Decidir um apuramento (para os oitavos de final do Mundial de Clubes) com a melhor equipa do grupo e uma das melhores do mundo não era o cenário nem ideal, nem confortável. Belloti e Carreras castigados e Florentino tocado constituíam limitações importantes para a decisão.
Florentino, com características únicas no plantel, estava diminuído fisicamente, sendo física a sua principal e mais influente valia. Já a ausência de Belloti, um bom elemento, deixava Pavlidis como opção única no vértice ofensivo. Quanto a Carreras, a sua ausência determinava a entrada do fiável Dahl, mas limitando também a versatilidade tática da equipa, tão usada por Lage, personificada pelo lateral espanhol. Finalmente, Kokçu era o tema do momento. Entraria de início? Contaria para o jogo?
Decisão
Objetivo conseguido com grande mérito coletivo e uma nova história feita que já tardava. Na primeira parte, o Benfica conseguiu ser compacto sem recuar demasiado, afastando o Bayern da sua baliza. A capacidade para sair ante a pressão alemã foi conseguida principalmente pela excelente prestação de Renato Sanches. Manter a bola sim, mas ter o poder para subir era fundamental. O golo surgiu cedo, outra vez pela progressão de Sanches e pelo entendimento no lado direito de Di María e Aursnes. Depois a entrada do extremo do lado oposto faz diferença, com Schjelderup a finalizar.
O Bayern, como se esperava, forçou no segundo tempo e ficou perto do empate. A diferença grande de ter em campo Kane, Kimmich e Olise. Valeu Trubin, figura principal encarnada, quando o Bayern dominou e a equipa foi obrigada a reunir mais atrás. Lage tinha referido o segundo poste como alvo preferencial dos alemães e retirou e bem Dahl dessa posição, mais própria de gente grande.
Kompany tinha escolhido Muller para fazer de Kane, assim como Lage tinha feito em Munique, elegendo Amdouni para o lugar de Pavlidis. Não é a mesma coisa... Trubin à parte, este jogo também confirmou Dahl enquanto defesa. Se persistiam dúvidas em relação à validade defensiva de Dahl, ante um adversário poderoso, o jovem lateral provou o contrário.
Os outros jovens utilizados mostraram a personalidade que se quer em contextos difíceis. António Silva esteve como nunca, anunciando a sua emancipação definitiva.
Depois do descontrole assumido, Kokçu não passou sem castigo, mas entrou como se nada fosse. Mais um bom sinal para a aventura que se segue e que a equipa, sabendo sofrer, fez por merecer.
Futebol público
Porque somos pessoas, por vezes dizemos e fazemos coisas de maneira irrefletida, reativa. Não faltam episódios em campo onde isso acontece, quer seja com adversários e árbitros, quer com treinadores e até, por vezes, com colegas. Como sabemos, tudo o que se passa neste desporto ganha uma dimensão extra. O stress é grande e o cansaço físico e mental chegam ao limite.
O episódio recente entre Bruno Lage e Kokçu é um mau exemplo público, mas reflete a realidade em que a natureza e o temperamento podem provocar conflitos, mesmo que improváveis, entre um jogador e o seu treinador. Neste caso, trata-se de um momento aberto ao público, o que responsabiliza mais os intervenientes. Desde então, muito se falou, opinou e condenou, mas o sobressalto foi ultrapassado pelos intervenientes, com clareza e simplicidade, assumindo a responsabilidade e a delicadeza do momento.
Naturalmente, as eventuais substituições de Kokçu no futuro serão alvo de atenção redobrada. Ainda jovem, deverá ter aprendido a lição, ou não...
Quente e frio
Nico Jackson é um avançado senegalês do Chelsea, negativo protagonista da recente derrota com o Flamengo. Quatro curtos minutos em campo chegaram para uma entrada despropositada e violenta sobre um adversário, que o fez encaixar um merecido cartão vermelho.
O desejo de Maresca de reforçar o ataque e perseguir o empate caiu, ao contrário, para a inferioridade numérica e para o desenho da derrota. As substituições são um tema rico e à parte e aquilo que, por vezes, provocam define resultados, para o bem e para o mal. Como tal, a preparação de quem entra deve ir além das necessárias indicações táticas e não vai.
Assistir no banco a uma hora de jogo sem poder intervir é igual a uma tensão acumulada que pode dar, como mais uma vez aconteceu, mau resultado.
O aquecimento físico também dificilmente se eleva às exigências do jogo. Não é por acaso que muitos jogadores demoram a integrar-se, quando a sua entrada pressupõe urgência. Outros há que se lesionam quase imediatamente, como Bisseck, jovem defesa do Inter, na final da Liga dos Campeões, lesionado oito minutos depois de entrar. Claro que também há o lado positivo que é, com sorte e inspiração, fazer muito em pouco tempo e decidir a favor. A este propósito, regresso ao último Europeu e a Ivan Toney, avançado da seleção inglesa.
A substituição desesperada de Southgate contra a Eslováquia, já depois de expirado o tempo regulamentar, salvou a Inglaterra da derrota, sendo Toney o herói, assistindo para golo. Para um avançado consagrado entrar depois dos noventa não é propriamente motivador, mas...
O jogo havia de ser ganho no prolongamento com uma inesquecível bicicleta de Bellingham.