domingo, 26 de janeiro de 2025

UMA CARICATURA DE EQUIPA



Nove pontos perdidos nos últimos quatro jogos comprometem candidatura ao título dos encarnados, que em Rio Maior assinaram a pior exibição da época...
Tivessem os jogos de futebol 25 minutos apenas, e o Benfica teria saído da morada emprestada ao Casa Pia, onde atuou com uma plateia que em 95 por cento lhe era favorável, com uma vitória justa e confortável por 1-0. Durante 27 por cento da partida, a equipa de Bruno Lage marcou um golo, conseguiu mais três remates enquadrados, fez a bola embater no travessão da baliza de Patrick Sequeira, e teve uma posse de bola de 71 por cento.
Depois, nos restantes 65 minutos, a produção dos encarnados foi baixando, os erros acumularam-se, a desorganização imperou, e o Casa Pia não só não deixou a saída de bola dos encarnados funcionar, como empurrou o Benfica para um jogo sem imaginação, feito de cruzamentos primários, e ainda aproveitou os espaços para se estender em ataques rápidos que, à medida que os minutos passavam, levavam a turma da Luz de mal a pior.
Seria injusto se, ao mesmo tempo que fica evidenciada a «falta de comparência»em Rio Maior do Benfica-candidato-ao título, não se louvasse a organização dos gansos, a personalidade com que trocaram a bola, aproveitando os buracos da equipa adversária, incapaz de ser defensivamente competente, essencialmente porque, nesse capítulo, muito cedo saiu de cena Di María, Barreiro e Kokçu perderam posição, e Florentino não teve capacidade para por ordem na casa; ao mesmo nível, a raiar a indigência esteve a saída de bola dos encarnados, que serviu sobretudo para colocar a baliza de Trubin em sobressalto constante (a forma como a pressão alta do Casa Pia perturbava o Benfica dava para uma tese de doutoramento em futebol, com ênfase na prevalência do coletivo sobre o individual).




Foi assim, após um erro garrafal de António Silva que os gansos empataram, e foi assim que a maior parte das iniciativas encarnadas não passaram da intenção. Ao intervalo, o prejuízo benfiquista só não era maior porque Vasco Santos reverteu um penálti assinalado por António Nobre, que passou a livre direto.
Depois de 20 minutos penosos, pensou-se que o intervalo ia ser bom conselheiro para a equipa de Bruno Lage, que procederia às mudanças individuais e coletivas que se impunham. Não foi isso, porém, que sucedeu, e perante um Casa Pia sempre muito bem montado num 3x4x3 com setores juntos e muita capacidade para ter bola e olhos para a baliza contrária, o Benfica passou de mal a pior, limitou-se a um perigo pífio junto da baliza casapiana, fruto de um futebol telegrafado, onde era evidente o desgaste de Angel Di María (só foi substituído aos 81 minutos, quando, há muito, muito tempo, já tinha desaparecido do jogo) e as dúvidas que assaltavam os jogadores do Benfica passaram a pânico quando, após alguns avisos, o Casa Pia tornou uma ação de contra-ataque no golo da vantagem, aos 60 minutos.
Foi preciso esperar mais nove minutos para que Lage desfizesse um 4x1x4x1 onde Florentino era o trinco, Kokçu o playmaker e Barreiro o homem de chegada à área, fórmula que tinha funcionado bem contra o Famalicão, graças a uma dinâmica completamente diferente e a um sentido coletivo que esteve ausente em Rio Maior. Entraram então (69) Schjelderup e Pavlidis, o primeiro para a esquerda e o segundo para junto de Arthur Cabral, mas com este 4x4x2 que facilmente se transformava num 4x2x4 que partia o jogo encarnado, a mediocridade manteve-se, e até passou a haver mais espaço para o Casa Pia ter bola.
Só aos 81 minutos Bruno Lage tentou equilibrar a equipa (entradas de Manu Silva, Amdouni e Aursnes), mas o mal estava feito e seria irreversível, tendo o golo do 3-1, por Livolant, servido de cereja no topo do bolo casapiano, perante um Benfica de cabeça baixa.
Que fique bem realçado que o Casa Pia não ganhou ao Benfica graças a um contra-ataque fortuito, depois de ter colocado um autocarro em frente à baliza. O triunfo dos gansos deveu-se ao facto de, sem terem melhores jogadores que o adversário, terem sido melhor equipa, mais lúcida, mais esclarecida, mais personalizada e mais organizada.




