quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

TAÇA VARÍSSIMA


"Escreveu-se direito por linhas tortas, quanto às expectativas portistas. Quem com VAR mata (ou vence), com VAR morre (ou perde)

1. Uma semana efervescente por causa da até há pouco tempo desconsiderada Taça da Liga, agora com um naming comercial, uma final four e uma fan zone. Tudo muito fino, tudo muito british! Depois de sete vitórias encarnadas, os seus históricos rivais olharam para a - por eles apelidada desprezivelmente de 'Taça Lucílio Baptista' e outros epítetos - com ganas de a ganhar. Na esteira de alcunhas dadas ao troféu, há quem lhe chame agora em versão mais hodierna, 'Taça Varíssima', ou mais acidamente, 'Taça Ali Babá'. O Sporting já conseguiu o troféu por duas vezes, em quatro finais e semifinais onde não venceu nenhum jogo nos 90 minutos. Já o Porto, ainda não é desta que pode aspirar a fazer o pleno, como só o Benfica conseguiu. Talvez por isso o seu treinador, pregador de sermões de moralismo e transparência q.b. quando ganha e tão apreciados pelo mundo desportivamente correcto, tenha achado exemplar nem ter esperado pela entrega do troféu ao SCP. Bem prega Frei Tomás: faz o que ele diz, e não o que ele faz.
Aliás, escreveu-se direito por linhas tortas, quanto às expectativas portistas. Por um lado, porque só chegou a esta fase final por um contorcionismo regulamentar de uma lesão no jogo na fasede grupos com o Belenenses, imediatamente avocado pelo diplomata presidente da Liga. Por outro lado, porque bem se pode afirmar que quem com VAR mata (ou vence), com VAR morre (ou perde).
Já quase tudo se disse nesta fábula do VAR da Liga. Dos seus protagonistas aos seus dirigentes. Do protocolo infalível ao porto-ao-colo insinuado. Da intervenção protocolar só com a certeza absoluta (já de si um eufemismo) à intervenção com incerteza por demais. Dos seus extremosos defensores (até ver ou até ao virar da esquina) aos seus contestatários (até ver ou até ao virar da esquina). Das auto-dispensas de se ir ver o monitor ao seu recurso ajuizado pelo decisor soberano. Da geometria das linhas que não há às linhas de uns jeitosos que as moldam a seu bel-prazer. Do vídeo do árbitro que interfere ao árbitro do vídeo que deturpa.
Provavelmente o grande rei das assistências (do VAR, entenda-se) é o agora exausto Fábio Veríssimo, que bem merece descanso e oportunidade de aprofundar a sua formação. A sua coerência, seja como árbitro, seja como VAR é cristalina. Alguns exemplos comparativos: no Benfica - Porto de há dias, achou dispensável falar com Xistra depois dos dois golos do Porto, precedidos de falta. Mas, não se coibiu de lhe pedir para analisar um inventado e fantasmagórico braço de Seferovic no golo do Benfica, que só ele, com a ajuda de imagens repetidas, descortinou, com assegurada infalibilidade, a fazer fé no que nos têm dito e redito sobre a lógica do tal protocolo: a de o VAR só interferir no caso de plena certeza de que decisão foi claramente errada. Lembram-se de Veríssimo no Porto 2 - Vitória de Guimarães 3, onde confirmou um golo tão claramente ilegal de um fora de jogo portista que até fez dó e não viu um penálti do tamanho dos Clérigos a favor do Vitória? Ou dois penáltis cristalinos a favor dos azuis do Restelo por marcar no ano passado no Dragão quando havia 0-0?
Já quanto ao decretado fora de jogo que motivou a anulação do 2-2, estamos perante um momento hilariante. O árbitro assistente que estava bem distante da linha, que depois terá invocado para o offside, não assinalou nada até a bola ter entrada na baliza. O árbitro Xistra falou com o VAR Veríssimo, numa, por certo, amena cavaqueira. Provavelmente este último a dizer que não tinha trazido de casa régua e transferidor e que, como tal, não poderia dispor da linha que, inexplicavelmente, não lhe é fornecida pela logística que continua no tempo da pré-história informática. Mas eis que Veríssimo rodou 180 graus: antes não terá tido a certeza de infracções de Óliver e Marega (este então parecia um couraçado a derrubar uma lancha) e, por isso, não houve anulação de golos. Depois, estaria 100% seguro (ele e também Xistra) da anulação do golo benfiquista e, como tal, o protocolo obrigaria à decisão tomada. Até arrisco dizer que Rafa deveria ter sido admoestado pela direcção do Benfica por não ter cortado as unhas do pé que estariam... fora de jogo. Uma coerência da mais despudora incoerência! Uma roubalheira em estado puro, parafraseando outros estados puros de que sempre fala o comentador Lobo sobre certas e determinadas equipas.

2. Decorrida já uma época e meia de VAR, bom seria que os clubes e a Liga os analisassem, tirando ilações dos erros, procurando introduzir alterações às regras e à composição dos seus quadros. Duvido que tal se venha a fazer, tal a crispação e a opinião errática de todos e cada um em função de cada momento. É bom não esquecer que o VAR veio criar tão elevadas expectativas que não podem agora correr o risco de ser goradas.
Importa analisar alguns pontos com benefício futuro para o futebol e competições. Primeiro, não faz sentido que um VAR hoje faça dupla com um certo árbitro e amanhã seja exactamente ao contrário, numa lógica involutiva do tipo pescadinha de rabo na boca. Segundo, não é profiláctico que o conjunto dos VAR e dos árbitros de campo seja o mesmo ou quase o mesmo. É que, independentemente do valor e seriedade de cada um, eles estão em regime concorrencial, para as classificações, para a carreira internacional, para a escolha nos jogos. Ali não é apenas cooperação de que se trata, por mais bondosa que seja a nossa análise. É que um erro de um por causa de outro pode custar caro mais a um do que a outro. Terceiro, não sabemos que tipo de avaliação e seriação há no trabalho dos VAR. Mandaria a transparência sempre tão invocada e sempre tão relegada, que se tornassem públicos os critérios, as classificações e os agentes avaliadores. Quarto, nem faz sentido um VAR com estatuto inferior ao que um árbitro de campo (logo aquele com um compreensível e defensivo capitis diminutio), nem um VAR também árbitro com um trajecto superior ao do árbitro também VAR (logo, este em situação também defensiva e, às vezes, subalterna). Mais tarde ou mais cedo, tem de haver um corpo de VAR distinto dos árbitros de campo.
É evidente que nenhum sistema consegue imunizar todos os erros possíveis. O erro faz e fará sempre parte da natureza humana e bom será que não se queira almejar, no futebol, a fantasia de um desporto isento de erros. Aliás, uma das suas paradoxais, mais indissociáveis características, continua a ser a impossibilidade de erradicar o erro. A maior parte dos golos e resultados resultam, directa ou indirectamente, de erros ou omissões dos jogadores e dos treinadores e, também, da arbitragem. Para esta, o objectivo deve passar pela minimização das más decisões, recorrendo a novas práticas e tecnologias que, todavia, não causem danos na fluidez do jogo jogado, assegurando a transparência e escrutínio público dos seus agentes, de eventuais conflitos de interesse, de incompatibilidades, e garantindo a avaliação pública das arbitragens, relatórios e respectivas avaliações. Não se tratando de ciência exacta e não se podendo declarar morte ao erro, que ao menos haja insuspeição quanto à sua natureza extra-jogos.

