quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

“O PRESENTE É MOTIVO DE CONFIANÇA PARA O NOSSO FUTURO”


CLUBE
O Presidente do Benfica falou na inauguração da nova área temática do Museu. Destacou e recordou a obra feita, valorizou a aposta acertada nos jovens da formação e a solidez financeira do clube, e enumerou os projetos que guiam os próximos anos da instituição.
No dia em que o Sport Lisboa e Benfica comemora 115 anos, Luís Filipe Vieira discursou na inauguração da nova área do Museu Benfica – Cosme Damião: “Museu Talismã – História, troféus e Mística desde 2013”. Na cerimónia estiveram presentes vários atletas do futebol e das modalidades do clube.
“No dia em que comemoramos 115 anos, quero deixar uma palavra de confiança e otimismo a todos os Benfiquistas. Confiança pela obra e resultados desportivos que falam por nós. Otimismo porque o nosso projeto de futuro está assente nas sementes que lançámos no passado e cujo melhor exemplo é a aposta na nossa formação”, começou por assinalar.
O Presidente das águias prosseguiu a sua intervenção recordando uma medida recente colocada em prática pelo clube: a compra à SAD das empresas do Grupo Benfica – Benfica Estádio e Benfica TV.
“Mas, neste dia de aniversário, no dia em que comemoramos os 115 anos do clube, queria desde já destacar a prenda que queremos dar a todos nós, Benfiquistas. Graças ao processo de recuperação e consolidação da nossa situação financeira, o Sport Lisboa e Benfica irá em breve passar novamente a deter a Benfica Estádio – proprietária do Estádio – e a Benfica TV, situação diferente da que ocorria na SAD, onde o clube e os seus associados apenas têm uma posição maioritária. Assim se devolve o Benfica aos Benfiquistas. Se a isso juntarmos a promessa cumprida de pagarmos a esmagadora maioria das nossas dívidas bancárias, com as receitas do novo contrato de direitos televisivos, demonstramos bem a solidez financeira que vivemos, num clube cada dia mais autónomo e respeitado”, recordou.
Outro destaque dado por Luís Filipe Vieira foi a venda, pela primeira vez na história do Benfica, de mais de 40 mil RED PASS, o que permite ao Estádio da Luz ver preenchido, em cada jogo da equipa de futebol, 75% da sua capacidade.
“Outra notícia desta semana demonstra bem a forma como os adeptos querem estar cada vez mais próximos do clube e, neste caso, da nossa equipa de futebol. Ultrapassámos o objetivo dos 40 mil RED PASS vendidos no nosso estádio, o que, com os 8 mil lugares Corporate existentes, elevam para 75% a taxa de ocupação do estádio garantida antes de o início de qualquer jogo. Batemos, assim, mais um recorde histórico”, indicou.
“São números que estão em sintonia com o facto de hoje o Benfica estar no top europeu dos mais diversos indicadores, demonstrando toda a excelência do trabalho dos nossos profissionais nas mais diversas áreas. Orgulhamo-nos por sermos reconhecidos, dentro e fora de portas, como um exemplo de boa gestão empresarial e desportiva”, sublinhou de seguida o Presidente.
Os 115 anos ficam marcados pela inauguração de uma nova área temática no Museu Benfica – Cosme Damião. “Museu Talismã – História, troféus e Mística desde 2013” resume todas as conquistas realizadas pelas equipas do clube: futebol e modalidades desde que este espaço cultural e de História foi aberto ao público.
“Assinalar este aniversário com a inauguração desta nova área do Museu tem todo o simbolismo, quando o tema desta primeira exposição visa precisamente homenagear e recordar todos os títulos obtidos desde que este novo Museu foi aberto em 2013. É mais um capítulo que ficará na nossa história, recheada de conquistas e de feitos notáveis nas áreas do Futebol, Modalidades, Projeto Olímpico e Património Cultural. O passado recente é motivo de orgulho presente e futuro”, considerou Luís Filipe Vieira.
“A construção do novo estádio, do novo Museu, do Caixa Futebol Campus, o trabalho notável feito na uniformização das Casas do Benfica e no novo projeto Casas 2.0, o trabalho da nossa Fundação, a inovação e modernização de todas as áreas, o profissionalismo reconhecido dos nossos profissionais, mas sobretudo as conquistas e resultados obtidos pelos nossos técnicos e atletas, são marcos intemporais”, prosseguiu.
“Mas também digno de registo e orgulho é o apoio incansável, diário, dos nossos milhões de Sócios, adeptos e simpatizantes espalhados pelo mundo. O presente é motivo de confiança para o nosso futuro”, vaticinou o líder dos encarnados.
A aposta nos jovens oriundos da formação é já realidade e uma imagem de marca da equipa de futebol. Sucesso e talento andam de mãos dadas; ambição e inconformismo são modos de estar incontornáveis do ninho da águia.
“A forma como singram e se integram facilmente os nossos jovens talentos, as pérolas da Luz, na nossa equipa principal, resultam de uma visão, de um rumo, de todo um projeto que é uma das pedras basilares para que o Benfica concilie a hegemonia no futebol nacional e uma ambição cada dia maior em termos europeus. E o futuro é sinónimo da nossa ambição e do nosso permanente inconformismo”, enfatizou.
O Benfica é uma obra inacabada e uma constante evolução. Pese embora o trabalho já realizado, Luís Filipe Vieira apontou aos projetos vindouros.
“Novos projetos estão a ser preparados: destaco o centro de alto rendimento, o Museu Benfica, a Rádio Benfica, o Benfica digital e a ampliação e alargamento do nosso Caixa Futebol Campus”, enumerou.
“Tem sido um privilégio participar nesta gloriosa história. Por isso, e por tudo o resto, um grande obrigado a todos os Benfiquistas. Viva o Sport Lisboa e Benfica”, concluiu.
“Ferro renovou com uma cláusula de 100 milhões de euros”
Após o discurso, Luís Filipe Vieira respondeu às questões colocadas pela Comunicação Social presente no evento, começando por revelar o momento mais marcante desde que é Presidente do Benfica.
“Os momentos são mutos. O momento que me marca a mim, marca os Benfiquistas. Temos desenvolvido um trabalho que nos deixa orgulhosos. Os maiores marcos são o Estádio, o Museu e o Caixa Futebol Campus. O importante é que sintam tudo isto como uma obra nossa e não como uma obra de alguém”, disse.
O líder dos encarnados explicou, ainda, a aquisição da Benfica Estádio e da BTV por parte do clube.
“Numa primeira fase, nos Estados Unidos da América, disse que as Casas do Benfica eram o braço-armado; numa segunda fase referi que íamos devolver o Benfica aos Benfiquistas. Tudo o que nos norteou foi a recuperação da autoestima dos Benfiquistas e recuperar a parte financeira; a terceira fase passou por entregar o património na totalidade ao Sport Lisboa e Benfica. Pretendemos bloquear o Clube ao populismo e à demagogia. Queremos continuar a trabalhar em torno de um bem comum: o Sport Lisboa e Benfica. Os Benfiquistas já podem gritar que o Benfica é nosso”, elevou.
Outra das questões colocadas ao Presidente benfiquista foi o crescimento do Caixa Futebol Campus e a aposta nos talentos Made in Seixal.
“Faz parte deste projeto do Benfica. Antes ninguém olhava para o Caixa Futebol Campus e agora já olham. O que tenho dito é que tudo faremos para que os jovens fiquem o máximo tempo possível no clube e que saiam apenas pelas cláusulas de rescisão. O Ferro renovou com uma cláusula de 100 milhões de euros”, revelou.
“O Benfica tem tido a aposta no Caixa Futebol Campus. Tivemos de vender alguns jovens; com o Rui Vitória lançou-se alguns jovens, com o Bruno Lage, por estar familiarizado com o Caixa Futebol Campus, apresentámos na Turquia uma equipa jovem. A aposta é para manter”, completou.
Este sábado, o Benfica desloca-se ao Estádio do Dragão para disputar a 24.ª jornada da Liga NOS diante do FC Porto. Luís Filipe Vieira garantiu que as águias vão lutar pela vitória.
“Vamo-nos apresentar no Dragão com uma equipa jovem, das mais novas de que há memória. Vamos para ganhar e esperamos que seja um grande jogo. Vamos para o campo com o pensamento da vitória. Que as três equipas estejam ao nível do jogo”, desejou.
“Neste momento qualquer Benfiquista sente orgulho nos seus jogadores e treinador”, reconheceu.
Direção, Órgãos Sociais, ex-jogadores, coordenadores, capitães, atletas, do Futebol às Modalidades, passando pelo Projeto Olímpico, no Feminino e no Masculino, no final cantaram os Parabéns a Você, com Luís Filipe Vieira a apagar as velas do bolo dos 115 anos do Clube.
A uma só voz, gratidão ao Clube e um orgulho imenso em fazer parte de uma História gloriosa… e muita, muita ambição em fazer e em ganhar mais!

