sexta-feira, 28 de março de 2025

"EM NENHUM OUTRO CAMPEONATO SE VÊ AS RECEITAS TELEVISIVAS CONCENTRADAS EM TRÉS CLUBES"



 Presidente da empresa responsável pelos anuários do futebol profissional, Miguel Farinha, abordou a centralização dos direitos, o investimento em infraestruturas e a carga fiscal aplicada ao futebol profissional.

Investimento em infraestruturas, centralização dos direitos e carga fiscal com taxa especial para o futebol foram alguns dos temas abordados pelo presidente da EY, empresa responsável pelos anuários do futebol profissional, em parceria com a Liga. Miguel Farinha entende que o investimento nos estádios terá como consequência uma maior afluência de público-
«O investimento em infraestruturas é essencial e os clubes percebem isso. Mesmo tendo dificuldades financeiras, vão fazendo melhorias nos seus estádios. Isso pode ser feito de várias formas. Uma que faz todo sentido é olhar para as receitas das apostas desportivas, cuja maior parte não vai para os clubes, e fazer uma repartição diferenciada, que permita usá-las para aumentar e melhorar as infraestruturas», disse Miguel Farinha, em declarações aos jornalistas, à margem da apresentação do anuário do futebol profissional em Portugal.
Com Benfica, FC Porto e Sporting a conjugarem 62 por cento das assistências, Miguel Farinha defendeu a necessidade de os outros clubes atraírem adeptos das regiões onde estão.
«Depois, é preciso saber fazer e acho que os clubes têm estado a fazer esse trabalho de atrair os adeptos para o clube da sua terra. Em vez de invariavelmente sermos todos adeptos de três clubes em Portugal, apoiarmos cada vez mais os clubes locais», apontou.
A comercialização centralizada dos direitos audiovisuais dos jogos, cujo decreto-lei foi aprovado em 2021, permitirá ao futebol nacional estar em pé de igualdade com outros campeonatos europeus, argumentou o responsável da EY em Portugal.
«Não é centralizar por centralizar, mas porque irá seguramente melhorar o futebol e trará mais receitas, sobretudo para os clubes mais pequenos. Em nenhum outro campeonato europeu se vê as receitas televisivas concentradas em três clubes, pois estão muito mais repartidas. Se conseguirmos ter melhores clubes de forma global, e não só nos primeiros três ou quatro classificados, seguramente haverá melhor futebol», vincou.
Miguel Farinha entende que a centralização dos direitos audiovisuais e o aumento da competitividade conduzirão a um crescimento que irá ter reflexo no desempenho dos clubes nas competições internacionais.
«É preciso que todos percebam que só têm a ganhar se trabalharem juntos para aumentar este produto e a forma como o futebol é vendido. Mesmo assim, reparem que estarão três potentados económicos europeus [Alemanha, Espanha e França] e Portugal na ‘final four’ da Liga das Nações. Nós conseguimos jogar de igual para igual nesta indústria», avaliou.
À semelhança de Pedro Proença, ex-presidente da Liga, o presidente da EY defendeu uma «taxa particular para a indústria do futebol» no que respeita à carga fiscal - o setor pagou 268 milhões de euros em impostos em 2023/24.
«Tem muito a ver com o IRS, que é uma carga pesadíssima. O ideal seria haver uma taxa particular para a indústria do futebol. Por exemplo, temos de gastar o dobro em Portugal face ao que se paga em bruto pelo mesmo atleta em Itália para que este receba o mesmo valor líquido. Isso traz imediatamente uma desvantagem competitiva gigante. Dentro da Europa, há diferenças significativas e é preciso entendê-las e tentar corrigi-las», advertiu.
Helena Pires, presidente da Liga Portugal, sublinhou esta quinta-feira a importância de exigir junto do poder político a «implementação de medidas inadiáveis para travar os custos de contexto que condicionam fortemente» o setor. A ideia foi defendida no discurso da cerimónia de abertura das Jornadas Anuais 2025, no Arena Liga Portugal, que junta as 34 Sociedades Desportivas.
«Este é sempre um momento especial para o universo do futebol profissional, e hoje é particularmente gratificante estarmos todos reunidos na nossa nova casa: o Arena Liga Portugal. Trata-se do maior tributo ao espírito que aqui nos junta, nestas Jornadas Anuais: o tributo à resiliência do futebol profissional, à visão que temos para o futuro da nossa indústria; a capacidade de trabalharmos juntos para construir esse futuro, que desejamos à imagem deste edifício: sólido e de vanguarda», disse a dirigente.
