segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

CIRCO SEM DECÊNCIA


"A guerra verbal atingiu níveis insuportáveis no futebol português. Trocam-se acusações por dá-cá-aquela-palha, num combate sem regras e sem um pingo de dignidade, e num tempo em que ninguém está a salvo, seja por email ou sms, twitter ou facebook. O espectáculo está triste e sem a mínima decência, e ainda para mais agravado, nesta última semana, com a entrada em campo, da pior maneira possível, dos treinadores dos principais clubes. Deflagrações verbais com estilhaços que atingiram até Abel Ferreira, técnico do Sp. Braga, naquele que não vai ser, certamente, o último exemplo de danos colaterais de uma guerra na qual não é protagonista.
Sérgio Conceição, que esteve no centro dos últimos focos de agitação, é vertical e sincero quando assegura que só diz o que pensa. O treinador do FC Porto voltou a soltar a língua, mas ter o coração perto da boca implica riscos, por vezes desnecessários, como pedir, por exemplo, para "deixar os árbitros em paz" demasiado cedo no campeonato; esse bom princípio acabou por ser atraiçoado quando os erros lhe bateram à porta e colocaram em xeque o seu trabalho. A rábula do "boneco do filho" é um ataque duro a Rui Vitória, ficando provado que é demasiado fácil atingir o treinador do Benfica, apesar de o seu currículo exigir mais respeito sobretudo depois do bicampeonato alcançado quando os vatícinios o condenavam ao fracasso após a fuga de Jorge Jesus para Alvalade. O facto de Rui Vitória não somar pontos através de polémicas, retira-lhe igualmente potencial mobilizador, dado que nem sempre os seus próprios adeptos o compreendem e acarinham, mas aquela sua paciente imagem também não ajuda à missa. Mais do que "bom treinador", Rui Vitória orgulha-se de ser "reconhecido como boa pessoa", e nunca fica próximo sequer de pisar o risco, ou melhor, nunca vai além do razoável, mesmo quando Jorge Jesus concorda com Sérgio Conceição e prolonga a "aliança", que um dia destes chegará ao fim.
Enquanto o foco está colocado no inimigo comum, o tal que conquistou os últimos quatro campeonatos e se torna um propício alvo a abater, tudo parece mais-do-que-perfeito. O grande desafio para Sérgio Conceição e para Jorge Jesus, parceiros concordantes quando o tema é Rui Vitória, reside em manter o relacionamento de amizade e confiança perante a iminência de uma discussão directa que promete ser escaldante e ainda para mais em três competições – campeonato, Taça de Portugal e Taça CTT. A ansiedade pela conquista de títulos é outro ponto comum a FC Porto e Sporting,, pelo que nenhuma frente de batalha poderá ser descurada. Aguardemos, pois, por novos desenvolvimentos, sabendo-se como se sabe que tanto a Sérgio Conceição como a Jorge Jesus não é preciso muito para chegarem à tal linha da hostilidade, que fruto do seu carácter está à distância de um pequeno sopro."

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