CHOVIA COMO SE O CHÃO DOESSE...


"White não era apenas branco de apelido. A sua tez era tão clara que fazia dele praticamente transparente. Alvo, louro, exangue, como o Menino de Sua Mãe, tinha um jeito especial para não ser visto. Não que pura e simplesmente passasse despercebido. Era a forma como se movimentava, como corria sem que os pés tocassem o chão, com asas nos tornozelos de Mercúrio alabastrino. Por isso chamaram-lhe Fantasma. O Fastasma de White Heart Lane.

John White e Cliff Jones eram bons amigos. Um escocês e um galês que jogavam no meio-campo do Tottenham. Não perdiam a oportunidade para uma boa pilhéria. Traziam um sorriso contínuo riscado na cara. Há quem garanta que essa foi a melhor equipa dos spurs de todos os tempos. Primeiro clube inglês a ganhar uma taça europeia. Tinha o estupendo Jimmy Greaves. E Danny Blanchflower, o Expresso de Belfast. E o inultrapassável Dave Mackay. E aquele toque nigromante do Fantasma.
No dia 21 de Março de 1962 estiveram em Lisboa, para defrontarem o Benfica. Mas isto é só um pormenor. Que até nem vem propriamente ao caso. Outro dia 21, o de Julho de 1964, seria mais importante. Ou mais trágico, se quiserem.
No final do treino, John atrasou-se no chuveiro e Cliff aproveitou para se ir embora levando as calças do parceiro. O tipo de facécia à qual não conseguia resistir. White ver-se-ia positivamente com as calças na mão, não se desse o caso de elas terem desaparecido do cacifo. Encolheu os ombros. Era um rapaz desembaraçado. Meteu-se no carro de cuecas e guiou até casa para buscar outro par. Em seguida dirigiu-se a Crews Hill, uma colina nos arredores londrinos de Enfield, uns vinte quilómetros para norte de Charing Cross. O lugar em que costumava bater umas bolas de golfe na companhia de Jones. Aproveitaria para reaver as calças e talvez conseguisse vencer o comparsa por uma diferença suficiente para o deixar espinafrado. Enganou-se. Nunca mais o veria.
A tarde começou a enegrecer a pouco e pouco. Nuvens escuras acumularam-se no horizonte e um vento incomodativo desarrumou as folhas das árvores e inquietou os pássaros. John bem esperou por Cliff, mas este não apareceu. Decidiu jogar sozinho. Já ia no nono buraco quando a chuva tombou em bagas grossas e se ouviu o primeiro trovão.
Um raio atravessa o corpo humano em três milésimos de segundo, diz a ciência. A corrente eléctrica que desabou sobre White queimou-lhe a pele e fez-lhe explodir os vasos sanguíneos. Rebentou-lhe os tímpanos, parou-lhe a respiração e provocou-lhe um ataque cardíaco no meio de um estertor escabujante. Deixou no cadáver do Fantasma aquilo que os médicos chamam a Figura de Lichtenberg, uma cicatriz que desenha o mapa da circulação interna do relâmpago. White podia ser um sujeito apessoado, mas não foi um cadáver bonito. No plaino abandonado, sem uma morna brisa que o aquecesse, de braços estendidos, fitou com olhar langue e cego os céus perdidos. Chovia como o céu doesse...
The Ghost: In Search of My Father, the Football Legend, é um livro tocante. Foi escrito por Rob White, filho do segundo casamento de John, com Sandra, uma rapariguinha de 22 anos que lhe dera igualmente uma filha, Mandy. Rob nunca conheceu verdadeiramente o pai, mas escavou fundo nas memórias de todos quantos os conheceram. Afinal tinha apenas seis meses quando aquela luz decidiu despenhar-se sobre a árvore debaixo da qual White se protegera de uma tempestade de Julho, quase tropical. Talvez tivesse mais confiança na natureza do que em Deus. Havia uma capela ali a dois passos. Nunca ninguém saberá o que motivou a decisão. As cicatrizes calam.
«Vivo há muito numa caixa fechada com muito para resolver», escreveu Rob. «Nem ao certo sei o que aconteceu com as cinzas do meu pai. Disseram-me que iriam espalhá-las sobre a relva de White Heart Lane. Nunca o confirmei». Entretanto o estádio do Tottenham foi demolido. O_Fantasma ficou sem casa. Vaguerá sem destino, se esse é o destino dos fantasmas.
Houve um dia que Rob sentiu necessidade de ir a Musselburgh, na costa de Firth of Forth, não longe de Edimburgo, local onde John nasceu em 1937. Procurou uma pousada para passar a noite e instalou-se antes de deambular pelos arredores. Contou que, apesar de ir em busca das raízes paternas, não revelou inicialmente quem era. Uma espécie de demanda, talvez. Necessidade de reservar a intimidade da sua peregrinação. A senhora que o recebeu arranjou-lhe um quarto agradável e pediu-lhe um documento de identificação. Em seguida perguntou-lhe se queria deixar na recepção o número de alguém próximo para o caso de suceder algum imprevisto. Rob estranhou: «Mas que diabo me pode acontecer enquanto passeio no campo?» E ela, com toda a naturalidade: «Ora, pode muito bem cair-lhe um raio em cima»."

