segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

FELIZ 2019 - BRINDE À VIDA


"Vamos assistir, igualmente, e com claras tensões, à reformulação das competições do futebol, seja ao nível da FIFA seja ao nível da UEFA

1. Neste final de ano recordamos as alegrias e as tristezas que vivemos em 2018 e fazemos os melhores desejos para o ano que se vai iniciar, para 2019... Na nossa vida pessoal e no nosso sentir como comunidade independente. E, também, como vizinhos de uma aldeia global e como seres, que não se repetindo, sabem que a identidade e a memória fazem parte do nosso devir existencial. Permitam-me, assim, que deseje a cada um(a) dos nossos leitores(as) um Feliz 2019. Brindemos, acima de tudo, à vida!

2. Mas permitam-me que nesta última crónica de 2018 equacione algumas das questões que, no meu modesto entender - sempre sujeito a erros e a omissões! - vão marcar o ano que no final do dia de amanhã arranca. Em termos desportivos ambicionamos a conquista da primeira Liga das Nações em futebol. Esta nova competição da UEFA, que superou as expectativas dos seus criadores- e com indiscutível e craveira mão portuguesa - vai proporcionar às cidades do Porto e Guimarães um atractivo e sugestivo arranque de Junho. Vão viver um verdadeiro São João antecipado. Serão milhares os fiéis adeptos das selecções apuradas para esta final four a rumar a Portugal, a encher os espaços do Norte de Portugal, a combinar o vinho do Porto com a cerveja, a degustar a nossa singular gastronomia e a encher os estádios do Dragão e o Afonso Henriques. E sempre com a nossa secreta, viva e sentida esperança de erguermos, afinal e no final, o primeiro troféu de conquistadores da Liga das Nações em futebol. Seria mais um título para estes tempos fantásticos da nossa Federação e, também, da nossa principal selecção de futebol.

3. Vamos assistir, igualmente, e com claras tensões, à reformulação das competições de futebol, seja ao nível da FIFA seja ao nível da UEFA. Aqui as três competições europeias de clubes serão uma realidade confirmada e ao nível da FIFA o processo conducente a um atractivo Mundial de clubes prosseguirá a sua marcha. A FIFA quer organizar competições entre clubes e não apenas entre selecções. Mas a reformulação atingirá as competições internas com a rápida evolução da nossa segunda liga - que caminhará para duas séries, ou seja duas zonas - e para a esfera federativa e com as competições profissionais, sob a direcção de uma reformulada Liga de clubes, a concentrarem-se, apenas, na primeira Liga. O que será, em conjunto, uma verdadeira revolução. Com derrotados e vitoriosos. Mas com as Federações nacionais e assumiram mais poder, que não apenas mais e mero protagonismo.

4. Vamos em 2019 confirmar a sedimentação do VAR como instrumento importante para uma maior verdade desportiva também no futebol. Vai chegar, já, aos oitavos de final da Liga dos Campeões o que significará a sua consolidação em termos de futebol europeu. É claro que sendo o VAR humanocontinuará a suscitar controvérsias e múltiplas discussões, ou seja continuará a permitir, em grau bem menor diga-se, o sal e a pimenta que levaram à afirmação do futebol como um dos marcos - e exemplos - desta globalização que tem na tecnologia nas suas diferentes formas e vertentes  um dos marcos deste nosso tempo civilizacional. Se o meu neto João Maria, com o sorriso ternurento dos seus três anos, já mexe tablet com uma destreza que me impressiona estou certo que o VAR se vai aperfeiçoar ao longo do ano de 2019!

5. Neste Ano Novo vão continuar as disputas judiciais a envolver questões relacionadas com o desporto, com clubes desportivos e com sociedades desportivas. E digo judiciais em termos de justiça do Estado e não em termos de justiça desportiva onde, aqui, irão surgir duras sanções disciplinares que provocarão sérias rebeliões. E logo no ano, este de 2019, onde surgirá um novo elenco de árbitros no Tribunal Arbitral do Desporto e com um processo de avaliação necessariamente exigente.

6. O ano de 2019 será marcado por eleições europeias e por eleições legislativas em Portugal. Entre outras eleições em outros Estados europeus. O desporto não será, em qualquer delas, prioridade para a apresentação de concretas propostas - ou ideias - por isso, o desporto passará ao lado de múltiplos temas que perturbam a unidade e a comum (?) ideia de Europa e, também, entre nós, e com a excepção do tema da violência que estará, por questões disciplinares, a desviar atenções, os temas de desporto, por demasiados quentes, serão remetidos para alguns parágrafos dos programas eleitorais das candidaturas às eleições de Outubro próximo. Salvo se a disciplina perturbar tudo... e desencadear rebeliões!

7. O desporto electrónico ganhará cada vez mais adeptos e praticantes. São já milhões de praticantes, que já ganham - os melhores milhares de euros por mês, fartam-se de viajar e são reconhecidos e acompanhados por outros milhões de adeptos e fans! São estes eSports que vão crescer, e muito, em 2019. E também aqui ser número 1 do Mundo exige muito tempo, muita saúde e muita pressão. E mesmo neste jornal é importante dar nota de uma realidade deste tempo de mentes digitais brilhantes!

8. Nas outras modalidades convém acompanhar a crise de talentos no atletismo, a força do surf, da canoagem, dos ténis e do motociclismo, a crescente relevância do futebol feminino e a consolidação da presença dos três grandes do desporto português nas principais modalidades colectivas, como basquetebol e andebol, hóquei em patins e voleibol (aqui sem Porto). E com o COP a continuar a ser a instituição que agrega todos e todas, o que implicará a ponderação da existência, duplicando representações, de uma Confederação do Desporto. E com a presença paralímpica reconhecida e motivada.

9. O ano de 2019 será o ano do arranque de um novo canal desportivo, o canal da Federação Portuguesa de Futebol. É uma aposta forte e arrojada. Cheio de grandes nomes do jornalismo e da comunicação em Portugal vai mexer, e muito, no mercado televisivo, nas suas ofertas e pode perturbar realidades já existentes. Estou convicto que todos os operadores e, em particular, a Federação Portuguesa de Futebol não deixarão de prestar toda a atenção a projectos portugueses, com memória e história, com identidade e vontade, com consciência e experiência.

10. Agora, no arranque do novo ano, teremos o fim da primeira volta da Liga NOS, a final four da Taça da Liga, a decisão acerca dos semi-finalistas da Taça de Portugal e, logo no arranque de Fevereiro respectivamente os oitavos e os dezasseis avos de final da Liga dos Campeões e da Liga Europa. E com um fim de semana bem rico em termos da globalmente atractiva Liga inglesa. Feliz 2019. Bom desporto. Mas acima de tudo que arranque 2019 com um brinde à vida!"

