quinta-feira, 5 de março de 2015

CRÓNICA DE LEONOR PINHÃO


Título:
A multidão que nunca os abandona
Texto:
Na última jornada do campeonato o Benfica goleou o Estoril por 6-0 mas, curiosamente, não houve quem saltasse para a arena da retórica a clamar, muito indignadamente, que o Estoril tinha facilitado a vida ao Benfica num propósito indecoroso de aplanar o caminho do campeão em título.
Em todos os jogos da corrente Liga que o Benfica venceu por 3 ou por mais golos os seus adversários logo houve quem, muito honradamente, surgisse em altíssimos protestos pelas benesses concedidas por equipas como o Vitória de Guimarães, o Vitória de Setúbal, o Arouca, o Marítimo, o Belenenses, o Marítimo e o Penafiel, todos cúmplices por inação.
Quando o Benfica não goleia graças às tais facilidades concedidas pelos seus adversários e se limita a ganhar pela diferença mínima ou por 2 golos de diferença aí o caso muda de figura e os cúmplices passam a ser os malditos árbitros todos, sem exceção, a trabalhar para a revalidação do título.
Mérito do Benfica, aparentemente, não há nenhum. Ou ganha porque os adversários se recusam a correr ou ganha porque os árbitros se recusam a invalidar todos os golos apontados pelos seus jogadores da defesa, da linha média ou da linha avançada.
Deste ponto de vista, estritamente faccioso, o futebol e o balanço dos campeonatos ficam claríssimos como água aos olhos esbugalhados do estimado público.
Por exemplo, para o Sporting nos últimos 32 anos só houve duas temporadas em que os árbitros e os adversários foram verdadeiramente isentos. É pouco.
Para o Porto, no mesmo período de tempo, 32 anos os árbitros e os adversários foram impecáveis muito mais de uma vintena de temporadas. É muito.
Para o Benfica, no mesmo período tempo, as contas saldam-se em meia-dúzia de temporadas em que adversários e árbitros estiveram ao nível desejado pelas instâncias internacionais. O que não é nem pouco, nem muito. Nem, longe disso, razoável.
Veremos como termina o campeonato em curso para um acertar destas contas sempre tão tristes de se fazer.
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Tal como a equipa de arbitragem do último Sporting-Benfica foi a melhor equipa em campo também a equipa de arbitragem do último Porto-Sporting foi a melhor equipa em campo. São boas, excelentes, estas notícias para a arbitragem. E são más para quem padece do mal de não ser líder como tão bem explicou Vítor Baía recentemente.
É verdade, no entanto, que o Porto esteve bem no jogo com o Sporting e que poderia até ter goleado. Mas para valorizar condignamente a vitória e o resultado do Porto não houve Sporting suficiente em campo, facto amplamente registado por analistas de todas as cores.
A unanimidade em futebol sendo rara é sempre de louvar.
Perdeu o Sporting por 3-0, resultado que também se averba em casos de falta de comparência que foi, quase, o que aconteceu no domingo passado no Estádio do Dragão porque só houve dez minutos de equipa visitante.
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Perder um jogo com um rival tem custos imensos. Enão são só os 3 pontos.
Nesta temporada o que mais tem abundado são os empates entre rivais, resultados menos custosos de digerir.
Benfica e Sporting empataram os seus dois jogos para a Liga.
O único encontro até ao momento entre Benfica e Porto sorriu ao Benfica e que de maneira.
Entre Porto e Sporting houve um empate no encontro da primeira volta e uma vitória claríssima do Porto no jogo do último fim-de-semana.
Quando há empates normalmente não acontece nada a seguir.
Já quando um ganha e o outro perde, acontece sempre qualquer coisa a seguir. Um qualquer inevitável efeito propagandístico extra-jogo, programado ou fora do programa, vem a calhar como ginjas.
No dia a seguir aos dois golos de Lima que ditaram a derrota do Porto em casa frente ao Benfica o presidente do Porto visitou em Évora um antigo primeiro-ministro detido. Que se saiba não houve troca de presentes entre visitante e visitado.
No dia a seguir aos três golos de Tello que ditaram a derrota do Sporting fora de casa o presidente do Sporting homenageou Pedro Proença com um jantar num hotel em Cascais.
Neste último caso já houve troca de lembranças. O presidente do Sporting ofereceu um quadro representando um leão ao antigo árbitro e Pedro Proença ripostou oferecendo uma camisola de árbitro ao presidente do Sporting a quem agora só falta mesmo o apito ao pescoço para ter um brinquedo novo completo.
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Voltando a Pedro Proença.
O antigo árbitro falou aos jornalistas para lhes dizer que está disponível para cargos na Liga, na FPF, na UEFA e na FIFA.
No entanto, a imprensa aponta-o com mais insistência para um cargo na UEFA.
Tem o meu apoio. Antes na UEFA do que por cá.
Já estamos habituados a perder finais europeias, que diferença faria Pedro Proença na UEFA?
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Se o Moreirense, tal como foi noticiado, obrigou André Simões a pagar do bolso a multa correspondente à sua expulsão no jogo com o Benfica é porque, presume-se, para a própria entidade patronal o jogador foi merecidamente expulso.
Ou então trata-se de um caso de perseguição universal ao prometedor atleta, o que é bem menos verosímil embora não deixe de dar jeito a quem estas coisas dão tanto jeito.
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Jefferson não fez falta nenhuma ao Sporting na última quinta-feira no jogo com o Wolfsburgo em Alvalade mas terá feito grande falta ao Sporting 72 horas depois no jogo com o Porto no Dragão.
É deste modo simplista que vem sendo comentado o castigo imposto pelo presidente ao lateral-esquerdo que lhe faltou ao respeito de modo gritante, isto fazendo fé no que veio escrito nos jornais.
O facto indesmentível de Tello ter feito o que quis de Jonathan, o substituto de Jefferson, no jogo do Dragão mais reforçou esta ideia absurda.
Jefferson esteve para este último Porto-Sporting como Miguel Rosa e Deyverson estiveram para o último Benfica-Belenenses, isto no capítulo das ausências pungentes.
Por falar em ausências, também o Estoril chegou no domingo à Luz sem os seus habituais defesas-centrais, ambos castigados no jogo anterior. Julgo que não terá sido o caso de o Benfica ter ganho por 6-0 que fez esquecer este pormenor que seria tão do agrado de muitos estudiosos destes fenómenos.
Foi mais o caso de o Estoril ter chegado à Luz depois de quatro derrotas consecutivas com os seus centrais habituais em campo que levou ao pronto olvido da ausência dos ditos na goleada sofrida frente ao Benfica.
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Circulam já as notícias de que está tremido o futuro de Marco Silva no Sporting mesmo que ganhe a Taça de Portugal.
Leva-se assim o público incauto a concluir que Marco Silva está despedido quando, na verdade, não está e que o Sporting é já o vencedor da Taça de Portugal quando ainda lhe falta disputar a meia-final e, se lhe correr bem este passo, também lhe falta jogar a final propriamente dita.
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Com o regresso de Gaitán o Benfica ficou bem mais forte. E é desse mesmo Benfica forte que se precisa na tarde do próximo domingo em Arouca, a próxima paragem do tão disputado percurso.
Recomenda-se o costume: respeito pelo adversário e 100 por cento de concentração.
Que seja um bom jogo e que, se possível, voltemos a ver em Arouca o nosso Pizzi, em nome de todos, a fazer a continência à multidão.
À multidão que nunca os abandona e que os segue para todo o lado.
Texto de Leonor Pinhão in a bola

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