quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

OS RECASADOS DE ALVALADE


"Por estes dias, como benfiquista, preocupam-me mais leituras de sentença em tribunal do que boicotes de leitura em assembleia geral dos outros. Quando soube daquelas excomunhões anticelulose (sportinguistas, nada de jornais em papel!) e anticatódicas (nem tevês!), pensei que era só o Sporting a dar-se conta da avalancha da era digital. Ontem, porém, vi o director de comunicação do clube - Nuno Saraiva, eu fazia-te o adeus amigo do costume, mas podes olhar para mim? - a aumentar a amplitude das proibições. Estas estendem-se também à rádio e às plataformas digitais.
No Sporting entraram em vigor os quatro macacos sábios: um tapa os ouvidos aos relatos, outro, os olhos à transmissão televisiva, o terceiro tapa o nariz à tinta impressa e o último entrapa as falanges contra a tentação de frequentar a internet...
Sou liberal, cada um faz o que quer entre os seus. Mas também sou egoísta e assustei-me por poder ser privado da escrita de Rogério Casanova no Expresso. Ele é um fanático sportinguista que de tão bem escrever me dá gozo até nas derrotas benfiquistas. Porque o meu temor era: se os sportinguistas não podem ler jornais, também não podem escrever neles, certo? E não me tranquilizava que o anátema do Bruno de Carvalho fosse contra "jornais desportivos". Como horas depois se confirmou, isto de proibir é como as cerejas... Corri ao Twitter do Casanova a saber se ele suspendia a sua escrita no Expresso mas o meu ídolo nada dizia. Ele próprio estava a digerir a notícia de que um sportinguista também não podia fazer links dos textos dos jornais. Apesar de abalado, ele disse que ia escrever no Twitter, "sem os ler", sobre os textos dos famigerados jornais. Então, a minha esperança renasceu: talvez ele continue a escrever os seus textos no Expresso, mesmo sem os ler - ainda assim serão bem acima da média.
E depois desta esperança acabo esta crónica com uma certa lascívia: vai ser excitante imaginar os sportinguistas como os recasados do cardeal. A comprar A Bola, mas a não a ler; a espreitar pelo canto do olho o Pedro Guerra, mas a não o ouvir. O pecado é tão enredado e tentador..."

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