Contraluz
- Conversas:
Bernardo Silva. Grande jogador e grande benfiquista, mostrou, nas redes sociais, a sua indignação (ocular e não só) quando foi invalidado o que seria o 2-2 do Benfica - FC Porto. De imediato, o guardião dos bons costumes e melhores práticas ético-futebolísticas, F. Marques ripostou, censurando-o. Depois, Bernardo replicou e Marques triplicou. Felizmente, o ex-jogador do SLB deu por findo tal 'diálogo', deixando o portista sem matéria de entretenimento. 'Oh Bernardo, não dê troco a tão lídimos representantes da coerência'.
- Lastimável:
Na BTV e na meia-final da Taça da Liga, houve relato radiofónico na... televisão, prática tonta iniciada na CMTV e seguida por outros canais. Desta vez houve disparate do relatador ao insultar a equipa contrária, chamando-lhe, uma 'corja' e outras ordinarices, embora pedindo desculpas a seguir. O desmemoriado talibã comunicacional do Porto insurgiu-se qual virgem ofendida, nem se lembrando de ter também e antes chamado o Benfica o mesmo nome no canal Porto. A autoridade moral só pode radicar na exemplaridade, é bom não o esquecermos. Para todos e sem excepção.
- Conflito:
Pedro Henriques, ex-árbitro de futebol e actual comentador das arbitragens e dissecador das dúvidas do 'Juízo Final' da SportTV, acumula esta função com uma avença no Sporting. O actual presidente leonino mostrou-se desconhecedor (!) de tal situação e, ao que li, deu por funda a sua colaboração. Depois querem que acreditemos na pureza angélica e tecnocrática de certas pessoas face a lances eivados de dúvidas e facilmente manipuláveis...Ai! Se fosse com o Benfica, o que já tinham dito o presidente do SCP e o pronto-socorro do FCP!"

Bagão Félix, in A Bola

ERA ELE E A SUA SOMBRA...


"Africville: eis um nome de fazer bimbalhar os sinos do campanário da nossa imaginação. Fica no Canadá, na Nova Escócia, e como é de supor não ganhou o nome por teimosia de um dos seus fundadores e sim por via de uma forte migração de negros escravos fugidos à revolução Americana. Na sua maioria naturais da África Ocidental ou das Caraíbas.
No dia 29 de julho de 1870, Africville oferecia ao mundo um dos seus maiores cidadãos. E ao mesmo tempo um dos menores. Ao fim ao cabo, George Dixon por mais que tentasse crescer nunca ultrapassou o metro e sessenta e um. Quase que se podia dizer que a sua altura por extenso e posta na vertical era maior do que ele. Além disso corria o risco de ser ignorado pela Lei da Gravidade: pesava 39 quilos.
Dixon podia ser baixinho mas era lixado para a porrada. Por tudo e por nada perdia as estribeiras e atirava-se aos fagotes de quem lhe abalara a tramontana. Aos 17 anos deu a Tommy Spider Kelly, um peso-pluma nova-iorquino, uma lição que este nunca mais haveria de esquecer. Não foi na rua. Foi num ringue. Africville orgulhou-se até à protérvia. O Chocolatinho, como lhe chamavam, tornava-se campeão do mundo, mas não só: o primeiro campeão do mundo negro de toda a história do boxe. Mesmo que o título de Bantamweight exigisse que os boxeurs pesassem entre 53 e 54 quilos. No ano seguinte foi atrás do título de pesos-leve e ao fim de 22 rounds esticou na arena o pobre Call McCarty de forma impiedosa. Vá lá saber-se o que lhe passou em seguida pela cabeça: fundou um grupo de ‘vaudeville’, o George Dixon Specialty and Co., uma pandilha meio heterogénea que metia comediantes, dançarinos, animais treinados, circos de horror e um bando de anões praticamente da mesma altura do que o próprio Dixon. E fez-se à estrada. A apresentação em Terre Aute, Indiana, na Naylor Opera House, rebentou o teatro pelas costuras. Havia gente pendurada nos lustres e uma multidão à porta esgatanhando-se por um mísero bilhete. O pequenino Dixon estava em grande. Afinal era a atracção principal. Mexia os pés com rapidez e imitava uns ‘uppercuts’ assassinos. As mulheres rasgavam as cordas vocais com gritos histéricos.
Bellevue não é, decididamente, um local aprazível. Fica ali para os lados de Hoboken, onde nasceu o supimpa Francis Albert. Talvez não tenha, no lago, corpos de gente no desemprego, como cantava o Reininho, mas tem uma unidade especializada em alcoolemia fundada em 1892, precisamente o ano em que Dixon deixou de participar em combates de pesos-pluma. Nesse tempo já se tornara um dândi vaidoso com tiques de marialva. Bebia como uma esponja e gastou os mais de 250 mil dólares que ganhara ao longo da carreira com uma ferocidade própria de quem começara a odiar a sua vida. 
Tornou-se grotesco de feio. Gordo, disforme, parecia um anão de Velázquez cuja tinta tivesse desbotado. Ainda se sujeitou a combates de quinta categoria, na tentativa de alimentar o vício, mas era apenas motivo de chacota. Como sempre fizera, combatia a sua sombra.
Sam Austin, um daqueles jornalistas ‘larger-than-life’, editor do primeiro grande tabloide dos Estados Unidos, o Police Gazzette, escreveu sobre Dixon:«The fact cannot be disputed that the greatest fistic fighter, big or little, that the world has ever known is George Dixon». Hmmmm... Poucos foram os que deixaram de lhe apontar o exagero literário. Melhor do que Muhammad Ali e Joe Louis? Do que Sugar Ray Robinson e Jack Johnson? Melhor do que Sugar Ray Leonard ou do que Marvelous Marvin Hagler, o Homem dos Queixos de Ferro??? Ora, ora... E Austin, contumaz, perseverante: «Dixon was the fighter without flaw». Boxeur sem falhas. «Ele bateu dezenas de adversários brancos no tempo em que se matavam homens só por serem negros. O primeiro campeão em vários pesos diferentes e o primeiro boxeador a perder e a reconquistar o título mundial».
Quando estes elogios foram publicados, o Chocolatinho estava demasiado confuso para saber o que se escrevia sobre si. Aliás, deixara de mesmo de ser quem fora. Fechara-se no fundo das garrafas e não conseguia de lá sair. Caíra no clássico dilema: não podia ver um copo cheio mas também não suportava vê-lo vazio.
Não conseguira aguentar o peso da derrota pelo título de leves frente a Abe Atell em Outubro de 1901. Perdeu doze dos seus derradeiros dezasseis combates. O anão que ficara conhecido por treinar com a sua sombra na parede, tentando ser mais rápido do que ela como Lucky Luke, mergulhara definitivamente no mar encapelado do whisky de má qualidade. «Little Chocolate and his shadow boxing». Desvaneceu-se dois dias depois de ter dado entrada em Bellevue. Alguém deve ter deixado uma janela aberta e ele aproveitou para voar... sombriamente..."

AS VERDADEIRAS PREOCUPAÇÕES


"A entrevista a Domingos Soares de Oliveira, hoje publicada no jornal ‘A Bola’ e emitida n’A Bola TV, merece ser vista como um guia de referência onde constam aquelas que são – ou deveriam ser – as verdadeiras preocupações do futebol nacional.
O administrador executivo da Benfica, SAD e CEO do Grupo Benfica analisou e explicou, em detalhe, as principais conclusões que saíram da última reunião da ECA (Associação Europeia de Clubes), ontem reunida em Lisboa, e na qual participou como membro do Conselho de Administração. A calendarização das competições, os direitos de transmissão e as relações entre clubes são três dos temas que geram actualmente maior preocupação e que pedem respostas mais urgentes.
Para que os dois primeiros dossiês (calendarização e direitos de transmissão) possam ser conduzidos no interesse do bem comum, é fundamental que, no que diz respeito ao terceiro ponto (relações), os maiores clubes saibam exercer as altas responsabilidades que lhes pertence no futebol nacional. E isso passa muito pela capacidade, como diz Domingos Soares de Oliveira, de se adoptar “um discurso diferente”.
O administrador do Benfica defende uma ideia que sintetiza de forma perfeita aquela que deveria ser uma preocupação geral: “No final do dia, o que queremos é proteger os jogadores, o nosso principal activo.” É a pensar exactamente nessa prioridade – sem a qual nada se faz – que Domingos Soares de Oliveira também ‘convoca’ para a reflexão os presidentes da Liga e da FPF, bem como o Sindicato dos Jogadores. Esta causa é todos!
Que todos saibamos, pois, estar à altura das exigências. Há momentos em que é preciso deixar de lado o acessório e discutir o essencial. Sob pena de se estar – aqui sim – a pôr em causa a galinha dos ovos de ouro.
O Benfica tem dado suficientes provas da sua preocupação com os interesses da indústria. Seja na procura de consensos que entende fundamentais para o bem do futebol português, seja na sua própria gestão desportiva e financeira, com resultados que estão bem à vista."

