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domingo, 24 de novembro de 2024

TODAS AS VÉNIAS POSSÍVEIS A UM DEUS MAIOR DA BOLA




Ao minuto 18 já o Benfica tinha resolvido a eliminatória com o Estrela da Amadora. Di María fez três golos e uma assistência. Arthur Cabral esteve muito perdulário, mas ainda teve acrobacia para bisar.
As saudades da Argentina são a felicidade do Benfica. Enquanto a seleção de Lionel Scaloni vai pesando a ausência de Di María – apenas três vitórias em seis jogos desde a retirada de Ángel -, o Benfica beneficia por ter ainda o craque, e agora a tempo inteiro.
É verdade que Otamendi também teve lugar no onze de Bruno Lage, mas talvez o mesmo não tivesse sucedido com Di María – pelo menos com tanta frescura - se este tivesse andado igualmente a viajar por Assunção e Buenos Aires nos dias anteriores. Ficou em Lisboa, trocou o avião pela bicicleta, e assim, num registo mais ecológico, conduziu o Benfica aos oitavos de final da Taça de Portugal.
Ao minuto 18 já Di María tinha completado o hat trick mais rápido da carreira, que teve como ponto alto um golaço – o segundo - de pontapé de bicicleta. Mais uma obra de arte para a notável galeria que é a carreira de Fideo.
A eliminatória ficou arrumada logo aí, por força dessa entrada autoritária do Benfica, mesmo com cinco alterações na equipa inicial relativamente à goleada no clássico com o FC Porto. Uma das novidades foi Samuel Soares, que ainda brilhou três vezes na baliza encarnada, mas o 5x4x1 do Estrela da Amadora de José Faria mostrou-se demasiado frágil na Luz.
Em 4x3x3, com Aursnes sempre como guarda-costas de Di María, e desta feita com Rollheiser na meia-esquerda, o Benfica jogou a seu bel-prazer, com facilidade a ultrapassar a primeira linha defensiva do adversário e depois, a explorar triangulações – Carreras/Rolheiser/Beste e Bah/Aursnes/Di María – para criar inúmeras situações de finalização.
Arthur Cabral foi para o intervalo a lamentar um falhanço incrível, mas Akturkoglu, lançado ao intervalo, mostrou a eficácia habitual ao assinar o quarto golo benfiquista (59'). Depois dos três golos marcados, Di María ainda fez a assistência para o golo do turco, antes de abandonar o encontro.
O Benfica nunca baixou (muito) a intensidade, até pela qualidade dos jogadores que foram entrando. Bruno Lage promoveu a estreia do lateral Leandro Santos, mas ao mesmo tempo lançou Kokçu e Amdouni, os dois jogadores que desenharam o quinto golo: notável passe do internacional suíço a servir o avançado suíço na área.
Vangelis Pavlidis é que não saiu do banco, embora tenha chegado a fazer exercícios de aquecimento. Bruno Lage foi sensível ao momento de Arthur Cabral, mesmo depois de ver o avançado brasileiro desperdiçar três golos (que pareciam) feitos. O próprio público da Luz, tranquilizado pelo marcador, incentivou o avançado brasileiro nos momentos de desacerto, e acabou por ter retribuição dupla, já nos minutos finais. Porventura inspirado em Di María, o ex-Fiorentina fez o 6-0 com um remate acrobático na área, após jogada de Schjelderup, e fechou as contas com uma finalização fácil, após defesa incompleta de Meixedo.
Garantido o apuramento com estrondosa goleada a uma equipa do mesmo escalão, o Benfica não só conseguiu prolongar o estado de graça decretado frente ao FC Porto, como pode ainda ter revitalizado uma opção de ataque.
DESTAQUES:
Exibição monumental de Di María escancarou as portas à goleada. Muitos num plano elevado. Arthur Cabral falhou, falhou e voltou a falhar até se redimir.
O melhor em campo: Di María (9)