Fernando Seara, in A Bola

O DILEMA DE RUI VITÓRIA


"Ao treinador do Benfica só resta um caminho: o equilíbrio entre ganhar e jogar bem - ou, pelo menos, jogar mais vezes bem do que mal

que é, de facto, mais importante no futebol: o resultado ou a exibição? Os mais românticos - e não há mal algum em para o jogo olhar com romantismo - dirão que ambas, mesmo sabendo que não é verdade: porque pode ser-se campeão jogando mal desde que ganhando mas o mesmo desfecho revelar-se-á impossível para quem, mesmo jogando o melhor futebol do mundo, não consiga ganhar mais do que os outros, mesmo que joguem pior.
Há, ao longo dos tempos, vários exemplos disso. A Selecção Nacional, por exemplo, venceu o Europeu graças a essa visão pragmática do futebol, trocando o jogar bonito sem nada ganhar de que tanto nos orgulhámos durante tantos anos pelo jogar bem, que é diferente de jogar bonito mas traz melhores resultados que, convenhamos, sendo menos atraente aos olhos enche de forma bem melhor o ego. Porque, olhado com romantismo ou pragmatismo, o mais importante no futebol é, deixemo-nos de lirismos, ganhar.

Vendo jogar este Benfica poderá pensar-se que o novo Rui Vitória decidiu, à falta de melhores soluções, olhar para o futebol pelo seu lado mais pragmático. Tão resultadista na Luz só há memória do Benfica de Trappatoni, campeão em 2004/2005, num outro exemplo de que é possível vencer mandando o espectáculo às malvas. É, contudo, preciso perceber que há um tempo para tudo. Trappatoni acabou com um jejum de títulos que durava há onze anos. Tinha, além disso, uma equipa com bem mais limitações do que a actual, ainda mais dependente de Simão Sabrosa do que esta é de Jonas. É, pois, natural que os adeptos tenham sempre perdoado ao italiano essa visão tão redutora do jogo, tal como os portugueses não deixarão de perdoá-la a Fernando Santos.
Rui Vitória não terá, já se percebeu, essa sorte, até porque a realidade é muito diferente; uma coisa é a Selecção ser pragmática contra a França, Itália, Croácia ou Polónia. Outra é o Benfica fazê-lo em jogos contra equipas que lutam pela manutenção. É por isso que o único caminho de Vitória (se não quiser seguir o das arábias...) será encontrar o equilíbrio entre a necessidade de ganhar e a obrigação de jogar bem - ou, pelo menos, de jogar mais vezes bem do que mal.

Os adeptos podem ser o que de melhor o futebol tem para dar. Mas neles também se encontram, às vezes, o pior que as sociedades têm para nos oferecer. O que os adeptos do Inter - um clube que vibrou com Ronaldo, Eto'o, Maicon, Roberto Carlos ou Seedorf, só para citar alguns - fizeram a Koulibaly no jogo com o Nápoles é a todos os níveis repugnante. Dois jogos à porta fechada é, até, pouco. Por cá - sempre atentos  à forma como lá fora actuam de forma mais dura e célere mas pouco dispostos a com isso aprendermos alguma coisa - o castigo aplicado ao Inter foi aproveitado para aquilo em que somos melhores: atacar os rivais e quem tem o dever de aplicar a justiça. Dá para rir. Ou não fossem os próprios clubes a aprovar o Regulamento Disciplinar da Liga. Mão pesada? Só interessa se bater nos outros. E como um dia me pode tocar a mim... mais vale ficarmos pela mão leve e fazer muito barulho, que sempre dá para enganar os tolos.

A bárbara agressão a um adepto do Benfica que regressava a Barcelos depois de ter visto, na Luz, o jogo com o SC Braga é um caso de policia. Não vale a pena estarmos a falar de punir um clube, por ser impossível responsabilizá-lo por acção criminosa a um grupo de adeptos a 20 quilómetros do seu estádio - ou, até, à sua porta numa noite sem jogo. Mas devia ser suficiente (mais um...) para alguém obrigar os clubes a definirem bem os limites das relações com as suas claques, legalizadas ou não. É esse o meu único desejo desportivo para 2019. Se bem que, em ano de eleições, talvez seja utópico pensar que alguém queira meter as mãos no assunto..."

Ricardo Quaresma, in A Bola

O ANO DE 2018


"Para além das inúmeras conquistas do desporto e dos desportistas portugueses durante 2018, houve o registo, também, de algumas novidades no campo do Direito do Desporto, tanto em Portugal como no estrangeiro, algumas motivadas por acontecimentos ocorridos no ano que agora termina.
Em jeito de balanço, fica o apontamento de algumas novidades que 2018 trouxe neste âmbito: o alegado esquema de dopagem na Rússia continua a dar azo a novas decisões no CAS; a decisão do Tribunal Belga que (só aparentemente) veio colocar em causa a sustentabilidade e credibilidade do CAS e que trouxe novamente o tema da proibição de TPO à ordem do dia; a proclamação da Declaração Universal dos Direitos dos Atletas; as alterações do RSTP da FIFA; a criação, em Portugal, de uma Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto e o processo legislativo de alteração ao Regime Jurídico do Combate à Violência nos Espectáculos Desportivos; o litígio entre a Federação de Surf e a Federação de Canoagem sobre o Stand-Up Paddle; a suspensão do campeonato de râguebi; a decisão (que motivou tantas e interessantes questões) do CAS sobre a decisão da UEFA relativo ao processo de fair-play financeiro do AC Milan; as normas referentes e aspectos de integridade e antidopagem divulgadas pela FIFA relativamente a uma competição de eSports; a resolução da ONU que reconhece a importância do Desporto no desenvolvimento sustentável da sociedade; a crescente importância, que também se reflecte a nível normativo, do futebol feminino; o aumento da litigiosidade, o que se verifica pelo aumento exponencial de processos no TAD e o consequente aumento de recursos nos Tribunais Administrativos."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

PRIMEIRAS PÁGINAS: MAIS UMA VERGONHA QUE PASSA EM CLARO


domingo, 30 de dezembro de 2018

COMPARAÇÕES EM SACO ROTO E MAIS SACRIFÍCIOS


O Benfica comparou o atentado contra um grupo de adeptos seus - que no domingo regressava áa Barcelos pela A1 - ao atentado que contra os jogadores e técnicos do Sporting que aconteceu em Alcochete no último mês de maio. Formalmente o Benfica tem razão. A coberto da noite, no caso recente da autoestrada, ou cobertos por capuzes, no caso da Academia do Sporting, bandos de meliantes atacaram cidadãos tão inocentes quanto desprevenidos. A comparação caiu, no entanto, em saco roto porque a imagem da cabeça ensanguentada de um adepto não se compara em impacto mediático à cabeça ensanguentada de um profissional de futebol.
A cabeça do adepto Bruno Simões, não tem o valor da cabeça do jogador Bas Dost, nem em termos das chamadas "audiências" nem sequer em capacidade para suscitar o mesmo nível de indignação social. Cinco dias já se passaram, entretanto, sobre o ataque que ocorreu no alcatrão entre Grijó e Gaia. E a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga de Clubes continuam tão absorvidas por este género de questões em abstrato que ainda não conseguiram produzir uma palavra sobre o crime de domingo à noite. Para o Ministério da Administração Interna o assunto não existirá porque é "futebol". O MAI talvez se intrometesse se os utentes agredidos da A1 voltassem a casa depois de uma visita ao Oceanário de Lisboa ou ao Portugal dos Pequeninos em Coimbra. Sendo "futebol", tenham lá paciência...
O Sérgio Conceição foi multado por ter tirado a braçadeira de treinador e o Benfica foi multado por ter passado uma imagem em direto de Abel Ferreira nos ecrãs gigantes da Luz. Não há nada de verdadeiramente importante que escape à alçada civilizacional do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol.
O Benfica somou no domingo a sua 7ª vitória consecutiva desde que a Luís Filipe Vieira lhe deu a luz no Seixal. Aparentemente foi uma exibição categórica.sobretudo na segunda parte, da equipa de Rui Vitória, que ficará sempre para a história como o primeiro treinador do Mundo a substituir-se a si próprio depois de ser alvo de uma chicotada psicológica. A exibição produzida e o resultado averbado nesse jogo com o Sporting de Braga terão sido só ‘aparentemente’ categóricos porque, tal como tem vindo a ser exposto em todos os areópagos de gente séria e bem informada, o Sporting de Braga fez um frete, ofereceu-se ao sacrifício na Luz por força do amor que o seu presidente, o treinador e todos os jogadores, um a um, dedicam ao Sport Lisboa e Benfica.