NOVO DIRIGISMO DE VARANDAS É O VELHO ANTI-BENFIQUISMO


Depois de uma vitória na Taça da Liga e do bicampeonato de Inverno, Frederico Varandas terá percebido que a época do Sporting galopava para o triste final do costume. Nisso, revelou inteligência. Como em tantos outros momentos na história do seu clube, só lhe restava uma hipótese para mobilizar as hostes: apelar ao anti-benfiquismo.
Todos sabemos que o futebol português está em pior estado que o nariz do Petrovic. Foi por isso que reagi com muito agrado quando soube que Frederico Varandas se tinha pronunciado sobre aquele que é hoje o seu principal paciente: não, não é o Sporting. É o futebol português. Já muitos tentaram antes dele e não é fácil. Para começar, requer formação e compromisso. A maioria esquiva-se ao juramento de Hipócrates e jura pela sua hipocrisia. Mas não Frederico Varandas, médico de formação, pensei eu.
Se quisermos prolongar um pouco mais esta analogia, e queremos, devemos dizer que, antes de qualquer cura, precisamos de um diagnóstico rigoroso. Mas como lá chegar? Recuo por isso à minha própria formação médica. Dr. House sempre pediu muitos exames e auscultações, mas acima de tudo era uma certa capacidade de distanciamento e sede de compreensão que lhe permitia interepretar os sintomas e ligá-los de forma a chegar às metástases ou, se tivéssemos sorte, um quadro mais benigno. Frederico Varandas mediu a temperatura ao futebol português, viu que fervia, e sem mais demoras prescreveu a terapêutica: um comunicado.
São palavras muito duras as que o presidente do Sporting Clube de Portugal dedica ao dirigismo desportivo. “Vergonha”, “caudilhismo”, “vassalagem”, “condutas promíscuas”, “decadência moral". Mas bom, chega de falar de Pinto da Costa. Ao longo de 4379 caracteres, Frederico Varandas procura antes destruir o dirigismo do Sport Lisboa e Benfica sob o pretexto de ter dois jogos contra eles nos próximos dias.
O tom do texto é quase tão previsível quanto um empate do Sporting numa noite de inverno em Setúbal. Lemos e reconhecemos tudo. Frederico Varandas ordena vocábulos estrategicamente. Quando chegamos a meio, já percebemos que o Sporting é a verdadeira vítima disto tudo e nada mais interessa na vida a não ser o Benfica. Neste último ponto, como sempre, concordamos.
Contexto: depois de uma vitória na Taça da Liga e do bicampeonato de Inverno, Frederico Varandas terá percebido que a época do Sporting galopava para o triste final do costume. Nisso, revelou inteligência. Como em tantos outros momentos na história do seu clube, só lhe restava uma hipótese para mobilizar as hostes: apelar ao anti-benfiquismo. Confirma aliás uma das características deste presidente, injustamente criticado pelos sportinguistas por não dar a devida atenção às modalidades amadoras. Nada mais errado, amigos sportinguistas. Mais uma vez, o Sporting prepara-se para vencer o Nacional do Anti-benfiquismo, ultrapassando na última chicane equipa de terrorismo digital do Futebol Clube do Porto. Aqui está uma derrota de que o Porto não se esconderá. Quando o Sporting ataca o Benfica, o Porto ganha. Quando o Porto ganha ao Benfica, o Sporting cresce e torna-se mais forte. Venha de lá essa guarda de honra.
Repito: o futebol português está num estado lastimável. O Benfica é parte desse problema. Eu revejo-me, em abstracto, em partes do que o presidente do Sporting escreve hoje no jornal oficial do clube. Mas é notável, e revelador, que Frederico Varandas finta meia dúzia de adversários vestidos de encarnado e ignora por completo quaisquer outros atores desta fantochada. Se não acreditam, atentem nesta beleza: "Há um desgaste, uma decadência moral, mas uma decadência e um desnorte também a vários níveis que vaticina o fim de um ciclo no dirigismo. Como em todas as instituições centenárias, há sempre referências, existirá consciência e, mais cedo ou mais tarde, acreditamos que haja um esforço e capacidade de regeneração."
Frederico Varandas diz tudo isto sem se rir, como se tivesse acabado de chegar ao futebol português e tudo estivesse a correr lindamente antes de Luís Filipe Vieira ou Paulo Gonçalves, ou como se outras figuras poluentes não tivessem emergido ou continuassem a perdurar no futebol português. É preciso ser muito cego, ou desonesto. Seria um pouco como censurar Ricardo Salgado e elogiar José Oliveira e Costa. Ambos geriram de forma ruinosa os seus bancos, no entanto, o primeiro ainda se presume inocente, enquanto que o segundo já foi condenado por um tribunal.
São apenas detalhes que em nada impedem Frederico Varandas de prosseguir com a sua lição de moral ao futebol português. Em vez de um incendiário, betinhos que cantam à volta da fogueira. Em vez da verdade desportiva, uma espécie de mentira cuidadosamente passada pelo corretor ortográfico. Em suma, Frederico Varandas critica tudo no Benfica, criticando-se até a si próprio. Uma pessoa mais desconfiada poderia considerar isto mais uma forma de condicionamento em vésperas de derby, mas não, jamais Frederico Varandas cometeria o erro que aponta aos outros.
Não. Isso seria trágico. Signficaria, afinal, que, o novo dirigismo de Frederico Varandas mais não era do que o velho anti-benfiquismo.
In  Tribuna Expresso

PRIMEIRAS PÁGINAS


AS LANÇAS APONTADAS - BTV - 30 JANEIRO 2019

                                           

A CULTURA DA CONFRONTAÇÃO


"Fábio Veríssimo até seria merecedor de alguma condescendência, não se desse o caso de se ter distraído em regra com prejuízo para o Benfica

A polémica que envolveu a fase final da Taça da Liga foi apenas mais uma, não tenhamos ilusões quanto a isso. Vai ser preciso esperar por outra geração para avaliar os resultados dos esforços que estão a ser desenvolvidos no sentido de fazer do futebol aquilo que deve ser sempre: um espaço de convivência, uma festa!
Notam-se progressos sensíveis, apesar de tudo, de que estes três jogos foram exemplo. Cada vez mais estão identificados os promotores da discórdia e cada vez mais se conhece quem a espalha e quem dela se aproveita.
É importante que a Federação, superiormente presidida por Fernando Gomes, não esmoreça na sua cruzada, mas é pena que tenha de viver numa situação de confrangedor desapego por parte de actores que deveriam assumir papel crucial neste processo de mudança, em função das posições que ocupam. Não só não colaboram, como emitem até sibilinos sinais que apontam em sentido contrário; ou seja, deixar como está.
No inadequado estádio de Braga assistiu-se a três bons jogos, como períodos de excelente qualidade exibicional e competitiva. Houve espectáculo, empenho ilimitado de todos os artistas e, para que nenhum condimento faltasse, foi preciso recorrer ao frenesim dos penáltis para decidir o vencedor da prova.
Sobre o relvado foi tudo bom, ou quase tudo. Mais uma vez falharam as arbitragens e falharam de uma forma escandalosa: nem sequer permitiram, como é vulgar e costume, a utilização de desculpas esfarrapadas de tanto uso como errar é humano, ter de decidir no instante, ter más condições de preparação, etc.
No tempo presente, os árbitros já não podem queixar-se, sobretudo os internacionais, mas a verdade é que, como o erro não abranda, a primeira conclusão a extrair é a de que os dirigentes de sector andaram anos a iludir a opinião pública ao esgrimirem uma defesa que a realidade tem contrariado. Se as condições que lhes são proporcionadas melhoraram significativamente, por que motivo as interferências negativas nos filmes dos jogos e nos seus epílogos não abrandam? A questão é pertinente, e atribui-se esse desconchavo à falta de jeito ou à incompetência por parte dos homens do apito é o reparo mais suave que se lhes podem endereçar. Contudo, mais grave será se persistir o perigo de ainda haver por ali gente que se mantém fiel às piores práticas de um passado não muito distante.