Quem gosta de futebol é impossível ficar indiferente ao que fez Di María, um deus maior da bola que merece todas as vénias. Abriu as hostilidades com um remate em arco de pé esquerdo. Depois, como que o tempo parou para aquele instante por volta das nove da noite no Estádio da Luz: em plena área do Estrela da Amadora, de costas para a baliza, levantou a bola com o seu imaculado pé esquerdo e aplicou uma monumental bicicleta que até o companheiro de equipa Florentino espantou. Como ainda não estava satisfeito, ainda bateu mais uma vez Francisco Meixedo, desta vez com um remate de pé direito. E ainda só estavam decorridos 18 minutos de jogo. Depois disso, uma assistência para o quarto. Pelo meio, fez uma letra no lance do primeiro golo mas foi intercetada. Mas, mesmo à beira dos 37 anos, há uma letra que lhe ficou colada à pele: G. Sim, g, de génio.
7 Samuel Soares — Reapareceu na baliza encarnada depois de ter sido titular no primeiro jogo encarnado na Taça de Portugal, diante do Pevidém e mostrou-se em bom plano, começando o rol de intervenções parando um remate forte de Rodrigo Pinho. Depois foi Nilton Varela (34) a colocá-lo a prova e mais uma vez correspondeu com qualidade. O Estrela cresceu um pouquinho no início da segunda parte mas não se atemorizou e efetuou uma enorme defesa a remate de André Luiz, quando o brasileiro rematou na pequena área.
7 Bah — Se esteve lesionado na seleção dinamarquesa pouco ou mesmo nada se notou. Grande disponibilidade física para fazer todo o corredor direito e cruzamentos bem medidos para a área, sobretudo aos 37 e à beirinha do intervalo (45). Os companheiros de equipa desperdiçaram a oportunidade de aumentar a vantagem para o Benfica naquela ocasião sobretudo Arthur Cabral, mas nesse aspeto já a culpa não é dele porque a sua responsabilidade foi cumprida.
6 António Silva — Praticamente não se deu por ele, o que não quer dizer que não tenha cumprido com o que lhe foi pedido.
6 Otamendi — A noite descansada apenas teve um momento de maior frisson quando assinou por baixo um grande corte 56’ impedindo um estrelista de alvejar a baliza de Samuel Soares.
7 Carreras — Parece uma locomotiva pelo lado esquerdo, em vaivéns constantes que cansam só de ver. Abre novos mundos à sua equipa pelo lado canhoto.
7 Aursnes — O norueguês tem uma capacidade que parece inata de descobrir latifúndios onde para outros há um riscão de terreno, como se viu nos lances do primeiro e do terceiro golo, desbravando caminho entre a floresta de pernas do Estrela.
7 Florentino — Cumpriu com o caderno de encargos que lhe foi entregue em termos defensivos e ainda teve tempo para um grande passe para Arthur Cabral (32) e outra assistência para o brasileiro fruto do remate que valeu a recarga vitoriosa.
5 Rollheiser — Na primeira parte ainda esteve num plano aceitável mas desceu muito de produção após o intervalo, tendo ainda sido poupado a uma expulsão que, num jogo com VAR, era um dado praticamente adquirido, após uma entrada muito feia sobre André Luiz.
7 Arthur Cabral — Falhou, falhou, falhou e voltou a falhar até que teve o momento Ibrahimovic e marcou um golo muito bom (81) e, depois disso, outro fácil. A ver vamos se é desta que se vai a crise de confiança que atravessa. Ou atravessava. Será uma questão de em que tempos se conjugam os verbos. Pelo menos, aplausos já arranca, não só pelos golos mas também por uma arrancada conseguida aos 55 em que, em esforço, passou pelo defesa contrário mas, na cara de Meixedo, atirou para as nuvens.
5 Beste — Pareceu sempre desenquadrado do jogo e ainda conseguiu colocar na bancada um remate (45’) em que tinha tudo para ser feliz. Ficou-se por fazer apenas meio jogo.
7 Akturkoglu — O turco é daqueles que não se conforma. Começou o jogo no banco, entrou para a segunda parte e logo aos 46 já estava a tentar o golo, algo que conseguiu aos 59, quando conseguiu dar a pincelada final a uma jogada bem desenhada pelo ataque encarnado.
7 Kokçu — Mais um proveniente do Bósforo que não é de ficar de braços caídos se não entra no onze. O passe para o quinto golo é para ver e rever até à exaustão.
6 Amdouni — Marcou um golo em que grande parte do mérito é do passe de Kokçu.
5 Leandro Santos — Em clima festivo, estreia para um jovem da formação.
6 Schjelderup — Entrou bem no finzinho, mas ainda a tempo de participar no primeiro golo de Arthur Cabral.

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