segunda-feira, 7 de abril de 2025

GOLEADA IMPERIAL!



O Benfica foi melhor que o FC Porto em todos os parâmetros do jogo, individuais, coletivos, estratégicos e táticos, e saiu do Dragão com um resultado histórico que, quanto muito, terá pecado por escasso...
Quando, estavam jogados apenas 45 segundos, Pavlidis, após assistência de Akturkoglu, colocou o Benfica na frente, o capitão do FC Porto disse aos seus companheiros (o que a TV mostra...) «temos muito tempo.» Em tese, sim, na prática, não, porque a equipa de Bruno Lage arrancou para uma exibição que chegou a ter momentos de brilhantismo, e desmontou, peça a peça até não restar nada, a organização engendrada por Martin Anselmi.
E se nos primeiros 45 minutos até pode falar-se de um Benfica mais de contenção e contra-ataque – basta dizer que os donos da casa andaram sempre longe do perigo (e o que potencialmente criaram deveu-se a falhas individuais de António Silva, Di María e Florentino), enquanto que, além dos dois golos, os benfiquistas ainda tiveram duas bolas no poste esquerdo da baliza de Diogo Costa - já a história na metade complementar escreveu-se com tinta encarnada: foi um banho de bola tremendo, e à medida que o Benfica crescia em confiança e se assenhoreava do comando da partida, os dragões desarticularam-se, deram espaço entre linhas, e quando Pavlidis se tornou no primeiro jogador do Benfica a fazer um ‘hat-trick’ em casa do FC Porto, ninguém terá ficado surpreendido.
E se dúvidas houvesse, a forma personalizada como o Benfica reagiu ao 1-3, surgido contra a corrente doo jogo, aproveitando espaços e querendo mais, disse tudo, com Nico Otamendi a fechar a goleada em 4-1, o mesmo score verificado na Luz, na primeira volta. O Benfica, para já, dorme na liderança, e segunda-feira logo se verá em Alvalade, após um jogo entre Sporting e SC Braga que vale para o campeonato do título e para o campeonato do pódio.




BENFICA AO VOLANTE DO JOGO
É verdade que marcar logo no primeiro minuto ajuda a aumentar os níveis de confiança, mas a equipa de Lage, de facto, trazia a lição bem estudada e não só manietou ofensivamente o FC Porto, como criou sucessivas jogadas de perigo iminente. E como? Perante o 3x4x3 de Anselmi, que sofreu do pecado original de deixar avenidas nas costas de João Mário e Francisco Moura, que nem Pérez nem Marcano eram capazes de tapar, o Benfica foi extremamente plástico, adaptando-se às várias fases do jogo.
Quando o FC Porto saía a jogar de trás, os encarnados apresentavam-se em 4x4x2 com as linhas muito juntas, ocupando-se Aursnes do apoio a Pavlidis, na frente, enquanto se formava uma linha de quatro, com Di María, Florentino, Kokçu e Akturkoglu, que se superiorizava a um meio-campo desconchavado do FC Porto, onde só o talento de Mora iluminava o caminho.
Mas quando tinham a bola, os encarnados transmutavam-se em 4x2x3x1, mantendo a superioridade numérica no ‘miolo’, nessa circunstância reforçado por um Aursnes que estava sempre atento às dobras a Di María, em caso de ataques rápidos dos dragões. Nos primeiros 45 minutos, o perigo relativo feito pelos donos da casa derivou de perdas de bola em zona proibida de António Silva (5 minutos), Di María (7) e Florentino (26). Entretanto, o Benfica não só obrigou Diogo Costa a brilhar, como acertou duas vezes nos ferros e meteu também por duas vezes o esférico no fundo das redes do guarda-redes da Seleção Nacional.
SEGUNDA PARTE IMPERIAL
Seria normal que, a perder por 0-2 o FC Porto tentasse dar um golpe de autoridade na segunda parte. Seria, mas não foi, porque a equipa de Anselmi não só se esfrangalhou completamente, atingindo níveis de desorientação que nem de perto, nem de longe, se viram nos tempos de Vítor Bruno, como o Benfica arrancou para uma belíssima exibição coletiva, ao nível do que de melhor fez nos últimos anos. Começaram-se então a sucederem-se as ocasiões para os encarnados chegarem ao 0-3 – Di María (53), Akturkoglu (59) e Otamendi (60) -, mas a bola teimava em não entrar até que, aos 69 minutos, Pavlidis deu o melhor seguimento a um cruzamento perfeito, da direita, do ‘Fideo’ e consumou o seu ‘hat-trick’ histórico.
Antes, perante as dificuldades de Tomás Araújo (será pubalgia?), Bruno Lage fez entrar Dahl para a lateral direita (depois do jogo com o Farense, uma nova má experiência do sueco naquelas funções), enquanto que Anselmi manteve tudo taticamente na mesma quando tirou Eustáquio e Pepê, e fez entrar Martim e Gonçalo Borges (que deu mais dinâmica aos dragões).