É normal o adepto comum não dominar os contornos do VAR em toda a sua extensão. Estranhamente anormal, porém, é os árbitros não se entenderem, sendo certo que já tiveram tempo suficiente para esclarecerem dúvidas e agilizarem procedimentos.
Houve polémica, porque em dois jogos em dias seguidos e em situações praticamente idênticas foram tomadas decisões contraditórias. Exaltou-se o treinador do Braga (com a razão dele e que devemos compreender), o qual já se sentira lesado no jogo da Liga, na época transacta, em Alvalade.
Se neste Braga - Sporting, segundo os especialistas, o protocolo foi cumprido ao ser descortinada uma irregularidade no lance entre Dyego Sousa e Acuña, explique-se, então, a adopção de critério diferente no jogo da véspera em que a entrada de Óliver Torres sobre Gabriel, considerada à margem da lei pelos mesmos especialistas, não mereceu o mesmo cuidado na observação e análise por parte de quem estava comodamente instalado em Caxias, livre de pressão e com suporte tecnológico.
Igualmente negligente, foi o facto de o videoárbitro, numa situação regular, ter sujeitado o árbitro de campo ao desconforto de parar o jogo para rectificar uma informação enganosa. Terá sido um mau ida para Fábio Veríssimo, acontece a todos. Até merecedor de alguma condescendência não se desse o caso de, no mesmo jogo, como os factos demonstraram, se ter distraído em regra com prejuízo para o Benfica.
Carlos Xistra foi quem pagou a factura pela negligência do companheiro, o qual, entretanto, pediu para ir a banhos, como recomenda a prudência nestas circunstâncias.

segunda fonte de polémica teve a ver com as atitudes excessivas do treinador portista, talvez atraiçoado pela sua bipolaridade comportamental: cordato, interessante e até inovador no discurso em cenários favoráveis, mas intolerante e agressivo quando o vento não sopra de feição.
Revela-se defensor de uma cultura de confrontação que em Portugal pode dar vitórias e títulos, mas não se recomenda. Rivalidade é outra coisa.
Em matéria de desanuviamento no futebol luso, Sérgio Conceição parece não trazer nada de novo, apesar de eu próprio ter acreditado que pudesse trazer.
(...)"

Fernando Guerra, in A Bola

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

BENFICA B VENCE AROUCA E MANTÉM 3.º LUGAR


FUTEBOL
Na próxima jornada (20.ª), agendada para as 11h00 de sábado, 2 de fevereiro, o Benfica B desloca-se ao terreno do CD Mafra.
O Benfica B venceu, nesta quarta-feira, o Arouca por 3-1, no Caixa Futebol Campus, em jogo da 19.ª jornada da II Liga, mantendo assim o 3.º lugar no pódio da tabela classificativa, agora com 34 pontos.
Foi com cinco alterações no onze em relação ao último jogo da competição – com o Leixões – que os encarnados entraram em campo. Para as saídas de Fábio Duarte, Alex Pinto, Benny, Tiago Dantas e José Gomes, entraram Zlobin, Corchia, Saponjic, Gonçalo Ramos e Nuno Santos.
Aos 4', o Arouca deixou um primeiro aviso. Malele, que já leva seis golos na competição, recebeu dentro da grande área, rodou e atirou para boa defesa do atento Zlobin.
[GOLO: 1-0] Depois de uma ameaça de Jota, aos 13', Chris Willock atirou para o 1-0 (18'). Remate inicial de Florentino, rasteiro e sem muita força, a bater no defesa adversário. Sobrou para o avançado de 20 anos que, já dentro da área, de pé esquerdo, não desperdiçou. A ocasião resultou de um cruzamento de Corchia na direita.
Depois de uma boa entrada da formação de Quim Machado, os encarnados – sob o olhar de Bruno Lage, que assistia nas bancadas do Caixa Futebol Campus – foram pressionando e crescendo na partida. A partir do aviso de Jota aos 13', só deu Benfica B com o golo a coroar a exibição, perante um Arouca a mostrar grandes dificuldades em conseguir ter posse de bola e a sair para o contra ataque. Ao intervalo: 1-0.
À entrada para o segundo tempo, Renato Paiva não promoveu mexidas na equipa. Jota voltou a tentar a sorte, mas sobrou para canto a favor do Benfica B. Na conversão, Florentino, de calcanhar, deixou a bola passar poucos centímetros ao lado da baliza de Stefanovic.

Entrou atrevido o Arouca no segundo tempo e, na sequência de um canto, aos 58', esteve à vista o golo do empate. Valeu a defesa seguríssima de Zlobin ao cabeceamento de Fábio Fortes.
[GOLO: 2-0] Golaço do Benfica B a premiar uma excelente jogada de entendimento entre os jogadores encarnados. Jota passou curto para Nuno Santos, que avançou pela esquerda, devolveu a Jota, que deu para Gonçalo Ramos, e este assistiu Willock, que, mais uma vez, não desperdiçou e atirou certeiro para o bis.
Aos 74', os encarnados ficaram a pedir grande penalidade, depois de Florentino ter sido derrubado dentro da área, mas o árbitro João Pinho mandou seguir...
[GOLO: 2-1] A caminhar para os instantes finais da partida (88'), o Arouca reduziu a desvantagem. Grande jogada de Breitner, a culminar com uma boa finalização de Willian.
[GOLO: 3-1] O Benfica B respondeu de imediato, com Jota a rematar para o – já merecido – golo (89'). Grande cruzamento de Willock ao segundo poste, e Jota, de cabeça, ganhou o duelo com Stefanovic.
Sem dificuldades, a formação de Renato Paiva controlou e segurou o resultado nos últimos três minutos do encontro. Três pontos que permitem às águias, que somam agora 34, manter o terceiro lugar da tabela classificativa.
Na próxima jornada (20.ª), agendada para as 11h00 de sábado, 2 de fevereiro, o Benfica B desloca-se ao terreno do CD Mafra.
Onze inicial do Benfica B: Zlobin; Corchia (85' Alex Pinto), Kalaica, Ferro e Nuno Tavares; Florentino Luís (79' Pedro Álvaro), Gonçalo Ramos e Nuno Santos; Jota, Willock e Saponjic.
Suplentes: Daniel Azevedo, Alex Pinto, Pedro Álvaro, Tomás Tavares, Benny, Csoboth e Zé Gomes.
Boletim clínico: David Tavares (status pós-cirúrgico ligamentoplastia no joelho esquerdo); Vitalii Lystcov (status pós-cirúrgico ligamentoplastia no joelho esquerdo); Diogo Mendes (lesão muscular na face anterior da coxa esquerda); Daniel dos Anjos (status pós-cirúrgico ligamentoplastia no joelho direito); Tiago Dantas (mialgia na face posterior da coxa esquerda).
Renato Paiva
"Estou globalmente muito satisfeito"
Renato Paiva (treinador do Benfica B): "Gostei do que vi! Por não termos tanto tempo para fazer aquilo que achamos que é fundamental para que uma equipa de futebol tenha rendimento, que é treinar; é verdade que a base estava feita, mas há coisas que se perdem e esssa coisas só se ganham no treino. Estou satisfeito por isso e por perceber que do outro lado está uma equipa com qualidade, que vinha de quatro jogos sem perder, em crescendo, com um treinador experiente, com jogadores experientes e, como se viu, puseram-nos, de vez em quando, em dificuldades. A II Liga é um bocadinho isto. Curiosamente, o que aconteceu aqui hoje já tinha acontecido em Matosinhos. Os momentos em que não conseguimos gerir a bola, em que não conseguimos descansar e pausar o jogo com bola, são precisamente os momentos em que sofremos. Mas, acima de tudo, estou globalmente muito satisfeito pelo que a equipa fez, tirando esses momentos em que nos precipitámos. Aliás, tivemos momentos fantásticos! O segundo golo é um momento brutal do coletivo da nossa equipa."
Willock (jogador do Benfica B): "A equipa jogou bem, foi uma boa exibição do coletivo. É manter o foco, estou satisfeito por ter marcado dois golos, mas o mais importante é sempre o coletivo e estou satisfeito por ter ajudado à vitória."

TRIO MARAVILHA


"Grande exibição do Benfica, com destaque para João Félix, Seferovic e Pizzi. Venha o dérbi

Regresso à Luz
1. Ponto prévio: 23 dias após último jogo na Luz, o Benfica regressou a casa com o intuito de reagir à derrota no clássico. Era importante perceber qual seria a reacção da equipa a esse resultado e sentir a força dos adeptos depois de uma derrota é sempre importante. O desafio que era lançado ao Benfica era ganhar e criar pressão sobre o FC Porto e também manter a distância para o Sporting antes do dérbi de Alvalade. Com todos estes desafios, o Benfica teve desempenho extremamente positivo, com um resultado dilatado mas justo.

