sábado, 26 de dezembro de 2015

ENTREVISTA A LUISÃO


Luisão deu uma grande entrevista a Record e não fugiu a um dos temas que marcou o último defeso: a mudança de Jorge Jesus para Alvalade após seis anos a trabalhar na Luz. Confira tudo o que o capitão disse sobre este e muitos outros temas no Record Premium, a partir das 3 horas, ou na edição em papel do seu jornal de sábado.

RECORD - No banco contrário estava Jorge Jesus. Alguma vez imaginou que ele pudesse mudar-se para o Sporting?


LUISÃO – Hoje em dia, tanto no futebol como nas empresas temos de ser profissionais. Portanto, temos sempre de esperar que aconteça alguma coisa. Como estava de férias não acompanhei a situação e acabou por ser uma surpresa. Ele foi profissional e seguiu a vida dele. E nós seguimos a nossa!

R - Ficam inibidos quando o defrontam? Ele sabe mesmo os segredos do Benfica?

L – São coisas que acontecem no futebol. Não existe qualquer tipo de inibição. Ele é um excelente treinador e trabalhou connosco muito tempo, sendo lógico que conheça muito mais coisas a nosso respeito do que um treinador que nunca tenha trabalhado aqui. Mas, volto a frisar, não existe qualquer inibição da nossa parte. Tanto nós como ele disputámos o jogo com lealdade e respeito, procurando obviamente sair com uma vitória. Ainda não o conseguimos, mas já estamos a trabalhar para sermos bem-sucedidos da próxima vez. *


RECORD - Já viveu muitos episódios, mas há um no qual foi apanhado com excesso de álcool, tendo até afirmado que gostava de beber o seu copo de vinho. Hoje já consegue rir-se desse episódio?

L – Era muito, muito jovem e isso pode acontecer a qualquer pessoa, mas sei que não é o correto. Hoje dou ‘risadas’ , mas carrego comigo a responsabilidade de não ter sido o mais correto. Reconheci logo o erro, até para os polícias, mas tinha a responsabilidade de passar a mensagem para que não seguissem o mau exemplo.

R - E pode apontar aquele momento que não esquecerá? 

L – É difícil! Daqui a 40 anos vou lembrar-me sempre de vários jogos, de várias imagens no estádio. Já errei muito, aceitei muito, chorei, fiquei contente… São muitos anos, muitos momentos.

R - É possível resumir 13 anos de Benfica?

L – É difícil! O Mundo, hoje em dia, é complicado, existem dificuldades. Eu tenho 13 anos de Benfica. Por isso, tenho uma enorme gratidão.

R - Tem algum sonho para 2016?

L – Não penso nisso. Temos de estar sempre bem. Com esta lesão estou privado de fazer o que mais gosto e, por isso, só peço que em 2016 tenha muita saúde.

R - Um 2016 perfeito seria... 

L – Com o título de campeão no Benfica!*


R - Rui Vitória é conhecido por ser um homem de diálogo. Esse é o ponto forte dele?

L –É um dos pontos fortes dele!



R - Quais são os outros?

L – Para fazer essa análise é preciso levar em consideração toda a conjuntura. A maneira como ele chegou, a responsabilidade que nele depositaram os adeptos, a pressão da imprensa, o processo de transição, o facto de ter pegado numa equipa bicampeã. Ora, ele mostrou uma serenidade muito grande, uma enorme convicção no seu trabalho. Ainda não o conseguiu colocar todo em prática, dado que está aqui há pouco tempo. A sua capacidade de diálogo, a forma como se entrega ao trabalho, ele tem várias qualidades...*


R - Consegue dizer qual o melhor futebolista com quem já jogou?

L – É difícil, joguei com muitos. Mas, acima da média há um que destaco, que é o Saviola. Mas temos o Jonas, tivemos o Lima, o Garay, que é um grande central, o David Luiz, o Ramires, o Di Maria. No Benfica já passaram grandes jogadores.

R - E o melhor central? Com quem aprendeu mais?

L – Pode haver um central que não tenha tanta técnica, mas se eu fizer uma boa dupla com ele, então, esse será o melhor. A dupla que fiz com o Garay foi muito boa, mas em termos de aprendizagem foi com o Cris e com o Juan, com quem joguei no começo da minha carreira. Devo-lhes muito.

R - Liedson foi o avançado mais difícil de marcar? 

L – Portugal é um país muito pequeno e jogamos muito uns contra os outros. Sei que é interessante para a imprensa criar esses duelos, mas já joguei contra muitos avançados de qualidade.


R - Até onde pode ir o Benfica na Liga dos Campeões?

