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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

ORGANIZADO O BENFICA ESTÁ. MAS SÓ MUITO DE VEZ EM QUANDO JOGA À BOLA



O Benfica está na final four da Allianz Cup, mas a vitória por 3-0 sobre o Tondela com que lá chega esteve longe de encantar.
Na terça-feira, em conferência de imprensa, José Mourinho dissera que nesse dia as águias só trabalharam organização ofensiva. Organizados, realmente, estiveram, nestes quartos de final da Taça da Liga. E a vitória foi mais que justificada, considerando que a equipa de Ivo Vieira, mesmo não tendo ido à Luz com bloco muito baixo, ou só preocupada em defender, não criou um lance de golo. Mas faltou bom futebol, e num jogo perante um adversário mais forte, o pouco que o Benfica cria raramente dará para marcar e, consequentemente, vencer.
Mas talvez a organização seja o primeiro passo. A forma como as águias souberam reagir à perda de bola, matando à nascença a maior parte dos contra-ataques do adversário – com Barrenechea, nesse capítulo, em papel de destaque –, é uma mudança refrescante em relação ao que se viu nos últimos tempos na Luz.




Faz sentido que Mourinho comece por aí. Mas é bom que não demore a dar o passo seguinte, o de pôr a equipa a jogar à bola.
Sim, o Benfica teve momentos muito bons. O golo anulado pelo VAR por fora de jogo de um centímetro, por exemplo, a abrir a segunda parte, é uma bela jogada coletiva, com Barreiro a servir Lukebakio e o belga a dar de calcanhar para a finalização de primeira de Sudakov.
O 2-0, de Lukebakio, também – não só as fintas de Ríos na área, mas a forma como o colombiano ganhou espaço para arrancar, em combinação com Pavlidis e Barreiro.
Mas foi quase tudo. Sim, há um bom passe de Aursnes a desmacar Ivanovic aos 30’, com remate cruzado do croata para boa defesa de Cañizares. E há o terceiro golo, recuperação de João Rêgo em zona avançada, cruzamento imediato de Barreiro e finalização perfeita de Pavlidis.




Mas são momentos de qualidade individual, mais do que futebol coletivo. E poucos mais houve.
Aliás, para um Benfica que mudou apenas cinco jogadores no onze, e os que lançou de novo têm sido utilizados com regularidade, não eram corpos estranhos (mesmo assumindo a importância de Pavlidis ou Ríos na equipa), chegar ao fim do jogo com apenas 11 remates contra os suplentes do Tondela (só Medina tinha jogado de início contra o Sporting, para a Liga, no domingo, e saiu lesionado ao intervalo…) é pouco, muito pouco.
Penálti caído do céu
E convém não esquecer a forma como a história do jogo sorriu ao Benfica: com um penálti caído do céu, aos 41’, por mão de Afonso Rodrigues.
A análise da correção da decisão do árbitro deixo para Pedro Henriques, comentador de A BOLA. Mas não gosto de um futebol onde faça sentido aquilo ser penálti. O extremo do Tondela é atropelado por Barreiro; tem o braço aberto, porque está a equilibrar-se no domínio da bola, mas o médio do Benfica está a menos de meio metro dele quando toca a bola na direção da mão de Afonso Rodrigues. O árbitro, na justificação da decisão, referiu que o braço não estava em posição natural; o que não é natural, para mim, é que os árbitros tenham agora de ser especialistas em mecânica do movimento para perceber o que é natural ou não…





Otamendi converteu, trazendo até alguma recompensa justa às águias, que sem terem feito muito já tinham estado perto do golo por Lukebakio e Ivanovic.
Aquele golo brilhante anulado por um centímetro logo a abrir a segunda parte (48’) deu esperança aos mais de 50 mil adeptos que foram à Luz de que o jogo pudesse melhorar de qualidade nos derradeiros 45 minutos. Infelizmente, não foi o caso. Tirando um remate cruzado, um pouco ao lado, de Ivanovic, aos 59’, só na reta final a partida animou, já com Pavlidis, Ríos e Prestianni em campo e com o Tondela a tentar arriscar (na mesma sem criar perigo) um pouco na procura do empate.
Foi isso que deu espaço para o ataque rápido do 2-0, foi isso que ajudou à recuperação em zona ofensiva para o 3-0. Um resultado demasiado gordo para quem tem organização mas pouco futebol.
Hugo Vasconcelos, in a Bola
NOTAS DOS JOGADORES DO BENFICA
exibição do Benfica só escapou ao cinzento a meio da segunda parte, com a entrada do avançado grego. Não foi jogo para grandes exibições individuais, ainda que o Tondela pouco tenha ameaçado no ataque
Melhor em campo: Vangelis Pavlidis, 7
O resultado marcava 1-0 aos 64 minutos quando Pavlidis teve ordem para substituir Franjo Ivanovic e entrar em campo. Além do resultado incerto, o Benfica também parecia ter perdido um pouco o controlo da partida, com o Tondela a aproximar-se mais da sua área. Não foi imediato, porém a equipa de José Mourinho ganhou com o passar do tempo uma referência mais próxima — em termos territoriais e de ligação — do que o croata, capaz de segurar a bola e combinar, alimentando cada vez mais transições. Aos 83', participa ativamente na jogada do 2-0, na qual contribuem ainda Barreiro, Rios e Lukebakio, e no quinto minuto de compensação marcou, de primeira, o terceiro da sua equipa, agora a passe do luxemburguês. No tempo em que esteve em campo fez quase tudo bem.
SAMUEL SOARES (5) — Noite calma. Controlou a profundidade e só fez uma defesa, a fechar.
AURSNES (6) — Dos primeiros a animar o ataque. Lançou Sudakov (4'), que não finalizou, e Ivanovic (30'), com o croata a obrigar Cañizares à primeira boa defesa, e apareceu ele mesmo na frente, como quando não segurou passe letal de Lukebakio, já na área (21'), e não aproveitou a bola longa de Otamendi para cruzar bem para Ivanovic (32'). Sempre em jogo.

