quarta-feira, 25 de setembro de 2013

ESCREVEM OS LEITORES

Apostar na juventude? É fácil falar!

Autor: DAVID PEREIRA, 21 ANOS, ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO

 
Muitos são os teóricos que defendem para os seus clubes uma maior aposta de jogadores oriundos da cantera, mas em Portugal, por exemplo, isso não tem acontecido com boa parte dos clubes recentemente.

Os teóricos dão como exemplo Barcelona e Bayern Munique, dois emblemas de sucesso que não abdicam de apostar em futebolistas vindos das camadas jovens. No entanto, esquecem-se que são dois colossos do futebol mundial, que podem lançar atletas como Bartra, Cuenca, Montoya, Sergi Roberto, Tello, Cuenca, Alaba, Müller e outros sem correr o risco de perder as suas principais estrelas.

Messi, Xavi, Iniesta, Ribéry e Robben são exemplos de estrelas que não têm a ambição de “dar o salto”, não por não serem jogadores ambiciosos, mas sim porque já atingiram o topo, não precisam de sair de onde estão.

Em outros emblemas europeus, de um prestígio um pouco menor, como o caso dos portugueses FC Porto e Benfica, o caso muda de figurino. A possibilidade de Jackson Martínez, Fernando, Garay, Cardozo ou Matic saírem é real, até porque se tratam de jogadores que querem atingir um patamar ainda mais elevado. A fazer-lhes sombra, os clubes têm de procurar atletas com créditos firmados, e por isso se tenham feito apostas em Ghilas, Herrera, Lisandro López, Funes Mori e Fejsa em detrimento de uma aposta em Fábio Martins, Pedro Moreira, Fábio Cardoso, Ivan Cavaleiro ou Luciano Teixeira.

Os jovens são, inevitavelmente, pouco experientes ao mais alto nível, e apesar da qualidade, não se lhes pode pedir para que não tremam quando jogam pela primeira vez para dezenas de milhares de pessoas, quando cumprem o sonho de chegar ao plantel principal e queiram fazer o melhor possível numa das únicas oportunidades que dispõem ou quando ouvem pela primeira vez o hino da Liga dos Campeões.

O fator psicológico é de facto importante no futebol, e os jovens têm maior tendência a acusar ansiedade e nervosismo, para além de que por vezes é tanta a irreverência, a vontade de mostrar serviço, que se esquecem que o fundamental é servir o clube. Jogadores mais experientes de adversários podem também intimidar ou provocar, e tendo em conta que o processo de maturação pode não ter sido ainda concluído, isso pode-se fazer sentir.

E claro, nos aspetos físicos e táticos existe uma grande diferença. Jogadores habituados a jogar frente a oponentes da mesma idade, com físicos semelhantes, com o mesmo número de anos de futebol nas pernas, com um certo ritmo, encontram na chegada a sénior, especialmente ao mais alto nível, um ritmo superior, atletas muito mais maduros fisicamente, e experientes ao ponto de ler melhor o jogo em termos táticos, com maior capacidade de prever e prevenir o que pode ou não acontecer.

É verdade que os jovens futebolistas só podem chegar a esse tipo de patamar jogando, e jogando num nível de alto rendimento. Mas em Portugal, nos dois principais candidatos ao título, isso é difícil de acontecer. FC Porto e Benfica têm discutido palmo a palmo os últimos campeonatos, em que cada ponto perdido tem um caráter decisivo. De um lado, o histórico dos últimos trinta anos obriga qualquer treinador a ser campeão, sem qualquer margem de erro. Do outro, todo o palmarés e mística podem ficar ameaçadas por um grande rival que provavelmente fará uma ultrapassagem no que concerne a títulos nacionais, o que obriga qualquer técnico a mudar essa tendência a todo o custo.

É fácil dizer que Quintero tem lugar de caras na equipa azul e branca. Mas com uma cultura de passe, o menos exuberante mas mais consistente e coletivo Silvestre Varela, serve os interesses de Paulo Fonseca. Desequilibra menos, mas também perde menos a bola, ajuda a equipa a permanecer com a mesma e a controlar e dominar o jogo. Aí está a tal diferença entre querer mostrar serviço e servir o coletivo.

Também é fácil dizer que João Cancelo, André Gomes e Ivan Cavaleiro deveriam ter rapidamente uma oportunidade. Mas com toda a pressão que quem trabalha num clube como o Benfica sente, com a obrigatoriedade de ganhar, que treinador que quer manter o seu emprego vai apostar num lateral irreverente e de grande pendor ofensivo que pode não corresponder na altura de descer ou ficar sem pedalada para fazer toda a faixa durante 90 minutos? Que técnico que procura recuperar rapidamente a bola pode arriscar numa posição tão delicada como o meio-campo (ainda por cima as águias jogam apenas com dois homens no miolo) colocar alguém que nem sempre pressiona? Quem pode abdicar dos praticamente garantidos 20/30 golos por época de Rodrigo, Cardozo e Lima para abrir mais espaço a um atacante sem experiência de Primeira Liga?

A aposta na cantera fica então destinada para clubes que reduzem em simultâneo orçamento, ambição e pressão, numa tentativa de reestruturação, como Sporting e Vitória de Guimarães.

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