sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O CAMPEÃO DO SOLSTÍCIO DE INVERNO


O Benfica ganhou ao Rio Ave por 2-0, manteve o FC Porto a quatro pontos e chega ao Natal como quer: à frente. No dia mais curto do ano, os encarnados não demoraram muito tempo a fechar as contas - os golos foram marcados antes do intervalo
E, pronto.
O Benfica fez o que lhe competia: venceu o Rio Ave, manteve a vantagem de quatro pontos para o FC Porto, deu minutos a Jonas, e fechou o ano civil em beleza à frente do campeonato. Fê-lo por 2-0, com golos de Mitroglou (o seu 5.º) e de Pizzi (o seu 6.º), ambos na primeira-parte, um no início, outro quase no fim, tal como se quer lá para os lados da Luz. É que o corpo pede descanso e não há nada melhor do que resolver as coisas cedo. E depressa.
Sendo que depressa, ou pressa, são duas das três palavras-chave neste Benfica – a outra é equilíbrio – e as duas primeiras tendem a não funcionar muito bem com a terceira.
Digamos que o Benfica é um contra-senso: quase todos os seus jogadores de ataque são de contra-ataque e historicamente um grande joga em ataque continuado e não aos repelões.
Sim, lembrar-me-á o leitor, o Real Madrid também é feito por velocistas lá à frente, mas no meio tem gente que pára, escuta, olha e decide quando a equipa deve parar para escutar o que os olhos dizem (obrigado, Daniel Oliveira) – Kroos ou Modríc são pensadores; Pizzi não o é, nem tão pouco Cervi, Rafa ou Gonçalo Guedes o são.
Nesta fase, o plano de jogo é simples e prático e funciona contra equipas de outro campeonato, como o Rio Ave. É mais ou menos assim: o Benfica entra quase sempre pressionante e intenso, com muitos jogadores com golo nos pés (praticamente todos marcam) a rondar a grande e a pequena área e isso, mais cedo do que tarde, leva ao golo.
E quando surge 1-0, procura-se o 2-0 e se este não aparece a equipa tendencialmente baixa o bloco, porque ninguém aguenta andar no red line durante 45 minutos. O adversário é controlado não porque se tem a bola mas porque se defende bem, e aí entra em cena o outro lado deste Benfica: o contra-ataque, sustentado numa capacidade aritmética invulgar de queimar metros no menor número de toques possível - e na eficácia dos seus futebolistas.
 Com o Rio Ave, aconteceu assim: o Benfica marcou o primeiro e tentou o segundo, não conseguiu congelar o jogo e os vilacondenses impuseram-se no meio-campo com Wakaso e Filipe Augusto; e o momento em que o Rio Ave começou a ligar os sectores e a ser perigoso foi o momento em que o Benfica fez o 2-0, instantes antes do intervalo.
É claro que Rui Vitória joga com o que tem e ele sabe que já não tem Gaitán e tem Jonas a meio-gás, dois tipos com que carregam no play ou no pause quando o mundo está em fast forward. A isto chama-se equilibrar. Mas também é claro que quando Jonas voltar a ser jogador de jogos inteiros e Rafa temperar os arranques – o caso de Gonçalo Guedes é diferente, porque é a genética a falar por ele –, o Benfica mudará forçosamente. Até lá, é continuar e na segunda-parte o filme como que continuou como tinha terminado na primeira parte, com outros protagonistas.
Luís Castro pôs Gil Dias e Tarantini em campo e o Rio Ave ganhou explosão à direita e Ruben Ribeiro um comparsa para as tabelas; a espaços, os vila-condenses aproveitaram os corredores e criaram algum perigo a Ederson. Houve um bom remate de Ruben Ribeiro e um disparate de Heldon, que chutou nas proverbiais orelhas da bola. E o Benfica manteve as suas arrancadas, sobretudo por Gonçalo Guedes e por Rafa, e depois entrou Jonas – e este foi o momento de maior bruaá, porque o Benfica percebeu que o Rio Ave não dava mais do que aquilo e deixou-se levar até ao final.
Jogando bem ou mal, entusiasmando ou aborrecendo, pouco importa a Rui Vitória e ao Benfica. Porque os adjetivos não são estatística e no final fazem-se contas e não contos.

Tribuna Expresso

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