Ontem, na Vila das Aves, o Benfica até parecia que estava a fazer um frete ao Desportivo local. As situações de quase-golo dos donos da casa teriam produzido um resultado histórico se a bola estivesse em noite de entrar na baliza de Svilar. Mas Seferovic lá fez um golito e assim segue o Benfica para a final four da Taça da Liga. Mas que o resultado foi injusto, isso foi.

Leonor Pinhão

EMOÇÃO E INCERTEZA ATÉ FINAL


"Com o empate o jogo assumiu nova forma: o Aves a arriscar e o Benfica a gerir o tempo

Intensidade concentração
1. O futebol é um jogo estratégico/táctico desenvolvendo acções técnicas individuais e colectivas num ambiente psicológico e fisiológico positivo. Esta partida revelou a essência do jogo: intensidade, concentração nos objectivos, velocidade decisional e de deslocamento, pressão constante sobre a bola, adversários ou nos espaços vitais de jogo, alterações na organização das equipas, substituições, emoção e incerteza no resultado até ao final.

Modelo de jogo e de treino
2. Todos os treinadores e equipas objectivam a concretização de um modelo de jogo, denominando-o de identidade. Porém, para cada jogo, utilizam o conhecimento do adversário, congeminando alterações pontuais perante as condições que plausivelmente se irão verificar. Consequentemente, modelo de jogo e de treino são duas faces de uma mesma moeda.

Alterações nos onzes
3. Em função da densidade e do momento competitivo, os treinadores efectuam alterações, colocando jogadores que, não tendo tanto ritmo de jogo, possam contribuir para os objectivos da equipa mantendo os mesmos níveis de rendimento. Logo, tanto o Aves como o Benfica, em função das mesmas ou diferentes razões, realizaram alterações. Assim, não é de admirar a alteração dos guarda-redes (Bernardeau/Svilar), da estrutura defensiva (Jorge Fellipe/Yuri Ribeiro), média (Falcão) e ofensiva (Derley/Seferovic).

Aves melhor
4. O Aves dispõs das melhores ocasiões da 1.ª parte, usando um bloco defensivo alto, baixando quando o Benfica conseguia ultrapassar as linhas de pressão, tendo como referências Falcão, Oliveira, Gomes e Fellipe. A dinâmica ofensiva do Aves residiu na transição ofensiva com 3 referências: Amilton, Derley e Baldé. Respondeu o Benfica com um jogo ofensivo rápido, qualidade técnica, jogando à largura e à profundidade, destacando-se Zivkovic, Gedson e Pizzi.

Jonas mudou
5. Ao golo do Aves respondeu o Benfica, recorrendo a Jonas e utilizando um sistema de 4x4x2 aumentando o volume de jogo ofensivo. O Aves baixou os seus sectores, mantendo a sua transição ofensiva em profundidade. Restabelecida a igualdade, o jogo assumiu uma nova forma, com o Aves a arriscar o que era possível, enquanto o Benfica geriu o tempo e o resultado de jogo."

Jorge Castelo, in A Bola

2019!


"Dificilmente Rui Vitória reconquistará adeptos só pelos resultados. E mais dificilmente ainda os reconquistará pelo discurso

Nem mesmo um mau resultado, esta sexta-feira, na Vila das Aves, num jogo que é para a Taça da Liga, e que conta, portanto, para a parente ainda pobredas competições nacionais, tira razões aos benfiquistas para, apesar de tudo, fecharam 2018 com um sorriso bem menos amarelo do que na verdade se estava à espera. A goleada sobre o Braga foi realmente uma espécie de Pai Natal benfiquista que madrugou pela chaminé da Luz na tarde de 23 de Dezembro e levou particularmente a Rui Vitória uma consoada bem mais tranquila do que o próprio Rui Vitória estaria, provavelmente, a pensar ter, sobretudo tendo em conta o novelesco folhetim em que se viu e de algum modo quis ver-se envolvido quando, depois de levar cinco do Bayern, esteve quase, quase despedido e foi, por fim, apenas agarrado pelo presidente, num momento que facilmente ganharia no futebol o prémio confusão do ano.

que sucedeu com o Braga foi uma goleada verdadeiramente inacreditável para quem se habituou a ver nos últimos meses o Benfica a ir delapidando o seu talento como equipa e a perder capacidade de competir a um grande nível.
O Benfica - Braga foi mesmo um jogo estranho na medida que andava mal e tudo mal a um Braga que andava bem. Fez o Benfica quase tudo ao contrário do que vinha fazendo e fez na realidade o Brava bem menos do que nos tinha mostrado na maioria das jornadas anteriores.
Já se sabe que há quase sempre dois pontos de vista em jogos com resultados desta natureza. Há os que defendem que o verdadeiro mérito foi do Benfica, porventura a maioria, mas nunca faltam os que resolvem reduzir o derrotado à menor das expressões e atribuir-lhe a total responsabilidade do resultado.
Nem oito nem oitenta. O Benfica jogou surpreendentemente bem, sim, mas apenas bem; e o Braga acabou esmagado pela tremenda eficácia dos encarnados - sempre que tentou reagir não foi capaz de equilibrar.
É bom lembrar, aliás, que podia o Braga ter feito o 1-1 por mais de uma vez; que sofreu o 0-2 quando estava mais próximo do nível do Benfica e o 3-0 logo no arranque da segunda parte, reduzindo três minutos depois para tentar reentrar no jogo e sofrendo novo golo (4-1) apenas mais três minutos decorridos. O golpe final.
Depois, em quatro minutos, o Benfica faz 5-1 e 6-1 e o Braga rende-se à inesperada evidência de ver o Benfica ser premiado com a lotaria de Natal.
Do lado dos encarnados, deu para tudo, até deu para Grimaldo fazer um golo com o pé direito e André Almeida um com o pé esquerdo, naquele que foi uma espécie de golo da noite que ninguém, no estádio, queria acreditar que fosse acontecer mesmo quando André Almeida lançou intencionalmente o pé esquerdo àquela bola que vinha, pelo ar, para a entrada da área, aliviada por um defesa do Braga, como se ninguém acreditasse que André Almeida fosse capaz, dali, de fazer um golo com o pé direito quanto mais com o esquerdo.
A verdade é que, quando se deu por ela, a bola estava dentro da baliza do Braga, após entrar rigorosamente no canto em que a trave se une com o poste. Miraculoso.

