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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

"O BENFICA SALVOU-ME A CARREIRA"



 Este episódio de A Bola Fora é com o Rui Fonte, avançado do Paços de Ferreira. O ponta de lança formou-se no Sporting, mudou-se para o Arsenal, de Inglaterra, e passou por vários clubes, nacionais e estrangeiros, numa carreira ligada ao irmão, José. É em Braga que vive e onde vai continuar a viver. Esta é a sua história, com altos e baixos, como a lesão contraída no Benfica.

Chegas ao Benfica. Acredito que gostasses de mudar a história que tiveste ali. Quão difícil foi para ti estar aquele tempo todo parado, um ano e meio, passar por duas cirurgias, logo na tua grande experiência em Portugal.
Também vinha de um período em Espanha em que queria vir para Portugal. Vinha com entusiasmo e com uma alegria tão grande de poder voltar e para o Benfica, mesmo que fosse para a equipa B. Vinha contentíssimo por voltar para Portugal, para poder voltar para um grande clube. A alegria era enorme e ter esse revés logo no primeiro jogo… Senti tudo o que aconteceu, mas nem imaginava que pudesse ser a lesão que foi, porque não tinha essa experiência, nem sabia o que é que era. Só acreditar. Dizia que estava com a minha família, com o meu pai, com a Inês depois do jogo, e eu dizia, “não, é só aqui uma dorzinha”. Estava com as muletas, que eles deram logo, e creio que pelo toque já pudessem saber o que é que era. Estou a recuperar dessa lesão e no primeiro treino que faço com a equipa, acontece novamente, no mesmo joelho. Foi um período que aproveitei para refletir sobre a minha carreira, sobre o que é que estava a acontecer. Não vinha de um momento bom em Espanha, por variadíssimas razões, e sinceramente olhando para trás e refletindo e nunca ponderei sequer não continuar, que não fosse voltar. Era uma questão de tempo eu voltar a jogar, de voltar a ser feliz. Deu-me tempo para estabelecer as minhas prioridades, acalmar a minha cabeça, porque estava a passar por muito, e voltei bem. Tive a ajuda de grandes profissionais, de colegas espetaculares, porque sempre me apoiaram. Depois aquele dia-a-dia com as pessoas, os fisioterapeutas, os fisiologistas. Nisso aí, o Benfica, posso dizer, salvou-me a carreira. Era algo que poderia levar a isso, e tenho muito a agradecer a quem me acompanhou ao longo desses meses, porque foram efetivamente meses difíceis. Da primeira [lesão] perdi peso, da segunda ganhei, e foi ali um rolo de emoções que poderiam ser difíceis de gerir. Lembro-me dos primeiros quatro ou cinco dias da segunda vez, o Telmo [Firmino, fisioterapeuta do Benfica], ir a minha casa, levar a maca, sair do trabalho, no clube , ainda ir a minha casa, fazer o tratamento, estar lá comigo. Nos dias seguintes, o meu pai ir lá, acompanhar-me até ao balneário. São coisas que nós guardamos para a vida, e reconhecemos que são pessoas que é difícil descrever o que eles fizeram por mim. Só tenho a agradecer.
Numa recuperação longa como essa, o que é mais difícil, a parte física ou a mental?
Diria a parte mental. O físico, nós sabemos que fomos operados, eu pelo menos tentei sempre olhar a prazos, porque dentro dessas lesões tem o prazo, as primeiras semanas tira-se os pontos. Diria que a parte física torna-se difícil ali a partir dos quatro, cinco meses, que é quando estamos no campo, pensamos que “eu estou bem, isto é, agora já posso ir lá para dentro”. Se calhar também foi falta de experiência, um dos meus erros dessa primeira vez não diria apressar, mas podia ter aguentado um bocadinho mais. Esse é o período mais difícil em que nós, parece que estamos bem, mas efetivamente ainda temos um caminho a percorrer até estar, por isso eu diria que é a parte mental, acaba, lá está, entrar aí a partir do quinto, sexto mês. Da minha experiência, nunca duvidei que fosse correr mal, apesar de ter havido alguns contratempos da primeira, mas nunca duvidei porque sabia que estava a ser bem acompanhado, as pessoas queriam o meu bem e era uma questão disto começar a avançar.

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