L – Estamos entre os melhores. Fizemos uma excelente primeira fase e agora entramos no ‘mata-mata’, como se costuma dizer. Para conseguirmos ultrapassar esta eliminatória temos de estar a um nível muito elevado nos dois jogos. Sabemos que os oitavos-de-final são muito difíceis.

R - O Benfica até venceu em Madrid. Esperava uma fase de grupos tão fulgurante?

L – Há muito tempo que procurávamos atingir os oitavos-de-final. Nos últimos anos não estávamos a consegui-lo. Portanto, temos de saudar o trabalho realizado esta época. Sabemos que a Champions se complica ainda mais a partir deste patamar, pois todas as equipas que o atingem são acima da média.

R - Agora vão defrontar o Zenit, que ganhou os dois últimos jogos ao Benfica, mas a quem também o Benfica já afastou dos ‘oitavos’ da Champions. Pode esperar-se uma repetição de 2011/12? 

L –Nos últimos anos, já nos temos defrontado algumas vezes, fruto do crescimento que o Zenit tem vindo a revelar tanto no campeonato russo como na Liga dos Campeões. É impossível dizer-se se vai ser uma repetição do que sucedeu em 2011/12, mas tomara que sim! É sinal que continuamos em prova. Apesar de haver equipas mais cotadas no último sorteio, sabemos do valor do Zenit que, apesar de não estar a efetuar um campeonato interno condizente com o seu valor, realizou uma grande fase de grupos da Champions, com cinco vitórias.

R -  Zyryanov, jogador do Zenit, afirmou que no balneário do Benfica devem ter começado a chorar assim que souberam que tinha saído a equipa russa. Isso motiva-os? É uma declaração para colar no balneário?

L – A motivação sempre existe, ainda para mais nos ‘oitavos’ da Champions. Não é preciso colar o que disse o Zyryanov! Ainda falta muito tempo, mas tudo iremos fazer para estar fortes.

R - Garay, Witsel, Javi García e Hulk estão do outro lado da barricada. São os trunfos do adversário?

L – São três grandes jogadores que vão estar, como diz, no outro lado da barricada, mas não deixam de ser amigos, três deles com quem partilhei momentos muito bons no Benfica. Agora, quando a bola começa a rolar, é normal que isso fique de lado, mas no final venha de lá esse abraço, porque são gente muito boa.

R - As duas finais perdidas na Liga Europa foram a maior contrariedade que teve no Benfica?

L – Creio que sim! Lutámos tanto para lá chegar, conseguimos ir lá duas vezes e, infelizmente, o troféu não veio para o nosso lado. Gostaríamos tanto de ter colocado o nome do Benfica ali novamente como campeão. E o nosso nome também, claro! Era importantíssimo! Profissionalmente, foram as derrotas que mais custaram. 

RECORD - Lembra-se da sua vida antes do Cruzeiro?

L – Era muito difícil.

R - Era um menino de rua?

L – O meu pai, ex-jogador, lutou muito para não me faltar nada, mas não vivíamos muito à vontade.

R - Foi aí que conheceu Brenda, a sua mulher?

L – Não. Conheci-a no Brasil, mas já estava no Benfica.

R - Como é o Luisão marido e pai da Sophia e da Valentina?

L – Temos uma vida normal. Tenho de curtir as minhas filhas. A vida, às vezes, ilude-nos e não sou muito ligado a situações de fama.

R - Mas vai para a cozinha, pega nos tachos?

L – Não me atrevo a atrapalhar na cozinha! (risos) Mas, no verão, gosto de fazer um churrasco e as minhas filhas gostam que eu faça um peixe na grelha.

R - Sendo figura pública e pai, consegue passear com as suas filhas em tranquilidade?

L – Graças a Deus tenho tido sempre palavras de incentivo e carinho. O que sinto falta, muitas vezes, é de dar mais atenção às minha filhas, porque vou dar-lhes um abraço e aparece sempre alguém. Mas isso é sinal que as pessoas gostam de mim. Mesmo elas, uma tem 7 e a outra 3 anos, sinto que olham orgulhosas para mim. Isso não tem preço!



R - Que relação mantém com os seus irmãos e pais?

L – Somos chegados. Eles vêm pouco para Portugal, porque o meu pai tem um projeto social na minha cidade [Amparo]. Ele não recebe nada, mas a ideia é tirar miúdos da rua e mostrar-lhes o desporto. Não para serem jogadores de futebol, mas para serem homens. Isso ocupa-o muito. *

Garay aceitou de imediato o convite de Record para dirigir algumas palavras a Luisão, com quem jogou no eixo da defesa entre 2011 e 2014. 

A família de Luisão associou-se à homenagem de Record ao central. A mulher, Brenda Mattar, e as filhas, Sophia e Valentina, sublinharam a importância do capitão em casa, mas também no clube. A verdade é que Portugal já faz parte do clã Silva.