AS LANÇAS APONTADAS - BTV - 27 FEVEREIRO 2019

                                           

VAMOS VIVER UM GRANDE CLÁSSICO!


"Depois de, na segunda-feira, para a Liga, o Benfica ter derrotado o Chaves com toda a naturalidade, ontem foi a vez do FC Porto, em jogo da Taça, manifestar superioridade sobre o SC Braga, com um triunfo que o coloca com pé e meio no Jamor.
Dragões e águias, líderes destacados do campeonato, estão assim em condições perfeitas para prepararem o duelo do próximo sábado, 90 minutos de futebol que têm tudo para serem determinantes na atribuição do título de 2018/19.
O Benfica chega ao Estádio do Dragão na melhor fase da época, organizado, ágil e vibrante, com uma desinibição que há muito não se lhe via: já o FC Porto, ultrapassadas algumas hesitações que lhe custaram pontos, parece devolvido à ambição que é a imagem de marca do seu treinador e moralizado também pelo regresso ao activo de algumas das mais importantes individualidades do seu plantel.
Estão, desta forma, reunidas condições para um tremendo clássico, para mais tarde recordar. Porém, para que o futebol possa cumprir a seu destino, há que desvalorizar a poluição que desde já se antecipa e que, desgraçadamente, tem tido demasiado tempo de antena em situações anteriores, tornando o ambiente impróprio para quem quer desfrutar de duas excelentes equipas.
Nestes dias que antecedem o clássico, que sejam os protagonistas a ter a palavra, procurem-se opiniões livres, informadas e construtivas, e ajude-se a criar um grande espectáculo.
Para o futebol português, o caminho de terra queimada que tem vindo a ser trilhado não terá outro resultado que não seja o de descrédito e declínio. E já é mais do que tempo para recusar o passo em frente ao abismo que muitos parecem apostados em dar..."

José Manuel Delgado, in A Bola

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

TROTINETAS E "TRETINETAS"


"Nem sequer refiro, por insignificante, a ida de um presidente e director de futebol à cabina, de um árbitro, no fim de uma partida

1. Hoje resolvi escrever este meu texto em jeito de trotineta. Desde logo, porque as trotinetas estão na moda e não exigem muita energia. E porque o ambiente em redor e por causa do futebol patina constantemente e com ligeireza, como se ele próprio fosse uma trotineta.
Começo pelas propriamente ditas. Diz a Wikipedia que a trotineta (versão mais aportuguesada do que trotinete e, em português brasileiro, patinete, o que, desportivamente falando, é bem sugestivo da ideia de se porem os patins a alguém) é «um meio de transporte constituído por duas rodas em série, que sustentam uma base onde o utilizador apoia os pés, guiando-o através de uma guidão que se eleva até à altura da cintura».
Em Lisboa, há trotinetas por todo o lado. Senhores engravatados, jovens com mochila às costas, par de namorados encostados na estreita base da maquineta enxameiam tudo o que é ou parece pavimento na urbe. Nas agora ciclovias, nos passeios destinados aos peões (que os trotineterios não são, por essa circunstância de andarem em trotinetas), nos corredores bus a descer a Avenida da Liberdade ou outra rua qualquer, ou, ainda, navegando em amostras de asfalto. Estacionados em pé, deixados deitados em regime de pousio abandonado, encostados a qualquer coisa que não mexa, eis agora a trotinelândia. A trotineta tende a ser politicamente incorrecta quanto ao seu uso por sexo (perdão, por género). Certamente o leitor já reparou que, ao invés das bicicletas, são os homens que muito mais utilizam este meio do que as mulheres. E agora que há ginásios e outros negócios de 'fitness' (que fino!), quarteirão sim, quarteirão sim, desconfio que muitos dos utilizadores das trotinetas que não se auto locomovem vão, de seguida, enfiar-se nos tais espaços para fazer os exercícios que não fazem quando na rua. E, mesmo assim, há quem chame ao andar de trotineta 'desporto de rua'! Também há quem use bicicletas eléctricas sem necessidade de dar ao pedal, mas que depois vai apresado para o ginásio fazer bicicleta numa múmia paralítica a fingir que é uma bicicleta.
Enfim, sinais dos tempos, em que se finge com inusitada autenticidade e se perde a genuinidade com indisfarçável dissimulação.

