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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

DADOS PREOCUPANTES


Na temporada anterior, a liga portuguesa registou um recorde de 19 trocas de treinador. Um número anormal de mudanças, que parece ter continuidade ao longo da época em curso. Em apenas 10 jornadas de campeonato já tivemos 5 "chicotadas", registo idêntico ao que se verificou em 2016/17. Um cenário que fragiliza cada vez mais a posição dos treinadores.
A estabilidade no comando técnico é uma coisa cada vez mais rara. Longe vão os tempos em que os treinadores tinham a possibilidade de executar um plano sustentado a médio prazo, incutindo a sua filosofia e trabalhando para o crescimento do clube ao longo de várias épocas. De momento, Rui Vitória e Jorge Jesus, ao serviço de Benfica e Sporting, respetivamente, são os treinadores da liga há mais tempo no mesmo clube (cerca de 2 anos e meio). E só José Couceiro (V. Setúbal), Pedro Martins (V. Guimarães) e Vítor Oliveira (Portimonense) completaram a época anterior no mesmo emblema.
O panorama mudou: há pouca estabilidade e uma pressão imediata para mostrar resultados. Este ritmo de mudanças, muito habitual nos países da América do Sul, parece-se estar a instalar-se no futebol português e supera o cenário presente em Espanha (4 trocas de treinadores), Alemanha (3), Inglaterra (3), Itália (2) e França (1).
Este é um problema que deveria ser analisado por parte da Liga e da FPF. Numa altura em que a escola de treinadores portuguesa é vista como uma referência lá fora, com vários técnicos lusos a liderarem equipas de relevo nas principais ligas europeias e na Liga dos Campeões, esta precariedade que se observa no plano doméstico, em que uma parte significativa dos treinadores nem sequer uma volta de campeonato consegue completar, não beneficia a imagem da classe nem representa o seu real valor, ao nível do conhecimento e competência.
O problema tem sido discutido, sobretudo nos meios de comunicação social, mas até agora ainda não se viram soluções. Parece evidente que a criação de regras específicas (da mesma forma que existem para as transferências de jogadores), que ajudem a regular este mercado de treinadores, seria uma medida importante a considerar.
Alguns dos treinadores despedidos, em entrevistas após a saída, têm vindo a reiterar que estavam a cumprir os objetivos propostos pelas direções dos clubes, o que torna a situação ainda mais difícil de entender. A ideia proposta pelo presidente da FPF de uma formação para dirigentes, bem que poderia ter um ramo relacionado com o treino desportivo, de modo a perceberem melhor o trabalho que é feito pelos técnicos.
Além disso, desportivamente falando, até que ponto se pode considerar correto que um mesmo treinador oriente, ao longo da mesma temporada, duas equipas de uma mesma prova? Porque esta dança de treinadores acaba precisamente por proporcionar este fenómeno de um técnico começar a época numa equipa e acabar noutra.
Boavista, Desp. Aves, Estoril, Paços de Ferreira e Moreirense foram os primeiros a alterar o timoneiro, clubes que curiosamente também fizeram mudanças no banco no decorrer da temporada anterior, o que reflete uma repetição de comportamento (embora no caso dos axadrezados, terá sido Miguel Leal a querer sair).
A estabilidade costuma ser uma variável associada ao sucesso. Mas a pressão sobre os treinadores e a falta de alguma paciência estão a fomentar uma nova mentalidade que lhes diminui a margem de manobra. Seria prudente "travar" este mercado selvagem que se começa a implementar.
O Craque – Redes seguras do leão
A atravessar um excelente momento de forma, muito possivelmente um dos melhores da carreira, Rui Patrício tem sido um jogador nuclear na maior consistência defensiva que o Sporting tem apresentado esta temporada. Mais do que isso, as suas excelentes exibições têm valido pontos e isso diz muito da mais-valia que é para a equipa. O guarda-redes português leva 12 épocas ao serviço do Sporting na 1. ª Liga e é titular da Seleção Nacional. Quase 500 jogos na carreira (495). É hoje um guardião mais completo, experiente e confiante. É uma referência.
A Jogada – Os resultados na Champions
Era uma jornada essencial para o futuro das equipas portuguesas na Liga dos Campeões. O Benfica perdeu em Manchester e agora só uma complexa conjugação de resultados evitará uma saída precoce da montra europeia. O Sporting bateu-se muito bem com a Juventus, mas a malapata do quarto de hora final voltou a aparecer (4 dos 6 golos sofridos na prova surgiram perto do fim). Segue-se agora um jogo vital (Olympiakos) para manter os leões na Europa. Já o FC Porto teve mais razões para sorrir. A vitória sobre o Leipzig coloca os dragões na rota dos oitavos de final, mas num grupo tão equilibrado, nada está garantido.
A Dúvida – Lidar com a fadiga
Está prestes a cumprir-se o primeiro terço de campeonato. Com o desgaste dos jogos a fazer-se sentir nas pernas dos jogadores, assim como o aparecimento dos primeiros castigos disciplinares, chega agora um momento de teste à resiliência e versatilidade dos plantéis. A fadiga acumulada e o surgimento de algumas lesões musculares levam também os treinadores a pouparem jogadores e a terem de recorrer a segundas linhas. O desafio passa por manter o mesmo rendimento. Que resposta darão as equipas após a jornada europeia? Um aspeto importante a ter em conta.
António Oliveira, in Record

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