O quê? Grimaldo marcou com o direito e André Almeida com o esquerdo? E o Benfica fez pressão alta? E reagiu rápido à perda de bola? E envolveu quase sistematicamente três, quatro, cinco jogadores no ataque à baliza do Braga?
Mas o que é que deu, afinal a este Benfica para, subitamente, fazer quase tudo ao contrário do que andava a fazer?
O que se passará, afinal, para o Benfica não conseguir jogar mais vezes como jogou com o Braga? Porque não consegue ser mais constante? Falta-lhe confiança? Falta-lhe preparação? Falta-lhe mais trabalho?
Ou é só do treinador e da mão que tem, ou não tem, para organizar o jogo da equipa, construí-la e ir tomando as respectivas opções?
Pelo menos Jardel, agora o capitão, e André Almeida - que acredito que seja figura importante no balneário - quiseram mostrar afinidade com o treinador e de algum modo protegê-lo um pouco, aos olhos de quase 60 mil pessoas na Luz, de toda a pressão sofrida por Rui Vitória sobretudo nos últimos dois/três meses.
Se não quisessem mostrar que estão com o treinador não teriam Jardel e André Almeida (ainda por cima dois dos mais antigos no balneário) ido a correr para os braços de Vitória quando fizeram os seus golos.
Mas será isso, mais a defesa de Vitória feita também por jovens jogadores da casa como Rúben Dias ou Gedson, suficiente para mudar o tom das criticas que se têm abatido sobre o treinador do Benfica? Não creio. É preciso que a equipa jogue, é preciso que mostre muito mais o futebol que mostrou com o Braga, é preciso que dê muito mais do que tem dado a ideia de ser uma equipa trabalhada, coesa e consistente.
Caso contrário, saberá Rui Vitória o que o espera. Porque a ganhar mal e a perder como chegou a perder, Rui Vitória já dificilmente reconquistará adeptos só pelos resultados. E muito menos pelo discurso.
Veremos o que lhe trará 2019!"

João Bonzinho, in A Bola

PRIMEIRAS PÁGINAS


sábado, 29 de dezembro de 2018

JUNIORES TERMINAM O ANO COM 14 PONTOS DE AVANÇO


FUTEBOL
A equipa do Benfica empatou em casa do Tondela na 17.ª jornada do Campeonato Nacional, Zona Sul.
A equipa de Juniores do Benfica empatou com Tondela (1-1) na 17.ª jornada do Campeonato Nacional, Zona Sul. Os encarnados terminam o ano de 2018 na liderança com um avanço de 14 pontos.
Desde o primeiro minuto do encontro, a equipa encarnada demonstrou toda a sua filosofia e superioridade. Controlou a posse de bola e as ações da partida.

[GOLO: 0-1] Na sequência de um canto, Gonçalo Ramos inaugurou o marcador aos 32' a favor do Benfica.
Ao intervalo o marcador assinalava 0-1, um jogo pautado pela supremacia das águias, comprovada pelas estatísticas. 59% de posse de bola registada pela equipa encarnada nos primeiros 45 minutos.
Primeiros 15 minutos da segunda parte disputados de parte a parte, mas sem grandes apontamentos de perigo junto das duas balizas.
Quando o jogo se encaminhava para o final, a equipa da casa conquistou uma falta dentro da área encarnada e o árbitro apontou para a marca da grande penalidade.
[GOLO: 1-1] Na marcação de um penálti aos 88' o Tondela restabeleceu a igualdade na partida.
Até ao fim o resultado já não se alterou e a equipa do Benfica arrecadou mais um ponto. Com este empate os encarnados somam 47 pontos (15 vitórias e dois empates) e terminam o ano de 2018 na liderança do Campeonato Nacional, Zona Sul, com mais 14 pontos do que o segundo classificado, o Tondela.
Onze inicial do Benfica: Carlos dos Santos, João Ferreira, Gonçalo Loureiro, Pedro Ganchas, Sandro Cruz, Rafael Brito, Gonçalo Ramos, Ronaldo Camará, Kevin Csoboth, Jair e Ricardo Matos.

VITÓRIA FOLGADA NO CAIR DO PANO DE 2018


BASQUETEBOL
O basquetebol do Benfica bateu o Terceira Basket nos Açores com nova marca acima dos 100 pontos, e continua invicto na LPB após 12 jornadas.
A equipa de basquetebol do Benfica encerrou 2018 da melhor forma ao bater, este sábado, no Pavilhão do Complexo desportivo Tomás de Borba, o Terceira Basket por 64-101, em jogo da 12.ª ronda da Liga Portuguesa de Basquetebol.
Um cinco inicial com muitos centímetros – Fábio Lima, Álex Suárez e Xavi Rey – permitiu uma boa entrada do Benfica. Forte na luta das tabelas, eficaz no jogo interior e no tiro exterior, as águias rapidamente conseguiram uma vantagem larga no marcador (5-15), o que obrigou o técnico da turma açoriana a pedir um desconto de tempo.

A chamada de atenção teve pouco efeito, pois os encarnados continuaram agressivos do ponto de vista defensivo, com o Terceira Basket a sentir dificuldades na hora de atirar ao cesto. O resultado manteve-se desnivelado até ao final do 1.º quarto do jogo: 13-32.
No 2.º quarto, a toada manteve-se, com o Benfica a chegar aos 20 pontos de vantagem (18-38) logo no seu arranque. Com o resultado em 20-44, uma vez mais, o treinador do Terceira Basket, Hugo Salgado, a tentar inverter o jogo através de um time out.
Contra um Benfica muito eficaz a defender e em todos os capítulos ofensivos do jogo, os insulares nada conseguiam fazer para suster o avolumar do resultado. Ao intervalo, os comandados por Arturo Álvarez estavam na frente, por 32 pontos (26-58).
No recomeço, o Terceira Basket esteve melhor do que nos primeiros dois quartos do jogo. Equilibrou os primeiros minutos do 3.º quarto, sem que, todavia, conseguisse aproximar-se das águias. Arturo Álvarez, por sua vez, aproveitou a vantagem pontual para dar minutos a jogadores menos utilizados: Rafael Lisboa e Gonçalo Delgado.
À entrada para os derradeiros 10 minutos da partida, o Benfica estava na frente, por 46-78. No último quarto, as águias voltaram a alargar a distância pontual até aos 37 pontos (56-93), obrigando Hugo Salgado a novo desconto de tempo para fazer acertos na equipa. Até final, registo para o triplo de Fábio Lima, que permitiu que os encarnados ultrapassassem a barreira da centena de pontos.
Os marcadores do Benfica foram Micah Downs (31), Xavi Rey (14), Álex Suárez (14), Miguel Maria (12), José Silva (12), Fábio Lima (8), Jacques Conceição (6) e Gonçalo Delgado (4).
Cinco inicial do Benfica: Miguel Maria, José Silva, Fábio Lima, Álex Suárez e Xavi Rey.
Na próxima ronda, a 13.ª, o Benfica recebe o Esgueira, no Pavilhão Fidelidade. A partida está agendada para as 16h00 de 5 de janeiro.