"Amamos Portugal! É o país que nos deu tudo. Construímos nosso casamento aqui, a nossa família e, com tudo isso, um amor inexplicável a uma camisola, um emblema, um clube, o nosso clube! O nosso Benfica! Tenho muito orgulho de toda esta história linda", assevera Brenda.
A companheira de Luisão fala numa "linda história de amor". "Já teve tantas e tantas oportunidades de sair , mas por decisão própria sempre quis ficar! Uma vez Benfica, sempre Benfica! Assim é quem tem e conhece a verdadeira mística! Parabéns meu amor!"

Atrás do "profissional espetacular, sempre preocupado com a boa forma física e com os colegas", há "um pai dedicado e brincalhão e um marido romântico". "Adora surpreender-me, com viagens planeadas por ele e com presentes. Transforma-me na mulher mais sortuda do Mundo!"

No mesmo sentido vão as palavras das pequenas Sophia e Valentina. "Papai, te amamos muito. É o nosso orgulho e as melhores brincadeiras são a seu lado. Adoramos vê-lo jogando, adoramos quando nos leva à escola e nos faz rir a todo tempo! Obrigada, papai! Parabéns!"



"Merece todas as homenagens. Pela trajetória que tem feito no Benfica, mas também por todos os títulos que tem conquistado", começou por dizer o defesa-central do Zenit ao nosso jornal.
Como recordação, El Negro guarda a forma como foi acolhido no plan tel por um jogador que considera ser um líder: "Recebeu-me de uma forma excecional. Aprendi muito com ele. Como capitão, era um exemplo a seguir, mas também o era como pessoa. Espero que continue a desfrutar de tudo o que o futebol lhe dá. Merece continuar a desempenhar uma profissão que o apaixona." *


Francisco Oliveira, scouter do Benfica no Brasil, aconselhou Luisão a José Veiga, então dono da Superfoot. Deixando grandes elogios a um homem "de família, amigo de todos e gente boa",lembra que "o passe de Luisão custou 7,5 milhões de euros". "Estava dividido em partes iguais por Benfica, Veiga, Giuliano e Juan Figger. 

O Benfica, já com Vieira a diretor-desportivo, comprou a parte de Veiga e ficou com metade do passe", diz, falando dos "problemas de adaptação": "Disse ao Veiga para ter calma, porque seria grande jogador."

Luís Filipe Vieira considera que Luisão é mais do que um jogador do Benfica. "É uma referência, um alicerce, uma bandeira do clube, como no passado alguns outros conseguiram ser. São poucos os que alcançam este estatuto, porque poucos são os que têm a fibra e o caráter de Luisão", sublinha o presidente do emblema da águia.

Eleito pela primeira vez para a liderança dos encarnados a 31 de outubro de 2003, um mês e meio depois de o central se ter estreado, Vieira lembra-se que Luisão "chegou num tempo conturbado, quando o Benfica lutava por voltar a ser Benfica", acrescentando: "Chegou e – recordo – teve vontade de partir de regresso ao Brasil, tamanhas as carências que o clube vivia nesse tempo." E não deixa de notar que "longe vão os tempos das viagens a Massamá e da falta de chuveiro no duche".

Merece ser acarinhado

O projeto que Vieira tinha para o clube convenceu o agora capitão a não voltar ao Brasil. "Acreditou em mim e nas expectativas de mudança que lhe apresentei. Ficou – devo-lhe isso – e hoje é o único jogador do plantel que pode testemunhar a ‘revolução’ que o Benfica sofreu neste tempo, que também é o seu tempo. Não havia o Caixa Futebol Campus, havia um estádio semidemolido e outro em construção. Não havia local fixo de treino, nem a estrutura de apoio que hoje conhecemos. Mudou muita coisa, e muita coisa vai continuar a mudar."´
O presidente benfiquista, de 66 anos, reforça que Luisão "é um líder, dentro e fora de campo", vincando que "tem o caráter daqueles que não se movem pela necessidade de agradar". "O que faz fá-lo por convicção, gostem ou não. E já viveu muitas incompreensões em função disso, mas nunca vergou, foi sempre fiel aos seus princípios, e é disso que precisamos neste Benfica, gente com valores e princípios."

Para o dirigente, o camisola 4 "merece ser acarinhado como jogador, como líder, mas principalmente como benfiquista que aprendeu a ser". "Aos mais novos, transmite os valores e a mística do clube; nos treinos e fora deles, é um profissional exemplar, e a sua dedicação, rara nos tempos que correm, deve ser apontada como exemplo no mundo do futebol", conclui Vieira, que distinguiu Luisão em fevereiro de 2013, pelos 350 jogos de águia ao peito.

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