É um caso de estudo a incapacidade do Benfica colocar qualidade nas saídas de bola (e estando as coisas a correr mal, insistir na fórmula guardioliana), e dá também que pensar a necessidade (que tramou Schmidt) em dar muitos minutos a Di María, hipotecando o processo defensivo, quando o génio argentino está numa fase da carreira em que deve ser aproveitado em qualidade e não em quantidade.
Na quarta-feira, em Turim, o Benfica saberá se continua na Champions; quanto à Liga, quem perde nove pontos em doze possíveis, arrisca-se a passar ao lado de ser feliz e fica dependente, à falta de méritos próprios, de eventuais deficiências da concorrência.
Em Rio Maior viu-se o pior Benfica da época. Serão tiradas ilações perante este facto, perturbador sem dúvida para a nação encarnada? É que mais do que terem perdido, pior ainda foi a forma como os encarnados perderam...
DESTAQUES:
Exibição cinzenta em ideias de todos. Otamendi tentou ser farol, mas águias perderam na 19.ª ronda da Liga.
A FIGURA - OTAMENDI (6)
No jeito dele impetuoso, com qual aborda muitos lances e estreita a linha entre o grande corte e o grande erro, Nicolás Otamendi foi sempre passando o sinal à equipa de que não havendo arte seria importante lutar muito com o coração. Aos 36' fez um grande corte quando Nuno Moreira ameaçava entrar direito à baliza de Trubin pelo centro da área; aos 37' anulou novo lance prometedor de perigo e com o mesmo protagonista, Nuno Moreira; aos 69' fez um corte determinante quando Livolant se preparava para fazer mira à baliza. Atacou sempre a bola nos pontapés de canto e esteve perto do golo. Num deles, já em período de compensação, preparava-se para tentar um golo artístico, mas António Silva tirou-lhe a possibilidade de ser feliz. O central e capitão não foi brilhante, mas foi bom.
(5) TRUBIN — Aos 31' foi rápido a sair aos pés de Cassiano e resolveu um problema. Esticou-se depois no remate do brasileiro, mas sem hipótese de evitar o golo. No segundo e terceiro golos também não teve culpas.
(5) BAH — Exibição competente, mas de mínimos olímpicos, a defender bem, mas a atacar com pouca convicção. Aos 24' conseguiu um belo desarme que possibilitou remate perigoso de Akturkoglu.
(4) ANTÓNIO SILVA — Entrou bem no jogo, mas desligou-se dele e perdeu confiança a partir do passe curto, errado, que fez para a zona central, onde Cassiano recuperou a bola e atirou para o primeiro golo do Casa Pia. No lance do terceiro golo foi lento a recuperar num lance de canto e deixou Carreras com dois para vigiar.
(5) CARRERAS — Viu-se pouco no ataque e a boa marcação do adversário cortou-lhe as ideias na transição, mas nunca desistiu. Fez um bom passe, aos 45', que quase deixou Barreiro na cara do golo. A defender foi intenso, mas fica ligado ao segundo golo porque não conseguiu acompanhar uma cavalgada de Larrazabal, que depois assistiu Nuno Moreira.
(5) FLORENTINO — Primeiros 25 minutos muito bons, com vários cortes importantes e nos quais foi o principal responsável por o Casa Pia não conseguir sair para o ataque. Depois perdeu capacidade de jogar no espaço e passou o tempo a correr atrás dos adversários mas em esforço.
(6) LEANDRO BARREIRO — Pressionou alto e combinou bem no ataque, sobretudo com Arthur Cabral. Ganhou o penálti do golo do Benfica e foi dos mais esclarecidos e a querer empurrar a equipa para a frente. Terminou mais recuado, após a saída de Florentino.
(5) DÍ MARÍA — Menos encostado ao flanco e mais em zonas interiores, a qualidade que tem nunca compromete. Concretizou o penálti sem tremer e tem pelo menos duas aberturas, a variar o flanco, uma para Akturkoglu, aos 25', e outra para Kokçu, aos 49', que não são para todos. Mas teve pouca intensidade, ou fôlego, e acabou cedo, obrigando outros a trabalho redobrado.
(5) KOKÇU — Prometeu fazer a diferença com um grande passe para remate de Arthur Cabral, aos 7', mas depois alternou entre o bom e o mau. Aos 37' fez um mau passe para Florentino em zona proibida que ofereceu lance perigoso ao Casa Pia (inclusivamente um penálti de Otamendi, depois revertido após consulta ao VAR); aos 49' faz um grande remate para boa defesa de Sequeira, mas aos 54' voltou a errar o passe numa transição e o adversário atirou à baliza.
(5) AKTURKOGLU — Boa entrada, determinada, com bastante compromisso defensivo, muito boas combinações, sobretudo com Arthur Cabral e Di María, e também remates - um a beijar a trave, aos 25'. Depois perdeu-se em más decisões e pareceu muito desgastado, o que o fragilizou nos duelos defensivos; aos quais, porém, nunca virou a cara.
(5) ARTHUR CABRAL — Com bola foi sempre muito perigoso e rematou aos 2',7', 44' e 80', forte, mas à figura de Sequeira. Sem bola pressionou bastante, mas com num raio de ação limitado, sem verdadeiramente condicionar a saída de bola do adversário. Fez por ser mais influente e decisivo no jogo, mas na verdade não o foi.
(4) SCHJELDERUP — Nas poucas oportunidades que teve não conseguiu passar pelos defesas.
(5) PAVLIDIS — Boa entrada no jogo. Causou problemas e ameaçou perigo
(5) AURSNES — Com ele em campo a equipa ganhou critério no passe e geometria, pelo flanco direito.
(4) AMDOUNI — Ansioso para ter a bola e lançar ataques, mas não trouxe soluções diferentes.
(5) MANÚ SILVA — Estreou-se pelo Benfica. Boa qualidade de passe e uma falta ganha à entrada da área do Casa Pia, aos 90+1', que possibilitou a Kokçu rematar com relativo perigo.

1 comentário:

  1. mais uma vez roubados assim é impossível, não fosse isso e tínhamos goleado.

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