UM RELÓGIO DE FLORES


"Colva - Enquanto o estranho pato preto mergulha, para se manter debaixo de água, às vezes quase meia hora, olho as lótus brancas que se espalham pela superfície e relembro a história antiga: a lótus vermelha abre as suas pétalas de manhã cedo, quando os camponeses vão para o trabalho, e fecha-as ao meio-dia quando eles se recolhem para o almoço; a lótus branca abre as suas pétalas ao início da tarde quando o trabalho dos camponeses recomeça e fecha-as quando anoitece e eles regressam a casa. Os camponeses de Goa trabalham à medida das horas de um relógio de flores.
Agora, a lua cheia estende-se sobre a imensidão da praia e do mar. “I’m feeling so alone that I can’t believe”, canta o David Gray no roufenho aparelho de som do Boomerang Bar ao qual a gente se habituou a chamar Malibu Beach. A clientela reduz-se a aves de arribação sem poiso certo: um australiano de cabelo longo, cara marcada por cicatrizes e gestos indecisos de álcool; um inglês gordo que explica alto coisas que ninguém entende; figuras abstratas, personagens incompletos de uma história ainda por escrever. Sob as sombras estreladas dos coqueiros, duas silhuetas femininas repetem as curvas e contracurvas do ritmo da música vagarosa. Absorvem-se uma na outra e em si próprias. Traços negros que a lua destaca na areia esbranquiçada, movimentos em “slow motion” que espreitamos na certeza absoluta de que um gesto, apenas um gesto, fará desaparecer sem retorno. Há na sua timidez a suave beleza das imagens escondidas. “I’m feeling so alone that I can’t believe”. Os braços levantados sobre as cabeças, os saris disfarçando as curvas dos corpos, as mãos desenhando Esses que o requebros das ancas repetem até aos pés. “Time after Time after Time...”. Debaixo da lua cheia, sob a protecção dos coqueiros, duas silhuetas dançam a canção da Índia..."

NO E-TOUPEIRA FUNCIONARAM AS INSTITUIÇÕES


"Houve curiosos derrotados no e-toupeira que não sendo partes processuais se apressaram a lamentar como se deles fosse o processo. Ou será que era? Ou será que sempre foi?

A vitória sobre o SC Braga no passado domingo, pelos números e pela exibição, foi um anti-depressivo natalício para o universo benfiquista. Foram três pontos que demonstraram que o Benfica pode ser de longe a melhor equipa da Liga. Nos jogos contra Vitória, Sporting, FC Porto e SC Braga foi de longe superior e mostrou ser melhor. Mas será campeão não a melhor equipa, mas a mais regular, e por isso exige-se consistência em todos os jogos para permitir uma sólida candidatura ao 37.º título de campeão nacional.
No jogo frente ao SC Braga houve uma demolidora atitude competitiva que fez acreditar na séria possibilidade de alcançar os objectivos esta época. Contra um SC Braga de topo, que tentou jogar no campo todo, houve sempre um Benfica superior que o resultado de 6-2 mostrou esclarecedor.
Hoje jogamos na Vila das Aves contra uma equipa perigosa e motivada. Há jogos importantes e há jogos decisivos. Hoje na Aves é decisivo, não há lugar para o erro, nem segunda oportunidade, hoje temos que colocar o Benfica a 180 minutos de um título que queremos vencer. Ficar hoje a pensar em Portimão é meio caminho para não correr bem nem hoje, bem em Portimão. Pelo contrário, entrar hoje à Benfica é meio caminho para resolver hoje e vencer na quarta no Algarve um jogo cheio de ratoeiras.
O Benfica não venceu por 30-0 o processo judicial vulgarmente designado e-toupeira apenas viu as suas justas e correctas pretensões serem conferidas pelo tribunal. Funcionaram as instituições e esclareceu-se aquilo que já ninguém duvidava. Mas se o Benfica não venceu, houve curiosos derrotados, que não sendo partes processuais se apressaram a lamentar e comentar como se deles fosse o processo. Ou será que era? Ou será que sempre foi? Se como se suspeita era assim, então todos esses que fazem pouco do sistema judicial perderam por 30-0, vencidos e esmagados pelo estado de direito.
Por deformação profissional, nunca comento processos judiciais dos quais não sou mandatário, mas não resisto a comentar lastimáveis comentários terceiros que quiseram depois da decisão tomada assumir o papel de emplastro da derrota na fotografia. Fica o ar choroso de quem fazia os directos do tribunal, e fica também o ar triste dos tristes que comentaram a decisão.
No Benfica queremos ganhar campeonatos dentro dos campos e não festejar despachos nem sentenças."

Sílvio Cervan, in A Bola

PRIMEIRAS PÁGINAS


ISTO É QUE OS DEIXA A ESPUMAR DE RAIVA E PEQUENEZ


EM FRANÇA, BENFICA VENDE MAIS CAMISOLAS QUE O REAL MADRID.
A Foot, loja francesa de venda de produtos desportivos, anunciou os resultados das vendas on-line de camisolas de clubes durante o último semestre (de maio a dezembro) de 2018.
O Benfica aparece no oitavo lugar, sendo a quinta estrangeira no top-10, sendo apenas superada por Juventus, Liverpool, Barcelona e Atlético Madrid. O Real Madrid aparece em 9.º numa tabela que tem o Paris Saint-Germain à cabeça.



NAS "MEIAS" PELA 10.ª VEZ


FUTEBOL
O Benfica garantiu o ponto de que precisava e qualificou-se para a final four da Taça da Liga.
Pela 10.ª vez em 12 edições da prova, o Benfica apurou-se para as meias-finais da Taça da Liga. Necessitados de apenas um ponto para aceder à final four, os encarnados empataram 1-1 no reduto do Aves e, como vencedores do Grupo A, vão enfrentar o primeiro do agrupamento C (discutido por FC Porto, Chaves e Varzim) no dia 22 de janeiro, em Braga.
Aves e Benfica não empataram minutos a avaliarem-se taticamente no arranque da partida, antes procuraram fazer valer os seus argumentos e começar a apontar às balizas. A equipa benfiquista podia ter-se adiantado no marcador aos 4' após um livre executado por Pizzi sobre a direita e continuado por cabeceamento de Jardel, mas Rúben Dias, de calcanhar, não conseguiu desfeitear o guarda-redes Beunardeau.
Derley, com um remate perigoso (7'), e Mama Baldé (8'), com fuga pela direita e cruzamento para corte de Rúben Dias, agitaram as águas na defensiva dos encarnados, mas estes não tardaram a tomar as rédeas dos acontecimentos, elaborando combinações ofensivas com o objetivo de visar as redes avenses


Zivkovic, aos 20', infiltrou-se na direita após passe curto de Pizzi e armou um tiro que fez a bola passar perto do poste do lado contrário. Após mais um par de ofensivas, André Almeida, aos 39', pareceu travado em falta por Jorge Fellipe na grande área do Aves, mas o árbitro Fábio Veríssimo não considerou que houvesse motivo para assinalar pontapé de penálti. Na resposta, em contra-ataque, Amilton esgueirou-se pela esquerda e concluiu a investida com um chuto para fora.
Antes de se esgotarem os primeiros 45 minutos, Yuri Ribeiro foi protagonista em subida à área do Aves, mas o cabeceamento, após centro de Pizzi na direita, foi detido por Beunardeau (43'). No lance seguinte, Zivkovic tocou curto para André Almeida e este arriscou um disparo de fora da área com o pé direito, mas não acertou no alvo (44').
Os encarnados deram sinais de querer aumentar a velocidade da circulação de bola e ser mais incisivos na dinâmica ofensiva no início do segundo tempo, mas o Aves foi mais certeiro e efetivo.

