quinta-feira, 31 de maio de 2018

ESPECIAL INFORMAÇÃO BENFICA TV HD- ANALISE AO SUPOSTO ALICIAMENTO A JOGADORES DO MARÍTIMO - 31 MAIO 2018

                                           

CURIOSIDADES NO MEIO DE "OVERDOSE"


"Entre 1934/35 e 2017/2018, 74% das equipas que jogaram no escalão principal concentram-se em quatro distritos do litoral.

Entre as sucessivas overdoses da crise sportinguista que enche o país das televisões de um modo quase omnipresente, tornando aos olhos dos mais incautos tudo o resto insignificante (ao ponto de um antes reconhecido canal de notícias ter dedicado mais de duas horas em directo a uma conversata do presidente leonino, espaço jamais dado a alguém no planeta!) e a sobredose que se vai seguir em redor de todos os detalhes do Mundial da Rússia, escolhi hoje escrever sobre curiosidades, que é o que me resta entre o tudo que não é o todo e o nada que não é o zero.
Resolvi ver com atenção o atlas do nosso futebol, isto é, a sua geografia que, ao longo dos tempos, vem pintando o Portugal futebolístico.
Nos já disputados 84 campeonatos da 1.ª divisão, a distribuição de clubes que neles jogaram por distritos e regiões autónomas é a seguinte:
1.º Porto - 14 clubes, dos quais 6 da cidade do Porto e arredores (Porto, Boavista, Salgueiros, Leixões, Académico, Leça);
2.º Lisboa - 12 clubes, dos quais 6 da capital e arredores (Benfica, Sporting, Belenenses, Atlético, Estrela da Amadora e Casa Pia);
3.º Braga - 8 clubes;
4.º Aveiro - 7 clubes;
5.º Setúbal - 6 clubes
6.º Faro - 4 clubes;
7.º Madeira, Coimbra, Leiria e Portalegre - 3 clubes;
11.º Viseu - 2 clubes;
13.º Vila Real, Açores, Castelo Branco, Santarém e Évora - 1 clube.
Há alguns distritos do nosso país que jamais tiveram um representante. É o caso de Viana do Castelo, Guarda, Bragança e Beja. Aliás, nem sequer alguma vez estiveram representados na 2.ª divisão. À tangente e há já muito tempo (1976 - 77) o distrito de Santarém foi representado 6 vezes pelo União de Tomar, clube por onde Eusébio até passou em 1977. Também Évora só lá esteve com o velhinho Lusitano Ginásio Clube, a última vez em 1966.
Apenas os chamados 3 grandes participaram em todas as provas, seguidos do Belenenses (não esteve em 7), Vitória de Guimarães (em 11) e Vitória de Setúbal (em 14). Seguem-se a Académica (esteve em 64 vezes), Sp. Braga (em 62), Boavista (em 55) e Marítimo (em 37). Dos clubes que não militam actualmente na 1ª divisão é, curiosamente, o Beira-Mar quem mais vezes lá esteve (27), agora que anda pelos campeonatos distritais. Aliás, se exceptuarmos o Estoril que desceu agora (26 presenças) e o Leixões que está no 2.º escalão (25 presenças), os que se lhe seguem estão afastados das competições ditas profissionais: Salgueiros (24), Atlético (24), Barreirense (24) e CUF (23).
Para além dos grandes, os dois clubes que há mais tempo estão consolidados na divisão principal - há mais de 40 anos - são o Sp. Braga (desde 1975/76) e o Marítimo (desde 1977/78).
De todos os clubes houve alguns que desapareceram como os industrialistas Riopele e Unidos FC (CUF de Lisboa), outros extintos por fusão (Carcavelinhos e União de Lisboa que deram origem ao Atlético), e o Estrela da Amadora (substituído pelo Clube Desportivo Estrela), o Académico do Porto, Seixal e Montijo e, mais recentemente, o Campomaiorense e a Naval 1.º de Maio que abandonaram os suspenderam o futebol sénior. Há ainda o caso da Associação Académica de Coimbra que, por tonta inspiração do PREC, se metamorfoseou, durante poucos anos, em Académico de Coimbra e a CUF do Barreiro, depois de já ter sido Quimigal.
Longe da 1.ª Divisão numa travessia do 'deserto' jogaram esta época em escalões distritais, Beira-Mar, União de Coimbra, Alverca, O Elvas, Leça, Tirsense, Lusitano de Évora, União de Tomar, Amora, Barreirense, Fabril do Barreiro, Ginásio de Alcobaça e o Atlético Clube de Portugal (este desclassificado no distrital lisboeta).
Na 3.ª divisão, pomposamente chamada Campeonato de Portugal, jogaram Trofense, R. Águeda, Torreense, Casa Pia, Oriental, Felgueiras, União de Leiria, Vizela, Fafe, Sp. Espinho, Sanjoanense, Salgueiros, Olhanense, Lusitano VRSA, e o semifinalista da Taça de Portugal deste ano, Caldas. Junta-se-lhes o Farense que, porém, acaba de regressar à 2.ª divisão.


Fazendo as contas totais entre 1934/35 e 2017/2018, nas 1256 presenças, verificamos que Lisboa comanda com 27%, seguida do Porto com 23% e Braga com 14%. Se lhes juntarmos Setúbal (10%), constatamos que 74% das equipas que jogaram no escalão principal se concentram nestes quatro distritos do litoral. Considerando ainda Coimbra (6%), Faro (5%), Madeira (5%) e Aveiro (4%), temos quase completo o mapa da 1.ª divisão, ou seja, de 94% do total. No actual campeonato, resistem Chaves e Tondela fora deste perímetro, a que agora se vai juntar o regressado Santa Clara da ilha de São Miguel!
O futebol está cada vez mais associado à economia de cada parte de Portugal. Nada que seja de espantar. Exemplos remotos de equipas alentejanas e beirãs, entre outras, são cada vez mais difíceis de reproduzir no actual enquadramento económico-social. A chamada desertificação do interior é também avassaladora no futebol profissional.


Verifica-se aqui o que é manifestamente visível a nível europeu. Um futebol feito de diferentes anéis quase estanques. O dinheiro faz a diferença e os seus reguladores acentuam-na por vezes despudoradamente, como é o caso da UEFA. Por cá, a excessiva concentração dos direitos televisivos tende a agravar o fosso entre os clubes.
Um último apontamento estatístico relativo às classificativos dos principais clubes. O campeão dos campeões é o Benfica (36 títulos) e, curiosamente, também o mais vezes vice-campeão (28). O 3.º classificado mais assíduo é o Sporting com 28 posições, sendo que o 4.º lugar é mais frequentado pelo Sp. Braga (13), Sporting (12), Boavista e Vitória de Guimarães (10), Belenenses (9). Já o 5.º lugar é encabeçado pelos dois Vitórias.

'Murphy' na Lei da Champions
O Real Madrid venceu a sua 13.º Taça dos Campeões Europeus, terceira consecutiva e quarta no último quinquénio. Notável! Aliás, em 16 finais só perdeu 3 (uma delas contra o Benfica). Treinada por um homem tranquilo, não espalhafatoso, sem essa parvoíce dos mind games e que, depois de ter sido um grande jogador, demonstra saber juntar com êxito uma série de vedetas, qual delas mais vedeta que as outras. O que não é nada fácil e tem sido até o coveiro de outros reputados treinadores que por lá passaram. Curiosa é a circunstância de enquanto passeiam na Champions só a custo conseguem ser campeões na Liga espanhola, ou seja apenas uma vez nos mesmos 5 anos. É equipa talhada para os grandes palcos do futebol planetário.
A final foi vibrante e fica marcada pela lei de Murphy aplicada em cheio ao valoroso Liverpool treinado por outro grande técnico. A lesão de Salah, a habitual condescendência para o com o talhante Sérgio Ramos, a incrível oferta do seu guarda-redes numa situação que eu nunca havia visto, o frango do mesmo que matou o jogo, uma bola ao poste que daria o 2-2 foram momentos dramáticos para os red. Verdade seja dita que se há clube que mais é bafejado pela sorte e também beneficiado com arbitragens é o R. Madrid. Este ano, com prejuízo para a Juventus e com a injustiça de o Bayern não o ter eliminado nas meias-finais.

Contraluz
- Excelente: Benfica campeão nacional de Juniores.
Magníficos atletas que passearam a sua classe na fase final do campeonato. Há ali jogadores bastante prometedores que merecem ser apoiados e espero que não partam para outras bandas, como tem sucedido com outros casos (Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, entre outros).
- Classe: Cris Froome.
britânico ganhou o Giro de Itália, fazendo o triplete ciclista (Tour, Vuelta, Giro). Assombrosa a etapa a etapa em que, em 80 quilómetros de fuga pelas altas montanhas, conquista a 'maglia rosa'.
- Citação: «Foi bonito jogar no R. Madrid»,...
... disse em modo pretérito C. Ronaldo, logo a seguir à conquista da Taça dos Campeões Europeus. Num momento de júbilo, não resistiu aos amuos e ciúmes. Não havia necessidade.
- Elogio: A Carlos Resende,...
... treinador de andebol do Benfica, que conquistou a Taça de Portugal. Com uma carreira de grande andebolista, continua a ser um senhor na vitória e na derrota. Algo que tende a escassear nas competições desportivas e, por isso, aqui o registo."

Bagão Félix, in A Bola

CONTRATADO DISTRIBUIDOR PARA O VOLEIBOL


VOLEIBOL
O Sport Lisboa e Benfica informa que o internacional português Nuno Pinheiro é reforço para a equipa sénior masculina de voleibol. Tem 33 anos e chega dos franceses do Paris Volley.
O atleta Nuno Pinheiro é reforço para a equipa de Voleibol do Sport Lisboa e Benfica.
Nuno Pinheiro alinha na posição de distribuidor e tem uma enorme experiência internacional, após deixar o Vitória de Guimarães em 2004.

Passou por Itália (Prisma Volley), pela Bélgica (Noliko Maaseik) e por França (Beauvais Oise UC, Stade Poitevin Poitiers, Tours VB e Paris Volley), conquistando vários troféus nestes dois últimos países. Ajudou a vencer, por exemplo, dois campeonatos da Bélgica e quatro campeonatos de França (um pelo Stade Poitevin Poitiers e três pelo Tours VB).
Após mais de uma década a jogar fora do nosso país, o atleta está de regresso a Portugal e para representar o Sport Lisboa e Benfica. O Clube deseja-lhe as maiores felicidades neste novo desafio da sua carreira.

JOSÉ NUNO MARTINS ANALISA ATUALIDADE DESPORTIVA SL BENFICA - BENFICA TV HD - 31 MAIO 2018

                                           

SEM MÁSCARA, SEM VOZ DISTORCIDA, CÉSAR ACUSA..

                                           

JUVENIS VENCEM CLÁSSICO E SALTAM PARA A LIDERANÇA


FUTEBOL
Na próxima jornada, o Benfica recebe o Belenenses.
O SL Benfica venceu, esta quinta-feira, o FC Porto por 1-2, em jogo da 5.ª jornada da fase de apuramento de campeão do Nacional de Juvenis. Com uma volta inteira por jogar, os encarnados saltam para a liderança da prova.
No Olival entrou em campo um Benfica frenético a dispor de mais oportunidades logo nos primeiros minutos, mas Francisco Meixedo, atento, a negar as investidas dos encarnados.

O nulo mantinha-se ao intervalo, mas a abrir a segunda parte, aos 48’, grande penalidade assinalada a favor dos azuis e brancos. Rodrigo Valente não despediçou e rematou para o 1-0.



O Benfica respondeu e reagiu. Gonçalo Gomes cabeceou para a baliza de Francisco Mexeido mas foi Ronaldo Camará, dois minutos depois de entrar para render Bernardo Silva, que repôs a igualdade (58’).

Estava tudo em aberto e tudo fazia antever emoção e incerteza até ao final… Terminado o tempo regulamentar, o árbitro da partida ditou mais três minutos de jogo.

Tiago Gouveia - depois de um contra-ataque conduzido por Úmaro Embaló -, aos 81’, fez a reviravolta e estabeleceu o resultado final (1-2) que permite ao Benfica assumir o comando do Campeonato Nacional, agora com mais um ponto do que os azuis e brancos (11).

Na próxima jornada (6.ª), a formação de Renato Paiva ecebe o Belenenses. O desafio está agendado para as 11h00 do dia 3 de junho.