Onze base
2. Bruno Lage fez apenas uma alteração no onze, tirou Svilar e entrou Vlachodimos, com isso surge a ideia que Benfica tem o seu modelo de jogo e o onze bem definidos. A equipa da casa começa a desenhar a boa exibição depois do susto aos 7 minutos, em que Tahar aproveitou desatenção de Gabriel e atirou ao poste. Foi um abanão que a equipa levou e que obrigou o Benfica a dar grande intensidade ao jogo e a dar problemas a este novo Boavista - órfão de Jorge Simão, sob gestão de Jorge Couto e na expectativa da entrada de Lito Vidigal, que me parece que anda não deve ter tido influência no jogo. O Benfica empurrou o Boavista para o último terço, com Pizzi em trocas posicionais a mostrar-se vagabundo por todo o terreno. E aqui destaque para a forma como João Félix se posicionava e o bom entendimento que revelava com Seferovic, que fez dois golos e podemos dizer que este é o melhor Seferovic que já vimos no Benfica. Os três juntos formaram um trio maravilha.

Onze base
3. O Benfica teve futebol envolvente, mas asfixiantes, simples, rápido com e sem bola, jogadores próximos uns dos outros, um Benfica reactivo a responder a perda de bola. O Boavista ainda foi feliz ao marcar em cima do intervalo, que podia ter obrigar o Benfica a algum abanão emocional. Mas após o intervalo voltou ao registo de equipa dominadora. Com o João Félix a desequilibrar muito - é de facto um miúdo prodígio - descobrindo passes e linhas para os golos. O Benfica está leve, solto, com dinâmicas novas... a equipa tem crescido de jogo para jogo com Bruno Lage e demonstrou isso. Tem havido jogadores com novas oportunidades, caso de Samaris, que fez uma grande penalidade imprudente, mas está mais confiante e a crescer. Rafa não foi um jogador tão explosivo, foi mais pausado, mas equilibrado, jogando mais no meio campo, não sei se isso será um sinal para aquilo que Lage pretende dele. A vitória é inequívoca perante Boavista que não teve argumentos. Destaque para a raça e pulmão do Benfica durante o jogo. O Boavista está um bocadinho refém de não ter um médio de construção e transição, face à saída de David Simão e da lesão do Fábio Espinho. Ainda assim Mateus foi dos que deu sequência ao futebol do Boavista perante um Benfica que, com Gabriel no meio campo, nunca se desorganizou defensivamente. Com a entrada de Gedson, o Benfica transformou o 4x4x2 para o plano B em 4x3x3. Já no final da partida de salientar a grande defesa do Vlachodimos e defender em penálti e, numa segunda parte em que o Boavista nem à área do Benfica chegou. Esta vitória convincente serve de inspiração para o dérbi de domingo."

Vítor Manuel, in A Bola

AZEITONA


"1. Não raras vezes usamos no dia a dia o famoso slogan de Pessoa: «Primeiro estranha-se, depois entranha-se» Com o VAR, porém, ao cabo de ano e meio, a coisa tem funcionado ao contrário: primeira estranha-se, depois entranha-se. Pensei que a final da Taça da Liga pudesse ser o desejável recomeço, mas só durou dois dias, até ao Feirense - V. Guimarães.
2. É pena, para o Benfica, que Bernardo Silva esteja tão ocupado a brilhar no Man. City. Caso contrário, poderia ser um bom reforço para a comunicação dos encarnados, como demonstrou no bate-boca com Francisco J. Marques. Ser voraz é fácil, ser mordaz não é para todos.
3. Os números do FC Porto, em matéria de penáltis, nos últimos tempos, são tão devastadores como o relatório preliminar da auditoria à CGD.
4. Há coisas que não entendo. No espaço de dois meses, o Benfica contratou Chiquinho e transferiu-o em definitivo como fosse um Chicozito, sem oportunidades. Agora olhamos para o Moreirense e vemos um Chicão (mas mesmo que não víssemos...)
5. O mau perder está para Sérgio Conceição como as massas de ar frio e a boa música estão para a Islândia. Algumas atitudes podem ser criticáveis, mas não é por acaso que a equipa do FC Porto tem o eye of the tiger.
6. É difícil encontrar justificações para o fiasco da passagem de Ferreyra na Luz. Mas porque se tratou de uma presença-fantasma, talvez algum deputado possa tentar explicar.
7. Tomei conhecimento há pouco tempo que existem torneios de lançamento (com a boca, sim) do caroço de azeitona (não estou a brincar, o recorde mundial já vai em mais de 20 metros). Luís Filipe Vieira, António Salvador e Frederico Varandas deviam experimentar.
8. «Podia ir para o Barcelona, mas assinei pelo Sporting», disse o jovem reforço leonino, Gonzalo Plata, 18 anos. Eu também podia escrever na última página de A Bola, aos sábados, no lugar de Jorge Valdano, mas optei por estar neste cantinho à quarta-feira."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

DECISÕES DA CHALLENGE CUP SEGUEM PARA O PAVILHÃO N.º 2 DA LUZ…


VOLEIBOL
A 2.ª mão dos quartos de final da prova acontece a 13 de fevereiro, mas antes, já na próxima segunda-feira, há dérbi para as contas do Campeonato Nacional.
A equipa de voleibol do Benfica defrontou, nesta quarta-feira, a formação russa do Belogorie Belgorod, numa partida referente à 1.ª mão dos quartos de final da Challenge Cup. No Sports Palace Kosmos, triunfo para os anfitriões, por 3-0, num duelo intenso.
Início de jogo pautado pelo equilíbrio, com as águias a olharem nos olhos um adversário poderoso e a jogar em casa. A correr atrás do prejuízo, o Benfica esteve muito perto de anular a desvantagem conseguindo reduzir para a margem mínima (14-13), contudo, os anfitriões reagiram de pronto e tornaram a dilatar o fosso. Até ao final do 1.º set, muita luta, muita intensidade, com os encarnados sempre no jogo (20-19, 23-22...) e a discutirem ponto a ponto a vitória. [FINAL DO 1.º SET: 25-22]
Segundo set tirado a papel químico do primeiro! Em vantagem no jogo (1-0), o 3.º classificado da I Divisão russa – uma das mais fortes do Velho Continente – cedo se colocou na dianteira, obrigando a equipa comandada por Marcel Matz a correr atrás do marcador. E o Benfica assim o fez, aproximando-se paulatinamente e conseguindo mesmo igualar aos 9 pontos e saltar para a frente aos 10-11. Espetacular!
Alternância no marcador, igualdades consecutivas, disputa nos limites, num grande jogo de voleibol!
Empate aos 14… e reação fortíssima dos da casa, a conseguirem uma vantagem de 3 pontos (17-14), dilatando a mesma para 20-15. O Benfica bem tentou reentrar na luta pelo set, mas falou mais alto a experiência dos russos, uma das formações candidatas à vitória final na Challenge Cup, conseguindo novo triunfo, agora por 25-20, e dilatando para 2-0 a vantagem no jogo.
Terceiro set e mais do mesmo! Partida intensa, com as equipas a darem tudo em quadra e muito equilíbrio. Empate a 10 pontos, com o Benfica a colocar-se na frente aos 11-12, seguindo-se consecutivas alternâncias no marcador, mas sempre pela margem mínima até aos 17-19… dois pontos de vantagem para os encarnados! Reação do outro lado da barricada e novo empate, desta feita a 20. Tudo em aberto e muita emoção! Empate a 22, novo empate a 23, 24-24 e seguiram-se as vantagens!
Num grande jogo de voleibol, o Belogorie Belgorod puxou dos galões e fechou o 3.º set com um 29-27 e consequente vitória no jogo: 3-0.
Formação inicial do Benfica: Tiago Violas, Theo Lopes, Marc Honoré, Peter Wohlfahrtstätter, Rapha, André Lopes e Ivo Casas.
A 2.ª mão dos quartos de final viaja de seguida para Lisboa. As duas equipas decidem a passagem às meias-finais da Challenge Cup no dia 13 de fevereiro, quarta-feira, no Pavilhão n.º 2 da Luz. Esta partida está marcada para as 20h30. Para seguir em frente na competição, o Benfica não pode perder nenhum set, ou seja, tem de fazer 3-0, forçar o golden set e ganhá-lo!
Antes, já na próxima segunda-feira, dia 4 de fevereiro, há dérbi na Luz! Sport Lisboa e Benfica e Sporting CP medem forças à passagem da 20.ª jornada da Fase Regular do Campeonato Nacional, num duelo com início marcado para as 20h00.