«É isso mesmo que, ao longo da última década, fruto da visão do atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Proença, sempre com o contributo das Sociedades Desportivas, temos vindo a fazer nos grupos de trabalho, onde, ao longo de meses, se discutem melhorias a introduzir em todas as áreas nas nossas competições», sublinhou.
E juntou: «Mais uma vez participaram neste fórum todas as nossas Sociedades Desportivas, o que demonstra bem o espírito de união e agregação que, desde a primeira edição, nos inspira na construção de um futebol cada vez mais profissional.»
«Devemos orgulhar-nos deste caminho, desta mentalidade, deste profissionalismo e desta exigência que nos colocamos, sempre com o contributo das Sociedades Desportivas, que só claramente demonstram que a única coisa que os separa são os 90 minutos dentro do campo. Estas Jornadas Anuais constituem, também nesse capítulo, uma evidência importantíssima da capacidade desta indústria na defesa da integridade e da estabilidade das competições profissionais de futebol», notou.
«O vosso contributo para a solidez da nossa indústria supera as conclusões dos grupos de trabalho que, hoje, aqui serão apresentadas: ele começa no profissionalismo e na união em defesa da nossa indústria. Portugal prepara-se para um novo ciclo governativo e é importante que o futebol tenha esta força para defender junto do poder político a implementação de medidas inadiáveis para travar os custos de contexto que condicionam fortemente este setor económico. Juntos, temos mais força para nos fazermos ouvir e respeitar por aquilo que valemos», frisou Helena Pires.
O futebol profissional ultrapassou pela primeira vez superou os 1.000 milhões de euros de receita na época 2023/24, de acordo com o mais recente Anuário do Futebol Profissional Português apresentado pela Liga de Clubes em parceria com a empresa EY.
Conforme ilustra a oitava edição do documento, conhecido esta quinta-feira, as Sociedades Desportivas alcançaram um total de 1.073 milhões de euros em volume de negócios, um aumento de 83 milhões de euros em comparação com o período homólogo .Já o contributo para o PIB português, de 662 milhões de euros, desceu em cinco milhões de euros face aos 667 milhões de euros na época anterior, representando 0,25 por cento da riqueza nacional.
As 34 sociedades desportivas atingiram também um recorde de 4.436 postos de trabalho, num aumento de 27 por cento. As 18 sociedades do primeiro escalão empregam 3.239 pessoas: 1.928 funcionários afetos às áreas de suporte, gestão e administração, 989 jogadores e 322 treinadores. Entre 2022/23 e 2023/24, as remunerações cresceram de 364 milhões de euros para 424 milhões de euros, com os atletas (294 ME) a auferirem mais do que os funcionários (75 ME) e os técnicos (55 ME).
Por sua vez, o futebol profissional pagou 268 milhões de euro em impostos ao Estado (desembolsou 228 milhões de euros em 2022/23), tendo a Liga concentrado 89 por cento desse impacto fiscal, o equivalente a 238 milhões de euros, enquanto o pagamento de IRS e as contribuições sociais foram de 216 milhões de euros, 81 por cento do total.
No que respeita às assistências, 4,2 milhões de adeptos marcaram presença nos estádios em jogos da Liga e da Liga II, o que representa uma subida de 10 por cento em comparação com o ano anterior.
Lucro de 774 mil euros
Pelo nono ano seguido, a Liga teve resultados operacionais positivos, registando cerca de 29 milhões de euros em receitas. As competições profissionais representaram 75 por cento deste valor e a Liga fechou a época com lucros de 774 mil euros, tendo distribuído mais de 9,8 milhões de euros às Sociedades Desportivas.
Em 2023/24, as competições profissionais representaram 75 por cento dos 29,1 milhões de euros de receitas apresentadas pela Liga, que teve ainda 26,5 milhões de euros de gastos e fechou com a época com lucros de 774 mil euros, tendo distribuído mais de 9,8 milhões de euros às sociedades desportivas.
O organismo vai a eleições a 11 de abril, com José Gomes Mendes e Reinaldo Teixeira a concorrerem à sucessão de Pedro Proença, que foi eleito como presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
Vítor Maia, in a Bola

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