O ALICIAMENTO


CHUCK NORRIS


"1. Em Janeiro de 2013, quando Godinho Lopes não queria aceitar a realização de uma AG que podia resultar na destituição do Conselho Directivo que liderava, BdC criticou, no Facebook, o «estado ditatorial e antidemocrático» no clube. Sim, Bruno de Carvalho.
2. Hugo Chávez (9.49h), Fidel Castro (7.10h) e Vladimir Putin (4.47h) foram protagonistas de alguns dos mais longos discursos da história. BdC entra directamente para o ranking com aquela sessão de esclarecimento as perguntas.
3. Estou confuso, BdC diz que o vice-presidente Carlos Vieira é o seu Chuck Norris, mas quem desapareceu em combate, qual coronel James Braddock, foi o director de comunicação Nuno Saraiva (um dos aspectos positivos da crise do Sporting, diga-se).
4. Caso venha a realizar-se, a AG do Sporting de 23 de Junho promete ser o maior evento de Wrestling e MMA (Artes Marciais Mistas) alguma vez, realizado em Portugal.
5. Um presidente mandar mensagens motivadoras aos jogadores no intervalo de um jogo é o mesmo que um pai mandar mensagens de incentivo ao filho a meio de uma noite de sexo com a namorada.
6. Com BdC na presidência do Sporting, só um eremita pode aceitar treinar o clube. Ou Sá Pinto.
7. Já ouvi por aí dizer que vai acontecer à Selecção Nacional o mesmo que nos aconteceu no Festival da Eurovisão, um grande fiasco depois de uma grande conquista. Não acredito. E depois de João Mário ter prometido que, em caso de vitória, vai deixar crescer o cabelo como Fellani, não pode haver maior motivação.
8. O Benfica é o porto seguro que Renato Sanches precisa. Renato Sanches é a tempestade que o futebol do Benfica precisa. Já não é tentação, é mesmo necessidade.
9. As declarações de Ronaldo na final da Champions tiveram um sentido de oportunidade tão perfeito quanto o seu busto que está no aeroporto da Madeira."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

PRIMEIRAS PÁGINAS: O LAMAÇAL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL


quarta-feira, 30 de maio de 2018

LANÇAS APONTADAS - BENFICA TV HD :: 30 MAIO 2018

                                           

TRÊS CAMPEÕES DE JUNIORES COM NOVOS CONTRATOS


FUTEBOL
Pedro Álvaro e Diogo Capitão renovaram com o Benfica, Luís Pinheiro assinou vínculo profissional. Todos até 2023.

Pedro Álvaro
Pedro Álvaro, Diogo Capitão e Luís Pinheiro, campeões nacionais de Juniores, viram atualizadas e alteradas as respetivas ligações contratuais ao Sport Lisboa e Benfica. Os dois primeiros renovaram o vínculo até 2023, o terceiro assinou contrato profissional também até 2023. Têm todos 18 anos.
Natural de Seia (02.03.2000), Pedro Álvaro é júnior de 1.º ano. O defesa-central já está há sete épocas ao serviço do Benfica. Ingressou no Centro de Formação e Treino SL Benfica de Viseu em 2011/12, tendo transitado para o Caixa Futebol Campus em 2012/13, enquanto Infantil Sub-13. Iniciou o seu percurso no Seia FC e também representou a AD São Romão.

Pedro Álvaro trabalhou com frequência com o plantel do Benfica B e estreou-se na II Liga durante a época 2017/18, tendo sido lançado em dois jogos e convocado para sete. De águia ao peito, já se sagrou campeão nacional de Iniciados (2013/14) e de Juniores (2017/18).
Nesta última época, o central realizou 16 jogos no Campeonato Nacional e cinco na UEFA Youth League. Tem 22 internacionalizações em todos os escalões da seleção portuguesa (uma nos Sub-15, 11 nos Sub-16, seis nos Sub-17 e quatro nos Sub-18) e marcou três golos.
"Vou continuar a trabalhar da mesma maneira, aplicar-me no dia a dia. É mais um objetivo alcançado na minha carreira. Estou muito feliz", partilhou Pedro Álvaro num depoimento à BTV.
Diogo Capitão
Diogo Capitão (06.03.2000), também júnior de 1.º ano, já está ligado ao Benfica há 12 épocas. O médio chegou em 2006/07, proveniente do Vilafranquense, e ainda integrou as Escolas de Futebol do Benfica, antes de ter idade para entrar nos escalões de competição, tendo percorrido depois todos os escalões até ao momento. Oficialmente só jogou pelo emblema benfiquista e fá-lo desde 2009/10, há nove épocas.
Campeão nacional de Juniores em 2017/18, época em que alinhou em 28 jogos do Campeonato, tendo marcado um golo. Fez ainda uma partida na UEFA Youth League. Na última temporada, Diogo Capitão estreou-se pelas seleções nacionais jovens, tendo somado as três primeiras internacionalizações, pelos Sub-18, no Torneio Internacional do Porto.
"Trabalhei para que isto acontecesse. A equipa também fez com que eu me realçasse. Agradeço ao Clube por me ter renovado o contrato. É um orgulho, já são 12 anos com este símbolo", assumiu Diogo Capitão.
Luís PInheiro
Luís Pinheiro (08.03.2000), igualmente júnior de 1º ano, está há sete épocas no Benfica. O lateral-direito evolui nas águias desde 2011/12, então oriundo d’O Calipolense, da AF Évora. Campeão nacional de Juniores em 2017/18, participou em 26 encontros e apontou um golo. Teve ainda a oportunidade de alinhar num desafio da UEFA Youth League. Tem sete internacionalizações desde 26 de maio de 2015: duas nos Sub-15 e cinco nos Sub-16.
"É muito bom ter assinado contrato profissional. Era um objetivo e neste ano consegui concretizar o sonho devido também ao facto de termos sido campeões nacionais de Juniores", comentou Luís Pinheiro.

REFLEXÕES SOBRE UMA ASSEMBLEIA


Os dados estão lançados, vai ser convocada uma reunião da assembleia geral do Sporting, para deliberar sobre a destituição individualizada dos membros restantes da direção.
Tanto quanto sei, é a primeira vez na história do clube, que isso acontece e, a ausência de precedentes, leva a que se levantem algumas interrogações, sobre o modo como a assembleia deve funcionar.
Até porque os estatutos, da forma como estão redigidos, não ajudam nada à clareza das situações.

A primeira constatação, é que, à luz do nº 2 do artº 40º dos estatutos, a revogação do mandato de qualquer membro da direção, só pode formalmente ter lugar, com invocação de justa causa.
Tal implica a imputação ao visado, de factos concretos que configurem uma violação dos deveres, que sobre ele impendiam, em virtude das funções, para que foi eleito, nomeadamente do nº 1 do artº 35º, que diz que " os membros dos corpos sociais devem cumprir e fazer cumprir os estatutos e regulamentos do clube e exercer os respetivos cargos, com a maior dedicação e exemplar comportamento cívico e moral".
Se a assembleia, ao que parece, é convocada, no seguimento de solicitação de sócios, que representam mais de mil votos, será de elementar prudência que, anexo à convocatória, conste a indicação circunstanciada dos factos que integram a invocada justa causa. O mesmo se diga, se for convocada, por iniciativa do presidente da mesa.
Em ambos os casos, há que ter em atenção que o eventual ilícito se deve situar no perímetro do clube, já que os administradores da SAD, mesmo eleitos pelo acionista Sporting, exercem esse cargo em nome próprio, nos termos da lei comercial.
Embora, em minha opinião, tal não seja legalmente necessário, em obediência ao princípio do contraditório, enviaria essa acusação aos visados, para se poderem defender, querendo, na assembleia geral que deliberar sobre a proposta da sua destituição.
Três notas finais.
Se a assembleia deliberar a destituição da direção, ou de um número dos seus membros tal, que determine a cessação do respetivo mandato, penso que o presidente da mesa, deverá nomear uma comissão de gestão, porque não faz sentido que o Sporting continue, mesmo por tempo limitado, a ser gerido por pessoas, sobre as quais os sócios formularam um juízo de reprovação. Seria conveniente que os membros dessa comissão de gestão fossem pessoas insuspeitas e que, desde já, anunciassem que não concorriam às eleições.
À cautela, requereria também,(neste caso através de acionista com capacidade para tal), a convocação de uma assembleia geral da SAD, para destituir os membros da administração que fossem comuns à direção do clube, porque não era lógico serem rejeitados no clube e manterem-se na SAD.
Não sei o que tudo isto vai dar; sei que os sportinguistas têm o destino do clube nas suas mãos e que, consequentemente, terão o presidente que quiserem ter.

Carlos Barbosa da Cruz, in Record

DESMENTIDO CATEGÓRICO


Sad
Nota à comunicação social

1. A Sport Lisboa e Benfica SAD desmente total e categoricamente qualquer envolvimento direto ou indireto num pretenso aliciamento de jogadores ou qualquer outro agente desportivo em qualquer modalidade.
2. É absolutamente calunioso que alguém tivesse invocado o nome do Sport Lisboa e Benfica para qualquer tipo de aliciamento sobre jogadores ou qualquer outro agente desportivo. Trata-se de uma calúnia e de uma difamação.
3. Recordamos que a Sport Lisboa e Benfica SAD em tempo oportuno requereu junto da Procuradoria-Geral da República (PGR) que se investiguem e que sejam inquiridos todos os responsáveis e entidades ligadas a todos os jogos disputados pelo SLB nestes últimos 5 anos, no sentido de se obter uma resposta às seguintes questões concretas:
a) Se foram, direta ou indiretamente, contactados por alguém relacionado com o SLB com o intuito de favorecer na obtenção de um resultado desportivo favorável;
b) E se o foram, qual a identidade do responsável pelo contacto, o teor do contacto e o favorecimento que facultaram?
4. O Benfica é uma instituição que preserva o seu bom-nome e reputação, e é por isso o primeiro interessado em que haja respostas claras e céleres a estas questões.
5. Tendo tomado conhecimento de uma reportagem que se baseia no depoimento de um alegado jogador que surge de cara tapada e voz distorcida, apelamos a que o alegado jogador se dirija às autoridades competentes, único local para se conseguir o cabal esclarecimento da verdade, e questionamos se tal opção tem a ver com o clube que atualmente representa?
6. Torna-se para nós também claro que o momento escolhido para a saída desta notícia visa tão-só desviar as atenções de outros processos.
7. Perante tais factos, a Sport Lisboa e Benfica SAD avançará com os necessários processos judiciais contra todas as entidades e pessoas que de forma leviana atentem contra o seu bom-nome e a sua reputação, e informamos que sobre o caso referido em nenhum momento nos foi requerido qualquer tipo de esclarecimento por parte de qualquer entidade judicial.
8. Em síntese, temos um alegado empresário, um alegado aliciamento, um alegado jogador, um alegado processo e, portanto, uma alegada notícia.
Mas uma certeza temos: é que estas alegadas notícias não são alegadamente falsas – são mesmo totalmente falsas!

VALDEMAR DUARTE ANALISA ATUALIDADE DESPORTIVA SL BENFICA - BENFICA TV HD - 30 MAIO 2018

                                           

PRIMEIRAS PÁGINAS


terça-feira, 29 de maio de 2018

105 x 68 - BENFICA TV HD - 29 MAIO 2018

                                        

O FENÓMENO BRUNO


Durante muito tempo, Bruno de Carvalho foi apenas uma questão dos sportinguistas. Hoje já não é assim: o presidente do Sporting é um problema para o futebol português e, por força do mediatismo que lhe é concedido, tem um efeito de degradação do espaço público.
O sucesso de Bruno de Carvalho corresponde, aliás, a uma tendência que está longe de ser exclusiva do futebol e da sociedade portuguesa. No presidente do Sporting convergem todos os traços do perfil de liderança populista.
Se não há por aí um chapéu verde com o trumpiano slogan Make Sporting Great Again é por mero acaso. Toda a narrativa que alimenta Bruno de Carvalho radica, precisamente, na mesma nostalgia de um passado mitificado ("a maior potência desportiva") e reinventado (a reescrita da história com a atribuição de 22 títulos de campeão nacional, num exercício de revisionismo puro).
Mais, o fenómeno Bruno baseia o seu poder na promoção de uma dinâmica imparável de polarização, através da identificação de um outro que importa combater. Primeiro, os adversários externos (o Benfica e a comunicação social) e, com o passar do tempo, o próprio inimigo interno (os adeptos que não o veneram e, por fim, até os próprios jogadores). Neste processo, qualquer espaço de moderação foi destruído e reforçada a clivagem de que se alimenta a sua manutenção no poder. Restam, apenas, dois Sportings: o clube dos de baixo, a quem ele dá voz, e um outro, dos adeptos do "croquete".
Os mecanismos de reprodução do poder a que recorre são, eles próprios, de manual: o eu absoluto, sempre no centro de tudo; a guarda pretoriana que funciona como tropa avançada e com quem cultiva cumplicidades; e a vontade de falar por cima dos mecanismos de intermediação, promovendo uma relação direta com os seus. A este propósito, não é apenas a utilização das redes sociais que é significativa, é, também, a forma como os media tradicionais não se coíbem, eles próprios, de se demitirem da sua função primordial – a mediação –, concedendo a um presidente de um clube de futebol um espaço que não tem, nem nunca teve, paralelo na sociedade portuguesa.
Como acontece com Trump, o presidente do Sporting mobiliza também, de forma perversa, a ideia de que há um mecanismo de censura social nas sociedades liberais (que de forma simplista se usa chamar de ‘politicamente correto’) para ultrapassar todas as fronteiras da decência. De tal forma que quando pensamos que não é possível ir mais longe no insulto, escolhe precisamente os atributos mais positivos dos seus adversários para os criticar. Ser politicamente incorreto passou a ser, para muitos, motivo de orgulho, ao ponto de, como assistimos na semana passada, Bruno de Carvalho – que nem sequer cumpriu o serviço militar – não se inibir de dar lições de ética militar a alguém que esteve num violento teatro de guerra.
A questão, agora, já nem é saber se Bruno de Carvalho vai permanecer presidente do Sporting. A sua omnipresença na sociedade portuguesa e a forma eficaz como afronta as várias elites (económicas, políticas e mediáticas) servem, no essencial, de aviso: temos um contexto propício para que outros brunos de carvalho surjam. Da próxima vez, já não será circunscrito ao mundo do futebol.

