Não é apenas no caso de Maradona que podemos dizer que estamos perante um pequeno, mas grande jogador. Há um tal de Ricardo Manuel da Silva Braga que faz jus a essa frase. Um génio que nasceu para o futsal e que, tal como Cristiano Ronaldo, arrasta multidões. Ricardinho, de 29 anos, já gravou o seu nome na história do futsal nacional e mundial.
Atualmente, é o melhor jogador do mundo e os adversários fogem dele. Luzes, câmara, espetáculo. Aí está o mágico Ricardinho.
Começou, juntamente, com os seus amigos a correr pelas ruas atrás de uma bola. As mochilas faziam de postes e nem sempre era o famoso gordo que ia à baliza. Ricardinho dava nas vistas e a sua ilusão era de jogar num relvado de onze contra onze.
O homem das piruetas, acabou fintado pelo destino. A sua qualidade ainda o levou às captações no FC Porto e deixou-o a um palmo de assinar. Aquele restinho que faltava na altura foi o entrave.
Ricardinho não desmotivou e deu corda às sapatilhas. Seguiu-se o futsal. A culpada pela incursão no futebol de 5 é Carolina Silva. Uma senhora que Ricardinho jamais esquecerá e a quem faz questão de agradecer sempre que conquista um prémio. «Devo muito a essa senhora. Foi a principal responsável pelo rumo que tomei. Estou grato», confessa com um tom de voz emocionado.
Os primeiros toques foram num torneio da modalidade onde, para não variar, deu show e voou para as provas federadas. Ganhou medalhas e assinou pelo Miramar. Tornou-se ainda mais craque e o Benfica, tinha ele 17 anos, contratou-o. Foi tudo tão rápido que Ricardinho tornou-se no jogador mais jovem a competir na primeira divisão de futsal. A primeira de muitas distinções que não estão na parede, mas figuram na memória.
No Benfica evidenciou tanta qualidade que até Fernando Santos o convidou a treinar com a equipa principal de futebol das águias. No entanto, questões internas não o deixaram trocar as sapatilhas pelas chuteiras. «Houve, de facto, essa possibilidade, mas quando tudo se estava a consumar, a possibilidade acabou por morrer por uma decisão interna.»
No pavilhão da Luz, o mágico foi campeão, ganhou nome e ofuscou as estrelas internacionais que chegavam ao futsal português. Depois decidiu arriscar. Estava na hora de uma aventura lá fora. Porquê? O próprio responde: «Queria mostrar que tinha valor e que podia ser um dos melhores do mundo. E quanto mais me diziam que não iria conseguir, mais vontade tinha. O resto veio com o trabalho», sublinha.
Primeira chamada foi com destino ao Japão
Andava Ricardinho a brilhar com a camisola do Benfica quando o telemóvel tocou. Do outro lado chamavam-no para o Japão. Resolveu aceitar a proposta do Nagoya Oceans e a experiência não podia ter corrido melhor. «Adaptei-me muito bem e fui tão bem tratado que adorei. Em termos profissionais foi excelente. De facto, considero a melhor experiência da minha vida.» Ricardinho jogava tanto que há uma redundância obrigatória nestas linhas: o atleta deixou os japoneses de olhos em bico. Saiu do país com o estatuto de ídolo.
Rússia foi a fase negra de uma carreira colorida
O CSKA Moscovo há muito que seguia Ricardinho. O sim do português não estava fácil e já parecia ser um sinal do destino. Acenoucom um sim depois de muita insistência, mas viria a arrepender-se. «A experiência correu mal em todos os sentidos. Não me adaptei à equipa, aos treinadores, ao povo e à cultura. Era tudo demasiado frio. Eu sou uma pessoa que gosta de bom ambiente e lá isso não existia. Só para ser ter um exemplo aprendi melhor japonês do que russo», conta com um sorriso. Regressou ao Benfica e, invariavelmente, voltou a ganhar.
Intermovistar: o grande desafio de um currículo imaculado
Com uma carreira estabilizada e com um nome que chama adeptos ao pavilhão, arriscou naquele que seria um dos grandes desafios. Jogar no campeonato espanhol e mostrar a nuestros hermanos quem é Ricardinho. Perdeu, inclusive, dinheiro, para calar os espanhóis. Hoje estão completamente rendidos.
«Vir para o campeonato espanhol foi o grande desafio. Eles desconfiam do valor português e não acreditavam que eu valia tanto quanto diziam. Arrisquei e hoje reconhecem o meu valor.»
Custou, mas Ricardinho gosta disso. Não de ser o centro das atenções, mas que o coloquem sob pressão. «Vir para Espanha e para um clube que não era campeão há cinco épocas foi desafiante. Achavam que não ia corresponder às expectativas, eu respondi com títulos coletivos e individuais», diz o melhor do mundo.
Em 2013/2014 Ricardinho deu o título do campeonato espanhol ao Intermovistar, coroado não um com um, mas com três títulos individuais. Foi considerado o melhor jogador do campeonato, o melhor Ala e o melhor da taça espanhola. Isto tudo numa época. Para quem duvidava do valor do português, o número 10 respondeu com obras de arte.
Já foi eleito duas vezes o melhor futsalista do mundo, mas não se vê como tal. Para ele o número um é o brasileiro Falcão. «Para mim é o melhor. Eu posso ser bom, mas ele é muito bom. É uma lenda», refere.
O homem das fintas promete não ficar por aqui. Os adversários que se cuidem porque, tal como Lucky Luke, Ricardinho é mais rápido do que a sua própria sombra.

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