A ganhar por 0-3, Bruno Lage respondeu refrescando a equipa com Belotti e Schjelderup (saíram Pavlidis e Di María, que não pareceu nada satisfeito) e nem a tardia entrada de Namaso (77), teve grande influência na história do jogo, que não estava, porém, finalizada. Quando, dois minutos depois de Schjelderup ter estado pertíssimo do 0-4, foi Samu, contra a corrente do jogo, a reduzir para 1-3, ainda pode ter passado pelo estádio do Dragão, de onde já tinham saído muitos adeptos portistas, a ideia de que o FC Porto ia galvanizar-se e dar água pela barba, nos minutos finais, ao Benfica.
Não foi isso, porém, que aconteceu. O domínio encarnado manteve-se, a equipa de Lage, por estar mais bem organizada, parecia ter mais jogadores em campo, e aos 90+1, quando saiu Akturkoglu, Dahl passou para médio esquerdo, Aursnes para lateral direito, entrando Barreiro para cumprir a missão brilhantemente desempenhada pelo norueguês, acabaram-se as eventuais veleidades portistas, e Otamendi ainda teve tempo para fixar o ‘score’ em 1-4, mais próximo do que aconteceu no relvado do Dragão.
Fica assim igualada, por parte dos encarnados, a proeza de fazer quatro golos em casa do FC Porto (antes, 2-4, em 1943), e a de sair do reduto portista com uma vantagem de três golos (antes 0-3, em 1975).
José Manuel Delgado, in a Bola

DESTAQUES:

 O grego fez história ao marcar três golos no Dragão e até podia ter feito mais; Otamendi agregador, Aursnes espartano, Di María inspirador e Akturkoglu endiabrado; foi demasiado Benfica para o FC Porto.

O melhor em campo: Pavlidis (9)
Que noite do goleador, que entrou para a história do Benfica ao ser o primeiro a fazer um hat trick em casa do FC Porto. Golo hipersónico, festejado a dois tempo, porque a posição do atacante suscitou dúvidas que as linhas do VAR desfizeram. O remate com o pé direito deixou Diogo Costa sem reação, pregado ao relvado, tal foi a precisão do centro de Akturkoglu. Perto do intervalo, nova oportunidade, claríssima, mas o poste negou-lhe o bis que alcançaria com enorme classe poucos segundos depois. O grego agradeceu um remate torto de Florentino, fez Nehúen deslizar no relvado e bateu Diogo Costa sem contemplações. O hat trick haveria de surgir num momento de fantasia de Di María, num centro milimétrico para a cabeça do ponta de lança. Recebeu o aplauso caloroso dos adeptos encarnados quando foi substituído por Andrea Belotti e bem o mereceu.