Pedro Adão e Silva, in Record

CAMPEONATO DO MUNDO NA RÚSSIA


"O Campeonato Mundial de Futebol que se vai realizar a partir de 14 de Junho deste ano custará qualquer coisa como 38 biliões de euros!
A organização de um grande evento desportivo, pela dimensão que tem, provoca impactos económicos não só durante o momento da sua realização, mas também em períodos anteriores, nomeadamente devido à actividade económica que se gera no decorrer da construção e/ou remodelação de infra-estruturas, assim como em períodos posteriores, pois produz-se actividade económica por via da existência das infra-estruturas criadas para o evento.
Não se afigura fácil aplicar modelos econométricos que analisem a rentabilidade económica de um evento como seja um Campeonato do Mundo de Futebol. Sei que não criados modelos complexos de análise, mas, sinceramente, muitos deles carecem de serem testados de forma empírica.
Contrariamente ao que para aí se diz, aumentar os custos não é sinónimo de prejuízo, mas significa aumento do PIB e aumento da rentabilidade económica global.
O Comité Organizador Local (COL) da Rússia para o Campeonato do Mundo de Futebol de 2018 informou oficialmente que o seu orçamento total será de 38 biliões de euros.
O mesmo comité afirmou que o evento gerou a criação de cerca de 220 mil empregos a pessoas envolvidas com os mais diversos sectores para que o Mundial possa ser realizado com sucesso.
É evidente que qualquer análise carece de escolhas, as quais irão condicionar os resultados que se alcancem. Neste tipo de análises, o estudo que seguimos de perto (Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Carlos Xavier Pinto Carvalho) considerou os efeitos de grandes eventos desportivos nos dois anos anteriores e nos dez anos seguintes à sua realização.
'Ou seja, pretende-se estimar qual o impacto económico que a organização e realização de um grande evento desportivo no momento t terá no período t-2 a t+10'.
Essa análise incidiu sobre a variável Produto Interno Bruto per capita a Preços Constantes em termos de Paridade do Poder de Compra e uma variável dummyque assumirá o valor 1 no período t-2 a t+10, conforme disponibilidade de dados, com t a representar o ano da realização do evento.
(...)
Como se pode verificar, os efeitos da realização do evento não são exactamente homogéneos nos quatro casos. Tal prova que existem muitas outras variáveis que carecem de ser analisados."

Pragal Colaço, in O Benfica

MARCEL MATZ: “GRANDE DESAFIO SER TÉCNICO DO BENFICA”


VOLEIBOL
Recém-chegado à Luz, o novo treinador brasileiro da equipa de voleibol promete “um grupo equilibrado e competitivo” a "lutar por títulos".
Chega ao Benfica para ter a primeira experiência como treinador principal na Europa e com a responsabilidade de assumir o cargo que pertencia a José Jardim há mais de 20 anos. Marcel Matz confessa que este é um “grande desafio”, mas garante que se sente preparado para este “novo ciclo”.
“Para mim é um grande desafio ser técnico do Benfica, que é um grande clube europeu. Eu acho que a vida de um treinador faz-se muito de desafios. Este é um dos grandes, mas também um objetivo que eu sempre tive. No Brasil temos um voleibol muito desenvolvido – somos os atuais campeões olímpicos, temos um campeonato bom –, mas vislumbramos sempre algumas coisas maiores. Hoje, tenho um grande desafio, mas sinto-me preparado para ele. Vamos ter um grupo competitivo, vamos trabalhar dentro de uma metodologia um pouco diferente, mas sempre com o objetivo de lutar por títulos”, garantiu aos jornalistas nesta terça-feira, na Sala de Imprensa do Estádio da Luz.
“O Benfica está a construir uma equipa competitiva, a nível nacional e europeu, que me vai dar condições de aplicar o que eu quiser. Acho que vamos montar um grupo equilibrado, tecnicamente bom, no qual eu vou poder aplicar as convicções que tenho e as que têm sido aplicadas não só no Brasil, mas também na Europa”, explicou o treinador.
Apresentação Marcel Matz
“Os objetivos são conquistar todas as competições em que estivermos inseridos. Vamos trabalhar muito para conquistá-las”, prometeu.
Marcel Matz chega à Luz depois de ter orientado o Vólei Canoas, na Superliga do Brasil. Foi a primeira experiência como treinador principal, depois de ter conquistado vários títulos como adjunto, entre os quais o de campeão brasileiro e campeão do mundo de Sub-21 pela canarinha.
“Sou relativamente novo, mas tenho 16 anos de experiência no voleibol profissional. Nestes anos estive em 13 clubes que disputavam títulos. Isso não é uma novidade para mim”, lembrou.
O Benfica tem uma estrutura fantástica, que se pode encontrar em poucos clubes. No Brasil pode haver dois ou três clubes com uma estrutura parecida, que dá todas as condições de trabalho. Quanto aos adeptos, ainda não tive muito contacto, mas acredito que eles vão percebendo o nível de trabalho, exigência, comprometimento e respeito que temos por esta profissão, e estou convicto de que eles vão ser mais uma força para irmos atrás das vitórias. Espero que o pavilhão esteja sempre lotado”, apelou.

Marcel Matz tem “contrato de dois anos” e vai liderar uma equipa cujo plantel para a temporada 2018/19, revela, “ainda não está fechado”.
O brasileiro substitui, assim, José Jardim, responsável pelos sucessos recentes do Clube que assume as funções de diretor desportivo.
“Falei com José Jardim e a impressão que tive foi muito boa. Esperava que ele continuasse no projeto porque acho que merece e tem todo um conhecimento que eu ainda vou adquirir ao longo do tempo. Não me sinto pressionado, mas tenho muito respeito por todo o trabalho que José Jardim fez aqui dentro durante muito tempo. Tenho de trabalhar por mim, mas respeitando todo o trabalho que foi feito”, finalizou.
Apresentação Marcel Matz

Domingos Almeida Lima deu as boas-vindas ao novo técnico e fez questão de, também ele, deixar algumas palavras a José Jardim.

“Marcel Matz é um jovem treinador, já com experiência internacional, para o qual desejamos a melhor sorte. Nesta casa a sorte que esperamos é sempre a mesma: ganhar”, começou por dizer em conferência de Imprensa o vice-presidente do Sport Lisboa e Benfica.
Este é um novo ciclo que vamos iniciar. O Voleibol do Benfica poucas alterações teve nas últimas duas décadas, em termos de orientação e treino, e entendemos que este seria o momento da viragem e de criar um novo ciclo. Essas duas décadas foram de muito trabalho, muita entrega ao Clube e também de vitórias significativas. Foram anos de felicidade, em que o Benfica recuperou, face a alguns adversários, e passámos a ter a hegemonia do voleibol nos últimos cinco anos”, recordou.
“Queria saudar a equipa técnica, nomeadamente José Jardim por todo o seu passado neste Clube como treinador, mas também como jogador e capitão de equipa. Para este novo ciclo, desejamos os mesmos objetivos, o mesmo trabalho, o mesmo esforço, a mesma entrega e, sobretudo, a mesma honra de envergar esta camisola. Que seja um ciclo vitorioso”, concluiu.

A VIOLÊNCIA NO E DO FUTEBOL


Terminada a época desportiva é habitual fazer-se um balanço dos temas que marcaram a agenda desportiva. Quero destacar a violência galopante no futebol como o fator de maior preocupação, a par de fenómenos que comprometem a integridade da competição, como o match-fixing, sobre os quais todos os agentes desportivos, e muito em concreto no futebol, devem ponderar para promover uma atitude, conjunta, de mudança.
A divulgação do relatório da PSP sobre a época 2016/17 não surpreende, dos 2185 casos de violência no desporto registados, mais de 95% dizem respeito ao futebol, com os adeptos dos três grandes a registarem o maior número de ocorrências: 37,2 % provocadas por adeptos do Benfica, 27,8 % por adeptos do Porto e 18,8% por adeptos Sporting.

O debate parlamentar de abril e todos os eventos que marcaram este final de época, com especial foco na invasão da academia de Alcochete, deve, pelo menos, levar-nos a concluir pela urgência de uma resposta concertada entre agentes do desporto e forças de segurança, de uma ação célere e contundente para os que utilizam o desporto para promover o ódio e a violência, e, ainda, uma ação pedagógica desde os escalões de base e para todos os que se envolvem no futebol.
Esta é talvez a maior dificuldade, reconhecer que é um problema, ainda que não exclusivo, do desporto, com esmagadora preponderância e contribuição do futebol, alimentado por razões políticas, ideológicas e que encerra uma batalha perdida se os dirigentes não exercerem a responsabilidade que sobre eles impende para construir um ambiente saudável dentro da rivalidade desportiva.
Quero, finalmente, dar os parabéns à equipa feminina do Sporting, pela conquista da Taça de Portugal e deixar uma mensagem de força às jogadores do Braga, que venderam cara a derrota em mais uma final memorável para o futebol feminino nacional.

Joaquim Evangelista, in Record

ENTREVISTA A JOÃO M. PINTO

João M. Pinto: "O Pinto da Costa deu-me o contrato para a mão e depois deu-me um envelope com dinheiro: 'Isto é para ires comer camarão'"
No espaço de duas semanas, quanto tinha 22 anos, João Manuel Pinto reuniu com Sousa Cintra, António Simões e Pinto da Costa. Sondado pelos três grandes, decidiu-se pelo FC Porto, o clube onde jogou mais anos, antes de cumprir o sonho de representar o clube do coração, o Benfica. Nesta entrevista revela como foi vítima da guerra entre o empresário José Veiga e Pinto da Costa, fala da sua passagem por Espanha, das boas recordações que tem da Suíça e do título mais especial da sua carreira, já como treinador. Sábado, completou 45 anos. Parabéns atrasados.
Nasceu em Lisboa, cresceu em Marvila e antes do futebol jogou râguebi. Confirma?
Sim. Apesar das origens dos meus pais serem do norte, perto de Lamego, mais concretamente de Tarouca, eu nasci em Lisboa. O meu pai era carpinteiro e a minha mãe cozinheira num colégio infantil. Tenho duas irmãs mais novas, com diferença de quatro e oito anos. Cresci em Marvila.
Jogou râguebi quanto tempo?
Joguei dois anos no S. Miguel, que não sei se ainda existe. Comecei com 12,13 anos, gostei muito, mas era muito duro na altura. Hoje já há algumas regras, mas na altura não havia regras e aquilo era muito violento. E o futebol começou a ganhar peso.

De onde vem o bichinho do futebol?
Quando era miúdo o meu pai fez-me sócio do Benfica e levava-me ao estádio da Luz. Desde que me lembro que sou do Benfica e adoro futebol. Mas na verdade começo a jogar futebol muito tarde, já com 13, 14 anos. Não tinha nada aquela coisa de querer ser jogador.

O que queria ser?
Adorava animais e gostava de ser veterinário. Nunca pensei em ser futebolista. Também porque se calhar não tinha assim muitas qualidades. Mas um dia estava a jogar na rua e um senhor, um diretor do clube de Chelas, viu-me e perguntou-me se não gostava de jogar lá no clube. Disse-lhe que nunca tinha pensado nisso, mas que ele tinha de falar com o meu pai. O meu pai concordou e é assim que começa o futebol, com 14 anos.

Quem eram os seus ídolos?
O Magnusson, o Chalana... Lembro-me de vê-los jogar. O Humberto Coelho, o Valdo.

