sábado, 10 de março de 2018

SOBRE A CAÇA À TOUPEIRA E AO ZIVKOVIC


Não tenho nada contra a caça às toupeiras empreendida pelo Ministério Público. Tenho, aliás, tudo a favor. A violação do segredo de justiça em Portugal é uma mancha na nossa democracia. Estas fugas de informação são sempre recebidas pela opinião pública de duas maneiras e ambas doentias: trata-se de uma afronta intolerável ao regime quando o segredo sonegado desfavorece o nosso clube ou o nosso partido ou os nossos amigos e é uma festa quando acontece precisamente o contrário. Ou não é assim? Portanto, quanto à caça às toupeiras julgo tê-los esclarecido. Sou a favor. Já quanto à caça ao Zivkovic, sou absolutamente contra. Nos últimos jogos do Benfica tem sido um ver se te avias desta nova modalidade da caça ao sérvio. Tem sido um valente, o Zivkovic. E hoje há mais, vão ver.

Ter-se-á volvido o futebol uma questão de regime? Não me refiro ao jogo maravilhoso que dura 90 minutos e obedece a dúzia e meia de Leis claríssimas mas ao ‘outro’ futebol, aquele que, de um século para o outro, se viu transformado numa indústria global, numa máquina poderosa que não só gere milhões como também parece gerir ou ser gerida, depende sempre do ponto de vista, por banqueiros, políticos, magistrados, jornalistas e sabe-se lá por mais quem. E gere, não menos inocentemente, as chamadas redes sociais, o novo flagelo público de qual convém fugir a sete pés.
A meio do seu reino de campeão da Europa, o futebol nacional deveria deleitar-se numa clarividência e paz de espírito decorrentes do seu sucesso continental dentro das 4 linhas. Mas não é de todo isso o que se passa fora das 4 linhas. Subsiste atualmente o futebol português na sua mais grave crise institucional de sempre se considerarmos, como é justo fazê-lo, que são os clubes as verdadeiras instituições que promovem o jogo – a essência de tudo – e que, no caso dos ‘três grandes’, são esses os clubes que pomposamente visitam uma vez por ano a Assembleia da República onde se apresentam na cara dos deputados com um extenso rol de lamúrias quando estão em maré de derrotas ou com um certificado de epifanias quando, pelo contrário, estão em maré de vitórias.
Acontece que não podem estar todos os três em maré de vitórias. Que fazer? Com o auxílio das novas tecnologias de comunicação, com a memória fresca de como o processo do Apito Dourado liquidou socialmente o império de Pinto da Costa e com o Ministério Público obrigado a abrir investigações a cada dúzia de denúncias anónimas – será mesmo assim? – somaram-se os ingredientes fatais. Um indício certeiro da decadência moral é a banalização dos anúncios de abertura de processos. Os ‘escândalos’, na realidade, duram meia hora. O anedotário que se lhes segue dura mais porque dura até ao próximo escândalo e até à próxima vaga de graças. A banalização é tramada. É este o regime.
Leonor Pinhão, in Record

4 comentários:

  1. CONCORDO COM TUDO O QUE ESCREVEU É PENA QUE ISTO CAIA EM SACO ROTO COMO TODAS AS DENUNCIAS QUE TENHEM SIDO FEITAS É PRECISO FAZER MUITO MAIS DO QUE TEM SIDO FEITO PARA QUE O FUTEBOL SEJA UM DESPORTO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

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  2. Proponho que se crie um movimento "EU SOU ROMÂNTICO" onde se possam manifestar todos os Benfiquitas do coração que não gostam de ver sportinguistas e portistas em lugares de destaque no nosso clube.
    Que se publicite aqui e em todos os blogs que adirem a esse princípio.
    Que os adeptos se manifestem nas redes sociais exibindo esse slogan como já foi feito noutras ocasiões de solidariedade: EU SOU ROMÂNTICO
    Que se façam cachecóis com a divisa EU SOU ROMÂNTICO e se inundem as bancadas dos estádios com eles

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  3. Correcçäo: Dois dos grandes visitam anualmente a AR. O Benfica, que tem vergonha na cara, janta com os respectivos deputados FORA ds AR.

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  4. O benfica nunca comeu no restaurante da AR.Os encontros têm sido marcado no nosso estádio.Fica esta retificação minha senhora,de resto e como sempre concordo plenamente consigo.

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