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Terminada a janela de transferências de janeiro, podem os clubes respirar de alívio e procurar reorganizar as suas equipas e os seus balneários. Há clubes para os quais janeiro não passou do primeiro mês do ano. Outros houve para os quais este mês implicou uma autêntica revolução. Foi o caso do V. Guimarães.
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Se conseguíssemos que o Vitória tivesse uma época de grande afirmação, da equipa e dos seus atletas, era naturalmente de esperar que as pedras basilares desse equilíbrio captassem a atenção de clubes europeus e nacionais e que essa equipa se viesse a desfazer. São as regras deste jogo. O adepto espera que tal suceda no final da época, na preparação de uma nova época. Como disse aqui no meu último artigo, muito por culpa da nossa competência, o Vitória teve essa revolução a meia da época. Teve-a o Vitória e tiveram-na também outros clubes que não conseguiram segurar os seus principais elementos.
Deveremos ficar insatisfeitos com isso? Sim e não.
Sim porque é evidente que qualquer treinador, dirigente ou adepto prefere um cenário de estabilidade e previsibilidade até final da época. Não porque por força da brilhantismo da equipa e dos seus jogadores na primeira metade da época, a janela de transferências de janeiro significou para o Vitória o encaixe que pode finalmente fazer o nosso clube sair, paulatinamente, do cenário de sufoco e letargia financeira em que se encontrava e poder ganhar algum oxigénio para preparar o futuro com outro ânimo.
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Mas interessa analisar esta janela de transferências para o Vitória com alguma racionalidade.
Primeiro, na vertente financeira. E nessa, o nosso sucesso é absolutamente incontestável. O Vitória conseguiu faturar 34M€, o maior encaixe de sempre e uma das melhores cifras conseguidas na Europa. Mantendo ainda a filosofia na contratação dos jogadores que vieram substituir os que acabaram por sair, isto é, new comers, jogadores de divisões secundárias que queiram despontar e possam ver no Vitória a plataforma que resultou para outros.
Depois, na vertente do projeto desportivo. As vendas do Vitória — Alberto Costa (Juventus), Manú Silva (Benfica) e Kaio César (Al Hilal) — representam jogadores formados ou descobertos pelo Vitória. Alberto Costa, um produto da academia vitoriana, Manú Silva e Kaio César jogadores descobertos pelo Vitória em clubes de menores aspirações (Feirense e Coritiba) e que agora consegue, nesta venda, ter a prova do sucesso na política de scouting.
Por último, o impacto no plantel. É natural que com uma maquia desta ordem de grandeza se pensa imediatamente (como aliás afirmei no início), que se desmantelou toda a equipa. Mas se olharmos com racionalidade, vemos que não é assim. Sem prejuízo do imenso valor atual e potencial de Alberto Costa e Manú Silva, a verdade é que até às lesões de, respetivamente, Bruno Gaspar e Tomás Händel nenhum dos dois era titular. O Vitória fez o percurso do apuramento para a fase de liga da Conference League sem que nenhum deles integrasse o onze titular com habitualidade. Ganharam essa posição depois, com todo o mérito, mas boa parte do que conquistámos fizemo-lo sem contar com o seu contributo. E esta ideia é a que tem que nos deixar expectantes para o resto da época.
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A melhor notícia do mercado de janeiro foi mesmo a assinatura com Tomás Händel até 2029. Mais um vimaranense, produto da formação vitoriana. Mais um atleta de imensa valia, profissional e humana, que aparentemente terá posto AC Milan e FC Porto em competição pela sua contratação. Ficou em Guimarães, ficou no Vitória, e o presidente António Miguel Cardoso respondeu como devia, propondo-lhe de imediato um contrato para poder continuar em Guimarães, motivado e considerado, para ser o esteio do meio-campo para o resto da época em que tanto se decide.
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Uma última palavra para o Manú Silva. Um fantástico rapaz, trabalhador, humilde, um lutador incansável. Uma magnífica contratação do Benfica, que por isso mesmo pegou de estaca na equipa principal do clube da Luz. Foi colhido por um enorme azar, pelo que lhe quero deixar uma palavra de enorme apreço e de desejo das suas rápidas melhoras. Representa um clube adversário mas, em Guimarães, não esquecemos quem nos serviu e quem nos ajudou.
André Coelho Lima, in a Bola
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