Quando vai para o Clube de Futebol de Chelas, já tem posição em campo definida?
Perguntaram-me onde gostava de jogar e eu disse que era na frente. Jogava na frente e fazia alguns golos.
João Manuel Pinto em bebé
João Manuel Pinto em bebé D.R.
E a escola?
Não era um grande aluno, gostava mais de jogar à bola na escola. Tenho poucas recordações da escola mais novo. Mas lembro-me que a determinada altura pedi ao meu pai para passar a deixar-me antes da escola porque ele era careca e eu tinha um bocado de vergonha, os meus colegas gozavam. Às vezes em vez de ir para a escola, ficava a dormir ao lado da escola ou ia passear. Mais para a frente, a partir do 2º ano de ciclo, as coisas melhoraram um bocadinho.
Depois do Chelas vai jogar para onde?
Foi tudo muito rápido. Nunca ficava mais de dois anos num clube. Depois do Chelas fui para o Olivais e a seguir para o Oriental.
Foi mudando porque recebia propostas melhores procurava outros clubes?
Houve um ano, entre juvenil e júnior, que dei um grande salto, em altura, e naquela idades jogadores com aqueles físicos, altos, impunham algum respeito. Depois comecei a ter algumas qualidades futebolísticas, rapidamente aprendi e os clubes interessaram-se. Fui para os Olivais e depois saio para o Oriental, com 17 anos, que já era um clube com outras condições. No segundo ano de júnior o treinador Francisco Barão, que é hoje treinador na equipa B do Sporting, teve a coragem de chamar-me para os seniores. Foi aí que as portas se abriram.
Lembra-se da estreia nos seniores?
Perfeitamente. Foi num jogo contra o Quarteirense, para a Taça de Portugal. Fomos para Quarteira no dia do jogo, lembro-me de ir bastante nervoso. Hoje já não é assim, quando dizes a um júnior para ir treinar com os seniores, a diferença não é tão grande e o efeito já não é o mesmo. No meu tempo quando chamavas um júnior só para treinar ele não dormia. Eu não dormia, era um sonho, eu queria era treinar, dormia muito pouco. E é no Oriental que me metem a trinco, a médio centro, porque era alto, agressivo, sempre com aquela vontade de querer ganhar.
Como surge o Belenenses?
No Oriental jogo pelos seniores todo o ano, faço um bom campeonato e é aí que desperto para o futebol. Aparecem duas equipas. A primeira a contactar-me foi a Académica de Coimbra. Houve um olheiro que veio ter comigo depois de um jogo, disse-me que já andavam a observar-me e fez-me uma pergunta: "Qual é a escolaridade que tens?". Aí fiquei assim um bocadinho... Eu só tinha o 7º ano. Passado um tempo, no penúltimo jogo da época, em que marquei um golo e até abri o sobrolho porque cabeceei na bola e houve um colega que deu uma cabeçada na minha cabeça... Fui cosido ali na hora e tudo, sangrava por todo o lado, mas eu só queria continuar a jogar. No final desse jogo aparece um responsável do Belenenses. Disse logo que sim, era o quarto melhor clube de Portugal na altura.
Integrou logo a equipa principal?
Assinei por três anos, mas o treinador do Belenenses, porque eu era muito novo, tinha 18 anos, achou por bem que eu fosse emprestado a um clube para ganhar mais experiência e acima de tudo jogar. E o primeiro clube que apareceu foi o Campomaiorense. Eu nem sabia onde era Campo Maior. Fui ver no mapa. O presidente era o João Nabeiro, o homem da Delta café.
Como foi sair de casa dos pais?
Ao princípio não foi fácil. Eu gostava muito de estar em casa dos meus pais, chegava a casa tinha comida e roupa lavada, tudo feito. Fui viver para um quarto, arranjado pelo clube, nem sequer tinha televisão. Comia sempre fora. Mas tive um treinador, o Fidalgo, que hoje é comentador, era de Lisboa e quase todas as semanas vinha a Lisboa. Criámos uma boa amizade, de vez em quando íamos passear ao El Corte Inglés, a Espanha.
Correu bem a época?
Foi muito positiva, joguei sempre. Tenho uma história engraçada. O presidente estava muito poucas vezes connosco porque era um homem muito ligado ao trabalho, estava sempre a viajar, e deu todas as responsabilidades e poder a um diretor, Pedro Morcela. Nós tínhamos o objetivo de subir porque arrancava no ano seguinte o campeonato da II Liga. As coisas começaram a não correr bem. A meio da época esse diretor despede o Fidalgo. Nós ficamos chocados. Entretanto três dias depois, quando vem o presidente, que não sabia de nada, gerou-se uma grande confusão e o presidente decide que quem fica é o treinador. "O meu treinador é o Fidalgo, quem não estiver contente, que me diga agora e vai-se já embora". Voltou o Fidalgo e a partir daquele momento, ganhámos todos os jogos até ao final da época. Todos. E subimos de divisão.
Regressa ao Belenenses no ano seguinte.
Sim. O treinador era o Abel Braga.
João Manuel Pinto na escola primária
João Manuel Pinto na escola primária D.R.
Fica três épocas em Belém. Qual é a maior recordação que tem?
O Abel Braga era um génio. Gostava de treinar, era direto, dizia o que tinha a dizer. De todos os treinadores que tive ele foi o único que dizia logo no primeiro dia de treino qual era a equipa que ia jogar no fim de semana seguinte.
Como assim?
Depois do jogo e da folga, no primeiro dia de treino ele falava sobre o jogo anterior, o que foi bom e o que foi mau e depois dizia: "A equipa para o próximo domingo vai ser esta...". Não sei se fazia bem ou mal. Só sei que dava resultado. A equipa que ia jogar tinha de trabalhar bem toda a semana, porque mesmo sabendo que eras titular se não trabalhasses dentro daquilo que ele pretendia, não jogavas. Ele normalmente alterava uma peça. Isso fazia com que os outros também acreditassem e fizessem o seu trabalho para eventualmente conseguirem um lugar. O Abel Braga teve a coragem de me pôr a jogar frente ao Sporting faltavam 15 minutos para o final. Disse-me: "Onde estiver o Jorge Cadete, estás em cima dele". Eu estava a fazer marcação cerrada ao Cadete e lembro-me de ter comentado: "Se eu tivesse jogado este gajo não fazia nenhum golo". Alguém deve ter contado ao treinador, não sei qual foi o jogador. No primeiro dia de treino a seguir ao jogo o Abel Braga vira-se para mim: "Oh miúdo, ainda agora chegou e já está..." Sei que foi duro comigo. Parecia que estava a faltar ao respeito aos meus colegas por ter dito aquilo, mas não foi nada disso. Nós tínhamos uma grande equipa. Mas deu-me uma grande dura e eu, claro, caladinho, acabei por pedir desculpa. Depois começa a pôr-me a titular. E foi aí que cresci.
Em que aspecto?
És novo, achas que já conquistaste tudo e eu comecei a ser conhecido, a dar autógrafos, comecei a sair e comecei a chegar aos treinos sem estar em condições.
Começou nas noitadas?
Não saía todos os dias, mas saía duas, três vezes por semana, porque era jovem, tinha reconhecimento, era titular, tinha amigos, apareciam as miúdas e eu queria conhecer as raparigas... Nós treinávamos sempre de manhã e claro quando chegava ao treino... O mais importante que era o futebol, estava a ficar para trás. O Abel Braga fez uma coisa que nunca vou esquecer e acho que foi aí que acordei para a vida. Tenho de agradecer-lhe.
O que fez?
Uma semana ele não me convoca, o que eu achei estranho, mas não disse nada, continuei naquela vida. Ele chamou-me ao balneário e disse-me: "Olha miúdo, vou-te dar isto, leva para casa, vê o que andas a fazer". Era uma cassette VHS, onde estavam gravados os meus treinos das últimas 2 semanas. Posso dizer que eram horríveis os meus treinos, horríveis. No dia seguinte, pedi para falar com ele. Pedi-lhe desculpa e ele acrescentou: "João, tu tens boas capacidades, tens um futuro à tua frente, se quiseres amanhã podes jogar num grande clube. Agora, assim não". Acordou-me. Eu continuei a trabalhar e as oportunidades voltaram a surgir. Depois houve chicotada psicológica e com a entrada do novo técnico as coisas voltaram a não correr bem.
Quem era?
José Romão. Nao me convocava, meteu-me completamente fora. Ainda por cima no final da época eu ia casar.
João Manuel Pinto com os pais
João Manuel Pinto com os pais D.R.
Como e onde conhece a sua mulher?
Conheço-a numa discoteca. Através de um colega, o Brassard. Eu tinha sido convocado para o meu primeiro jogo pela seleção de sub-21. Fomos jogar a Leiria e ganhámos à Escócia. Nessa noite saímos, fomos para o Alcântara-Mar, que era a discoteca mais famosa na altura. Fomos todos. Eu até era um rapaz sossegado, não bebia álcool, era raro. Mas lembro-me que o Brassard estava completamente embriagado, estávamos frente a um balcão e ao nosso lado estavam umas raparigas a beber o seu copo. Começamos a conversar com elas, eu mais tímido, e o Brassard a certa altura começou a meter-se com elas, a abraçá-las e a tentar beijá-las. Elas disseram-me: “Diz lá ao teu amigo que não gostamos destas coisas". Agarrei no Brassard, aquilo acalmou. Mas antes de acontecer isso elas disseram o que faziam. A Ana, que é hoje a minha mulher, trabalhava nas Amoreiras, na loja da Chevignon.
No dia seguinte foi à Chevignon. Acertei?
(risos) Fui. Comprei umas calças e lá estava ela. Eu pedi-lhe desculpa pelo que tinha acontecido. Passada uma semana voltei a lá ir, comprei outra coisa qualquer e convidei-a para sair. E foi assim que começou.
Daí até ao casamento passou quanto tempo?
Quatro, cinco meses. Eu já vivia sozinho, quando fui para o Belenenses pedi logo um apartamento para mim porque queria sair de casa dos pais, ser independente.
O seu primeiro contrato foi com o Belenenses?
Não, foi com o Oriental e ganhava 10 contos (50€).
Comprou alguma coisa com esse dinheiro?
Não. Lembro-me de o meu pai dizer-me "Quando ganhares o teu primeiro ordenado guarda esse dinheiro para o resto da tua vida, porque é o teu primeiro ordenado". Guardei o dinheiro.
Já tinha carta de condução?
Não. Quando fui para o Campomaiorense, uma da coisas que pedi foi a carta. O clube oferecia alojamento e alimentação e eu disse-lhes que gostava de tirar a carta. Perguntei se podiam pagar também. Disseram logo que sim, ainda por cima um dos diretores era dono de uma escola de condução (risos). Mas nunca fui. Quando venho para o Belenenses é que tiro. O Belenenses alugou-me um apartamento na zona dos Prazeres, e curiosamente, a Ana vivia também nos Prazeres. Era vizinha do Cavaco Silva, ele mora no 1º andar e ela morava no 3º. Entretanto, depois de tirar a carta comprei um Peugeot 106 XSi vermelho, que na altura era o carro da moda.
Voltando ao José Romão...
No ano em que ele entra, a minha mulher fica grávida e eu vou casar, já casei com ela grávida. Deixei de jogar, não fazia parte dos planos para a próxima época no Belenenses e tinha mais um ano de contrato. O treinador foi muito direto, disse-me na cara: "João não conto contigo mas se quiseres ficar podes ficar, só que, digo-te já, não vais ter oportunidades, é um assunto entre ti e o presidente. Faz o que entenderes". Foi muito difícil para mim porque ia casar, ia ter um filho, não sabia para onde é que eu ia. Falei com o presidente Matias, que por acaso tinha convidado para ser meu padrinho de casamento. Disse-lhe que gostava de continuar independentemente do treinador não contar comigo. E foi assim. Casei nas férias e voltei ao clube.
João Manuel Pinto com as suas irmãs
João Manuel Pinto com as suas irmãs D.R.
O seu filho nasce quando?
O João Ricardo nasce em dezembro. Antes disso, a época começou, eu não jogava, mas as coisas começaram também a não correr bem para o treinador, porque não havia resultados. E aparece uma luz, o João Alves. Quando chegou mudou muita coisa. Pôs-me logo a jogar. Viu a forma como eu trabalhava e depois tem uma coisa muito boa, gosta da juventude, dá oportunidade a jovens, não tem medo, arrisca. Mas atenção, ele ajuda-nos mas nós também temos de trabalhar. Comecei a jogar, começaram a vir os resultados, o meu filho prestes a nascer. Num curto espaço de tempo tudo vira outra vez e acontecem-me coisas fantásticas. Lembro-me que quando vi o meu filho a primeira coisa que marquei foi que ele tinha um sinal no joelho. Senti-me um homem muito feliz quando o meu filho nasceu. Estava tudo a correr bem, tinha 21 anos, aparecia nos jornais. Em dois meses começo a jogar a titular, nasce o meu filho, o João Alves dá-me a braçadeira de capitão, aparece-me o empresário e surge o interesse dos três grandes.
Quem era o empresário?
José Veiga. Era o homem do momento, que trabalhava com todos os clubes. contacta-me, conversámos e torna-se meu empresário. Mas nunca assinei nada com ele. Estive 10 anos a trabalhar com ele. Se alguma coisa os meus pais me deram foi educação. Fui sempre um homem de palavra. Ele veio com contratos para assinar e eu disse-lhe: "Desculpe, mas eu não assino nada. Para mim o mais importante é a palavra, foi aquilo que os meus pais me ensinaram. Se você quiser acreditar em mim tudo bem, se não quiser também compreendo perfeitamente. Se quiser trabalhar comigo são estas as condições. É a palavra. Você ajuda-me, eu ajudo-o". Passadas duas semanas ele ligou-me.
Qual foi o primeiro dos três grandes a mostrar interesse?
Sporting. O Veiga liga-me para eu ir jantar com ele. Durante a viagem para o restaurante não me disse nada, perguntou-me só onde é que eu gostava de jogar. Disse-lhe que num grande qualquer, que o meu clube de coração era o Benfica, mas que queria era jogar. Quando chegamos ao restaurante, quem é que lá estava? Sousa Cintra.
O que lhe disse?
Sentámo-nos. Na mesa já estava marisco, ele parte um marisco ao meio com as duas mãos e pergunta-me logo direto: "Então, queres vir para o Sporting?". Eu não estava preparado. Até me engasguei. Mas disse que sim. E ele, sempre a comer, continua: "Vamos já tratar disso". Durante a conversa ele conclui: "Só tens de dizer quanto é que queres ganhar". Despedi-me dele e quando ia a despedir-me do Veiga disse-lhe: "Liga-me, diz-me quanto é que eu quero ganhar para prepararmos estas coisas". Passados dois ou três dias liga-me o Veiga: "João vem ter comigo, vamos almoçar a Belém que quero falar contigo". Vamos lá.
Quem é que lá estava dessa vez?
(risos). António Simões. Eu só pensava: "Isto não está a acontecer". Ele com um discurso completamente diferente, muito calmo. O Simões é um gentleman do futebol. Muito sereno, parece que as palavras estão todas ajustadas. "Então, gostavas de ir para o Benfica?". A mesma história. Disse-lhe que o Benfica é o meu clube de coração. Ele sempre muito tranquilo: "Ainda bem, não sabia. Sabes, nós já te observamos há algum tempo. Desde o ano passado, depois deixaste de jogar..." Um discurso muito mais cauteloso. Mas já não perguntou quanto é que eu queria ganhar. Não, simplesmente disse que poderia ser uma hipótese para a próxima época, que só queria falar um bocadinho comigo, saber como eu era e que estavam a avaliar-me. Disse-me para continuar a trabalhar.
João Manuel Pinto em criança
João Manuel Pinto em criança D.R.
Depois veio o FCP, suponho.
Na semana seguinte, o Veiga liga-me novamente: "Amanhã depois do treino vais para o Porto". Disse-me só isto. Perguntei-lhe logo se era o Pinto da Costa. Disse-me que não, que era outro clube, era um bom clube. Não me quis dizer nada. E lá fui para o Porto.
A pensar que era o Boavista?
Pensei que podia ser o Boavista ou outro clube do norte de Espanha, porque Vigo é muito perto. Podia ser o Celta de Vigo ou o Tenerife. Chego lá, ele diz-me para ir ter com ele ao café Velasquez, porque toda a gente sabe onde fica. Entro no carro dele, a minha mulher, que tinha ido comigo, teve de ficar. Em três minutos estava dentro do estádio do FCP. E ele continuava a negar: "Nada disso. Já vais ver para onde é que vais". Subimos no elevador e quando saímos, só me lembro de ter entrado num gabinete que parecia sala de cinema, muito grande. Era muito grande, com uma secretária enorme. Sentei-me. Quando se abre a porta atrás de mim e vejo o Pinto da Costa vir na minha direção... Estamos a falar de uma figura que tinha uma mística à volta dele enorme, era uma figura emblemática. Cumprimentar o Pinto da Costa ou falar com ele não era para qualquer pessoa naquela altura.
E ele?
Muito educado. Perguntou-me se a viagem tinha corrido bem. Depois veio a pergunta da praxe: "Gostavas de vir para o FC Porto?". "Claro que sim". E ele "OK. Então tenho isto aqui para ti, quatro anos de contrato. Este é o teu contrato". Deu-me o contrato para a mão. Olhei para aquilo e era muito dinheiro. Olhei para o Veiga: "O que é que eu faço? Isto é mesmo para eu assinar? Isto é mesmo verdade?". Disse mesmo assim. Toda a gente sabia que o presidente era muito brincalhão. E o Pinto da Costa: "E tens mais isto". E dá-me um envelope para a mão, com dinheiro. "Este envelope é para tu gastares no que quiseres. Olha, vai comer camarão". Lembro-me perfeitamente: "Isto é para ires comer camarão".
Era muito dinheiro?
Era. Para aquela altura era. Não sei fazer bem as contas, mas acredito que aos olhos de hoje o que estava dentro do envelope era um valor de mais ou menos 2000, 2500 euros. Não me lembro do valor, lembro-me que era muita nota. Olhei para o contrato e eu não percebia nada daquilo, só queria ver era os números, queria saber era o ordenado. O Veiga olhou para mim: "Estás à espera de quê". "Eu? Nada". Pedi uma caneta ao presidente e assinei. A única coisa que ele me disse foi: "João, isto não é para sair cá para fora. Isto é segredo. Aqui na minha casa é tudo segredo, é tudo blindado. No dia em que quiseres falar para a comunicação social, eu é que te digo quando é que deves falar. Sou eu que te digo quando é que podes comunicar que és jogador do FC Porto". Foram as palavras dele. E assim foi.
Uma abordagem diferente dos rivais.
A forma como o FCP trabalhava na altura era muito diferente dos outros, por isso é que contratava os melhores. Chegavas ali e não havia cá conversa. A conversa era ou queres vir para o FCP ou não queres vir para o FCP. Se queres, está aqui, nem discutiam. E tu olhavas para aquilo e o que é que pensavas? Eu não posso estar dependente de um clube como o Benfica ou como o Sporting, que não sei se vou ou não, mostraram interesse, mas não disseram: "Embora, está aqui, vamos já assinar".
Aquilo que foi ganhar para o FCP era muito mais do que ganhava no Belenenses?
Quatro ou cinco vezes mais. Lembro-me que no Belenenses já tinha um ordenado de mais de 700 contos/mês, mas no FCP fui ganhar muito mais.
João Manuel Pinto com a mulher, Ana.
João Manuel Pinto com a mulher, Ana. D.R.
Qual foi a reação da sua mulher quando lhe disse que iam para o Porto?
Quando cheguei ao carro, dei-lhe o envelope para as mãos, ela perguntou o que era e eu disse-lhe "Assinei pelo FCP". Ficou contente.
Ela já não trabalhava nessa altura?
Não. Foi uma das coisas que lhe pedi quando decidimos casar. Eu tinha condições para nos sustentar e queria que ela deixasse de trabalhar. Ela assim fez, respeitou. Embora ao princípio não quisesse, porque gostava de trabalhar e tinha os seus amigos, eu disse-lhe que compreendia mas que ela tinha de perceber que agora estava comigo e que tinha condições para os dois.

