sábado, 23 de setembro de 2017

RUI VITÓRIA A PAGAR JUROS DE 105 MILHÕES


"Um momento como este que o Benfica atravessa nunca terá apenas uma causa, mas perante as exibições da equipa de Rui Vitória torna-se inevitável colocar a construção do plantel no topo da lista de razões.
O treinador encarnado anda agora a pagar juros de 105,5 milhões, o preço (base) pelo qual o Benfica vendeu Ederson, Nélson Semedo e Victor-Nilsson Lindelof. Três figuras incontornáveis do «tetra», e que foram substituídas a baixo custo: Douglas chegou emprestado, Varela foi recomprado por 100 mil euros e Svilar custou 2,5 milhões de euros. Para o eixo defensivo nem chegou ninguém.
Uma estratégia naturalmente válida do ponto de vista da gestão financeira, mas que tem óbvias repercussões. É uma espécie de taxa de juro elevada que o Benfica paga em campo, e que se aplica tanto no plano defensivo como no ofensivo.
Ainda que os últimos cinco golos sofridos tenham sido de bola parada, no plano defensivo a diferença nota-se sobretudo no controlo da profundidade. Sem a rapidez de Ederson a sair da área, ou de Semedo e Lindelof a reagir a passes nas costas, o Benfica não pode jogar tão adiantado quanto jogava. Ainda para mais se estiver privado da eficácia de Fejsa na reacção à perda de bola.
Mas esta taxa de juro encarnada serve também para mostrar a importância crescente dos defesas no processo ofensivo. É aí que o trio tem feito mais falta.
Sim, Ederson também. Desde logo pela potência do seu pontapé, que obrigava os adversários a baixar as linhas, mas também como porto de abrigo para os colegas quando as linhas de passe se fechavam e era preciso reiniciar o ataque. Dar um passo atrás para depois dar dois em frente.
Depois o Benfica perdeu o central que tinha mais qualidade na saída com bola. O mais forte no passe, o mais audaz a avançar com a bola controlada e a criar desequilíbrios. Recentemente lançado por Rui Vitória, Rúben Dias até já parece a opção mais sólida com a bola nos pés, mas a um nível ainda muito distante do sueco.
Quando à herança deixada por Nélson Semedo, o perfil de André Almeida é claramente distinto: menor capacidade de aceleração, de drible, de definição. O agora jogador do Barcelona foi muitas vezes o elemento desequilibrador do Benfica, na época passada. Algo que André Almeida está longe de conseguir assumir e que assume maior repercussão quando Grimaldo não está do lado oposto. 
Resta saber se Douglas vai conseguir assumir esta tarefa, ou então talvez Rui Vitória pudesse olhar para Salvio como uma potencial alternativa, sobretudo para aqueles jogos de caudal ofensivo intenso.
O Benfica tem sido lento e previsível na primeira fase de construção, e o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita."

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