"Vamos com tudo para o jogo em nossa casa"
Marcel Matz (treinador do Benfica): "Fizemos um jogo equilibrado, foi ponto a ponto. Tivemos uma quebra de rendimento a meio do segundo set, o que complicou um pouco, mas depois conseguimos reequilibrar e os números foram parecidos. Foi um bom desempenho da equipa, cada um fez bem a sua parte. Sabíamos da dificuldade de jogar em casa do Belgorod, mas conseguimos pressioná-los. Continuamos vivos pelo equilíbrio que foi o jogo, vamos com tudo para o jogo da 2.ª mão."

SUPERIORIDADE FICOU BEM EVIDENTE


ANDEBOL
O Benfica venceu no reduto do Arsenal da Devesa por números concludentes na 20.ª jornada do Campeonato Nacional de andebol.
Fora de portas, a equipa de andebol do Benfica não deu chances ao Arsenal da Devesa e venceu por 16-38 no Pavilhão Gimnodesportivo de Tebosa, na 20.ª jornada do Campeonato Nacional.
Na partida que pôs frente a frente o 2.º classificado (Benfica) e o último colocado do Campeonato Nacional (Arsenal da Devesa), as águias começaram a demonstrar desde o apito inicial a sua superioridade, e a diferença no marcador acabou por se dilatar. Na passagem dos primeiros quinze minutos os encarnados já venciam por 2-10.

A formação do Benfica manteve a cadência e as diferenças acentuaram-se na quadra. Sempre privilegiando o andebol de qualidade, os encarnados chegaram ao final da primeira parte com uma vantagem de 10 golos. Ao intervalo o marcador assinalava 8-18.
No reatar da partida, a toada de jogo manteve-se, um Benfica avassalador que não deixava respirar a formação do Arsenal da Devesa. Há passagem dos 15 minutos da segunda parte a vantagem aumentou e o resultado espelhava ainda mais a diferença entre as duas equipas: 13-31.
Apesar do fosso, os encarnados continuaram à procura de avolumar ainda mais o resultado, tendo conseguido cavar uma diferença de 22 pontos até ao término da partida. Resultado final: 16-38.
Gonçalo Nogueira e Daniel Neves, atletas da equipa B do Benfica, estiveram em destaque nesta partida marcando cinco e três golos, respetivamente. Os outros marcadores do Benfica foram: Paulo Moreno (5), Davide Carvalho (5), João Pais (4), Ales Silva (4), Alexandre Cavalcanti (3), Belone Moreira (3), Ricardo Pesqueira (3), Fábio Antunes (2) e Nuno Pereira (1).
Formação inicial do Benfica: Hugo Figueira, João Pais, Nuno Grilo, Belone Moreira, Kévynn Nyokas, Davide Carvalho e Paulo Moreno.
Com esta vitória a equipa do Benfica soma 50 pontos (16 vitórias e duas derrotas) e continua a perseguição ao 1.º lugar. Os encarnados ficam assim a cinco do FC Porto, que tem 55 pontos, mas mais um jogo realizado do que as águias.
Na próxima jornada (21.ª), os encarnados recebem o SC Horta no dia 2 de fevereiro. O apito inicial está marcado para as 17h00 no Pavilhão n.º 2 da Luz.

FUTEBOL FEMININO VENCE NA MADEIRA


PASSO SEGURO RUMO AO OBJETIVO NA TAÇA DE PORTUGAL
FUTEBOL FEMININO
Em casa do Marítimo (7.º classificado da I Divisão), a equipa de futebol feminino do Benfica foi claramente superior e venceu por 1-5 na 3.ª eliminatória da prova-rainha.
Com segurança e qualidade, a equipa de futebol feminino do Benfica deu mais um passo na direção de um dos objetivos da temporada: a conquista da Taça de Portugal. No Estádio de Câmara de Lobos, na Madeira, ganhou ao Marítimo por 1-5 e qualificou-se para a 4.ª eliminatória.
Perante um adversário da I Divisão (atual 7.º classificado), a equipa benfiquista mostrou a qualidade que a tem caracterizado na época de estreia no futebol feminino. Aos 17', as encarnadas colocaram-se em vantagem por intermédio de Geyse (0-1).

O Marítimo, especialmente em lances de bola parada, puxou pelos predicados da defensiva encarnada, que foi resolvendo com competência os problemas que, aqui ou ali, lhe iam sendo colocados. Entre os postes e fora deles, a guardiã Dani Neuhaus foi eficaz.
Ultrapassada a meia hora de jogo, o Benfica, depois de elaborar algumas ofensivas perigosas, voltou a acertar nas redes do conjunto insular, desta feita por Evy Pereira (0-2 aos 35').
Darlene, aos 42', descaída para a direita, entrou na área e atirou para o 0-3, resultado com que se atingiria o tempo de intervalo.
Vincando a sua superioridade tática, física e técnica, a equipa orientada por João Marques teve mais bola no segundo tempo e, também com vento a favor, carregou sobre a área do Marítimo, criando várias oportunidades para ampliar a diferença.
Nas bancadas, os adeptos benfiquistas pediam mais um golo... e este aconteceu mesmo: no seguimento de um canto cobrado no lado esquerdo do ataque, Sílvia Rebelo foi poderosa pelo ar e cabeceou para o 0-4 (65').
Num momento de reação, a equipa madeirense reduziu para 1-4 aos 81' na sequência de um livre. Foi o primeiro golo sofrido pelas águias ao cabo de 17 jogos oficiais.
Retomando o registo ofensivo, o Benfica alcançou o 1-5 com uma finalização de Darlene no interior da grande área (85'). Estava feito o resultado final.
Apurado para a 4.ª eliminatória da prova-rainha, o Benfica vai jogar em casa frente ao Ribeirão. Esta partida está agendada para as 15h00 do dia 16 de fevereiro (sábado).
Onze inicial do Benfica: Dani Neuhaus, Daiane, Sílvia Rebelo, Tayla, Yasmim, Pauleta, Patrícia Llanos (Andreia Faria), Ana Vitória (Adriana), Evy Pereira, Geyse (Rilany) e Darlene.
Suplentes: Catarina Bajanca, Raquel Infante, Andreia Faria, Maiara, Rilany, Adriana Gomes e Carlota Cristo.

A LIGA QUE (QUASE) TODOS QUEREMOS


"O jogo que ontem se disputou na Luz é um daqueles exemplos que contribuem para a boa imagem do futebol português: um espectáculo de qualidade, sem casos de arbitragem e com respeito entre todos os intervenientes. E mesmo para uma 3ª feira de inverno, com início às 19 horas, um jogo com assistência acima de 40 mil espectadores é um registo que impressiona.
Espectáculos de qualidade, sem casos de arbitragem, com respeito entre todos os intervenientes e com assistências acima dos 40 mil espectadores é coisa que, infelizmente, não acontece muitas vezes no nosso futebol. Ganhou o Benfica, porque foi melhor, mas o adversário não deixou de ser um digno vencido – que nunca baixou os braços, nem deixou de contribuir, na medida do que lhe foi possível, para a qualidade do espectáculo.
A questão dos erros de arbitragem, apesar da ‘trégua’ ontem vivida na Luz, é um tema que continua na agenda por razões que estão bem à vista. O desejo do Benfica – e de todos aqueles que pugnam por um futebol mais saudável – é que o assunto deixe de ser debatido diariamente. Seria bom sinal. 
Temos todos consciência, ainda assim, de que o erro nunca deixará de existir. O que não pode continuar, de forma persistente, é o erro inexplicável e incompreensível sempre em benefício da mesma equipa. Foram decisões desse calibre que ajudaram a ‘construir’ o líder do campeonato que hoje temos. É obrigatório que, daqui até ao final da temporada, impere maior verdade desportiva. 
Quem está na origem do problema? Quem invade centros de treino, quem ameaça árbitros (e respectivas famílias) e quem agride adeptos na hora da derrota. São os mesmos que, seguramente, vivem obcecados pelo regresso a um passado que a (quase) todos envergonha.
Já lá vai o tempo em que havia quem interferisse nas subidas e descidas. Em que havia quem interferisse nas nomeações dos árbitros a seu bel-prazer. Em que havia quem fizesse aquilo que lhe apetecia. Não é esse futebol que queremos. Não é esse futebol que faz falta. É preciso que alguém lhes diga isso.