Por que razão não queria que ela continuasse a trabalhar?
Os jogadores gostam da sua privacidade, gostam de ter a sua mulher ao seu lado, sem ninguém saber, queria que ela só se concentrasse em mim porque era uma mulher bonita e qualquer homem podia interessar-se por ela, ou ela podia interessar-se. Eu tive o cuidado de dizer: "Vem para junto de mim, cuidas de mim, cuidas da casa, estás grávida e acho que é nisso que tens de estar concentrada e não em ires trabalhar". Se pergunta se fiz bem ou mal, acho que fiz o certo porque ela ficou contente. Ela não percebia nada de futebol e quando lhe disse que ia ficar no FCP ficou muito feliz. O meu pai era benquista, o meu sogro sportinguista (risos).

Como é que foi a receção no FCP, foi praxado?
Fui. Ainda hoje o fazem, atiram o famoso balde de água. O FCP tinha uma super equipa, um grande treinador, Bobby Robson, os adjuntos eram José Mourinho e Inácio. Era uma equipa fantástica. Vítor Baía, Aloísio, Jorge Costa, Bandeirinha, José Carlos, Secretário, João Pinto, Semedo...

Quais foram as suas primeiras impressões?
Positivas. Uma equipa de outro calibre. Um povo fantástico, nunca dei tantos autógrafos, dei mais autógrafos num dia do que nos anos em que estive no Belenenses. É um clube com uma massa associativa que adora futebol e os seus jogadores. Rapidamente juntei-me aos jogadores mais fortes e carismáticos da equipa. Eram jogadores importantíssimos e eu estava no meio daqueles tubarões todos, a aprender, a observar. E fui bem recebido.

Começou logo a jogar?
Não, não. Era difícil. Eu tinha três grandes centrais, Jorge Costa, Aloísio e José Carlos. O Jorge Costa ainda não jogava a titular, para ter uma ideia. Quem jogava era o Aloísio e o José Carlos, o Jorge aparece nesse ano, começa a jogar depois porque o Bobby Robson tirou o José Carlos e meteu-o a ele. O José Carlos não aceitou muito bem, deixou de ser titular e foi embora, logo em dezembro ou janeiro. Abriu uma porta para mim, uma possibilidade, porque eu era o quarto central. E ser convocado para mim já era...
João Manuel Pinto, o quarto em pé, a contar da direita, no Campomaiorense
João Manuel Pinto, o quarto em pé, a contar da direita, no Campomaiorense D.R.
Que marcas lhe deixou Bobby Robson?
Era um gentleman. Naquela altura qualquer jogador que não jogava ficava triste e chateado, mas com o Bobby Robson era impossível. Ele era muito energético, falava com todos os jogadores, a forma como comunicava era engraçada. Meio português, meio inglês. Os processos e métodos de trabalho eram sempre bons, era futebol ofensivo. Não havia cá futebol defensivo. Elenunca trabalhava o futebol defensivo porque nós tendo bola marcávamos sempre três ou quatro golos. Só trabalhávamos cruzamentos, remates, um autêntico inglês.

No final da época ele foi embora para o Barcelona. Veio António Oliveira.
Foi bom. Foi muito bom, mas acho que qualquer treinador que viesse naquela altura para o FCP era campeão, porque tínhamos os melhores jogadores. O Benfica entrou numa crise financeira e era o Sporting que podia fazer-nos um pouco de frente ou mesmo o Boavista. Mas o Oliveira deu-me oportunidade de jogar porque o Jorge Costa teve uma lesão grave, uma rutura de ligamentos, a meio da época. Era muito difícil eu jogar tendo o Aloísio, tendo o Jorge Costa, que nessa época assume completamente o balneário. Quando cheguei ele já lá estava, mas não era titular, só que não jogava no FCP mas jogava na seleção, era jogador de seleção, já era uma pessoa com aquela postura forte nos treinos, dobrava a língua: "Tens que pôr o pé, temos que os comer, temos que isto e aquilo". E o Jorge começa a jogar, depois tem a lesão e o Oliveira põe-me a jogar.

Seguem-se mais duas épocas com Fernando Santos.
Na primeira época com ele ganhamos o pentacampeonato. E a minha segunda época foi muito difícil, talvez o momento mais difícil na minha carreira.

Já lá vamos. Das primeiras quatro épocas no FCP, qual é a primeira coisa que lhe vem à memória?
O Bobby Robson. Foi um homem que fez e mudou um bocadinho a história do futebol. Ele fez de mim ponta de lança. Depois muitos treinadores fizeram o que ele fez. Mas ele punha-me muitas vezes a jogar a ponta de lança. Muitas vezes estávamos empatados e eu ia para a frente e fazia golos. Isto vem-me sempre à cabeça. Muitos jogadores ainda hoje dizem: "João, sempre que tu entravas, já sabíamos que ias marcar".

Gostava de jogar a ponta de lança?
Sim. Era uma missão impossível. Como é possível um jogador como eu, um defesa central, ser ponta de lança? Eu dava o meu melhor, claro que não podia ser melhor do que o meu ponto de lança que lá estava porque ele tem essas características, eu não tenho. Era uma missão impossível. Mas dava resultado.
João Manuel Pinto já equipado com o azul do Belenenses, ao lado de Caniggia, do Benfica
João Manuel Pinto já equipado com o azul do Belenenses, ao lado de Caniggia, do Benfica D.R.
No meio disso tudo nasce o seu segundo filho.
Sim, aí já não estive presente porque estávamos a fazer um digressão no final da época 1996/97, na Tailândia. Recebi uma notícia triste porque o meu filho Hugo nasceu com muitas dificuldades respiratórias. Muito grave mesmo, teve de ser entubado, a minha mulher a chorar e eu sem poder fazer nada. Falei com os diretores para me deixarem regressar mais cedo, mas eles disseram: "João, nós também vamos embora dentro de dois dias". Íamos ter uma final com o Inter de Milão. Nesse torneio eram quatro equipas, o Boca, nós, o Inter de Milão e a seleção da Tailândia. Nós íamos jogar a final, e era importantíssima para o clube em termos financeiros, porque quem ganhasse recebia muito dinheiro. Quando cheguei e encontrei o meu filho entubado foi muito difícil.

