Aursnes é o único que joga uns metros ao lado dos terrenos que antes ocupava, para reforçar o estatuto de elemento nuclear de todo o processo, ofensivo e defensivo, dos encarnados.
Lage colocou os jogadores nas posições certas. Terá sido essa a explicação que li, algures nestas páginas, para que o Benfica tivesse voltado aos resultados positivos. Perdoem-me, mas não concordo. Não poderia haver explicação mais simplista e até algo enganadora sobre o que realmente fez o técnico neste seu regresso.
Se olharmos para dois dos principais dinamizadores do novo Benfica, Akturkoglu não joga na posição certa porque antes ainda não estava na equipa para que jogasse na errada, e Kokçu até está no mesmo posicionamento, embora com menor território para cobrir — ou melhor, com mais alguém com quem o dividir —, com que embirrou na era Schmidt.
Se Di María, Pavlidis e Florentino, tal como a linha defensiva, apresentam posições e até dinâmicas semelhantes, sobra Aursnes. No entanto, até o norueguês alinha próximo dos terrenos que já ocupava, pelo menos em altura, embora mais para a direita, por causa de Di María, mesmo que Lage não o queira (e não o possa) dizer. Na verdade, se não fosse necessária maior dimensão defensiva poderia estar aí Pavlidis e o nórdico à sua esquerda, exatamente como antes.
A capacidade de trabalho de Akturkoglu permite que o técnico fique descansado sobre o lado esquerdo, mas o mesmo já não acontece com o argentino. Contudo, o contributo de Aursnes não é só saltar à pressão e compensar Di María, mas também, com bola, surgir junto à linha, uma vez que o companheiro vem para dentro. O nórdico acrescenta essa dinâmica em relação a Rollheiser, que desempenhava o mesmo papel, mas depois também se apresentava no espaço interior, pisando terrenos semelhantes ao compatriota quando a equipa detinha a bola e apagando-se.
Bruno Lage tem o mérito de pensar num plano, estruturá-lo e conferir-lhe solidez. Notou-se alguma falta de controlo diante o Gil Vicente, apesar do resultado dilatado (5-1), porém melhorou com o bloco ligeiramente mais baixo diante do poderoso At. Madrid, que ainda mais moral acrescenta pela força da excelente exibição em crescendo e do score tremendo, sendo normal haver ainda situações por acertar. Convenceu jogadores e adeptos, e o trabalho prova desde já ser mais do que as consequências habituais de curto prazo que uma chicotada psicológica apresenta, antes de, na maioria das vezes, se provar não ter sido eficaz. O Benfica parece estar a crescer, mas a melhoria nunca passou por pôr os jogadores nas posições certas.
Luís Mateus, in a Bola
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