segunda-feira, 12 de março de 2018

INÊS, ANA CATARINA E JOAQUIM


"A unidade benfiquista é uma urgência e uma necessidade. E o princípio da igualdade uma exigência.

1. Nesta jornada os três grandes jogam em dias diferentes. Ontem o Benfica. Hoje o Futebol Clube do Porto. Amanhã o Sporting na atractiva cidade de Chaves. Ontem, na Luz, uma vez mais a ultrapassar os cinquenta mil fiéis adeptos, o Benfica ultrapassou um Desportivo das Aves que soube, em largos momentos, controlar as principais peças e os habituais momentos do actual sistema de jogo do Benfica. Jonas marcou mais um golo, Fejsa esteve em grande, Rúben Dias afirma-se e projecta-se jogo a jogo e Rafa mostrou, uma vez mais, o seu talento. E sentiu-se, de verdade, a falta de Pizzi! Faltam, agora, oito finais. Que serão disputadas, por excelência, nos relvados. Mas, sem ninguém se esquecer, que muito se está a jogar está época fora deles. Mas com a consciência que este Benfica de Rui Vitória sabe sofrer e sabe vencer, sabe trabalhar e sabe ser sábio. E a sabedoria é uma riqueza neste mundo e nestas circunstâncias.

2. (...)

3. Sim, a vida. A capitã do Benfica, Inês Fernandes, no último derby de futsal feminino, percebeu que a jogadora do Sporting Débora Queiroz se lesionara e possivelmente com gravidade. É, a Inês, médica de profissão. Perante uma dúvida de vida assumiu, e muito bem, o seu dever e, de imediato, assistiu a sua adversária na competição mas, por excelência, um outro ser. Que ela sabe bem que é um ser que se não repete. Alguns adeptos do Benfica, num egoísmo perturbante, não gostaram de uma atitude nobre e gritaram palavras que perturbam qualquer consciência livre. E a guarda-redes do Benfica, a Ana Catarina, ao pedir respeito pela vida, foi ela própria alvo de impropérios e, compreensivelmente, abandonou o pavilhão com as lágrimas a escorrerem pela face. Não vi, decerto por falha minha, nenhuma relevante referência a estes momentos de dignidade humana e de valorização da vida. Não vi nenhuma solidária análise acerca destes momentos em múltiplos espaços desportivos que são emitidos ou em canais abertos ou, até, fechados. Em que importava realçar aquele gesto bem nobre. Não vi, ainda, nenhuma entidade responsável do futebol - da Federação ao poder político - sublinhar estes instantes de virtude e de verdadeiro e genuíno desportivismo. Faço questão de o fazer neste jornal e nesta coluna. E lembrando as sábias palavras de ontem do Professor Adriano Moreira: «o poder da palavra é capaz de vencer a palavra do poder»! Basta haver vontade. Eu, diria, ou ousadia e coragem.

4. Sabemos bem que o apoio à nossa equipa de traduz, por vezes,  - bastantes vezes... - e hostilidade verbal significante a uma equipa verbal. E; por vezes, à equipa de arbitragem. E, agora, com o VAR e ouvia bem longe... Mesmo longe! E ninguém tem a ousadia de solicitar, nestas circunstâncias, o silêncio, nestas circunstâncias, o silêncio ou de contestar, assumidamente algumas dessas expressões. É um hoolinganismo verbal que é, talvez, a expressão de valores associados a alguns, conceitos de masculinidade agressiva - como se fosse, de verdade, uma questão de género como me apercebi, há bem pouco tempo, num jogo na Ericeira... como ressalta de um livro com quase trinta anos - de 1990! - de P. Murphy, J. Williams e E. Dunning e com o sugestivo título: 'O futebol no Banco dos Réus.' Estes professores escreveram que «numa partida de futebol há por certo um grupo de opositores para enfrentar: os adeptos da equipa adversária». (...) Para estes grupos o futebol serve como arena de uma espécie de jogos de guerra. Estes jogos ampliam-se com as novas realidades de comunicação - e de  informação! - em que as redes sociais ganham relevância, a par da alteração do papel da família, das mudanças na educação formal, na não compreensão dessa escola de ama electrónica que é a televisão... e na perda de importância das instâncias tradicionais de controle. E ao mesmo, as metamorfeses dos conceitos de virtude, de solidariedade, de bem comum, de sentido da vida. E, aqui, também se sente que os clubes desportivos
E 'aqui' ao mesmo tempo, as metamorfoses, de bem comum não podem abdicar de serem, eles próprios, espaços de competição mas também de ética, de partilha de anseios mas também de profunda responsabilidade, de compreensão pelos outros e de respeito pelo outro, de saber ganhar e de saber perder, de valores permanentes e de «musculação moral do homem» na feliz síntese de Pierre de Coubertin, o símbolo por excelência dos renascidos Jogos Olímpicos desta era moderna. E, por tudo, por tudo mesmo, era fundamental que não se ignorasse, nem se minimizasse, o papel do futebol, e dos clubes que o estruturam, na educação e da educação, em sentido amplo, no desporto em geral e no futebol em particular! E, aqui, o papel da Federação, da Liga e do poder politico são tão relevantes quanto urgentes. Bem urgentes.

5. (...)

6. A unidade benfiquista é uma urgência e uma necessidade. E o princípio da igualdade uma exigência. Como determinam os princípios estruturantes de um verdadeiro - sim verdadeiro! - Estado de direito democrático!"

Fernando Seara, in A Bola

1 comentário:

  1. Filosofias da treta.
    Quanto ao ponto 3. o sr. não viu enaltecer o gesto da atleta do Benfica e também nao viu condenar a atitude da claque benfiquista que a vaiou e desejou a morte da atleta do Sporting.
    Em primeiro lugar as duas atitudes, a louvar e condenar, competiam à Direcção do Benfica que cometeu assim duas falhas graves.
    Era isso que na sua verborreia devia ter dito.

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