sábado, 20 de janeiro de 2018

PRESIDENTE DA LIGA OU RAINHA DE INGLATERRA?


Não era necessário conhecer as conclusões do relatório preliminar do LNEC, observadas ontem, para se perceber que esta estória do Estoril-FC Porto serve para perceber como o futebol português (não) funciona, segundo padrões de exigência e comportamento, social e associativamente, aceitáveis.
Independentemente do objectivo ou fim de "promover a defesa dos interesses comuns dos seus associados e a gestão dos assuntos inerentes à organização e prática do futebol profissional e das suas competicões", consoante preceituam os Estatutos, a Liga — também de acordo com atribuições estatutárias — deve "definir as regras e as orientações gerais com vista à promoção, valorização e rentabilidade das competições profissionais". Nesse sentido, deve fazer tudo para salvaguardar a integridade da competição.
No caso dos motivos que levaram à interrupção do Estoril-FC Porto, ao intervalo do jogo da passada segunda-feira, os quais ficam mais claros depois do relatório realizado pelo LNEC, não me parece que a Liga tenha esgotado todas as possibilidades para salvaguardar a integridade das competições, com base naquilo que está preceituado nos regulamentos, não desvalorizando em nenhum momento a questão da segurança.
Vejamos: ART. 45 do Regulamento de Competições (RC): "Quando, por causa fortuita ou de força maior, não se verifiquem as condições para que um jogo se inicie ou se conclua, este realizar-se-á ou completar-se-á no mesmo estádio, dentro das 30 horas seguintes". Antes de se entrar porventura nas condições excepcionais que poderiam levar a ultrapassar este pressuposto, seria necessário esgotar todas as possibilidades para se cumprir o pressuposto inicial do regulamento. Por isso:
1. Qual foi o argumento que o FC Porto utilizou para não jogar nas 30 horas subsequentes?
2. Qual foi o argumento que o Estoril utilizou para não jogar nas 30 horas subsequentes?
3. A Liga fez alguma coisa no sentido de inquirir as equipas nesse sentido e fazer-lhes ver que o jogo deveria ser realizado nas 30 horas subsequentes, porventura com a bancada norte interditada ou, em alternativa, no Estádio do Restelo?
Passar para a análise às "condições de excepção" que também estão contempladas regulamentarmente é, por si só, uma violação do próprio regulamento. ART. 42 do mesmo RC (ponto 3): "Depois do início da segunda volta [como é o caso] os jogos adiados têm de ser realizados no decurso da mesma semana ou, caso um dos clubes tenha de realizar nessa semana outro jogo das competições oficiais nacionais ou internacionais da UEFA ou da FIFA (…) dentro das duas semanas seguintes". Neste caso, na mesma semana era impossível (FC Porto tinha jogo marcado para ontem) e nas duas semanas a seguir, também. ART. 42 (ponto 4): "Nas situações previstas no n.º 3, mediante requerimento dos clubes intervenientes, a Liga autoriza que o jogo adiado se realize dentro das quatro semanas seguintes se, cumulativamente: a) não estiver em causa um jogo das últimas seis jornadas; b) (…)." A data-Champions (jogo com Liverpool) também não permite cumprir esta determinação regulamentar, o que significa que, de excepcionalidade em excepcionalidade, e sem respeito pelo considerando inicial das 30 horas, chegamos a… 21 de Fevereiro, com esse jogo a realizar-se em condições de "pressão e temperatura" completamente distintas daquelas em que se jogou a primeira parte, na passada segunda-feira.
Era isto que a Liga não devia permitir e, neste particular, justifica-se a reflexão sobre os poderes do seu presidente, neste caso Pedro Proença. O mais cómodo e o menos conflituoso e, neste caso, por se tratar de quem era, em termos dos apoios institucionais, seria – como foi – deixar correr o marfim e fazer com que os dois clubes se entendessem. Nada de novo. Já sabemos que o poder do futebol está nos clubes, mais uns do que outros, consoante estivermos a falar da Liga ou da FPF, mas neste caso, como noutros, o presidente da Liga aceita, sem problema, a função de ‘Rainha de Inglaterra’. A autoridade é fraca e, às vezes, até parece conveniente – e isso é mau para quem deveria assumir o papel de locomotiva e não de carruagem deste comboio desgovernado que é o futebol português.
O presidente da Liga não deveria ser apenas um gestor de sensibilidades ou um medidor de forças e seguramente não deve ser instrumentalizado nem admitir funcionar como um braço funcional de uma qualquer ideologia clubística. O FC Porto conduziu o processo como quis, de acordo com os seus interesses, o Estoril fingiu de morto e a Liga… ‘piscou o olho’.
Considerando o relatório do LNEC, agora resta cumprir a segunda parte sobre o relvado. As notícias de ‘ganhar na secretaria’, através do art. 94, sempre me pareceram manifestamente exageradas...
Na Europa (UEFA), este é um processo que não é considerado sério.
* Texto escrito com a antiga ortografia
JARDIM DAS ESTRELAS (2 estrelas)
Diferenças de mentalidades
Dois pontos muito mal perdidos, ontem, pelo Sporting, no Bonfim, como já tinham sido em Moreira de Cónegos, e em ambos os casos por uma deficiente abordagem ao jogo. Um candidato ao título pode jogar melhor ou pior, mas há uma coisa – sobretudo com adversários manifestamente menos apetrechados – que não se lhe pode consentir: pouca ambição. O Sporting não foi ambicioso e pagou a factura. O FC Porto, logo a seguir, não foi brilhante, não conseguiu melhor do que uma vitória tangencial mas não pecou por falta de ambição. Uma diferença de mentalidade?
O CACTO
Ex-presidente do V. Guimarães, Emílio Macedo, reagiu na quarta-feira às declarações de Francisco J. Marques (FJM), director de comunicação do FC Porto e explica pagamento ao Benfica. Sp. Braga desmente FJM e explica negócio de Djavan. Bruno de Carvalho volta a atacar António Salvador. Diz que é um escudeiro do Benfica, como o são — segundo ele — Rui Pedro Soares (Belenenses) e Carlos Pereira (Marítimo). Bruno de Carvalho chama ‘labrego’ a Rodolfo Reis. Por causa do relatórios do LNEC, Saraiva pergunta… quem são os labregos? Ferreira diz que não é actor nem palhaço e que, como Homem, telefonou a Sérgio Conceição. Um sócio da APAF e ex-árbitro dá informações a uma SAD e difama toda a gente que não serve os interesses dessa SAD (neste caso, a do Benfica). Jogadores do V. Guimarães são agredidos por adeptos num treino. Claque do Sporting entoa cântico vergonhoso no Dragão Caixa. Meirim diz que há ‘desrespeito pelo CD’. O secretário de Estado do Desporto afirma, solenemente, que a culpa é da Champions. Devem ser as minas de ouro de que, ciclicamente, tanto se fala, mesmo em ambiente (geral) de gigantescos passivos.
Futebol português, 2018.
Rui Santos, in Record

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