[GOLO: 1-0] Uma arrancada de Rodrigo pelo corredor direito gerou um cruzamento para Mama Baldé aproveitar na área, cabeceando sem dar hipóteses de defesa a Svilar (49').
Já com Jonas (rendeu Cervi aos 59'), o Benfica atirou para trás das costas as ameaças de Mama Baldé e foi à procura do golo do empate.
[GOLO: 1-1] Aos 70', Yuri Ribeiro alongou o ataque pela esquerda e tocou curto para Zivkovic, que ganhou o ressalto, acreditou, insistiu e cruzou à medida da receção e da conclusão de pé esquerdo de Seferovic.
Os últimos minutos do encontro foram discutidos, mas nenhuma equipa cedeu. No derradeiro segundo do encontro, Jonas ainda deixou Salvio (rendera Seferovic aos 85') em boa posição de marcar, mas o guarda-redes do Aves levou a melhor. O empate, que servia os intentos dos encarnados, foi mesmo o desfecho do desafio.
Onze do Benfica: Svilar; André Almeida, Rúben Dias, Jardel e Yuri Ribeiro; Fejsa, Pizzi e Gedson; Zivkovic, Cervi e Seferovic. 
Suplentes: B. Varela, Corchia, Alfa Semedo, Krovinovic, Salvio, João Félix e Jonas.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

ARGUMENTO IDIOTA...


"É uma pena que o sucedido com o adepto Bruno Simões não esteja a ter o impacto mediático que merecia. Não me espanta. Há muito tempo que denuncio, a existência, em certos meios informativos, de uma estratégia para causar danos na reputação do Benfica e dos adeptos do Benfica. Colocá-los na pele de vítimas não é bom para o negócio e muito menos para essa estratégia de desgaste do clube e dos seus adeptos. Só assim se justifica que alguns cartilheiros que estão bem identificados tentem justificar o que se passou na A1 com um problema de moralidade, num clube que já enfrentou problemas de extrema gravidade com actos criminosos de alguns dos seus adeptos. Porém, essa gente que escreve nos jornais e devia estar obrigada a um dever se isenção esquece alguns pormenores relevantes. Primeiro, que nos casos identificados de violência de adeptos do Benfica, houve crime e castigo. É assim que deve ser num Estado de Direito. Nos vários e repetidos crimes dirigidos contra adeptos benfiquistas, a sua equipa de futebol profissional ou até o seu presidente, houve crimes...de resto, nem castigos, nem culpados, nem responsáveis. Só impunidade.
Além do mais, ao questionar a moral do Benfica para reclamar uma actuação das autoridades, quem o faz está a enviar um sinal. O de que podem agredir e até tentar matar os adeptos do Benfica, porque, no fundo, o clube deve ser responsabilizado pelos crimes dos seus adeptos. Isto não é argumento sério. É um argumento idiota e tão criminoso como o acto de atirar pedras aos autocarros onde viajam adeptos do Benfica. Infelizmente é o que temos em alguma comunicação social. Verdadeiros tarados do ódio clubístico que andam a brincar com o fogo. Não é difícil identifica-los. Porque eles andam aí e o combate à violência no desporto também passa por combatê-los e, se possível, erradicá-los."

José Marinho, in Facebook

PS: O título deste post é da autoria do blogue

CHUMBOS!


"Sporting e SC Braga 'desceram à terra': muito duro e violento. Intenso brilho do Benfica (surpresa em hora H!) e de renascido Vitória

A 3 passadas do final da 1.ª volta, a anterior jornada foi muito curiosa: confrontos entre os 6 primeiros classificados (Rio Ave deixou de sê-lo). Por isso, teve extra de expectativa e importância. Não tanto o FC Porto - Rio Ave, porque no Dragão; muito especialmente em teste Benfica e SC Braga (directo despique com máxima ambição), Sporting e V. Guimarães (frente a frente potenciando definição de capacidades: um para conquista do título; o outro visando recuperar terreno, rumo ao objectivo 4.º lugar, campeão dos não grandes). Duros testes não se ficaram por meias tintas; houve rotundos chumbos e passagens com altas notas.

Chumbo n.º 1: Sporting. Pressentia-se ir ser o primeiro osso muito duro de roer no caminho do novo Sporting de Marcel Keizer. Vitaminado estava: só triunfos (8), 32 golos marcados, média de 4 por jogo! (mas também 9 sofrendo!...). No entanto, quanto a mim, fortes dúvidas se mantinham, suscitadas por passadeira verde: 5 jogos em Alvalade, e perante equipas com fraco peso (Chaves, Aves, Poltava, Nacional - ligeira excepção para Rio Ave, na Taça de Portugal). Nos 3 em casa alheia, houve peras dulcíssimas: Vildemoinhos e Qarabag... Ou seja: em 8 jogos, só o de Vila do Conde, para o campeonato, subiu no grau de dificuldade (muito bem superado). Teste perigosíssimo era o de Guimarães (vitorianos em notória escalada de rendimento: para além de terem pregado susto ao Benfica - 3-2, na Luz - e de terem ganho no Dragão - 2-3! -, 8 jornadas a fio sem derrota). Deu chumbo sportinguista - contundente, porque claríssimo! O Vitória foi sempre muito melhor equipa. Aplaudo Marcel Keizer, pela sua honestidade: não inventou desculpas, viu o jogo como todos vimos... - raridade nos nossos treinadores - e «temos de agradecer ao Renan por ser só 1-0». Cristalina verdade: mão cheia de grandes defesas, evitando goleada! Contraste: Douglas só uma vez teve de entrar em campo...
Dura descida à terra. Quiça mais preocupante que a derrota: firme bloqueio a Bruno Fernandes e a Bas Dost liquidou a linha de futebol sportinguista. Ausências de Nani e de Wendel notaram-se imenso - o que agrava ideias quanto a plantel...

Chumbo n. 2: SC Braga. Inesperadíssima goleada! Vencera Sporting e, com espectacular personalidade, exibira-se em grande nível no Dragão (derrota por tremendo azar: golo aos 90+3, depois de enviar 2 remates aos ferros). Que lhe dei frente ao Benfica?! Árdua eliminatória da Taça, triunfando em Setúbal, 4 dias antes, não justifica tal caos (Abel fez muito bem em tal não invocar). Dia péssimo acontece a muito boa gente. Imediato teste: nível de reacção e tão violento golpe. Certeza: na Luz, o SC Braga jogava tudo para manter quimera do título. Desaire - mesmo que fosse tangencial - deixa-o ultrapassado pelo Benfica e, sobretudo, a 6 pontos do FC Porto. Naturalíssimo adiamento do tão lindo quanto dificílimo sonho de António Salvador. SC Braga - bom plantel, mas não chegando aos de topo - a discutir pódio do campeonato e conquista de Taças já é muito bom!

Brilho: Benfica e V. Guimarães. Espectacular ressurgimento benfiquista, categórica confirmação de escalada vimaranense. Mau grado as facilidades que o SC Braga concedeu, muito mérito na exibição do Benfica. Veio dela substancial parte dessas facilidades. Alta qualidade, porque desta vez expressa em sistemático alto ritmo. Surpreendente, por tão conta a corrente dos últimos meses, foi! E, face ao que vinha sendo habitual, enorme contraste em matéria de eficácia! - galvanizando a equipa. Durante muito tempo, o Benfica criava inúmeras oportunidades de golo (não nos últimos jogos) e acertar na baliza era martírio. Em hora H - duelo crucial, afundando-se se não vencesse! - inspiração goleada chegou, e às catadupas! Nem tanto ao mar, nem tanto à terra... Os próximos episódios dirão.
Novo V. Guimarães está sendo excelente trabalho (mais um) de muito bom treinador: Luís Castro. Venceu no Dragão, vai agora em 9 jogos sem derrota. Pegou no Sporting, anulou-lhe os maiores trunfos, destrui-lhe organização, foi tão convincente que poderia ter goleado! Óbvia meta (difícil!): discutir especialíssimo título com eterno rival minhoto."