2. No nosso futebol, abundam os trotineteiros. Em cima da prancha são uns ases. Não cumprem as regras de trânsito (em verdade, até as desprezam) e inventam trajectos de que nem os canídeos se lembram. Uns meses no equilíbrio para gerar desequilíbrios. Sempre sorridentemente sorrateiros, são experts em aplicações móveis da arte alucinante de mentir e da imaginação fértil de inventar. A este propósito, vale a pena citar o escritor americano Mark Twain, de tão actual que é, apesar de ter vivido mais no século XIX: «A Mentira, na sua condição de Virtude e de Princípio é eterna. A mentira, enquanto passatempo, refúgio em tempo de necessidade, a quarta Graça, a décima Musa, a melhor e mais fiel amiga do homem, é imortal e não desaparecerá da Terra enquanto este Clube existir. Um grupo de entendidos que bem merecem ser designados, quanto a esta matéria e sem lisonja indevida, Velhos Mestres» (as maiúsculas foram do autor, não minhas).
Em relação ao veredicto de Twain, há agora uma diferença assinalável dos trotineiros da bola, uns mais boçais, outros mais filósofos. Têm como aliados preferenciais e via verde (sem qualquer conotação maldosa) dos youtubefacebooktweetinstagram, etc., que o americano jamais sonhou usar como correio azul (sem qualquer conotação maldosa) da mentira e da invenção. Mas são também aliados de certos meios de chamada comunicação social que, em regime de via larga, acolhem as tretas, as clonam com uma profusão assinalável e as manipulam na trotineta das audiências. E o povão, sedento de qualquer quebra da rotina do quotidiano, aplaude freneticamente, estas trotinetas das tretas, ou usando um forçado neologismo as tretinetas.
Na última semana, duas tretinetas, entre vários exemplos. Com um pé na prancha e outro fora dela (o programa até se chama Pé em Riste), um comentador insinuou, seguindo li no Público, que a equipa do Benfica deveria ser sujeita a um teste antidoping, após as recentes exibições ao leme de Bruno Lage: «Eu tenho visto os jogadores a correr e espero que se façam os testes antidoping, que são normais e imperativos. Eu acho que da forma que o Benfica tem corrido não ficava nada mal fazer um teste antidoping. Quem não deve não teme». Quando li a notícia - confesso - só me lembrei de duas populares e sempre sábias asserções: 'mosquitos por cordas' e 'engolir um boi e engasgar-se com um mosquito'. O primeiro percebe-se: o Benfica de tanta correria está, novamente, na luta pelo campeonato e, como tal, nada melhor do que fantasiar e armar confusão e bagunça. O segundo cada qual que faça e sua leitura, preferencialmente recordando outros tempos áureos de boi e/ou do mosquito. Melhor que todos esteve Bruno Lage ao ser questionado sobre este não assunto: «indiferença total».
O segundo ponto veio de outra trotineta, neste caso, televisiva. O director de comunicação de um clube, o FCP - consoante voltei a ler no jornal Público «levantou a suspeita de o Benfica estar a influenciar os adversários para que estes sejam mais agressivos nas disputas de bola com jogadores dos dragões», dando a lesão de Danilo Pereira como exemplo. E, não satisfeito com tanta preclara insinuação, o remunerado funcionário desenvolve: «No lance do Danilo, o jogador não vai sequer à bola, quase que deixa transparecer que há intencionalidade em diminuir os nossos jogadores (...). E se há um clube que é capaz de violar o sistema informático de justiça, que é suspeito de prometer prémios para as equipas ganharem ou empatarem com os rivais, que é suspeito de pagar para vencer, eu também posso levantar suspeitas que podem (sic) estar a haver pagamentos, ou coisas parecidas, para o que está a acontecer».
Pronto. Ele Jota Marques decidiu, está decidido. Éber Bessa, o faltoso (e agressor, segundo ele) jogador sadino não cuidou dos travões da sua trotineta, quem sabe se também paga pelo Benfica. Por mera curiosidade, aqui me lembro do número de faltas do Vitória de Setúbal: apenas 7 (o Porto fez mais do dobro, 16...), ao que julgo, recorde mínimo na Liga, a uma média de uma falta por cada 13,5 minutos de jogo.
Uma pequena dúvida se me assaltou ainda. Marega, o influente jogador do FCP, contraiu, há pouco tempo, uma rotura muscular. Ao que me recordo, a correr sozinho. Brahimi também se magoou, ao que julgo, sozinho também. No início da época, Aboubakar teve uma grave lesão. Ao que me lembro, igualmente sozinho. Ou estarei enganado? Ou será que a relva é paga pelo Benfica para magoar estes atletas? Nessa altura, melhor fora que lhe chamassem - à brasileira - a grama do gramado (não confundir com grana dos jogadores). Ou será, ainda, que há toupeiras encarnadas a fazer buracos na relva onde o Porto joga? Não sei mesmo se o avisado interpelador não teve em mente os mimos do jogo da primeira volta na Luz entre SLB e FCP. Estão no youtube. Vale a pena revê-los...
E, por aqui, me fico quanto a trotinetas. Nem sequer refiro, por insignificante, a ida de um presidente e director de futebol à cabina de um árbitro, no fim de uma partida. Em trotinerta, claro.
Felizmente, estamos perto do Entrudo. Uns de trotinetas, outros com tretinetas.

Contraluz
- Treinadores I: Diego Simeone
O técnico do Atlético de Madrid manifestou-se num dos golos da sua equipa contra a Juventus de uma forma exuberantemente genital (ou agrária). Censurável sem dúvida, apesar de muito genuína. É dos poucos treinadores que não pode a trotineta emprestada.
- Treinadores II: Os despedidos simples ou postos na rua os patins das trotinetas dos jogadores. Do ponto de vista financeiro - no futebol de alta roda - o melhor que pode acontecer a um treinador é ser despedido, mesmo que sem direito ao respectivo subsídio. Não tem de trabalhar e recebe uma indemnização choruda. Uma maravilha! Houve e há até técnicos especializados nesse 'rodízio' imperdível! O último despedido, José Mourinho, ao que dizem as notícias, arrecadou a módica quantia de 22 milhões! «Despeçam-me, por favor», pensarão alguns, coitados ainda a trabalhar.
- Similitude: É verdade, Rúben Dias deveria ter visto o segundo amarelo na Vila das Aves, numa falta bem escusada, por sinal. É verdade, Herrera deveria ter visto também o segundo amarelo em Tondela.
- Frase I: «Não se pode confundir velocidade com pressa»
(Walter Casagrande, ex-jogador)
- Frase II: «O povo toma pileques de ilusão com futebol e carnaval. São estas as suas duas fontes de sonho»
(Carlos Drummond de Andrade)
- Confusão: Há certos nomes de jogadores que abundam. Um deles é Dembelé. Estava a ver o Lyon - Barcelona e havia quase três (dois no Lyons, embora um por aproximação. Ndombelé, e outro no Barça). Há outros pela Europa e China e até um outro em Portugal (no Tourizense)."

Bagão Félix, in A Bola

VENCER COM BRILHANTISMO


"Imprevisibilidade do Benfica, com e sem bola, e qualidade individual fizeram a diferença

Qualidade
1. O Chaves abordou este jogo de uma forma organizada, optando por um bloco baixo, com todos os jogadores atrás da linha da bola, criando algumas dificuldades ao Benfica nos minutos iniciais. Com isto, com a linha defensiva baixa, com os sectores muito próximos, fechou muito bem o corredor central, o que retirou espaço entre linhas aos jogadores do Benfica e espaço nas costas da linha defensiva, com Félix, Seferovic e Rafa (este procura mais movimentos de ruptura que Pizzi) a não conseguirem privilegiar esse espaço nas costas, já que ele não existia. Aqui, veio ao de cima toda a qualidade do Benfica, que com paciência, muita paciência (76 por cento de posse de bola na primeira fase do jogo), chegou ao primeiro golo. A partir o jogo ficou mais aberto, com mais espaços, o que acabou por beneficiar o Benfica, e com isto, o próprio jogo.

Variabilidade
2. A maneira como o Benfica olha para o jogo, a maneira como os jogadores o pensam, como se relacionam entre eles, a relação com o espaço (a agressividade na procura deste) e com o tempo, aliando a isto toda a imprevisibilidade, com e sem bola, com a qualidade individual, fez toda a diferença, acabando por desbloquear um jogo que nos minutos iniciais aparentava não ser fácil.