ANTÓNIO SILVA (5) — Estava atrasado na jogada mais perigosa do Tondela na primeira parte, num raro erro de Aursnes, que não segurou a bola de frente para a própria baliza. Valeu-lhe a lentidão de Yefrei Rodríguez e a recuperação do resto da equipa. De resto, noite descansada.
OTAMENDI (6) — Disse a Mourinho que queria jogar e carimbou o 250.º encontro pelas águias com o 1-0, de penálti, num pontapé cheio de confiança e manha suficiente para enganar Cañizares. Sempre perigoso nas bolas paradas ofensivas. Lá atrás, tranquilo qb.
DAHL (4) — Nova exibição cinzenta do sueco. Cumpre no seu papel na organização defensiva, porém, mais à frente, é incapaz de desequilibrar. Deixou muitas vezes Schjelderup demasiado só, a lidar com dois ou três rivais pela frente, o que obrigava o norueguês a reciclar muitas vezes a posse.
ENZO (6) — Dominador na maior parte das ações, percebe-se a importância que tem não só como referência defensiva, mas também como elemento determinante para o desdobramento da equipa para o ataque. O passe sai-lhe sempre redondo do pé direito, mas precisa de trabalhar o pior, o esquerdo, e também o excesso de confiança.
BARREIRO (6) — Ofereceu-se à construção e sempre que não o pressionaram ligou-se com os colegas como na jogada do golo anulado por 1 centímetro (!) aos 48' ou mesmo no 2-0, todavia, quando mais apertava à sua volta mais hesitava e a equipa não progredia. Sem bola, voltou a fazer movimentos de rotura para a área, a fim de surpreender, contudo esteve bem vigiado. Ainda assistiu Pavlidis.
LUKEBAKIO (6) — A equipa reconhece-lhe destreza no 1x1 e chama-o muitas vezes a esses momentos, ainda que nem sempre com o espaço necessário para que tenha maior sucesso. Duas boas jogadas no primeiro tempo: aos 13', ultrapassou o rival direto e não conseguiu encaixar o passe com a diagonal de Schjelderup e, seis minutos depois, fintou Vita e rematou contra o corpo de Canizares. Desapareceu até marcar o 2-0, numa simples tapinha.
SUDAKOV (6) — Parece crescer em confiança a nível do passe de rotura. Grande desmarcação de Aursnes aos 23, muito bem a servir Ivanovic perto do intervalo e a libertar Schjelderup antes da hora de jogo. Injusta a anulação do golo que marcou, pela beleza da finalização com o pé esquerdo.
SCHJELDERUP (5) — Demasiado só para poder ter impacto no ataque posicional, ainda que tenha tomado algumas más decisões quando apareceu a conduzir transições. A sua melhor iniciativa surgiu aos 59', quando serviu Ivanovic para o tiro.
IVANOVIC (5) — É avançado de explosão no remate, porém teve guarda-redes atento pela frente aos 30' e, aos 59, atirou ligeiramente ao lado. Pouco alimentado, ainda assim trabalhou.
PRESTIANNI (5) — Mexe sempre com o jogo, pela velocidade que acrescenta, mas precipita-se na tomada de decisão.
RÍOS (6) — Entrou muito bem no encontro. Já depois de carregar a bola em alguns ataque, virou do avesso Afonso Silva antes de oferecer o golo a Lukebakio e ainda obrigou Cañizares a bela intervenção.
JOÃO REGO (-) — Cinco minutos em campo.
TOMÁS ARAÚJO (-) — Entrou para para ser lateral e dar um pouco de descanso a Aursnes.
Luís Mateus, in a Bola

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