fabián Di María (a negro para se ver bem!).
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