As complicações resolveram-se?
Sim. Tive de comprar máquina de oxigénio, ele ainda foi algumas vezes internado com falta de ar, foi complicado. Principalmente para a minha mulher porque as mães têm uma sensibilidade diferente, uma ligação muito forte aos filhos, diferente do pai. A mãe tem aquele sentimentalismo, são as mulheres que os carregam e trazem ao mundo, cuidar deles faz parte da sua natureza, por isso só ela sabe o que sofreu. Mas felizmente esses problemas foram ultrapassados, o coraçãozinho dele lá fechou, porque ele tinha sopros e dificuldades em respirar e tudo passou.

Entretanto na segunda época joga pouco com o Fernando Santos. Porquê?
O Fernando é um grande treinador, foi dos melhores com quem trabalhei mas ele gosta muito de experiência. Gosta muito de ter experiência em campo. Ele falava comigo, dizia-me para continuar a trabalhar, mas eu sabia que era muito difícil com Aloísio e Jorge Costa na equipa. E na última época então foi terrível.

O que aconteceu?
Era o meu último ano de contrato com o FCP. O presidente veio ter comigo e disse-me: "João temos aqui um clube para ti, no estrangeiro, pode ser importante para ti, é uma liga muito boa, o clube é bom". Era a liga inglesa e o clube era o Sheffield Wednesday. Antes disto, na época anterior já havia uma guerra profunda entre José Veiga e Pinto da Costa.
João Manuel Pinto com a Supertaça que conquistou ao serviço do FCP
João Manuel Pinto com a Supertaça que conquistou ao serviço do FCP D.R.
Que guerra?
A guerra tinha a ver com negócios de empresário e jogadores. Mas vem um bocadinho do filho do presidente, que na altura começa a trabalhar com o Veiga. É que primeiro houve uma guerra entre pai e filho, por causa da mãe. O Alexandre não aceitou que o Pinto da Costa tivesse deixado a sua mãe, a grande mãe de que tanto gosta. A relação entre pai e filho partiu-se completamente e gerou-se uma guerra, depois o filho começou a trabalhar com o Veiga, entretanto Pinto da Costa soube que o Veiga desviou alguns jogadores do FCP para os rivais e não perdoou. Já se sabe que quando Pinto da Costa põe uma coisa na cabeça não há ninguém que consiga desviá-lo do que pretende. Ele começou a pôr os jogadores do Veiga de lado. No final da época senti já não estava muito confortável, sabia que ia sobrar para mim. Tanto que eu, o Panduru, uma série deles, fomos recambiados para a equipa B por causa dessa guerra. Começámos a época e senti que o Fernando Santos não contava muito comigo.
Porque tinha recebido ordens?
Possivelmente. Sabe que um presidente e um treinador unem-se... mas não quero falar porque não sei. O que sei é que o presidente é uma pessoa muito inteligente, que percebe muito de futebol, que escolhe os seus jogadores para a época desportiva. Escolhe os treinadores e jogadores certos. Logo nos primeiros anos senti que quando o Pinto da Costa não gostava de um jogador, era posto de parte. Comecei a sentir-me desconfortável no final da época, um bocado longe, eu até me dava muito bem com ele, ele chegou a dizer-me: "Eu é que vou ser o teu gerente de conta, vou controlar a tua conta bancária". Ou seja, havia uma ligação forte, que depois se estragou por causa de uma guerra que começou entre pai e filho, este depois junta-se ao Veiga, o Veiga também desviou alguns jogadores para os rivais, o presidente não aceitou bem isso…
O que fez?
Tivemos um jogo treino da equipa B contra uma equipa da Maia e fui o único que fui jogar pelos juniores. Pensei: “Bom, já percebi onde é que eu estou, para onde é que eu vou e aqui só tenho um caminho". O Reinaldo Teles entretanto liga-me para ir ter aos escritórios da SAD. O presidente foi muito direto. “João tenho um clube para o qual podes ir já, o Sheffield Wednesday de Inglaterra ou então vais para a equipa B". Tudo muito simples. Ele não se expunha, não falava sobre a vida dele ou se tinha problemas com o Veiga, mas nós sabíamos o que se estava a passar.
O que respondeu?
Disse-lhe que ficava triste por estar a descartar-me porque achava que tinha sido sempre uma pessoa importante no clube, tinha criado amizade com todos os jogadores, fui feliz no clube, dei muitas glórias aos adeptos, dei muitos pontos ao clube e respondi-lhe: "Eu sei que vou embora porque há aqui uma guerra e eu não sou o responsável por isto. Mas você e o treinador entendem que não tenho lugar, muito bem, vou ter de pensar e vou ter de falar com o meu empresário". E ele logo "Sim, sim. Fala com ele. Fala com ele. É o que tu tens aqui e diz-nos rapidamente porque temos de tomar um decisão". Liguei ao Veiga, e ele também foi direto "João, se quiseres ir para o Sheffield vais. Prometo-te uma coisa, se aguentares este ano todo na equipa B, para o ano estás numa equipa grande aqui em Portugal. Garanto-te que em janeiro tenho um contrato para ti. Até lá não, porque não é legal, só a partir de janeiro é que podemos fazer isso. Mas se aguentares estes quatro meses sem nada, e sei que vai ser difícil para ti... agora é uma decisão tua".
Foi uma decisão difícil?
Sim. Falei com a minha esposa. Fui ver quem era o clube inglês, não era um grande clube, mas é sempre prestigioso jogar na primeira divisão inglesa. Liguei ao Veiga e disse-lhe "Se você me promete, eu aguento". Ele voltou a prometer que em janeiro eu estava ou no Benfica ou no Sporting. Assim aconteceu. foram quatro meses difíceis. O meu treinador era o Ilídio Vale, que hoje é treinador adjunto do Fernando Santos.
João Manuel Pinto com amulher e os filhos
João Manuel Pinto com amulher e os filhos D.R.
A seguir vai para o Benfica.
Antes há outra história. Estive então a treinar na equipa B, nem jogava sequer pela equipa B. Fui para lá eu, o Panduru, o Folha e outros jogadores. Foi muito difícil porque parecia que estava a voltar à estaca zero. Foi tudo tão bonito até aí, os campeonatos que ganhei no FCP, eu ganhei tudo no FCP. E de repente parece que caiu o mundo. Estar um ano sem jogar foi muito complicado e ainda por cima houve uma altura em que o presidente deixou de pagar, durante três ou quatro meses.
E tinha de acreditar que o Veiga arranjava um clube em quatro meses.
Pois. Entretanto passou o ano novo e ele liga-me, diz-me para ir a Lisboa ter com ele. Fui com a minha mulher e filhos. Vou ao escritório dele e quem lá estava? O vice-presidente do Sporting, Luís Duque. O treinador era o Inácio, com quem falei depois e estava muito contente por eu ir para o Sporting. Assinei pelo Sporting por quatro anos e havia uma cláusula muito grande no caso de alguém corromper o contrato assinado. E passado pouco tempo o Inácio é despedido, a direção do Sporting sai e fiquei preocupado. Eu tinha um contrato assinado com o Sporting mas... Falei com o Veiga, perguntei-lhe se estava tudo bem. Ele diz que sim. Passado uma semana o presidente do FCP ligou-me. "Vem aos meus escritórios que quero falar contigo". Fui.
O que aconteceu?
Ele muito calmo, muito tranquilo, como sempre, disse-me só isto. "Olha, se tu pensas que vais para o Benfica ou para o Sporting estás muito mal enganado porque não vais nem para um nem para outro". Eu fiquei calado. Eu não conseguia reagir, porque ele no fundo já sabia que eu tinha assinado o contrato, ele já sabia. A verdade é que passadas umas semanas sai um acordo entre o Sporting e o FCP que dizia que nem os jogadores do Sporting iam para o FCP, nem os do FCP para o Sporting. Aí é que me caiu tudo. Liguei ao Veiga. "Calma, calma, que vou resolver isto". Acaba a época e o único contrato que tinha assinado era com o Sporting. Disse ao Veiga: "Vou de férias, foi um ano muito difícil para mim, quero sair daqui. Vou uma semana, quando voltar, se não tiver isto resolvido, se o Sporting não me quiser, muito bem, tem toda a legitimidade de não querer, é uma nova direção, mas eu tenho um contrato e alguém vai ter pagar o valor que lá está".
E ele?
Só me dizia para ter calma, que ia resolver o assunto. "Eu acreditei em sim, estive um ano parado por sua causa. Eu é que fui a vítima. Acreditei em si e podia ter ido para Inglaterra. Se quando chegar de férias não tiver algo de bom, até pode ser no estrangeiro, eu arranjo um advogado e alguém vai pagar este dinheiro, provavelmente será o Sporting. Eu sei que é muito amigo do Luís Duque, não quero estragar nada, nem arranjar confusão com ninguém, quero é a minha vida resolvida. Não me querem, paguem-me". Nessa altura tinha 26, 27 anos, não era fácil um clube bom vir ter comigo, até porque eu parecia o desaparecido em combate porque estive um ano parado.
Quando regressa...
...Voltei passada uma semana, sem nenhuma chamada do Veiga. Liguei-lhe, não me atendeu. Fui ao escritório dele. Disse-me que estava a tratar do assunto. Faltava uma semana para começar o início da época das equipas. Ele pediu-me uma semana. E assim foi. Na véspera da apresentação do Benfica, liga-me: "Amanhã vais ter comigo ao estádio da Luz. Estacionas o carro mesmo ao lado da estátua do Eusébio". Cheguei, ele estava à minha espera, fui ter uma conversa com o presidente da altura, Vilarinho. Já estava em funções também o Luís Filipe Vieira. Estávamos os quatro na mesa. E acho que também o Simões. Disse-lhes que representar o clube do coração é sempre algo de especial e um orgulho. Falámos e acertámos o contrato. E há algo que nunca mais vou esquecer.
Conte.
Eu vinha de um clube ganhador, com Jorge Costa, Aloísio, João Pinto, com pessoas de carisma, emblemáticas que te ensinam como é que te mexes no balneário, como é que podes ganhar. Tentei introduzir isso no Benfica. E lembro-me que na primeira intervenção que tive, nesse mesmo dia quando assino o contrato, fiquei completamente desiludido, frustrado. Viro-me para o Vilarinho e digo-lhe: "Este ano temos de formar uma boa equipa para sermos campeões. Temos de ser campeões". E a resposta dele: "Não, João, nós não podemos ser campeões". "O quê, não podemos? Você não quer ser campeão?". "Não, João, não podemos". "Mas não podemos porquê?". "Porque nós não temos dinheiro para pagar prémios de jogos". Eu fiquei... Não podia ser pior. Veja a grande crise que estava instalada no Benfica desde o Vale e Azevedo.
Ao dizer isso está a insinuar que os jogadores não se esforçam se não tiverem prémios de jogo?
Acho que foi uma forma de dizer que o Benfica não estava bem financeiramente. Foi uma forma de dizer que íamos tentar fazer pelo menos o 2º lugar para entrarmos nas competições europeias, às quais o Benfica já não ia há muito tempo. Nós não tínhamos equipa para o Sporting e para o FCP. O Benfica estava de alguma maneira a tentar reorganizar-se e preparar o futuro. Não era fácil arranjar jogadores porque toda gente queria ir para o Sporting e para o FCP, porque eram os clubes com melhores condições financeiras. Acho que foi isso que ele quis dizer, que íamos tentar fazer um campeonato melhor do que o ano anterior, só que disse de uma forma errada. E foi assim que tudo começou, o Luís Filipe Vieira começou a levantar o Benfica aos poucos.
Mas nessa altura ficou bastante desiludido.
Não espera ouvir aquilo. No FCP habituei-me a ganhar e nunca houve estas expressões, por causa de não pagar prémios não queres ser campeão. Quem é que não quer ser campeão? Mas aquilo foi uma forma de mostrar que não tinhamos capacidade nem estrutura para sermos campeões.
João Manuel Pinto, em pé ao centro, foi para o Benfica em 2001/02
João Manuel Pinto, em pé ao centro, foi para o Benfica em 2001/02 D.R.
Quando chega ao Benfica quem era o treinador?
Toni. O Toni era daqueles treinadores que era impossível chatearmo-nos com ele, ou ter algum problema. Porque estava sempre tudo bem com ele, não se chateava com ninguém, é uma pessoa que ama muito o Benfica, que não consegue bater o pé. O Toni pode ser despedido 50 vezes e se for preciso volta outras 50. Ele até pode ser contratado para jogar uma semana, fazer um jogo, e vir outro, que ele não se importa porque ele adora o Benfica. É uma pessoa carismática, com um grande coração.
Como é que correram as duas épocas no Benfica e a readaptação a Lisboa?
A adaptação foi boa, Lisboa é uma cidade linda que eu adoro.
Ficou a viver onde?
Já tinha comprado casa em Cabanas, perto de Azeitão, quando estava no Porto. O Benfica perguntou se precisava de casa, mas disse-lhes que não, que tinha cá casa, foi menos uma despesa para eles. Foi uma época muito difícil no Benfica, nunca faltou nada, é verdade, éramos apoiados pelos benfiquistas, tínhamos sempre muita gente atrás de nós. Mesmo nos treinos havia muita gente a assistir. Mas o clube estava caótico, eu à vezes olhava para as paredes e a água escorria. Viam-se as fissuras no balneário, no estádio da Luz. O Luís Filipe Vieira foi levantando aos poucos, a primeira época foi razoável, a segunda já foi melhor, já fomos à Liga dos Campeões.
Qual é a melhor memória que tem do Benfica?
O dia em que conheci o Eusébio pessoalmente e quando me foi dada a braçadeira de capitão, logo no primeiro ano. Nunca pensei jogar logo a titular porque tinha estado uma época parado e havia bons centrais no Benfica.
E coisas menos boas ou estranhas?
Tínhamos o Argel, que era completamente louco.
Como assim?
Às vezes era bruto, era muito agressivo quando abordava as bolas, ninguém podia dizer-lhe nada, ninguém podia chamar-lhe a atenção. Lembro-me de uma zaragata que ele teve com o Porfírio, só porque o Porfírio lhe disse para ter mais calma. Ele passou-se completamente, foi direito ao Porfírio e deu-lhe um soco que lhe abriu o lábio. Levou um processo disciplinar e foi para a equipa B. O Argel perde o lugar na equipa por causa disso.
Foi capitão no Benfica.
Sim. O Enke quando é capitão deixa de jogar, não quis assinar pelo Benfica e acho que acabou por ir para o Barcelona e como ele não quis assinar pelo Benfica, o Jesualdo Ferreira resolveu tirá-lo da equipa, não sei se foi ele ou se foi o Luís Filipe, não me interessa, tirou-o e meteu o Moreira. Quem ficou com a braçadeira fui eu. Lembro-me das palavras do Eusébio: “Bem vindo a casa grande capitão. São precisas pessoas como tu, com a forma como trabalhas”. Ouvir isso do Eusébio que fez tanto pelo nosso país é uma coisa que marca. Foi uma época desportivamente muito boa para mim, porque me deram a braçadeira, uma segunda época muito boa, ficámos logo na frente com quatro jogos, quatro vitórias, fui chamado à seleção nacional... O primeiro jogo que faço pela seleção foi logo contra a Inglaterra. Mas depois as coisas não correm bem.
Porquê?
O Jesualdo foi mandado embora. Eu que ainda era um dos capitães, liguei ao Luís Filipe Vieira, tive uma reunião com ele, falámos muito tempo para segurar o treinador, falei com o Jesualdo também, mas era mesmo uma altura de mudança. O Luís Filipe Vieira foi buscar o Camacho mas antes ainda é o Chalana que assume o jogo. O Camacho estava na bancada. O Chalana tirou-me da equipa sem me dizer nada. Sempre fui uma pessoa que nunca pediu satisfações, aceitei. Não joguei frente ao Braga em que ganhámos 3 ou 2-0. Fizemos um grande jogo. A partir daí o treinador que viu aquela equipa chegou ao pé de mim e disse: “João, eu sei que és o capitão, que és um exemplo e um grande profissional, mas eu vou manter a equipa que jogou neste domingo”. Aceitei e disse-lhe: “Mister, independentemente de jogar ou não, eu vou continuar a trabalhar e estou cá”. Mesmo no banco dava indicadores daquilo que achava que não estava a funcionar bem. Sempre gostei de apoiar porque acima de tudo eu amava o Benfica, não era só por ser o capitão. De alguma maneira são estas coisas boas que ficam quando fui embora do Benfica.
João Manuel Pinto, à esquerda, com Toni, que foi seu treinador no Benfica
João Manuel Pinto, à esquerda, com Toni, que foi seu treinador no Benfica D.R.
Mas acaba por deixar o Benfica. Não lhe renovam o contrato?
Não, eu tinha mais um ano de contrato. Tive uma reunião com o Veiga e com o presidente. O mister estava a renovar a equipa, o presidente estava a tentar satisfazer os desejos dele e do clube e disseram-me que o treinador não contava comigo. E saí. Só que saí depois daquela conversa com o presidente e já não me apresentei no início de época. Soube mais tarde que o Camacho perguntou por que não fui falar com ele. Não fui porque me tinham dado ordens de que não valia a pena, que o treinador não contava comigo. Depois soube que afinal o treinador não tinha dito isso. E para o meu lugar veio o Luisão que é um grande central e um grande capitão. A liderança é uma coisa de que gosto muito e que faz parte de mim. Gosto de ser líder. Se reparar bem, no FCP também fui algumas vezes capitão, no Oriental fui capitão, quando acabei a minha carreira no FC Sion era capitão. As pessoas pediam-me para ser capitão não por ser bonito, mas porque era um líder.