PS: Uma notícia surgida ontem nas redes sociais da Rádio Renascença tinha um título provocatório, pouco compatível com a qualidade e isenção a que a sua informação sempre nos habituou. Em boa hora houve quem se apercebesse e corrigisse o erro. Quem o cometeu insultou o prestígio da sua rádio."

UM AZAR DO KRALJ


Haters do @Almeidinhos, isto é par... Esperem lá, podia jurar que olhei para Samaris e vi um capitão. Deve ser do cansaço (Um Azar do Kralj)
Vasco Mendonça, um dos benfiquistas encartados de Um Azar do Kralj, escreve sobre os rapazes de Lage que derrotaram o Boavista na noite de terça-feira. Uma noite em que coisas estranhas aconteceram.
Vlachodimos
Muito bom entendimento com Samaris. O compatriota de Vlachodimos provocou o penalty e o guarda-redes grego respondeu à chamada, demonstrando que está pronto para a principal situação de jogo trabalhada pelo Sporting esta época.
André Almeida
É muito raro o Benfica golear um adversário e André Almeida não ser responsável por metade dos golos ou assistências. Saboreiem por isso este raro e brevíssimo momento, estimados haters do André Almeida. O nosso craque sabe que a melhor resposta ao ódio é o amor. Por isso, preparem-se para voltar a sentir o sabor amargo de uma vitória do Benfica apenas possível pelas intervenções certeiras do nosso lateral-direito. E não pensem que se livram de cumprir a guarda de honra no final.
Rúben Dias
Os jovens centrais do Benfica não aprendem ou não querem aprender. Há muitos anos, Luisão indicou o caminho. Desde então não mais vimos um cabelo naquela cabeça. Foi o início de uma carreira singular na história do clube, que em muito se deveu à ausência de inquietudes do foro capilar. Luisão percebeu desde cedo que um central do Benfica não pode perder tempo a decidir com que penteado deve sair de casa ou, pior ainda, qual o visual que irá apresentar no relvado. Foi isso que traiu Lindelöf e é seguramente o que está a suceder com Rúben Dias. A desatenção no golo do Boavista não teria acontecido a um Rúben com máquina zero.
Jardel
Por muito seguras e autoritárias que as suas saídas a jogar aparentem ser, a verdade é que nenhum indivíduo com os pés de Jardel reúne condições objectivas para nos garantir que vai correr tudo bem.
Grimaldo
Sabes que marcaste um grande golo quando o primeiro colega de equipa a dar-te os parabéns é um vencedor do prémio Puskas.
Pizzi
1 assistência, 1 golo, 1 semi-assistência para Seferovic, e muito jogo inteligente pelos flancos com e sem bola. Chegaria e sobraria, se não se tratasse de um proscrito do universo benfiquista por esses grupos de whatsapp fora. A luta de Pizzi pela sobrevivência prossegue de forma inglória, até ao dia em que tivermos todos saudades dele e o rapaz estiver no Al Nassr a ensinar árabes a festejarem golos com a bola por dentro da camisola.
Samaris
Podia jurar que hoje olhei para Samaris e vi um capitão de equipa. Não sei, pode ter sido do cansaço.
Gabriel
Corria o sexto minuto de jogo quando uma fífia sua nos transportou até à segunda metade da década de 90. Subitamente os adeptos deram por si novamente a observar um indivíduo chamado Tahar com rédea solta para fazer o que quisesse na zona mais recuada do meio-campo benfiquista. Felizmente, o fantasma do central marroquino rematou ao poste e não mais voltou a incomodar os adeptos, que ainda hoje sofrem de stress pós-traumático causado por esta fase da vida do clube.
Rafa
Não foi o Rafa que piorou. Foi tudo o resto que melhorou. Numa outra noite, num outro relvado, talvez a trivela que lançou Seferovic para o lance do segundo golo tivesse sido lembrada e relembrada pelos benfiquistas. Hoje foi só mais um de muitos lances de belo efeito numa noite em que o rolo compressor regressou definitivamente à Luz.
Seferovic
Até a errar parece ter mais genica. É este o Seferovic da era Bruno Lage, um avançado possante e rápido que diz asneiras em português quando a bola não entra e regressa para a segunda parte com o dobro da vontade de convencer os benfiquistas. Se continuar a marcar golos a este ritmo, é bem capaz de o conseguir.
João Félix
Esqueçam o cabeceamento certeiro, a jogada monumental que entrega a bola numa bandeja a Seferovic, ou o modo juvenil como passa a bola a Pizzi no contra-ataque do quarto golo. A imagem mais bonita de João Félix esta noite, e também a mais triste, é a do miúdo que recebe humildemente instruções de Bruno Lage a ganhar por 4-1 a 10 minutos do fim. Por um lado é uma imagem perfeita do que é a gana deste novo Benfica. Por outro, é a garantia de que este miúdo pura e simplesmente não irá parar enquanto não for um dos melhores do mundo.
Zivkovic
Ao contrário do que acontece habitualmente, Zivkovic não fez duas assistências para golo nos primeiros 5 minutos em campo.
Ferreyra
A próxima depressão a passar pelo nosso país devia chamar-se Facundo.
Gedson
Continua a crescer a olhos vistos - o cabelo.
Um Azar do Kralj, in Tribuna Expresso

