"Caro Presidente Rui Costa,
No passado domingo, no Jamor, assistimos a mais um final de época para esquecer. No rescaldo da derrota, ouvi-o multiplicar-se em declarações inflamadas, comunicados e entrevistas, a denunciar — com razão — erros de arbitragem. A sua indignação é compreensível, mas permito-me lembrar-lhe que, para muitos benfiquistas, o maior problema não está apenas nas equipas de arbitragem. Está dentro de casa. Chama-se VAR: Vários Anos de Rui Costa.
Quatro anos passaram desde que assumiu a presidência do Sport Lisboa e Benfica. Quatro anos marcados por promessas de renovação, competência e benfiquismo. Quatro anos que, infelizmente, nos deixam um rasto de desilusão. Por isso, tal como o senhor expressou a sua indignação, também eu — e tantos outros benfiquistas — sentimos a necessidade de fazer um balanço. Aqui ficam, senhor presidente, os 10 maiores erros do seu VAR:
1. Incapacidade de conquistar títulos no Futebol Profissional O futebol é o coração do clube. E esse coração está fraco. Em quatro anos, apenas um campeonato. Zero Taças de Portugal. Em 16 títulos possíveis apenas 3 conquistas. Pouco, demasiado pouco para um clube com a grandeza e exigência do Benfica.
2. Destruição do valor do plantel de Futebol Profissional Jogadores que chegaram com rótulo de craques saíram desvalorizados. Outros, com talento evidente, foram mal geridos ou empurrados para fora. A mais recente venda de João Neves é o espelho desta visão mercantilista. As decisões no mercado têm sido erráticas, sem visão a médio/longo prazo. Estamos na segunda época a jogar com laterais adaptados. Entraram cerca de 300M€ mas o plantel está cada vez mais fraco e desequilibrado.
3. Esvaziamento do Departamento de Scouting O scouting, que já foi uma das forças do Benfica moderno, parece hoje uma sombra do que era. A saída do ex-Diretor desse departamento, Pedro Ferreira, em Maio de 2024, foi a mais relevante de várias que abandonaram o clube. Menos competência, menos olhos atentos, menos descobertas, mais apostas caras e mal pensadas.
4. Desaproveitamento do talento do Seixal O Seixal continua a formar talento de classe mundial. As equipas da formação são consistentemente campeãs nacionais nos seus escalões. Mas o caminho até à equipa principal está cada vez mais bloqueado. Preferimos gastar milhões nas jovens promessas dos outros clubes, que chegam mas não são apostas. Perdemos identidade, ligação à formação, desperdiçamos benfiquismo puro e oportunidades de ouro.
5. Afastamento das Instituições que lideram o Futebol Profissional A liderança do Benfica exige influência, presença, firmeza nos bastidores. Hoje, estamos isolados. Decidimos apoiar de forma sucessiva em Pedro Proença e em Fernando Gomes. Não quisemos “andar na autoestrada ao contrário”. Sem voz na Liga, sem força na Federação. Uma posição frágil para quem devia liderar.
6. Modalidades com mais investimento e com menos títulos O investimento aumentou, é verdade. Muito possivelmente, este ano, o maior de sempre. Mas o retorno desportivo nas modalidades não tem acompanhado. Excepção feita às equipas femininas, onde os nossos maiores rivais não marcam presença ou têm desinvestido, no setor masculino o cenário é desolador. Faltam títulos, faltam conquistas, falta ambição.
7. Resultados Financeiros a caminhar para o abismo O passivo cresce, os prejuízos acumulam-se e os sinais de alarme multiplicam-se. Os FSEs estão descontrolados. A dívida não pára de aumentar e os empréstimos obrigacionistas multiplicam-se. As receitas já não escondem os erros de gestão. A sustentabilidade do clube está em risco, isto apesar de, ano após ano, o clube registar vendas milionárias.
8. Política de comunicação inexistente Num tempo em que a comunicação é tudo, o Benfica tem estado calado, desorganizado ou reativo. Falta estratégia, liderança e coerência. Não há uma defesa do clube, mas não falta a defesa de quem nos lidera. As redes sociais estão ao abandono. Falta uma voz que una os benfiquistas. Falta sentir o Benfica.
9. Instalada uma cultura de derrotismo e de comodismo Perdemos a chama. A exigência desapareceu. Não se assumem os erros, existe sempre uma desculpa. Os maus resultados são banalizados. As equipas não conseguem ganhar jogos decisivos. Criou-se um ambiente onde perder já não dói como antes, hoje aceitamos que “não se pode ganhar sempre”.
10. Manutenção das caras e vícios dos anos de Vieira Prometeu-se rutura. Prometeu-se novo ciclo. Mas, na prática, continuam os mesmos rostos, as mesmas práticas, os mesmos interesses. Figuras como Jaime Antunes, Sílvio Cervain, Fernando Tavares e a “sombra” Nuno Costa mantiveram-se demasiado perto dos centros de decisão. O "novo Benfica" tarda em nascer — se é que alguma vez existiu.
Senhor presidente, o Benfica não é seu. Nem meu. É de milhões. Milhões que merecem mais. Milhões que acreditaram em si como símbolo de mudança, mas que hoje se sentem defraudados. O tempo das desculpas e dos comunicados acabou. É tempo de agir — ou de dar lugar a quem esteja disposto a liderar com coragem, competência e ambição real.
Em Outubro, vamos resgatar o nosso Benfica! Fica esta promessa, que pretendo cumprir.
Com respeito, mas sobretudo com amor ao Benfica,"
Rui Pinto, in Benfica Independente