6 TRUBIN — Cruzamento de Moura bem desviado aos 31’, num lance prometedor para os portistas, que morreu nas luvas do ucraniano. À exceção deste momento, teve uma 1.ª parte tranquila, beneficiando da boa organização do Benfica sem bola. No golo de Samu, foi surpreendido pelo primeiro remate de Fábio Vieira, que defendeu, mas nada pôde fazer na recarga do espanhol.
7 TOMÁS ARAÚJO — Antes quebrar que torcer. Máxima que se pode aplicar ao central convertido a lateral, pois a dado momento da 1.ª parte atravessou dificuldades físicas, mas nunca deu a parte fraca. Uma bola ao poste, num movimento em que foi apanhado em fora de jogo, revitalizou-o, mas acabaria mesmo por ser substituído por Dahl. Foi valente.
6 ANTÓNIO SILVA — Primeiro erro aos 6’, a facilitar perante a pressão de Samu – valeu ao Benfica que Mora não deu melhor sequência ao lance. Samu procurou muito o seu espaço e, por vezes, consegui-o ultrapassar em velocidade. Estabilizou quando o coletivo baixou o bloco e esteve mais confortável com o domínio do Benfica, no 2.º tempo.
8 OTAMENDI — Autoritário. Varreu bem a sua zona e ainda ajudou António Silva a recuperar as coordenadas defensivas, depois de uma entrada a frio do companheiro. É um jogador que eleva o desempenho do grupo, um verdadeiro patrão. Ameaçou Diogo Costa, de cabeça, com o guardião a defender com o ombro, e acabaria mesmo por bater o 99 portista, confirmando a goleada.
7 CARRERAS — Expôs-se com um amarelo aos 22’ por travar a marcha de João Mário, mas revelou segurança e sangue-frio para se manter por cima da sua referência de marcação, não se inibindo de explorar o ataque. Fê-lo com critério e em ligação constante com Akturkoglu, criando forte erosão a Nehuén Pérez. Numa iniciativa sua, ligou Di María ao golo, mas o argentino só pregou um susto aos portistas.
8 AURSNES — A peça central do equilíbrio do Benfica sem bola, um estratega à medida dos planos de Bruno Lage, criando a primeira zona de pressão à saída de bola do FC Porto e, sempre que recuperava a posse, a ser a unidade a ligar o ataque. A sua capacidade de antecipação e inteligência garantiram à equipa uma transição eficaz e uma pressão constante sobre os dragões.
7 FLORENTINO — Cabeceamento para grande voo de Diogo Costa (18’). Perda de bola comprometedora num duelo com Fábio Vieira a dar a Samu uma oportunidade declarada para marcar (26). Um remate enrolado transformou-se numa assistência para Pavlidis bisar. Bem encaixado na partida depois do intervalo, revelou mais concentração e eficácia nas suas ações.
7 KOKÇU — Em modo híbrido, teve tanto de operário como de criativo, mas foi, sobretudo, a unidade que tirou influência a Alan Varela na saída de bola do FC Porto, com o argentino aparentemente surpreendido com essa faceta do turco. Menos bem no golo de Samu, porque ficou cristalizado com o primeiro remate de Fábio Vieira, mas compensou num livre em que entregou a bola para Otamendi fazer o 1-4.
8 DI MARÍA — Saiu pouco tempo após servir com classe Pavlidis para o terceiro golo. Um cruzamento magnífico fez com que quisesse prolongar a sua presença no clássico, mas Lage fez a sua gestão. Cada gesto e cada traço pareciam conspirar para desafiar os seus próprios limites criativos e, num canto direto, aos 48’, forçou Diogo Costa a fazer apelo ao seu instinto protetor para evitar um golo olímpico do argentino, que esteve num belíssimo plano no Dragão, a atacar e a defender. No reatamento, cruzou-se com o golo, mas a promessa de celebração frustrou -se quando a bola bateu nas malhas laterais da baliza portista.
8 AKTURKOGLU — Centro perfeito para Pavlidis faturar. Aos 31’, depois de uma fuga de Carreras, o turco meteu a quinta velocidade, partiu os rins a Eustáquio e, num remate em jeito, viu a bola bater no poste esquerdo da baliza portista. Endiabrado, voltaria a servir Pavlidis, mas o grego acertou no poste. Arrasador!
5 DAHL — Entrou tranquilo. O resultado ajudou.
5 SCHJELDERUP — Quase marcou o quarto golo do Benfica. A perna de Martim Fernandes intrometeu-se na hora H.
5 BELOTTI — Ganhou a falta que resultou no quarto golo encarnado.
(-) LEANDRO BARREIRO — Ainda a tempo... de celebrar a goleada

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