Sentiu-se enganado naquela altura?
Não sei se me senti enganado ou se alguém não me queria ali. Isto de ser capitão é muito difícil. Numa equipa como o Benfica, em que toda a gente quer ser capitão, há gente com inveja. Eu não sei se foi o treinador, o presidente ou se foram alguns colegas meus. Em relação ao Camacho, e podem dizer que ele não contava comigo, acredito que era mentira. A forma como ele trabalhava comigo, como falávamos os dois, tinha uma boa relação com ele. Dizerem que ele não contava comigo… Mas tive de acreditar e como não quero arranjar confusão com ninguém... O que sei é que tinha uma boa relação com o presidente e com o treinador. Tinha lá um ou outro jogador dentro da equipa que... Não vou falar nomes. Acima de tudo sou amigo do clube e ainda hoje sou convidado para ir a festas, porque também fiz parte daquela família. Eu saio do Benfica bem, independentemente de ter mais um ano de contrato.

E como é que surge o Murcia? Como é que vai parar a Espanha?
Quando saio ainda tenho um ano de contrato com o Benfica, portanto ainda tinham de pagar-me esse ano ou passavam-me para a equipa B, mas isso eu não queria. Tive uma reunião com o Veiga, perguntei-lhe como é que era a minha situação e disse-lhe: “Mais uma vez passou-se alguma coisa esquisita. Não quero falar disso mas você deve saber, porque você trabalha no Benfica”. Mais tarde veio a saber-se que o Veiga era director geral do futebol do Benfica com o Luís Filipe. Bem, perguntei-lhe como é que era, se me arranjava clube ou não. Disse-lhe até que gostava de ir para o estrangeiro para conhecer outra culturas e para jogar. Ele ligou-me, eu estava de férias, se não me engano no Brasil, “João, já tenho clube para ti. É o Charlestown, um clube inglês”.
João Manuel Pinto com camisola da seleção nacional que vestiu no Euro sub-21 de 1996


João Manuel Pinto com camisola da seleção nacional que vestiu no Euro sub-21 de 1996 D.R.
Mas não vai para Inglaterra.
Quando chego de férias e vou ter com o Veiga, ele começa a dizer que afinal as coisas não tinham corrido bem com o Charlestown, que eles tinham desistido, mas que já tinha outro clube para mim. Fiquei chateado. “Então o Charlestown volta atrás e você não me diz nada? Arranja outro clube e não me diz nada?”. Entretanto bateram à porta e quem entra? O presidente do Sp. Braga, cujo treinador era Jesualdo Ferreira. Cumprimentei-o educadamente, começámos a falar e ele: “João sabes que sempre te admirei, já quando estavas no FCP. E sabes que o treinador é o Jesualdo e que vamos ter um estádio novo”, foi naquela época do Euro 2004 e dos estádios novos. Fiquei sem saber o que havia de dizer. Só que se há uma coisa de que não gosto é de mentiras. Não gosto, sempre fui leal, direto e sempre disse ao Veiga para nunca me mentir. Resultado, virei-me para o presidente do Sp. Braga: “Presidente fico muito orgulhoso de saber essas coisas e que você está interessado em mim, mas eu preciso de pensar. Vou ser muito franco, não estava à espera. Não é nada contra o Sp.Braga, que é um excelente clube, está em crescimento, a cidade também, mas neste momento também vou ser muito sincero, a mim foi-me dita outra coisa. Não é, senhor Veiga?”. Disse mesmo assim. O presidente Luís Filipe Vieira ainda me diz: “João pensa bem, vais lá para cima, tens mais dois ou três anos com o Sp. Braga, que é um bom clube, e tu também já estás numa idade que não podes pensar muito...” Agradeci o cuidado, despedi-me, pedi ao Veiga para vir comigo e meti-o dentro de outra sala: “Você nunca mais me faz isto. Eu só não disse 'não' à frente dos presidentes por respeito. Mas eu não vou para o Braga. Não é que o Sp. Braga não seja um grande clube e amanhã até posso estar muito arrependido de não ter ido mas não vou acima de tudo porque você falhou comigo, não teve palavra comigo. Como você me mentiu, como não teve princípio comigo, eu não vou”.
Qual foi a reação dele?
Começou a dizer que não tinha mais ninguém, que estava difícil, que o futebol estava a mudar… Depois apareceu-me com um clube francês, o Saint-Étienne. Disse-lhe que podia avançar. Mas não avançou com nada. Entretanto estive alguns dias com o presidente do Braga sempre a ligar-me a tentar convencer-me a ir, ligou o Jesualdo Ferreira também a tentar convencer-me, mas insisti na minha: “Mister, custa-me muito dizer não e até posso dar um passo para trás, mas não posso aceitar o que fizeram comigo”. Hoje confesso que estou arrependido e que devia ter ido.
Mas como é que aparece então o Murcia?
Através do Futre. Sou amigo dele. Estivemos juntos na seleção e o Futre é um companheiro fantástico. Estive lá seis meses, mas não foi muito bom. Fui sozinho, a família ficou cá porque tinha os miúdos na escola e por seis meses achamos que não valia a pena mudar. Depois do Murcia aparece o FC Sion, da Suíça.
Como? Através do Veiga?
Não, já não estou com o Veiga nessa altura. Conheci um empresário italiano quando estava no Benfica e é ele que me faz esta proposta. Associei o FC Sion ao Carlos Manuel que esteve lá, e assinei um contrato de três anos. Cheguei lá e foi um bocadinho como no Porto. Apresentaram-me um contrato muito bom, realmente é uma realidade diferente, a gente pensa que a Suíça não faz grandes contratos, mas neste caso foi muito bom para mim, ainda por cima em final de carreira, 29, 30 anos. Depois acabei por assinar mais um ano.
No Benfica
No Benfica D.R.
A família foi consigo?
Foi, foi toda comigo.
Como é que foi a adaptação, à língua, um país diferente?
Foi uma experiência muito boa. Uma cultura fantástica. Adoro Portugal, mas viver na Suíça é outro mundo. Não podemos comparar. Há um respeito muito grande. Ao início fazia-me confusão, as pessoas deixavam a chave do carro na ignição e iam para o café descansados. Todas as pessoas na rua diziam “Bonjour”. Tem a ver com a educação. Quanto à língua, foi difícil no primeiro ano, a minha sorte é que tinha dois brasileiros na equipa que sabiam falar francês e que iam traduzindo. O clube também arranjou um professor e começamos facilmente a falar francês. Os miúdos adoraram lá estar.

Foram para a escola inglesa ou francesa?
Francesa. As crianças têm uma capacidade fantástica para aprender. Em dois ou três meses já falavam francês. Eu só ao segundo ano é que comecei a falar algumas coisas.

Desportivamente foi bom?
Sim. Levei alguns jogadores para a Suíça. Perguntaram-me sobre o Carlitos e eu disse “tragam já o Carlitos que é um grande jogador e vai dar-nos uma grande ajuda”. Depois trouxe também o central, o angolano Kali. Muitos jogadores que foram de Portugal para lá, fui eu sempre que dei o aval, mesmo até jogando na minha posição. O meu segundo ano foi uma época fantástica, ganhámos a Taça da Suíça. Foi a primeira vez na história do futebol da Suíça que uma equipa de 2ª divisão ganhou. Mas o presidente não era fácil de lidar. Só para ter uma ideia, em três anos, tive 12 ou 13 treinadores. É um presidente apaixonado, mas é um louco e quando não há resultados em três ou quatro jogos vem outro treinador. Toda a gente conhece o Christian Constantin, é uma pessoa com uma personalidade muito forte. É um homem que gosta muito do clube e faz muito pelo clube.

Mas é na Suíça que tem a sua primeira grande lesão?
É, na minha terceira época parti a anca e estive sete meses a fazer recuperação. Voltei para a minha última época. As coisas começaram a correr bem, não sentia dores, mas depois aquilo tornou a agravar e eu disse “basta”. Tive uma reunião com o presidente e disse-lhe: “Eu não quero enganar ninguém, temos que arranjar aqui uma solução”. A solução que ele arranjou rapidamente foi: “João vais ser treinador da equipa dos sub-21”. E fui.