Santos Neves, in A Bola

AMPHILÓQUIO E AS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS


"De cada vez que escrevo sobre Roma lembro-me do episódios da guerra das trattorias. Conto já de seguida. Salvo erro encontrei-o num dos livros de Dino Segre, ou seja, o Pitigrilli, um desses seres humanos abençoados com o dom magnífico e divino do humor. Talvez em A Loura Dolicocéfala, mas não vou jurar. Bom, havia portanto três trattorias numa das ruelas estreitas do Transtevere. Certo dia, o dono de uma delas resolveu abrir a guerra publicitária. Vai daí, colocou um cartaz à porta: «Este é o melhor restaurante do mundo!». Com ponto de exclamação e tudo. Ligeiramente irritado, o vizinho mais próximo recorreu igualmente à propaganda. Mas foi subtil. Limitou-se a uma frase de cariz assassino: «Este é o melhor restaurante da rua!».
O terceiro proprietário tinha, pelos vistos, uma noção das realidades muito mais concreta. Não virou as costas ao conflito da exposição. Lá terá pensado para com os seus botões que a escalada dos autoelogios atingira um ponto do não retorno. Então, para fugir ao ridículo, limitou-se a ser sublime. E o seu restaurante passou a exibir uma declaração simplista: «Aqui come-se».
Veio este arrazoado a propósito de Roma, para fugir aos estereótipos de Rosselini, Ana Magnani e Anita Ekberg a tomar banho na fonte de Trevi, mas eu queria era mesmo falar de Amphilóquio, o primeiro brasileiro a ser campeão do mundo de futebol, e da estranha equipa da Brazilazio. O som tem algo de familiar? Pois claro! É uma mistura entre Brasil e Lazio. Como vêem, Roma não caiu aí em cima por mero acaso, aos trambolhões do céu da imaginação.
Vou portanto até ao início da década de 1930. E à história de um rapaz brasileiro chamado Amilcar Barbury que apareceu na Lazio para tentar a sorte como jogador mas, tendo rebentado um joelho uns meses após a sua chegada, foi convidado para ocupar o lugar de treinador. Ora, este Barbury tinha sido precedido por dois outros compatriotas, filhos de emigrantes italianos do Brasil: Juan e Octavio Fantoni. Mas conhecidos por Ninão e Nininho. Convenhamos: formidável esta dupla - Ninão e Nininho. Tanto podiam ser músicos sertanejos como personagens do La Strada de Fellini. Lembram-se? Com o Anthony Quinn e a Giulietta Masina? Zampanó è Arrivato!!!.
Prossigamos na fascinante aventura do nunca mais acabar de brasileiros que começou a desaguar nas margens do Tibre nesses anos 30 em que a Itália se preparava para ser duplamente campeã do mundo de futebol. Depois de Ninão e Nininho, vindos do Palestra de Belo Horizonte, clube de italianos, claro está, atracou em Génova o vapor Conte Verde. Era o dia 22 de julho de 1931, um daqueles dias caídos no olvido mas fundamentais para a história daquele jogo inventado pelos ingleses em redor da redondez de uma bola, essa mágica senhora das paixões, como diria o Poeta da Montanha.
Viajavam nesse navio nada menos do que o tal Barbury, que viria a ser o técnico da Lazio, Pepe Rizzeti, do Palestra Itália de São Paulo, Del Debbio, um centro-campista do Corinthians, e o interior Tedesco, do Santos. No dia 6 de Agosto, é a vez do navio Duilio entrar no porto de Génova. Traz no bojo Rato Castelli, médio-centro, Demaria, ponta-esquerda, Serafini, ponta-direita, e um extremo azougado com um nome esdrúxulo: Anphilóquio Guarisi Marques, nascido em São Paulo, em 1905, de pai português e mãe italiana. No Brasil adquirira a prosaica alcunha de Filó; em Itália seria Guarisi.
Não foi preciso muito tempo para que esta escola de samba com jeito para o futebol, todos contratados pela Lazio, que chegou a ter um total de 13 italo-brasileiros ao mesmo tempo, arranjasse umas tranquibérnias lá no Brasil de onde tinham vindo. Uma reportagem feita pelo Il Littoriali, tri-semanário que funcionava como suplemento do Corriere dello Sport, trouxe a público declarações inflamadas dos recém-chegados nas quais renegavam o seu estatuto de brasileiros e afirmavam estar, agora sim, na sua verdadeira pátria. O Jornal dos Sports não os poupou: renegados, traidores, ingratos e vendidos, foram vários dos mais suaves adjectivos que encontraram para qualificar os compatriotas.
Amphilóquio, o Filó, destacara-se no Paulistano, na Portuguesa e no Corinthians, jogara ao lado do lendário Friedenreich e fora chamado por quatro vezes à selecção do Brasil. Mas não levou a bem ter ficado de fora da convocatória para o Mundial de 1930, no Uruguai. «Eras sobre eras se somem/No tempo que em eras vem», escrevia Pessoa n’A Mensagem. Filó deixou de ser Filó e passou a ser Guarisi, nome da mãe, italiana como já vimos, e adotou a nacionalidade de tal forma que Vittorio Pozzo começou a chamá-lo para a squadra azzurra. Em 1934, Filó já não Filó, fez parte da Itália que venceu o Mundial. Era reserva, só actuou num jogo. Mas, no Brasil esqueceram o vitupério e gabam-se, hoje, de o ter como primeiro brasileiro campeão do mundo. Quanto aos portugueses, nem sabem quem é o Marques, da parte do pai. Basicamente, querem que o Filó se quilhe."

ESTAR (OU NÃO) EM BOMBAIM


"Os pobres são necessários em Bombaim. Eles são as mãos e o trabalho barato. Mas a cidade não foi feita para os acomodar.