CONHECEMOS MUITO, IGNORAMOS MUITO MAIS


"Das consultas que por vezes faço, há bem 40 anos, na Lógica das Ciências Sociais, de Karl Popper, retive algumas ideias que se me antolham sejam o ponto fulcral deste livro. Sumariando, comecemos por esta: conhecemos muito, mas ignoramos muito mais. Ao nível do conhecimento, mormente do conhecimento científico, ignorância e conhecimento completam-se pois que, no princípio e no fim de um conhecimento, sempre se descobre uma tensão constante entre o conhecimento e a ignorância. “Portanto (argumenta Karl Popper) poderíamos dizer que não há nenhum problema sem conhecimento, mas também não há problema, qualquer que ele seja, sem ignorância”. Um outro ponto quero salientar: as ciências sociais e humanas começam com problemas, como as chamadas “ciências exactas”. A pobreza, o analfabetismo, a democracia, a política (incluo, aqui, a política desportiva), etc., etc. são problemas práticos, que conduzem à especulação, à teorização, em poucas palavras: a problemas teóricos. É impossível expungir a teoria da prática e a prática da teoria, no conhecimento humano. Quando John Locke (1632-1704), como empirista que era, escreveu: “Nada está na inteligência que primeiro não tenha estado nos sentidos” – tornou assim evidente que o corpo sobreleva a razão, o todo as partes e a unidade a multiplicidade, no ato cognoscitivo. Para Newton e os físicos do seu tempo, as teorias inferiam-se, deduziam-se dos fenómenos, não de criações do espírito humano, em poucas palavras: deduziam-se tão-só por abstracção da experiência. Tratava-se portanto de uma concepção das ciências, que excluía formalmente a actividade da imaginação. Além disso acreditou também piamente que a mecânica de Newton descrevia a realidade de modo rigorosamente exacto e objectivo. No entanto, a teoria da relatividade veio colocar em questão essa verdade que parecia inquebrantável” (Hilton Japiassu, Questões Epistemológicas, Imago Editora Lda., Rio de Janeiro, p. 22).
Aliás, a questão do método, nas ciências, não é pacífica. Paul Feyerabend (1924-1994), sempre com um fichário de grande actualidade, ofereceu inúmeros exemplos de teorias de indiscutível rigor e que chegam a não ser aceites pela comunidade científica. Um método que contenha princípios firmes inalteráveis e absolutamente obrigatórios que norteiem a prática científica tropeça com dificuldades consideráveis, ao ser confrontado com os resultados da investigação histórica. Descobrimos então que não há uma só regra, por plausível que seja e por firmemente baseada que esteja na epistemologia, que não seja infringida numa ou noutra ocasião. Torna-se evidente que essas infracções não são acontecimentos acidentais, consequência de uma falta de conhecimento, ou de atenção, que poderia ter-se evitado. Pelo contrário, vemos que são necessárias para o progresso” (Tratado contra el método, Tecnos, Madrid, 1981, p. 53). Depois do princípio da incerteza de Heisenberg, em 1927, e do surgimento das geometrias não-euclideanas, despontou um extenso questionamento do próprio conceito de evidência. Por seu turno, fugindo à tirania da tradição e do corporativismo e à férula do princípio da verificabilidade (só um enunciado verificável, pela observação ou pela experiência, transmite informações factuais) – Karl Popper, partindo do pressuposto que não se encontra critério seguro para avaliar da racionalidade de uma teoria, pois que da razão podem despontar uma longa e árdua maratona de interpretações várias, levanta a questão: então, qual o critério que nos permite distinguir a ciência da não-ciência? Para Popper, o mais fiável critério de cientificidade não é a verificabilidade, mas a falsificabilidade, ou seja, uma teoria que não sabe, nem pode, formular as condições da sua própria falsificação, não deverá considerar-se uma ciência. E, se bem penso, a história das ciências não se apresenta, desta forma, como um “objeto dado”, mas um “objeto construído”...
Do positivismo comteano dizia J. Piaget, no seu Biologie et Connaissance (p. 43). que ele tinha em mente um duplo objectivo: ideológico, isto é, “delimitar as fronteiras das ciências contra qualquer intromissão metafísica”; e metodológico, ao “fixar de uma vez por todas os princípios e os métodos destas mesmas ciências”. No positivismo, entre os pecados que se lhe podem assacar, eram muitas as certezas e as verdades. Mas não é verdade que a história das ciências não passa de um processo de “verdades” provisórias? Aliás, se há ciência, tal se deve ao facto de ao processo cognoscitivo em curso faltar mais evidência. Por maior que seja o academismo e afectação, na hora da proclamação das certezas, a evidência plena é sempre de uma indigência confrangedora. A ciência é processo, nada mais do que processo. A evidência plena é crendice, ou cegueira, ou dogma. Ainda há pouco me questionaram se eu, prestes a atingir os 86 anos de idade, considerava feita a minha obra. Respondi-lhes: “Falaram em obra feita? Mas eu não tenho uma obra feita, tenho, sim, algumas ideias em permanente devir. Por isso, o meu pensamento se encontrar tão inextrincavelmente ligado à escola hegelo-marxista. A lógica dialéctica é-me indispensável, para entender a História. Eu sei que rodeia a dialéctica um círculo ondulante e agressivo, onde topo Hannah Arendt, Edouard Bernstein e outros”. E uma alegria juvenil me tomou, quando perguntei: “E é possível a transcendência, sem dialéctica?”. Eu sou, em 40% do meu pensar, hegelo-marxista e, nos 60% finais, sou cristão, profundamente cristão, sem recusar a dialéctica mas introduzindo nela o objectivo final da transcendência. Gostava de ter conhecido, pessoalmente, Teilhard de Chardin, para o interpelar vivamente. É que me sinto muito próximo dele e do Papa Francisco, quando penso na transcendência. Com eles aprendi, que a própria ideia de transcendência é um processo em permanente construção. É da compreensão crítica da dialéctica que a transcendência surge mais instrutiva e mais instigante. Baudelaire escreveu que a modernidade significa a tensão entre o efémero e o eterno. Por mim, direi que a vida significa a tensão entre o efémero e o eterno - pela dialética da imanência, a caminho da transcendência…
Mas a dialética da transcendência traz-me à mente o “mundo-da-vida” da fenomenologia (aproveitado depois por Habermas, na sua Teoria da Ação Comunicativa) que assim tento definir “é o conjunto de crenças, sentimentos e valores, que traduzem significados da vida quotidiana. E, ao produzir conhecimentos, o mundo-da-vida surge como um pressuposto pré-científico de significados emergentes das práticas culturais”. Ou seja, o jogo, o desporto e a dança, quando são investigados e estudados cientificamente, já trazem consigo os valores, as crenças colectivas, que presidiram ao seu nascimento histórico e presidem, depois de racionalizados, à sua prática habitual. O “mundo-da-vida” é o mundo do “homo sapiens sapiens”, consciente do seu ser histórico, temporal e da sua relação com os outros seres falantes (e portanto com quem pode dialogar-se). Parece-me oportuno relembrar as Investigações Filosóficas de Wittgenstein, onde toda a linguagem é solidária de uma determinada “forma de vida”. A linguagem não blasona de “qualquer coisa de único e de sublime, como uma dádiva dos deuses ou uma faculdade transcendente que faria o ser humano participar num mundo imaterial, imutável, ideal, espiritual. De facto, a linguagem é empírica, evolutiva e complexa, integra afinal a história natural e cultural dos seres humanos” (Gilbert Hottois, História da Filosofia – Da Renascença à Pós-Modernidade, Instituto Piaget, Lisboa, 2003, p. 314). Daqui se infere que podemos fazer a distinção entre “valores do desporto” e “valores no desporto”: aqueles são o fundamento onde assenta o modo-de-ser do desporto, uma prática físico-motora informada de valores morais; estes são os valores que o processo histórico, na sua dialéctica incessante, acrescenta aos valores do desporto. Sou até em crer que de uma síntese, entre os valores do desporto e os valores no desporto, poderá resultar uma inelutável metalinguagem, onde o jogo, o desporto, a dança e a motricidade humana em geral, porque não são apenas biologia, nem inteligência tão-só, possam evidenciar a complexidade humana, no movimento intencional da transcendência.
Convivi muito com o Acácio Rosa. Foi das primeiras pessoas, em Portugal, a jogar basquetebol e andebol, ou seja, indubitavelmente, um pioneiro do desporto lusitano. Jantava, todas as semanas, com ele e com o Mariano Amaro, futebolista internacional do Belenenses das décadas de 30 e 40. Recebia-me sempre, com muita festa. Começava a ouvir o que eu lhe expunha, normalmente assuntos ligados à documentação e à informação do Desporto. Mas, a certa altura, o nome de um desportista, a menção de um estádio, o afloramento de uma data suscitavam-lhe a memória de factos distantes da vida do Belenenses, ou do desporto nacional. E então era o Acácio que falava, ininterruptamente. Recordo perfeitamente que, para ele, a figura primeira do nosso futebol era o Cândido de Oliveira (o meu Amigo-Irmão Homero Serpa dizia o mesmo). Jogador, treinador, seleccionador nacional, jornalista, ideologicamente um democrata sem mácula e deixando uma obra variada e multiforme de um verdadeiro pensador do futebol – Mestre Cândido, para o Acácio Rosa, tem lugar ímpar, na história do futebol português. E notava, por fim: “E homem bondoso, simples e acessível, capaz de dar a própria camisa a quem dela necessitasse”. Desportistas, como o Acácio Rosa, “homens da prática” (como é hábito dizer-se), são importantes aos historiadores para que os factos históricos não despontem descontextualizados e precedidos de especulações simplistas e simplificadoras. Em geral, os desportistas, normalmente pessoas aprumadas, disciplinadas, de olhar firme e voluntarioso, conhecem mal o papel da filosofia, na formação da História do Desporto. Vivem o Desporto como uma atividade autónoma, que se desenvolve, sem qualquer relação com a vida económico-social e com o mundo das ideias, quero eu dizer: que converge fatalmente para a “verdade”, sem o arrimo dos conceitos filosóficos e da realidade histórica, no seu conjunto. Enfim, uma concepção idealista da História. E só com a “filosofia espontânea dos cientistas” a História pode converter-se numa revoada de lugares comuns, postos a correr na base da superficialidade e da falsidade, onde se aceita como verdade apodítica o que se julga a via do progresso, dos “amanhãs que cantam”. Ora, não há revolução que não apresente também desmandos da liberdade, uma avultada conta de vítimas e um número razoável de mentiras. E muitas vezes a História se faz, escondendo o que seja considerado ao arrepio da vontade dos vencedores. E também aqui conhecemos muito, mas ignoramos muito mais."