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sexta-feira, 28 de novembro de 2025

VAR "AJUDOU" BENFICA E NEM UM COMUNICADO?

 


Primeiro golo do Benfica com Ajax, que nasce de um canto que não deveria ter sido assinalado, deve ser mote não para o absurdo campeonato da verdade desportiva e partir o telhado do vizinho, mas para reflexão ao bom senso...

Um dos grandes problemas no futebol, como na vida, é que se nos prestamos a grandes sentenças ficamos mais expostos . Há uma semana, José Mourinho desabafava ainda a propósito do penalti marcado na Luz a favor do Casa Pia: «Se o VAR não pode interferir quando há um erro daquela dimensão... O que é que o VAR faz? Mais vale acabar com o VAR».
Anteontem, em Amesterdão, se não houvesse VAR o Benfica não teria marcado o golo logo aos seus minutos. Explico: o Benfica está a atacar e Leandro Barreiro recebe a bola em fora de jogo. Por ser no limite, o auxiliar nada assinalou, como manda o protocolo. Se tivesse dado golo, o VAR o anularia. Mas não foi golo, foi canto. O VAR já não podia atuar e do canto resultou o golo do Benfica. Sem VAR, que dá margem ao auxiliar para esperar, não tenho dúvidas: o auxiliar teria sido marcado fora de jogo, que existiu, e não canto.
Há poucas semanas, o Benfica emitia um comunicado duro por, nos Açores, ter sido marcado um canto a favor do Sporting quando foi um jogador leonino o último a tocar antes da bola sair. Um erro claro. Do canto resultou o golo que deu a vitória ao Sporting. Falamos aqui de dois cantos que surgem na sequência de erros de arbitragem, mas só o que favoreceu o Sporting gerou a indignação do Benfica.
Se trago este assunto à reflexão não é para criticar diretamente o Benfica. Muito menos para entrar na discussão de deve e haver. Não quero entrar no campeonato da alegada verdade desportiva. É um exercício impossível e desonesto. Nem todos os erros devem ser valorizados da mesma maneira e nem todos têm as mesmas consequências.
Prefiro dizer que a verdade está no cabeceamento do Hjulmand no jogo do Sporting com o Santa Clara e no grande golo de Dahl em Amesterdão. Não foram os erros de arbitragem que deram em golo, foi o mérito dos marcadores. De resto, mesmo com o Casa Pia, o Benfica não empatou por causa do árbitro, já que Trubin atá defendeu o penálti. O único erro de arbitragem que tem influência direta no resultado é anular um golo legal. Pode ter peso no resto, mas até um penálti mal marcado por ser defendido...
Trago este lance do jogo do Benfica em Amesterdão apenas porque é o mais recente, já aconteceu o mesmo com todos os clubes. No deve e haver, não digo que fique tudo igual, mas não anda longe. Tal como defendo que só levarei a sério as queixas dos prejudicados quando reconhecerem publicamente os erros em concreto que os beneficiaram. No mesmo tom usado quando são prejudicados.
Quem generosamente me lê sabe que sempre defendi que insistir nos erros de arbitragem têm problemas ainda maiores do que os prejuízos pontuais em determinados jogos. A saber: desresponsabilizar dirigentes, treinadores e jogadores em caso de desaire; aumentar o clima de tensão com repercussão nos adeptos; um ambiente hostil que leva os árbitros a uma atitude cada vez mais fechada e corporativa, criando-se antipatias mesmo que não voluntariamente; desvalorizar o valor do produto futebol.
Não é por embirração especial que a FIFA, a UEFA e a Premier League são duríssimas a aplicar castigos em casos de críticas à arbitragem. É porque tendo os três produtos mais rentáveis do futebol – Campeonato do Mundo, Liga dos Campeões e liga inglesa – associam críticas e suspeitas a perda de valor de negócio.
Os árbitros têm também um caminho a fazer. Maior rigor, maior competência e, acima de tudo, nesta fase, maior uniformização de critérios. Mas, se formos sérios e se tivermos a capacidade de nos colocarmos na pele do outro, os árbitros erram menos do que qualquer ponta-de-lança, guarda-redes, defesa e médios de topo. Erram menos decisões do que os treinadores. Erras menos do que os clubes nas contratações. E, por último, fica até mal a clubes como Benfica, FC Porto ou Sporting criticarem arbitragens, mesmo que com razão, quando defrontam equipas muito inferiores… Se um dos três grandes não tem equipa nem futebol para resistir a um ou outro erro de arbitragem com equipas inferiores… o problema de fundo não estará no árbitro.

OBS: uma crónica escrita 👇por um urso
Jorge Pessoa e Silva

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