Bombaim – De há uns anos para cá começaram a chamar-lhe Mumbai. Parece que acaba de vez com a velhíssima teoria de que seria a Boa Baía dos portugueses. Virá de Mumbadevi, a Mãe, na língua do Maharastra. Muito bem. Não vou discutir. Não gosto de discutir etimologias. Saio sempre a perder. Mumbai; ou Bombaim, tanto faz.
Espreitei por todo o Mundo o cancro devastador da pobreza. Das grandes cidades de África às capitais da América Central e do Sul, passando por lugares sinistros de Portugal onde há meninos que passam as noites escondidos do frio por debaixo de folhas de cartão canelado. Mas na Índia vi a miséria. Uma miséria capaz de marcar a memória com o ferro em brasa de uma chaga que se não explica.
Dizem as estatísticas que, de há vinte anos a esta parte, entram em Bombaim mais de mil e quinhentas novas pessoas por dia. Vêm dos campos e trazem nada consigo. E em Bombaim não há espaço para eles. Os velhos blocos de apartamentos estão cheios, os arranha-céus entretanto construídos estão cheios; as barracas erguidas a torto e a direito estão cheias. Foi V.S. Naipaul, Nobel da Literatura, que escreveu: “Estar em Bombaim é estar na multidão permanente.
De dia, as ruas estão apinhadas; de noite, os pavimentos estão repletos de gente que dorme”.
Os pobres são necessários em Bombaim. Eles são as mãos e o trabalho barato. Mas a cidade não foi feita para os acomodar. As estatísticas dizem também que cerca de duzentas e cinquenta mil pessoas dormem nas ruas de Bombaim. Dormem? Mas dormir do verbo dormir? Este número parece demasiado curto, extraordinariamente curto para quem atravessa os quilómetros e quilómetros de avenidas da cidade e os vê empilhando-se em passeios, nas ombreiras das portas, nos separadores das vias rápidas. É preciso um esforço muito grande para entender a Índia. É preciso entender que a mendicidade sempre foi importante para os hindus como uma espécie de teatro religioso, uma demonstração dos trabalhos do “karma”, uma lembrança permanente das obrigações de cada um para consigo próprio e para com as suas vidas futuras. Apenas o exagero dos números foi, com o tempo, desvalorizando esta ideia.
Em Bombaim vi defeitos físicos que não pensava possíveis. Vi mutilações horrendas que aterrorizam os olhares. Muitas são, ao que me dizem, infligidas na infância pelos pais, que assim julgam garantir um futuro para os seus filhos, ou por um mendigo-chefe de uma qualquer estrutura organizada de pedintes que adquiriu a criança e pretende assim provar-lhe os pecados cometidos nas suas vidas anteriores. E os miseráveis foram corrompendo a nobreza de Bombaim. Escureceram essa cidade de edifícios vitorianos e fachadas góticas imponentes. E transformaram-se numa força política de importância primordial num processo lento de reacção comunitária perante as necessidades destes milhares e milhares de milhares de sem-abrigo. Uma força política nascida de uma nova religião cujos seguidores se consideram adstritos a um exército: o Shiv Sena, o exército de Shiva. Não o Shiva deus, mas Shivaji, o líder da guerrilha maratha no Séc. XVII que desafiou o império mongol e fez dos marathas, o povo da região de Bombaim, um dos grandes poderes da Índia durante o século que se seguiu.
Junto ao Hotel Taj Mahal, um dos mais luxuosos do Mundo, de frente para as portas da Índia, está a estátua equestre de Shivaji. Ele é o emblema do poder do Sena, do poder das colónias do pavimento, do poder dos habitantes das ruas, dos párias que demandavam a cidade e o trabalhos nas antigas fábricas de cortumes. Lá dentro, pelo corredores, fotografias de artistas, de cinema, da música, do desporto. Gosto de vir aqui. Acreditem: é barato. Para nós, que não queremos gastar mais de 25 euros num jantar e jantá-lo sentado entre o explodir das estrelas. Mas, quando saírem, saiam devagar.
Pelas vizinhas artérias de Colaba, pela largura de Cama Road, ali ao lado, espalham-se as figuras descarnadas dos seus súbditos sem cama e sem comida. Não os pisem."

A PELINTRICE DE D. MANUEL


"Vasco da Gama – Eles por aqui dizem Vascudegama, tudo misturado. Ou então apenas Vasco, para facilitar, aí já sem u. O aeroporto de Dabolim fica mesmo ao lado. Península de Mormugão, a 30 quilómetros de distância de Pangim, no delta do rio Zuari, maior porto de Goa, barcos parados sobre as águas, um ou outro, mais pequeno, de pesca, que zarpa em direcção ao horizonte, os edifícios da base naval indiana da INS Hansa, as instalações mal cuidadas dos Estaleiros Navais de Goa, os ferries para Dona Paula. Ao longe, a Ilha Grande, e as baías consecutivas de Bimbel Beach e Bagmalo Beach, sempre para sul até Velsão, Cansaulim e Majorda.
Estou na zona mais densamente habitada do estado de Goa, o mais pequeno de toda a Índia. Aquele que foi português até dezembro de 1961 mas cujas estações de caminhos-de-ferro, percursos fluviais e divisões administrativas ainda fui obrigado a decorar anos mais tarde, na Escola Primária de Santa Cruz, na ilha da Madeira, o ponto mais alto da ternura, num sala pejada de bibes brancos que tinha dependuradas na parede as fotografias de Sua Excelência o Presidente da República, Almirante Américo Deus Rodrigues Thomaz, e do Senhor Presidente do Conselho, Professor Marcello José das Neves Alves Caetano, sob um crucifixo no qual jazia, em prata, um Cristo cabisbaixo que velava por nós e, sobretudo, por eles. Goa, Damão e Diu, a Ilha de Angediva e os enclaves de Dadrá e Nagar-Haveli. Começávamos as aulas pela manhã com a lengalenga da Avé Maria Cheia de Graça/O Senhor é Convosco, ventre e tudo, e fechávamos para o almoço com as vozes afinadas nos Heróis do Mar/Nobre Povo/Nação Valente. Eram tempos bizarros, convenhamos.
Quando Vasco da Gama chegou à Índia era maio e fazia um calor insuportável em Calecute. Aliás, ensina-nos a História, era domingo quando Vasco da Gama chegou à Índia, mas só na segunda-feira é que João Nunes foi até Calecute. Os barcos ficaram parados um pouco mais a norte, ao largo de Pandarane e de Kappad Beach.
João Nunes era um degredado, mas parece que não era mau homem e revelava até alguma sensibilidade. Num assomo de ciúmes, espancou brutalmente o primo Fernão Nunes que lhe cobiçava a mulher, Constança, causando-lhe a morte. Ou talvez não tenha sido bem assim. Não garanto. João Nunes foi condenado ao degredo e ao porvir. Viu a cidade dos Samorins.
Parece que os presentes que Vasco da Gama levou ao Samorim de Calecute não eram lá grande coisa: algum tecido; uma dúzia de casacos; seis chapéus; coral; seis bacias; uma caixa de açúcar; um barril de mel e outro de manteiga rançosa.
Conta-se que o Samorim de Calecute riu-se que nem um perdido com os presentes de Vasco da Gama e com a pelintrice de D. Manuel, que queria ser Rei do Mundo comprando monarcas menores à conta de bugigangas.
Na Índia, dar presentes é muito importante. Mesmo que esses presentes façam as pessoas casquinar de gozo. Para os indianos, os presentes representam um regresso à infância, e na Índia a infância é transcendente.
A infância é a fase da vida em que temos mais dificuldade de separarmos o nosso mundo interior do mundo exterior. Os indianos vivem num estado de desenvolvimento em que o mundo exterior não tem uma existência independente, mas vive eternamente relacionado consigo e com os seus sentimentos. De certo modo, é como se vivessem numa infância permanente. Por isso as coisas não são apenas coisas: são boas ou más, ameaçadoras ou reconfortantes, brilhantes ou sombrias, conforme os sentimentos de quem as vê.
Estando em Vasco da Gama, Alto de Chicalim, a ver o mar pelo qual Vasco da Gama aqui chegou antes de isto ser Vasco da Gama, não consegui deixar de sorrir a pensar no Samorim de Calecute às gargalhadas perante os presentes foleiros de D. Manuel. Não deve ter sido uma situação agradável para Vasco da Gama. Até certo ponto, o Samorim mandou-o à merda. E isso não vinha nas sebentas..."