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sábado, 31 de maio de 2025

BENFICA PRECISA DE UM AMANHÃ PARA ONTEM

 


"Mil Novecentos e Porco:
A festa no Jamor é dos momentos, se não o momento, mais icónico do futebol português. Numa sociedade, num desporto e numa indústria em que tudo muda e as tradições vão se perdendo, uma resistiu, tal como a aldeia do Ásterix e do Óbelix, contra o Império Romano. A final da Taça de Portugal no Jamor. Resiste à natural degradação de um estádio antigo, para não chamar velho, às dificuldades de acessos e segurança dada a envolvência do campo e acima de tudo resistiu ao provincianismo de Pinto da Costa que muito lutou para tirar a final de Lisboa (de forma simbólica, porque como bem sabemos, aquilo nem em Lisboa é).
Foi a primeira vez que vivi algo que cresci a ver e invejar pela televisão. Acordar, ir para lá às 8h e tal da manhã, estacionar o carro já bem longe, andar meia-hora a pé e chegar ao lugar combinado. Um lugar combinado onde em grupos de whatsapp se combinou que comeríamos um porco e beberíamos cerveja. Muita cerveja. Éramos mais de 100 pessoas inscritas, com pulseiras para entrar e o mais incrível foi reparar que conhecia a grande maioria das pessoas (num grupo de 100). O Benfica, mas até numa vertente mais lata, o futebol, permite ser o pretexto para algo que vai muito além das suas fronteiras. Movidos por uma paixão comum, ali estivemos 8 horas até o jogo começar e mais umas horas depois do jogo acabar. Parecem muitas horas? Pois passam a voar. Fala-se de tudo e não se fala de nada. Fala-se do Benfica e fala-se da vida. Fala-se de coisas divertidas e dores profundas. Fala-se com amigos de longa data e amigos de curta data. Fala-se com caras novas e caras que vemos todos os dias. E diz-se asneiras, faz-se parvoíces e guardam-se memórias que serão faladas durante muito tempo. Abençoado futebol.
Mil Novecentos e Noventa e Dez:
Estava tudo a correr tão bem. Ou relativamente bem. Sem fazer uma super exibição, o Benfica foi claramente a melhor equipa em campo no Jamor. Dominou o jogo, criou ocasiões e não permitiu qualquer ocasião ao Sporting. A equipa leonina e a sua bancada pareciam resignadas ou cansadas dos festejos. Chegamos à vantagem, chegamos a dar um check-mate com o 2º golo, mas o VAR veio fazer respiração boca-a-boca ao leão e salvou-os do knockout. Durante os segundos daquele festejo vi o Otamendi a levantar a taça, a festa vermelha no Jamor e tudo estava mais ou menos bem. Na superfície, que na profundeza o Benfica continuaria a ser um clube profundamente doente. Mas seria uma tarde divertida, uma conquista há muito esperada, a que se juntaria a Taça da Liga, ainda com o Mundial por chegar e ficava só a tristeza do falhanço no campeonato.
Mas tinha que acontecer o karma do Benfica. Às vezes parece que há um argumentista portista ou sportinguista que insiste em punir os benfiquistas. Mesmo tão perto do fim, a ingenuidade e a burrice de sempre dos jogadores do Benfica. Tal como tinha sido com o Arouca. Ou com o Barcelona. Ou com o Kelvin. Que outro clube no mundo a vencer uma final aos 90 e muitos minutos sofre um golo de contra-ataque, quando vários jogadores tiveram a oportunidade de fazer falta e parar uma das últimas jogadas do adversário, antes do árbitro terminar o encontro? Seria de arrancar os cabelos, caso o cronista ainda os tivesse. Depois, no prolongamento foi a queda habitual de uma equipa, clube e estrutura que já provou "time and time again" que não tem estofo mental nem competitivo para encher um balão quando ele esvazia. Infelizmente, o Benfica dos últimos 30 anos não tem a capacidade nem de fazer muitas boas épocas, nem a capacidade de vencer troféus importantes em épocas menos boas. Há 30 anos que o Benfica é grande apenas no papel. Pode continuar a ser o maior, mas quase nunca é o melhor.