Dinâmica ofensiva
3. A dinâmica dos seus jogadores: Seferovic a trabalhar a profundidade e a esticar o sector defensivo do Chaves, possibilitando que Félix, Pizzi e Rafa pegassem no jogo por dentro, mas muitas das vezes caindo também em corredor lateral e baixando na procura do espaço entre linhas, sendo que neste momento Rafa e Félix procuravam movimentos de ruptura, ia colocando dificuldades ao seu adversário (só nos primeiros 30 minutos Rafa tem quatro situações para poder finalizar com golo). Pizzi constantemente a procurar movimentos interiores, o que permitiu aos laterais envolverem-se constantemente no processo ofensivo, criando também eles alguns desequilíbrios. Uma nota também para Gabriel, muito forte no primeiro momento de construção, tento em apoio como a procurar a largura e a profundidade dos elementos mais avançados.
O Benfica controlou todos os momentos de jogo, sempre com o intuito de criar perigo e fazer mossa, o que valoriza muito o jogo, o jogar e os próprios jogadores.

Transição defensiva
4. As equipas que melhor defendem não são obrigatoriamente as que mais defendem. De todos os momentos de jogo, este desperta muito a atenção. A maneira como o interpretam, o objectivo de recuperar o mais rápido possível a bola após o momento da perda (só isto justifica a quantidade de faltas cometidas no meio campo ofensivo), torna esta equipa fortíssima. Ver jogadores como Pizzi, Félix, Seferovic, Rafa (amarelo por anular a transição ofensiva do Chaves), Gabriel, Florentino, toda esta reacção colectiva, faz com que este Benfica raramente se apresente desequilibrado defensivamente e esteja sempre muito próximo da baliza dos adversários.

Seferovic-Félix anti-rotatividade
5. Bruno Lage já nos habituou a uma rotatividade entre os vários jogadores, tanto do sector defensivo como do sector intermédio. Quanto ao sector avançado, tem optado sempre pela dupla Seferovic-Félix, podendo isto parecer um pouco estranho estando como segunda opção um jogador de tamanha qualidade como Jonas.
Avaliando pelo rendimento, estes dois jogadores que têm sido sempre opção inicial, levam em 12 jogos, entre golos e assistências, 27 golos. Recordo-me de uma frase de outro génio que por ali passou, Pablo Aimar, que dizia que «por vezes há dois jogadores que se entendem só de olhar um para o outro, ainda que haja outro que, individualmente, seja melhor que eles», não estando ou com isto a compará-los, já que são três jogadores de imensa qualidade."

Carlos Pinto, in A Bola

A LUTA DO TÍTULO SERÁ SÓ A DOIS


"Sábado próximo, no Dragão, encontro marcado com as duas melhores equipas do campeonato português. Será, ou não, o jogo do título, mas será, certamente, um dos clássicos menos previsíveis de sempre.
Neste momento, poucas dúvidas existirão de que o título desta época será, afinal, uma luta a dois. FC Porto e Benfica ganharam já suficiente distância, depois de uma jornada em que o SC Braga perdeu em casa, com o Belenenses, e o Sporting não conseguiu melhor do que um pálido 0-0, no Funchal, ficando a três pontos dos minhotos, a dez(!) do Benfica e a onze (!) do FC Porto.
O jogo do Dragão surge, assim, como uma autêntica cimeira de líderes. Apesar de não ser matematicamente decisivo, pode ser considerado mais importante para o Benfica. Uma derrota colocaria o FC Porto com uma vantagem de conforto, salvaguardando, mesmo, qualquer desaire. Porém, na actual fase, manifestamente crescente, do futebol do Benfica, com a equipa e com os adeptos tão visivelmente empolgados, um eventual empate e, sobretudo, uma hipotética vitória poderia tornar esta equipa de Bruno Lage verdadeiramente imparável.
Ontem, na Luz, o ambiente escaldou e derreteu um Chaves que tentou ser o mais gelado possível. Mais uma exibição poderosa do futebol ofensivo do Benfica, que chega ao impressionante número de 64 golos marcados em 23 jogos, o que dá uma média invulgar de quase 2,8 golos por jogo. Mas invulgar é, também, a média de golos sofridos por parte do FC Porto: cerca de meio golo por jogo, o que torna este clássico particularmente fascinante.
Sábado, o país vai parar para ver."

Vítor Serpa, in A Bola

SUB-23 PERDEM NO ESTORIL


PRESSÃO FINAL INSUFICIENTE PARA O EMPATE
FUTEBOL
Os Sub-23 do Estoril, a jogarem no seu estádio, superiorizaram-se ao Benfica.
As equipas de Sub-23 do Estoril Praia e do Benfica encontraram-se, na tarde de quarta-feira, no Estádio António Coimbra da Mota para disputar a 2.ª jornada da fase de apuramento de campeão da Liga Revelação. A formação da casa foi mais forte e venceu, por 1-0.
Diante do seu público, o Estoril tentou pegar no jogo e aos 2’, de longe, Cassini procurou alvejar a baliza defendida pelo estreante Leo Kokubo, mas o remate saiu ao lado. Um minuto depois, Luís Lopes respondeu com um remate à entrada da área. César, guarda-redes canarinho, encaixou com segurança.

Ainda assim, o equilíbrio foi a nota dominante nos minutos iniciais, com a bola a ser muito disputada no miolo. O Estoril tentou jogar mais vezes em ataque organizado, com as águias a espreitarem as saídas em transição, aproveitando a velocidade de homens como Edi Semedo, Luís Lopes e Rodrigo Conceição.
Aos 17’, Matheus Leal perdeu a bola a meio-campo, o Estoril saiu rápido para o ataque, Cassini cruzou da esquerda e Jonata ficou a centímetros do golo. No lado encarnado, o corredor direito continuava a ser o privilegiado para levar perigo até à baliza estorilista.
A equipa da casa parecia melhor na partida nesta fase e, aos 29’, uma triangulação entre Chaby e Cassini na esquerda permitiu a este último um remate cruzado que Leo Kokubo defendeu de forma atenta. Volvidos 10’, aos 39’, Leo Kokubo afastou novo cruzamento perigoso da esquerda do Estoril, desta feita realizado por Totti.
De novo pela direita, o Benfica a levar perigo, aos 40’. Edi Semedo, com um grande pormenor na linha lateral, tirou o adversário da frente, cruzou, mas o cabeceamento de Luís Lopes saiu ao lado. Ao intervalo, o resultado do Estoril-Benfica era 0-0.