Já tinha curso de treinador nessa altura?
Não, não tinha. Ele meteu-me como delegado ou outra coisa qualquer e eu fui treinar. Faltavam sete ou oito meses de contrato.
João Manuel Pinto, o segundo à esquerda, festeja a conquista da taça da Suiça pelo FC Sion
João Manuel Pinto, o segundo à esquerda, festeja a conquista da taça da Suiça pelo FC Sion D.R.
Custou-lhe pendurar as chuteiras?
Custou mas acho que custava mais se estivesse em Portugal. Depois vim para Portugal, onde comecei a tirar o meu curso de treinador e fundei uma Academia de Futebol.
Onde?
Quando regressei fui passar umas férias com os meus pais, que são de Tarouca, e fui desafiado pelo presidente da Câmara Municipal. E durante quatro ou cinco anos tive uma Academia por aqueles lados. Ajudei muitas crianças, foi um trabalho muito bonito. Enquanto estava com a Academia fiz os meus cursos de treinador e fui treinador principal no Cinfães. Depois voltei à Suíça e treinei um clube suíço, Martigny-Sports. Mas fui sozinho. Depois fui para o Brasil. Recebi um convite para ir para a Portuguesa dos Desportos ser o coordenador da formação toda e também um dos diretores desportivos. Só que as coisas não correrem bem porque estavam numa crise profunda financeira, os diretores começaram a demitir-se um a um. Antes de partir para o Brasil, um diretor demitiu-se, quando vou a caminho, no avião, há outro que se demite e quando lá chego só sobrava o presidente que era quem me tinha contratado e que depois também se demitiu. Fiquei numa situação muito complicada. Vim embora. Estive lá uma semana e um dia.

Quando regressa vai logo para o Algarve?
Eu já estava no Algarve, já tinha casa em Tavira, onde vivo. Fui desafiado por uma pessoa do Moncarapachense. Ouvi a história do clube, que não era muito boa porque já há mais de 40 anos que não estava nos nacionais, tinha um campo de futebol sintético, é uma vila muito pequenina... O Algarve ainda está em crescimento em termos de futebol, há pouca gente a ir ver futebol. Mas aceitei o desafio.

Conheceu outra realidade, a dos jogadores/trabalhadores...
Sim, isso custa, tinha essa noção de que ia trabalhar à noite, porque os jogadores trabalhavam. Depois não conheces ninguém. Mas as direções foram espetaculares, ajudaram-me muito. Começámos a trabalhar em abril para a época seguinte. Eu adoro trabalhar, seja no Benfica como no pior clube do mundo, mas vou tentar fazer o melhor.

E correu bem?
Correu bem mas foi muito difícil porque o alvo a abater era eu. O Moncarapachense é o único clube do Algarve que não tem bancadas. Se calhar muita gente não queria que estivesse na divisão dos nacionais. Não tem condições, campos relvados, campos com história, com uma estrutura mais elevada e mais profissional.
João Manuel Pinto, em pé à esquerda, já como treinador do Martigny-Sports, da Suíça
João Manuel Pinto, em pé à esquerda, já como treinador do Martigny-Sports, da Suíça D.R.
É por isso que chorou quando ganhou o título?
Foi muito difícil. Eu senti, principalmente no último mês, a minha equipa muito cansada. Comecei a sentir a equipa muito abatida, ou melhor, a ser abatida por parte de alguns árbitros. Sentia que estávamos a ser prejudicados, sentia que tínhamos dois ou três clubes rivais fortíssimos com outra estrutura a quererem o nosso lugar.
Quem são esses clubes?
O Ferreiras, que este ano subiu, tem uma boa estrutura, tem um bom campo e uma boa equipa. O Quarteirense, uma equipa onde se fez um investimento brutal. São só jogadores colombianos, é uma equipa muito jovem, mas com alguma experiência.

Ganha mas vem embora, Porquê?
Porque, como disse, foi uma época muito sofrida, de muito trabalho. Sabe o que é passar uma época toda em 1º lugar e chegar à última jornada e ir para 2º lugar? Sabe o que é isso? Imagine essa semana o que é que tive que fazer com os meus jogadores para acreditarem, para os meus diretores acreditarem. Ninguém acreditava, ninguém. E eu tinha que fazer alguma coisa. Por curiosidade, íamos jogar o último jogo em casa contra o 1º. Era uma final e tínhamos que ganhar. Para eles bastava empatar. Começámos por marcar 1-0, depois eles empataram, faltavam 20 minutos para acabar. Ganhei 3-1 porque tive que mexer no jogo e correu bem. Aquele choro... Parece que eu tinha algumas 50 pessoas em cima de mim e, quando ganho, veio tudo cá para fora.

Sai porquê?
Porque a época a seguir não começa bem. Não sabia se ia ficar, se ia sair, começámos a preparar a época um bocado tarde e fiz o primeiro jogo mais cedo, porque íamos ter a Supertaça do Algarve. Não nos preparámos, não tínhamos equipa. Eu deixo o clube a meio da época. Saio bem, não saio chateado, só que infelizmente o clube desceu de divisão.
João Manuel Pinto começou a carreira de treinador no Cinfães em 2013/14
João Manuel Pinto começou a carreira de treinador no Cinfães em 2013/14 D.R.
Quando sai vai logo para o Lusitano?
Sim, duas semanas depois recebo um telefonema do diretor desportivo do Lusitano, fui. Quando cheguei ao clube tinha quatro pontos com dois meses decorridos e foi complicado, mas consegui ganhar jogos, só que depois meteram-se problemas internos, parecia que já toda a gente queria ser treinador, e pensei “espera aí que já devo estar aqui a mais”. Acredito que a melhor opção foi ter saído.

Mas sai pelo seu pé ou porque eles o mandam embora?
Porque eles disseram: “Se calhar João...” E eu: “Ok, saio já”.

Está desempregado?
Neste momento não tenho clube, estou à espera de projetos. Tive a proposta de um clube mas não posso cometer os mesmos erros.

Neste momento os seus filhos estão com que idade e fazem o quê?
Com 22 e 20 anos.O mais novo, o Hugo, está a jogar no FC Sion. O mais velho está na restauração, é cozinheiro e gosta muito.

Ao longo dos anos onde é que ganhou mais dinheiro?
No FCP.
Além da academia meteu-se em mais algum negócio?
Meti-me num negócio de vestuário e confeitaria. Mas já não tenho. Entretanto fui para a Suíça, deixei entregue a pessoas que pensei serem de confiança e deram-me cabo daquilo tudo.
Os seus filhos nunca reclamaram por “andar com a casa às costas”?
Não. Se hoje for perguntar-lhes onde é que gostaram mais de viver, foi na Suíça. Têm lá grandes amigos.
João Manuel Pinto, à esquerda, com o amigo Andrade, à direita e o árbitro António Rola
João Manuel Pinto, à esquerda, com o amigo Andrade, à direita e o árbitro António Rola D.R.
Quais foram as amizades maiores que fez no futebol?
Foi com o Andrade, com quem ainda hoje mantenho contacto. Falo muito com o Jorge Costa, aprendi muito com ele, somos muito amigos. O Domingos. Acho que são estas pessoas.
Dos títulos todos que conquistou, qual foi o que gerou uma emoção maior?
Todos têm um momento, todos têm uma história. Mas para mim especial mesmo acho que foi como treinador, quando subi de divisão, porque é diferente, tu vives uma pressão tremenda, é muita gente à tua volta. Quando é uma equipa que ganha e és jogador, estás focado. Uma equipa são muitos jogadores lá dentro. Agora o grande responsável e o grande sofrimento é do treinador. E eu hoje sei o que é. Muitos treinadores diziam: “Um dia se forem treinadores, vão perceber o que a gente sofre aqui. O que a gente trabalha”. E é verdade. Por isso quando me pergunta qual foi o momento mais especial, para mim foi como treinador. Porque foi muito difícil, foram desafios muito grandes e tu tens que arranjar soluções.
Qual é a sua maior ambição a nível profissional?
Treinar, a minha missão é treinar e chegar a um patamar alto. Seria hipócrita e estúpido dizer que não gostava de treinar um clube da 1ª divisão. Mas também não posso dizer que não gostava de treinar o Benfica. Claro que gostava, mas tenho que saber em que nível é que estou. Agora a minha ambição máxima é treinar uma equipa da 1ª divisão.
João Manuel Pinto chorou quando se tornou campeão pelo Moncarapachense
João Manuel Pinto chorou quando se tornou campeão pelo Moncarapachense D.R.
Qual foi a maior loucura que fez com dinheiro?
Comprei um Porsche.
Ainda o tem?
Não. Eu ganhei algum dinheiro, mas não me saiu o Euromilhões. Hoje a indústria do futebol é um bocadinho diferente. Hoje é fácil ganhar-se muito dinheiro. Quando eu tinha 18, 19 anos não se ganhava o que os miúdos hoje ganham. Portanto a maior loucura que fiz foi ter comprado um Porsche. Lembro-me de um brinquedo que o meu pai me deu, um Porsche verde do tamanho do meu dedo. Era o carro dos meus sonhos, desde pequenino.

Dos tempos do Porto, é verdade que os jogadores são hiper controlados pelas pessoas da cidade? Sentiu isso?
Claramente. O presidente e os diretores não precisavam de sair à noite. As próprias pessoas dentro das discotecas, os donos das discotecas informavam, não havia hipótese.

Viveu alguma situação chata?
Não, porque nunca gostei muito de sair ou quando saía, saía com a mulher. Um atleta tem que perceber qual a altura certa e o momento certo para sair. O gajo que não foi convocado ou que não joga e vai sair à noite, está a dar um tiro nos próprios pés porque é sempre mais fácil bater nos mais fracos.

Tem algum hobby?
Não. Gosto de ouvir programas desportivos. Adoro cinema.

Tem algum filme de eleição?
A “Lista de Schindler”. O meu ator preferido é o Anthony Hopkins.
João Manuel Pinto com o atual selecionador nacional Fernando Santos
João Manuel Pinto com o atual selecionador nacional Fernando Santos D.R.
Qual foi a sitação mais caricata que viveu no futebol?
Talvez tenha sido quando o presidente do FC Sion bateu num árbitro mesmo à minha frente. Foi num jogo fora, que precisávamos de ganhar. O árbitro não esteve muito bem nesse jogo, é verdade, mas quando o árbitro apita o final do jogo, vai ao centro do terreno e vejo o presidente a entrar pelo campo adentro em direção ao árbitro e... Eu nunca vi ninguém bater tanto num árbtiro, no chão, a dar-lhe tanto pontapé. Eu era o jogador que estava mais perto, mas não consegui ter reação. Fiquei colado ao chão. Não conseguia reagir. Depois veio a polícia e acabou com aquilo. Claro que ele foi castigado. Mas tenho outra história engraçada, no Belenenses e que mete o Ronaldo, o Fenómeno.

Conte.
Foi num jogo de apresentação do Belenenses, com o clube brasileiro Cruzeiro. Na noite antes do jogo foi comunicado que ia haver uma chuva de estrelas, uma coisa inédita. Eu na altura tinha 20, 21 anos, já tinha namorada, peguei nela e fui para a Fonte da Telha, para ver a chuva de estrelas. Ficámos lá toda a noite acordados à espera da chuva de estrelas e nada, nem uma. No dia seguinte, antes do jogo com o Cruzeiro, onde jogava o Ronaldo, o Fenómeno, o Abel Braga veio falar comigo: "João, atenção vais jogar contra um miúdo que tem 17 anos, mas que é um fora de série, muito rápido e muito tecnicista. É preciso ter alguma atenção." Eu, sinceramente, não liguei muito, embora ele falasse num miúdo que já tinha provas dadas no Brasil. Eu não sabia quem ele era e não liguei. Depois de uma noite em que quase não dormi nada, só dormi um pouco durante o dia, pensei que ia ser tranquilo. No aquecimento até perguntei quem era o tal miúdo. Olhei para ele, era franzino. Entretanto o jogo tem início e só sei que quando chegou ao final da 1ª parte eu já não sabia para onde havia de me virar. O Abel Braga vem ter comigo: "Então pá?" "Ó mister, o gajo realmente é muito rápido" (risos). Tive muitas dificuldades em segurar o miúdo, porque era um fora de série. "Eu avisei-te, disse que era assim. Por isso, vais sair." E saí, não joguei mais nessa partida. Perdemos 2-0, ambos marcados na 1ª parte, se não me engano, ele marcou o 2º golo e eu tive alguma responsabilidade. Estive alguns jogos sem jogar, porque eu desvaslorizei aquilo que o treinador disse, comprometi a equipa, mas acima de tudo foi uma lição para mim.

In Tribuna Expresso