Mil Novecentos e Comunicado:
Foi chocante a arbitragem. O golo anulado, as decisões sempre a penderem para o mesmo lado, os 10 minutos de desconto e claro aquelas agressões bárbaras ao Belotti. É chocante como o árbitro não viu, mas passar também ao lado do VAR é inaceitável. É o escândalo do ano e tem que ter consequências muito, muito graves. Para o jogador e para o árbitro VAR. É um lance demasiado claro e demasiado decisivo para poder passar impune.
Agora...a reação do Benfica? Aquele comunicado? Perdoem o português mais rasca, mas não me lixem! Depois de meses a dizer aos sócios (em todas as Assembleias, por exemplo, quem lá esteve, sabe que é verdade) que não se pode ir contra a maré, que não se pode ir contra a maioria na auto-estrada, que o caminho é o dos consensos e das alianças, contra a revolta dos sócios e adeptos que diziam que esse é o caminho errado, que quem não sente, não é filho de boa gente, agora uma arbitragem, um lance faz aqueles senhores dirigentes dos bafientos gabinetes do Estádio da Luz em poucas horas virarem o bico ao prego e agora já dizem que são contra a centralização dos direitos televisivos, que a seleção nacional já não joga na Luz e que estão muito revoltados e chocados com a arbitragem, com a Liga e com a Federação? E dizem e fazem tudo isto só depois da época terminar? Agora? Para quê, Rui Costa? Há umas eleições a chegar e ficámos em pânico, não é, caro Maestro e quem te acompanha? O que leva ao próximo ponto.
Mil Novecentos e Quatro:
O mandato de Rui Costa é uma desgraça completa. Conseguiu ainda ser pior Presidente que Luís Filipe Vieira. O Benfica está pior financeiramente, está pior nas modalidades, está pior no seu peso nos círculos de influência, está pior no futebol. Vence apenas 3 troféus em 16 em disputa, apenas 1 campeonato em 4 anos de mandato. Zero Taças de Portugal. Como pode sequer pensar em se recandidatar? Com que argumentos, que não seja o de querer se propagar no poder? Ele e quem o acompanha, muitos há décadas e décadas agarrados aos mesmos lugares de sempre. Aliás, não devia até já ter convocado eleições antecipadas? Se não se recandidata, como vai preparar nova época? Porque lá está...ele vai-se recandidatar. Ou está a ser-lhe muito difícil admitir que não o devia fazer. Ou que pode perder as eleições e sair pela porta pequena. Ainda mais pequena que a que já irá sair.
Basta. Estamos fartos. Somos uma grande massa associativa e queremos apoiar o clube sempre. De forma talvez ingénua, queremos acreditar que iremos ser felizes, que é nossa obrigação não atirar a toalha ao chão antes dos objetivos falhados, mas agora chegou a altura de dizer (mais uma vez) e isto é para ti benfiquista que estás a ler, que não é aceitável andarmos com maus presidentes há 30 anos, andarmos sem conseguir ser de forma consistente os melhores em Portugal, de sermos geridos por merceeiros que todos os anos desfazem a equipa de futebol e infelizmente nalgumas situações, inclusive por pessoas que lesaram financeiramente o clube. Em outubro o Benfica tem que ter o seu 25 de Abril. Uma revolução. Uma página nova. Varrer aqueles bafientos gabinetes todos e entrar finalmente por ali sangue novo. Sangue benfiquista sem vícios e mais competência. Que quem vem com boas intenções se candidate e os sócios optem pela mudança. Esperemos para ver a equipa e o programa de João Diogo Manteigas, Noronha Lopes e mais candidatos que apareçam e votemos em consciência. Mas votemos pela mudança.
Derrotas como a de domingo têm que ser um abre-olhos, permitir ver além da espuma dos dias e tomar novamente consciência que o Benfica continua profundamente doente e precisa de um novo amanhã. Para ontem. Ou quantas mais estaladas são precisas?"

Filipe Inglês, in ZeroZero

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