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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

E CONTRA ONZE, JORGE?



 "Não fosse Jorge Jesus a proferir, na antevisão deste Benfica-Vitória para a Taça da Liga, que o Benfica estaria agora preparado para jogar contra qualquer sistema defensivo, e acharíamos surpreendente que alguém afirmasse neste momento que o Benfica actual esteja preparado para coisa alguma. Talvez sentindo falta da habitual autoridade com que as suas equipas condicionam os adversários, o técnico decidiu adiantar-se à realidade e afirmar (ou desejar) que, agora sim, a fluidez ofensiva e a imponência defensiva fossem capazes de dizimar (ou arrasar) quem lhes aparecesse pela frente. Contudo, e independentemente do resultado, saltaram de novo, e pela enésima vez, as carências habituais, quer no afunilamento ofensivo (cheio de erros técnicos e caminhos duvidosos que só com a corda ao pescoço escolheram os corredores), quer no já recorrente registo extra soft nas divididas.

De facto, grande parte do jogo desta noite assemelhou-se mais a uma partida de walking football do que àquilo que o Benfica precisa para garantir o respeito que os adversários parecem ter perdido por si. Exceptuando aqueles minutos em que a trilha sonora da TSF começou a forçar os encarnados a incluírem intensidade no seu plano de jogo, com o upgrade que foi a utilização dos corredores, nunca a águia conseguiu (e repeti-lo-emos até à exaustão) meter a pata no jogo. De frente para um Vitória com onze, desenhados num 451 preparado para o futsal reumático do Benfica, raramente a águia almejou aquilo que sabemos que o seu técnico deseja. E quando esteve perto de o fazer (exceptuando alguma excitação ao início, e um lance pontual de Taraabt na primeira metade) foi quando decidiu usar os corredores e, porque não é crime, fazer cruzamentos que, aparte de modas, tiveram o condão de encontrar dificuldades não antes vistas no processo defensivo desenhado por João Henriques. Quer por que fixavam os vimaranenses, quer porque dão oportunidades de ganhar segundas bolas, quer porque Darwin ganhou o espaço aéreo com alguma facilidade.

Recepção orientada de Edwards encontrou via rápida para o golo. Mau momento defensivo do Benfica deixa registos para a posteridade em todos os jogos. Aqui, quer no posicionamento, quer no duelo (espaço à frente da linha defensiva; Nuno Tavares dá o meio ao inglês)

Ora, o Vitória – que não entrou com 5, nem com 6, nem com 7 defesas – entrou com 11 solidários conqvistadores que o Benfica teve dificuldades quer em desequilibrar, quer em parar, num momentum favorável que foi aproveitado por Marcus Edwards para mostrar debilidades que aqui, em tempo útil, foram demonstradas. Da jogada do pequeno mago londrino – que encontrou a habitual permissividade encarnada no momento defensivo – nasceu a união entre extremos que, depois, serviu Estupiñan. O golo do colombiano dará origem a títulos pouco simpáticos para com a sobranceria comunicativa de JJ que, desde que retornou à Luz, tem encontrado pouca réplica na performance.

Depois de Taraabt forçar na área, Weigl ganha 2.ª bola e cruza. Alívio permite a Everton ganhar novamente a 2.ª e criar a melhor oportunidade do Benfica na primeira parte. Vitória pareceu sempre mais desconfortável com jogo mais directo e Benfica pareceu encontrar alguma autoridade perdida com o recurso a jogo mais vertical

Assim, menos Weigl mais Pizzi, menos João Ferreira mais Gilberto e menos Rafa mais Pedrinho, o único registo que importará para Jorge Jesus será o forcing intenso que, mais perto do final, se assemelhou a algo que pode fazer alguma mossa em qualquer linha defensiva. Pelo meio, pelos corredores, e a espaços pelo ar, mas – mais importante – com enorme velocidade, com e sem bola, o Benfica pôde disfarçar mais as lacunas e – mais importante também – pôde fazer dançar a organização defensiva de um Vitória que, só aí, duvidou que o Benfica lhe pudesse roubar alguma coisa do jogo. Que o penálti de Pizzi (que empatou a partida) e que os restantes pontapés na lotaria tenham dado a passagem dos encarnados à final-four, acaba (dada a urgência do Benfica em encontrar o seu melhor futebol) por ser secundário. Exibições como a desta noite (em 90% do jogo) e como as que têm sido habituais, ficarão sempre curtas, em maio, para as pretensões das águias.

Da mesma forma que o Vitória foi competente e inexcedível a bloquear o jogo curto do Benfica, os vimaranenses sentiram extremas dificuldades para controlar os cruzamentos e as segundas bolas que daí advieram. Não se trata de algo estético, não se trata de defender que com cruzamentos é que é. Trata-se de fazer notar que, neste jogo em particular, o recurso à largura e ao cruzamento criou as dificuldades que o Benfica necessitaria para ter autoridade territorial e moral no jogo – coisa que nunca teve, especialmente quando recusou também aproveitar a linha defensiva excessivamente alta do Vitória na 1.ª metade."

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