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sábado, 23 de março de 2019

O FATO DE TREINO DE LAGE


É um facto que tem sido pouco sublinhado mas, desde que no banco do Benfica deixaram de se ver gravatas de riscas horizontais, de um vermelho clarete, a qualidade do futebol da equipa melhorou muito. Não estou com isto a sugerir que as gravatas davam azar, como se de uma mera fezada se tratasse. Bem pelo contrário, a substituição de gravatas de gosto duvidoso por um fato de treino monocromático tem um alcance bem vasto. Um clube com a história e a glória do Benfica pode  e deve obrigar os seus representantes a apresentarem-se com vestes condignas. O ponto é precisamente esse.: a respeitabilidade a que as nossas cores e símbolos obrigam só autoriza dois tipos de vestimenta: fatos do melhor corte e de gosto irrepreensível ou indumentária de trabalho. No fundo, duas possibilidades à imagem do Glorioso - distinto e popular de uma só vez. O patrocinador que desencantou aquelas roupas, que empobreceram a equipa, estava, pelo contrário, numa terra de ninguém do ponto de vista estético. Corte de baixa costura, um cinzento mortiço e as tais gravatas,  de um vermelho que era um nada. O fato de treino que Bruno Lage escolheu usar em todas as circunstâncias é, como tal, uma manifestação profunda da mudança que o técnico trouxe ao futebol. Aliás, de que forma se veste um treinador está longe de ser uma questão marginal. Como me alertou o meu filho, sintomaticamente, na maior parte dos jogos de consola, escolhe-se o treinador que equipa de fato completo ou, lá está, num registo mais operário, usa um fato de treino. Se, hoje, ganhamos em campo não é por força de discursos motivacionais e muito menos por fanfarronices insuportáveis. O Benfica joga bem porque treina bem. Percebe-se nos mais pequenos pormenores: para além da mudança de sistema de jogo e das dinâmicas que agora apresenta, a diferença está, também, na abordagem estratégica a cada partida. Com Seferovic indisponível, a equipa perdeu profundidade e verticalidade. Como é óbvio, Jonas oferece outras coisas (uma qualidade técnica superlativa e uma eficácia na definição sem paralelo). Perante a saída do suíço e o regresso do brasileiro, o treinador teve a capacidade de colocar Rafa e João Félix a fazerem movimentos diferentes dos que fazia Seferovic, com isso trazendo à tona o melhor de Jonas. Lá está, o Benfica melhorou muito porque é em competição o prolongamento do modo como treina. E, por isso mesmo, faz todo o sentido que Lage se apresente em banco com um muito digno fato de treino.
Chamaram-me, aliás, à atenção que em algumas modalidades a tal gravata sobrevive. Com os resultados conhecidos. Fica a recomendação agora que no basquetebol o Carlos Lisboa regressou ao lugar que é seu, peço-lhe que irradie a gravata de riscas horizontais.

Pedro Adão e Silva

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