Depois da mexida forçada durante o primeiro tempo – lesão de Diogo Pinto –, Luís Tralhão fez entrar Jair Tavares para o lugar de Rodrigo Conceição no recomeço.
A papel químico da primeira parte, na etapa complementar o Estoril continuou a ter maior posse de bola, com o Benfica a tentar usar a velocidade dos seus homens da frente para levar perigo à área contrária. Aos 59’, Jair Tavares recuperou o esférico, saiu rápido, Edi Semedo cruzou da direita para Luís Lopes, que rodou sobre si mesmo, mas o disparo saiu frouxo.

À medida que os minutos ia passando, os jogadores pareciam perder fulgor e clarividência, com o jogo a ficar mais confuso e trapalhão.
[GOLO: 1-0] Aos 80’, o Estoril recuperou o esférico, Fábio Martins, com um passe nas costas, desmarcou Cassini que, perante a saída de Leo Kokubo, picou o esférico sobre o guarda-redes e inaugurou o marcador no Estádio António Coimbra da Mota.
Ao golo sofrido respondeu o Benfica com a subida das linhas, povoando o meio-campo do Estoril e acercando-se da área com algum perigo. A pressão final dos comandados por Luís Tralhão acabou por não surtir efeito e os Sub-23 dos encarnados foram derrotados por 1-0 pelo Estoril.
Onze inicial do Benfica: Leo Kokubo; Tomás Tavares, Miguel Nóbrega, Pedro Ganchas, Matheus Leal; Diogo Capitão, Nuno Cunha (68', Tomás Domingos), Diogo Pinto (28', Francisco Saldanha); Edi Semedo, Rodrigo Conceição (46', Jair Tavares) e Luís Lopes (74', Vinícius).
Suplentes: Dylan, Luís Pinheiro, Tomás Domingos, Hélder Baldé, Armalas, Vinícius, Francisco Saldanha, Jair Tavares, Vasco Paciência e Pedro Soares.
Na próxima jornada, a 5 de março, o Benfica recebe o Rio Ave no Campo n.º 1 do Caixa Futebol Campus.

O EFEITO PIZZI


"1. O Benfica mudou de sistema e, para surpresa dos cépticos, as melhorias em campo não tardaram. Como sempre acreditei, ficou provado que, individualmente, os jogadores eram bem melhores do que pareciam e que o plantel, mesmo com alguns equívocos, era suficientemente profundo. Se todos melhoraram, há dois que não só melhoraram, como têm sido decisivos para a melhoria colectiva do Benfica: Gabriel e Pizzi.
O brasileiro, uma espécie de 'quarterback', que recua para melhor ler o jogo, aproveitar a profundidade e circular a bola, fica para outro texto. Concentro-me no bragantino, que beneficiou muito da nova posição. A actuar como falso extremo, regressou o melhor Pizzi - o da época do tri. Agora, como então, os movimentos da direita para o centro são determinantes para o futebol atacante do Benfica. Se no passado, era a profundidade oferecida por Nélson Semedo, a jogar por fora, que complementava as deslocações de Pizzi, desta feita são as trocas posicionais com João Félix. É aí que reside parte significativa do potencial desequilibrador do Benfica.
Bem sei que as estatísticas não encerram toda a discussão, mas os números de Pizzi recolhidos pelo sempre proveitoso Goal Point dizem-nos alguma coisa. Para o campeonato, o médio leva já oito golos - e ontem podiam bem ter sido mais dois - e 12 assistências (são 16 em todas as competições), precisamente o dobro de um dos melhores e mais decisivos jogadores da nossa Liga, Bruno Fernandes - já agora, em segundo lugar deste ranking, está outro benfiquista, André Almeida. Para termos um termo de referência, se recuarmos à época do tri, quando foram muito propalados os números de Gaitán, o argentino fez 19 assistências. Estando ainda a época sensivelmente a meio, o que Pizzi já alcançou impressiona. Aliás, se às assistências somarmos as ocasiões flagrantes, consolida-se a importância do bragantino - são 20, precisamente o dobro de António Xavier do Tondela. Na comparação europeia, Pizzi lidera o ranking de assistências (o,64 por cada 90 minutos) e é segundo, depois de Messi, em ocasiões flagrantes criadas.
Claro que Pizzi podia ser mais intenso a defender e mais decisivo contra equipas mais fortes. Contudo, estes 'mas' estão longe de desvalorizar o muito que o número 21 contribui para o futebol colectivo do Benfica. Por alguma razão, nas últimas sete temporadas, em Espanha, primeiro, e agora em Portugal, fez sempre para cima de 30 jogos oficiais. Pizzi, em campo, vale bem mais do que parece à primeira vista.

2. Ontem ficou demonstrado que, de facto, Tiago Fernandes sabe tudo sobre futebol. Até sabe que, a perder desde cedo, era preferível manter-se fiel à 'estratégia colectiva' que anunciou antes do jogo: renunciar a jogar futebol, apostar tudo numa defesa a 11 e na dose justa de antijogo."

PRIMEIRAS PÁGINAS


terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

DISFUNCIONALIDADE E FUNCIONALIDADE


"Disfuncionalidade
Infelizmente, no mundo actual, cada vez constatamos mais pessoas que não possuem uma relação muito harmoniosa com a funcionalidade.
Funcionalidade concebida, ou pensada, como uma harmonia equilibrada entre um lado e o outro lado.
Vem tudo isto a propósito da incapacidade que os raciocínios jurídicos cada vez possuem mais, quando escrevem, escrevem, escrevem e concluem totalmente diferente do que escreveram.
Existe uma ânsia 'danada' de encher páginas e páginas com letras, provocando ao leitor, mesmo que técnico, um cansaço inusitável, o que permite que as conclusões sejam absorvidas pelo leitor de forma pacífica.
Se fizermos um exercício de leitura seguida, facilmente verificamos que, quando chegamos a um determinado momento da leitura, já nos esquecemos do que estava para trás. Esta limitação tem que ver com a capacidade de aprendizagem do nosso cérebro, quando o mesmo trabalha online.
Esta é a razão pela qual, se decidirmos fixar o significado de 10 palavras do dicionário por dia, ao fim de 365 dias, não nos conseguimos lembrar do significado das 3650 palavras que supostamente havíamos fixado, mesmo que achemos que elas estão no nosso subconsciente.
Foi esta a técnica utilizada no acórdão que puniu em 4 jogos à porta fechada o Sport Lisboa e Benfica, pela prática de 7 infracções. Na verdade, poderiam ter sido 10, como 2, como somente 1. O conceito de infracção continuada que se estuda quando se tira o curso, afinal, é algo que só serve para os professores chumbarem alunos!
O(a) relator(a) do processo deve ter estudado esse conceito na faculdade, mas, munido(a) do 'canudo' e conferido um poder divino de condenar os outros, esqueceu-se dele!
Afinal, a verdade ou consequência é apenas um jogo que marotamente se adere em nome de um poder atribuído pelos humanos em nome de uma organização que afinal é ela própria desorganizada!

