Páginas

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

JANEIRO ESTÁ JÁ AÍ E O BENFICA PRECISA DE MEXER



 Janeiro nunca foi um mês de sonhos. Nunca foi um mês de revoluções. Janeiro é, quase sempre, um mês de espelhos. O momento em que o futebol devolve aquilo que foi feito, aquilo que falhou e aquilo que a época, com a sua crueza habitual, foi retirando pelo caminho. Sem piedade e sem contexto.

E o espelho que o Benfica encontra nesta altura da época é claro: o plantel precisa de ajustes.
Há uma frase que regressa sempre que se fala do mercado de janeiro, como se fosse um fecho automático de discussão, uma espécie de argumento definitivo: «O Benfica já gastou mais de 100 milhões de euros no verão». É uma frase sonora. Funciona bem em títulos e comentários rápidos. É também uma frase curta de pensamento. Porque o Benfica gastou, sim, mas também vendeu. E porque o futebol não se joga com balanços acumulados nem com memórias seletivas. Joga-se com jogadores disponíveis, com pernas que respondem, com soluções para desbloquear jogos e com respostas para aquilo que o relvado vai exigindo semana após semana.
Janeiro não se explica pelo verão. Explica-se pelo presente.
E o presente do Benfica tem sido marcado por ausências que não são detalhe nem ruído de fundo. São ausências que mexem com o jogo, com o plano e com as opções. Lesões que retiraram profundidade, que obrigaram a adaptações constantes, que empurraram jogadores para fora das suas zonas naturais.
Jogadores importantes que ainda não tiveram a oportunidade de, com todo o seu talento, ajudarem a equipa, como Bah, Bruma ou Manu, este último já de regresso. Embora estas lesões já fossem conhecidas no início da época, não são nomes marginais num plantel de um clube como o Benfica. São peças que fariam a diferença no equilíbrio e na agressividade da equipa.
A isto junta-se o caso de Lukebakio, o último jogador a ser contratado. Chegou com uma pequena lesão e, entretanto, sofreu outra que o tem infelizmente afastado dos relvados, retirando da equação uma solução que poderia ter dado outro fôlego a determinados momentos do jogo.
Soma-se ainda a não afirmação, tão rápida quanto se esperava, de alguns dos reforços de verão. Tem-se visto crescimento. Sentem-se sinais. Mas todos esperávamos uma resposta mais imediata.
Por isso, falar do mercado de janeiro não é falar de falhanço. É falar de contexto. E o contexto nem sempre é simpático. Vamos então a alguns pequenos palpites.
Começando atrás, o Benfica não precisa de inventar problemas onde eles não existem. Na baliza está resolvido. No centro da defesa também. Há qualidade, há experiência, há margem. Há jogos menos conseguidos, como em todas as equipas, mas não há uma carência estrutural. Na lateral direita, o regresso de Bah, a acontecer brevemente, devolve equilíbrio e opção.
A lateral esquerda é diferente. Aqui o Benfica tem de decidir sem hesitações e sem zonas cinzentas. Ou aposta, de forma clara e assumida, em jovens, como por exemplo José Neto, aceitando o erro, a oscilação e o crescimento natural, ou então tem mesmo de ir buscar alguém que chegue e jogue. O que não pode continuar é ter apenas uma opção, que nem sempre oferece ao jogo aquilo de que ele necessita.
No meio-campo, no centro do terreno, apesar do ruído exterior e das discussões recorrentes, não há urgência. Há evolução. Enzo e Ríos têm vindo a crescer de rendimento, jogo após jogo. Manu regressa e acrescenta soluções, intensidade e leitura. E se o Benfica acertar nas peças mais adiantadas, até Aursnes pode ganhar outro papel, jogando mais vezes no centro do terreno. Só um negócio absolutamente fora do comum justificaria mexidas aqui.
O problema do Benfica não está na zona central do meio-campo. Está na dificuldade em romper a maioria das defesas das equipas que, contra o Benfica, jogam com blocos muito baixos e compactos.
E para resolver isso não há volta a dar. O Benfica precisa de extremos. Precisa mesmo, na minha opinião, de dois. Não para compor o plantel, não para criar uma ilusão de profundidade, mas para mudar o jogo.
Jogadores capazes de atuar nos dois flancos, com capacidade técnica, com coragem, com confiança no um para um. Jogadores que não tenham medo de falhar, que obriguem as defesas a abrir, que devolvam largura e agressividade a um ataque que, demasiadas vezes, se torna previsível e fácil de controlar.
Esse reforço teria ainda um efeito silencioso, mas decisivo. Libertar Sudakov. Devolver-lhe o espaço onde pensa melhor, onde decide mais rápido, onde influencia verdadeiramente o jogo. Um número 10 não deve viver encostado à linha. Deve viver onde o jogo mais se constrói e se resolve.
E há ainda uma questão que o Benfica não pode continuar a contornar como se fosse um tabu. A do ponta-de-lança. Ivanovic e Pavlidis oferecem mobilidade, trabalho e pressão na frente de ataque. Mas falta outra coisa. Falta alguém que habite a área. Um avançado mais fixo, mais referência, alguém que permita mudar o registo quando os jogos ficam ainda mais fechados. Não para substituir um dos outros dois, mas para acrescentar. Para dar outra leitura ao jogo quando ele pede outra resposta.
Janeiro serve para isso mesmo. Para acrescentar respostas onde elas faltam.
Com uma condição simples e inegociável: quem vier tem de jogar já. Janeiro não é laboratório nem promessa para daqui a dois anos. É impacto imediato ou não faz sentido.
Claro que estas entradas implicam saídas. Ajustes. Correções. E, bem trabalhado, até pode significar equilíbrio financeiro. Porque reforçar não é gastar por gastar. É gastar melhor. É perceber onde está o problema e atuar sem medo.
Janeiro é isso. Não é corrigir o passado, é proteger o futuro imediato. É dar ao treinador mais do que uma solução para o mesmo problema. É permitir que o jogo não fique preso a um único guião.
O Benfica, em janeiro, não precisa de se justificar. Precisa de se afinar. E quem olha para o jogo percebe que há afinações evidentes a fazer.
Janeiro não é um sinal de fraqueza. É o momento em que os clubes inteligentes escutam o que o futebol lhes está a dizer.
E o futebol, neste caso, está a falar alto.
Hugo Oliveira, in a Bola

Sem comentários:

Enviar um comentário