Funcionalidade
Por sua vez a funcionalidade é ver jogar esta equipa do Benfica, jovem, rejuvenescida, harmoniosa, movimentada, agressiva, acutilante, cintilante, luminosa e, essencialmente, unida.
Desconheço, no momento em que escrevo esta artigo, qual será o resultado da 2.ª eliminatória da Liga Europa frente ao Galatasaray. Confesso que, qualquer que seja o resultado, a opinião que tenho sobre esta equipa do Benfica não vai mudar.
(...)
É este o meu estado de alma, e penso que o estado de alma de muitos e muitos benfiquistas.
Funcionalidade significa no dicionário português algo como 'qualidade do que desempenha correctamente a função para a qual foi desenvolvido'.
É somente esta premissa que me preocupa e me engrandece ao mesmo tempo - fazer parte desta enorme alma benfiquista. É inquestionavelmente uma dádiva divina."

Pragal Colaço, in O Benfica

OUTROS ESCRITOS


"Foi publicada no local respectivo a declaração de insolvência proferida pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, Juízo de Comércio de Lisboa - Juiz 5 de Lisboa, no dia 18-02-2019, às 16:00 horas, de Controlinveste - SGPS, SA, NIF 507195515, com sede na Rua Abranches Ferrão, n.º 10, 12.º, 1600-001 Lisboa.
São administradores da sociedade insolvente Joaquim Francisco Alves Ferreira de Oliveira, Rolando António Durão Ferreira de Oliveira.
A sociedade que participa nas várias sociedades anónimas desportivas é antes a Olivedesportos SGPS, SA.
Confesso que não me debrucei ainda sobre quantas sociedades pertencem aos administradores da sociedade que agora foi declarada insolvente e se a sociedade insolvente participa no capital da Olivedesportos e mesmo quantas Olivedesportos existem!
O que poderei já adiantar é que o número de sociedades pertencentes, digamos, aos mesmos accionistas, directa ou indirectamente, é enorme.
A seu tempo debruçar-nos-emos sobre toda esta estrutura, porque, cada vez que temos de nos debruçar sobre estruturas destas, caminhamos horas e horas por caminhos tortuosos, maçudos e complicados, ou não fora a engenharia societária e financeira que o mundo moderno em que vivemos criou.
Até lá, fica este sentimento de juventude num Benfica revigorado, espero que contagioso para todos os que trabalham, vivem e respiram Sport Lisboa e Benfica.
A todos os que trabalham para o Benfica."

Pragal Colaço, in O Benfica

APENAS SE...


"Félix Bermudes foi companheiro do meu bisavô Acácio de Paiva na boémia lisboeta do seu tempo. Mas sobretudo companheiros de poesia e de teatro. Mas Félix gostava ainda de tudo o que era desporto.

O meu bisavô materno, Acácio de Paiva, foi uma figura! 'Uma figura! Uma figura!', exclamaria Otto Lara de Resende. Poeta, sobretudo, mas também jornalista, e dos bons!, n'O Século, no Diário de Notícias, na Ilustração Portuguesa.
Desculpem-me estar aqui a puxar a brasa da família, mas já me explico.
No que foi outrora o Lugar do Olival (no tempo em que havia lugares), agora Vila do Olival (vaidosamente), na Casa das Conchas, onde Acácio de Paiva viria a morrer em 1944, há penduradas na biblioteca umas fotografias que retratam bem a vida boémia lisboeta desse meu fascinante antepassado, um mordaz crítico de teatro e que colaborou, igualmente, na escrita de muitas peças. Pois bem. É agora que chego ao que vinha para aqui recordar. Em várias delas, das fotografias, claro, quem se apresenta solene, de bigode à Keiser, é Félix Bermudes. Esse mesmo, o Félix Bermudes.
Eram amigos, compinchas, frequentadores das tertúlias coloquiais e culturais da capital.
Ah! Félix Bermudes teve uma daquelas biografias infinitas que mais valem um livro do que uma croniqueta como esta que vos deixo, leitores pacientíssimos.
Nascido no Porto, no dia 4 de Julho de 1874, o futebol, para ele, seria sempre a coisa mais importante das coisas menos importantes. Mas não o Benfica. Tinha uma vida repleta. No desporto fez de tudo um pouco: atletismo, ténis, ciclismo, tiro, esgrima, hipismo, natação... E a bola, claro! Jogava a meio-campo.
Estava presente quando o Benfica nasceu, e disse sempre presente em todos os momentos complicados desses dias primordiais.
Poeta, dramaturgo, fundador daquela que começou por ser a Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses e é a agora a Sociedade Portuguesa de Autores, era dado a tiradas grandiloquentes: 'Sou benfiquista porque ajudei a construir, com uma parcela da minha própria alma, a catedral rubra da Alma do Benfica. Mesmo batido pelas vagas mais alterosas, o Benfica não soçobra!'
Escreveu  hino do clube.
Avante p'lo Benfica
'Avante, avante p'lo Benfica
Que uma aura triunfante glorifica
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado
Honrai agora os ases
Que nos honraram o passado!'
O Regime não gostou. Não queria cá avantes. Ainda por cima encarnados. Sim, encarnados, e não vermelhos. O Regime também não queria o vermelho. O hino ficou nas gavetas da memória. Pelo que sei, continua lá.

Poetas!
O meu bisavô Acácio de Paiva não era grande adepto do jogo inventado pelos ingleses (nem do desporto em geral), embora tenha deixado um interessantíssimo poema sobre um Portugal - Espanha.
Ligava-o a Félix Bermudes uma paixão fundamental pelo teatro e pela literatura.
A assinatura de Félix aparece, como autor ou colaborador, em mais de cem peças de teatro, de revista, de opereta. E em novelas e ensaios de filosofia política e espiritual. Talvez a sua maior obra tenha sido A Conquista do Eterno - O Homem Condenado a Ser Deus. Debruçou-se sobre a centalha divina que cada ser humano recebia do Criador. Entrou no caminho da teosofia. E, como era de esperar, esteve na base do nascimento da Sociedade Teosófica de Portugal.
Era um daqueles homens descontentes que investiam na agregação dos que sabiam serem predestinados.
Poeta sempre: Cinzas e Nada.
Mestre da comédia: O Conde BarãoO Amigo de PenicheA Bicha de RabiarArroz DoceJoão RatãoO Poço do Bispo, por exemplo. Exemplo, curtinho, senão precisava de páginas e páginas deste seu jornal.
Graças a ele, o futebol subiu ao palco do Politeama, juntamente com Ernesto Rodrigues e João Bastos, em 1925, com o Leão da Estrela. Em 1947, veio o filme de Arthur Duarte, com Sporting e FC Porto e sem Benfica.
Nesse tempo, o seu bisavô já partira para essa planície onde crescem as flores da eterna saudade.
Félix Redondo Adães Bermudes veio ao mundo na Rua de Santo Ildefonso, tirou o Curso Superior de Comércio, trabalhou em lanifícios, fez-se homem, meteu-se na política, foi fichado pela PIDE.
Simpatizo com essa faceta de Santo Ildefenso. Afinal, também eu nasci em Santo Ildefonso...
No tempo em que Félix Bermudes e Acácio de Paiva percorriam as madrugadas eléctricas dessa Lisboa malandra e grandeira, soltando para satisfação dos que os acompanhavam, tiradas poéticas de supetão. Félix traduziu If, de Rudyard Kipling. Pela primeira vez em Portugal houve quem tivesse a oportunidade de cair na realidade de uma obra perturbadora e comovente.
Desculpem-me se vos aborreço. Não sei se por ter um bisavô poeta, gosto de poesia e não sei viver sem ela.
E como, por vezes, não tenho mais nada para dar, gosto igualmente de oferecer poemas.
Este é um pedaço de Se. Foi também um pedaço da vida de Félix Bermudes.
Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...
Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...
Ah! Se... Pois, se puderem, leiam o resto.
E guardem todo o poema por dentro. Não como um. Se, mas como um grito de revolta contra este tempo que teima em matar os poetas."

Afonso de Melo, in O Benfica

SIM, O CAMINHO A SEGUIR DEVE SER ESSE...


Varandas, ao assumir a formação como bandeira, mostrou que está para servir o Sporting e não para servir-se do Sporting...

Frederico Varandas não tem aquilo que convencionou definir-se como o dom da palavra. Comunicar não é o seu forte e as pessoas que o acompanham na aventura de liderar o Sporting pós-Bruno de Carvalho também não são dotadas de verve que move multidões. Na comunicação sobre o estado da nação leonina, este handicap ficou à vista de todos.
Não obstante, a mensagem de que eram portadores ia muito além da forma, e a coragem para pegarem, pelos cornos, vários touros que assombram Alvalade há muito tempo, merece respeito e elogio. O que foi dito, na última sexta-feira, pelo presidente do Sporting e aqueles que lhe são mais próximos, deverá ser preservado para memória futura, porque foram capazes de colocar o dedo nas várias feridas que impedem o Sporting, de há muitos anos a esta parte, de cumprir um destino que não pode nem deve conformar-se com a conquista de quatro campeonatos nacionais de 1974 para cá.
É claro que Bruno de Carvalho fez parte da comunicação de Frederico Varandas. Mas o ex-presidente é caso para o Conselho Fiscal e Disciplinar do Sporting e para as demais instâncias judiciais que forem chamadas a intervir. Por mais ruído que, a cada derrota, os brunistas fizeram, não será isso que terá peso nas decisões mais importante da vida do Sporting.
Determinante, para os leões, será a capacidade da equipa de Frederico Varandas recuperar a formação como bandeira do clube, respeitando décadas de história e honrando João Rocha e quem com ele trabalhou nesse sentido (!!!) e também José Roquette, que viu mais além e teve a capacidade de ser pioneiro nas Academias. Se Varandas, num momento de carência financeira, tomar a formação como prioridade, estará a dizer urbi et orbi que está na presidência para servir o Sporting e não para se servir do Sporting. Porque estará a ser paladino de uma causa sem retorno imediato, todavia estruturante para o clube, in saecula saeculorum.
Depois, Frederico Varandas teve a coragem de dizer, alto e bom senso, que a liderança de uma das claques, a Juventude Leonina, não serve o clube de forma desinteressada, e recusou ser refém de qualquer grupo organizado em torno do clube. Desde que Joan Laporta, no Barcelona, com custos que quase duas décadas volvidas continua a pagar, enfrentou os Boixos Nois, que não se via coisa assim...

Ás
Bruno Lage
O treinador do Benfica remeteu à insignificância que se justificava as insinuações sobre a boa condição física dos encarnados. E lamentou, até, que os treinos no Seixal não fossem à porta aberta para que todos pudessem ver a intensidade do trabalho. Pobre Liga que é destratada por todos os lados, sem que dê um murro na mesa...

Ás
Bernardo Silva
vitória do Manchester City na muita táctica final da Taça da Liga Inglesa teve impressão digital de Bernardo Silva, que concretizou um dos pontapés dos onze metros decisivos. Aliás, nos penáltis, os ex-jogadores do Benfica estiveram na berlinda: Ederson defendeu um, David Luiz falhou outro e Bernardo não perdoou.

Duque
Kepa Arrizabalaga
Cena caricata em Wembley com consequências ainda por conhecer. À beira do fim do prolongamento, Kepa recebeu assistência e Sarri decidiu substituí-lo. Porém, o guarda-redes basco disse que estava bem e não quis sair, para desespero do treinador italiano. E foi preciso até a intervenção do árbitro para que o jogo continuasse...

Bruno na versão, depois de mim o dilúvio...
«Ainda existem muitos atletas que considerava e considero meus filhos que ainda continuam em contacto...»
Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting
Estava claro que o livro de Bruno de Carvalho era sobretudo uma tentativa de ajuste de contas com o mundo. Depois da última intervenção de Frederico Varandas, mais claro está a ficar ainda que o ex-presidente tudo fará para desestabilizar o clube de Alvalade, lançando areia em todas as engrenagens a que tiver acesso. Uma patologia para a medicina explicar...
Uma imagem icónica, mas...
Leo Messi, em Sevilha, onde assinou exibição de rei, foi protagonista de uma foto tirada a papel químico de uma imagem icónica do rei Pelé. Com a 'pequena' diferença que vai de um jogo da Liga espanhola para a final do Campeonato do Mundo de 1970. Aliás, Messi marcou, há uns anos, também na Liga de Espanha, um golo semelhante ao de Maradona à Inglaterra no Mundial de 1986. O problema é do palco e a verdade é que o astro do Barcelona precisa de brilhar numa competição global (CR7 já tem um Europeu...) para pedir meças aos 'outros'.

Videoárbitro anos luz à frente do futebol
País de Gales derrotou a Inglaterra, após 80 minutos de râguebi do mais alto nível, em partida a contar para o Torneio das Seis Nações, onde continuam a ser dadas lições de bem arbitrar, que deviam ser aproveitadas pelo futebol. No râguebi, o VAR é, passe o chavão, um espectáculo dentro do espectáculo..."

José Manuel Delgado, in A Bola