quinta-feira, 11 de maio de 2017

"EXISTE PRESSÃO PARA O TETRA, MAS É BOA, TRÁS MAIS FORÇA"


"Venceu oito campeonatos pelo Benfica, mas falhou o tetracampeonato três vezes. Sempre em ano de Mundial. Com as águias à beira do inédito quarto título seguido, Toni recorda histórias antigas e alerta contra os perigos da euforia que vem de fora. Os jogadores, acredita, têm consciência do peso histórico que têm nos ombros.

- Esteve três vezes à beira de um tetracampeonato, em duas dessas vezes venceu os três campeonatos seguidos. Mas faltou o quarto título seguido...
- Perdemos sempre o tetracampeonato em ano de Mundial. Em 1970 (México), 1974 (Alemanha) e 1978 (Argentina). Maldição? Nada disso. Para isso já bastou a do Guttmann.

- Em que altura esteve mais próximo o tetracampeonato?
- Esteve quase, mas faltou sempre o quase. Em 1969/70, o Sporting foi campeão. Em 1973/74, vencemos os dois jogos com o Sporting. Em Alvalade, ganhámos 5-3, três semanas antes do 25 de Abril. Foi a última aparição pública de Marcello Caetano. Nesse ano perdemos também a Taça de Portugal com o Sporting, no prolongamento. Fomos para o intervalo a vencer 1-0, o Eusébio entrou para o meu lugar na segunda parte, e sofremos o golo do empate já perto do fim do jogo.

- Em 1977/78, o FC Porto foi campeão na diferença de golos...
- Empatámos 1-1 com eles na Luz, depois 1-1 nas Antas. Estamos a ganhar 1-0, o Shéu cruzou para o Humberto Coelho, mas o cabeceamento foi à trave. Era o 2-0. Depois, a sete minutos do fim, o Ademir fez o golo do empate.

- O tetracampeonato era uma obsessão?
- A única obsessão era o de ser campeão. Era o nosso objectivo todos os anos. O Benfica conquistou muitos campeonatos na década de 70, mas existirão anos de transição. Em 1972/73, os pontas de lança do plantel era, Nené, Jordão, Eusébio, Artur Jorge e Vítor Baptista. Mas o nosso objectivo, o dos jogadores do FC Porto e do Sporting era ser campeão. Mas sabíamos que estávamos próximos de fazer história com o tetracampeonato.

- A história está agora próxima de ser alcançada...
- Como os jogadores do Benfica sabem que estão muito perto de fazer história. Em 113 anos, o Benfica nunca conseguiu alcançar o que agora está tão perto. É uma pressão acrescida para o tetra, mas é boa, traz mais força.

- Esse encontro com a história não pode trazer ansiedade à equipa no jogo com o V. Guimarães?
- Pode, como é óbvio. Pode trair os jogadores. Mas não me parece. Há muita euforia, mas vem de fora, não vem de dentro. Os jogadores têm noção da página que podem escrever. Podem chegar à glória. Mas ainda falta o quase. Em 2013, o Benfica tinha cinco pontos de avanço a três jornadas do fim e não foi campeão. Aprendeu com isso. Agora tem os mesmos cinco pontos de avanço, mas só faltam dois jogos para o final do campeonato.

- O tetracampeonato está muito próximo. Considera que o Benfica tem condições boas para depois procurar o quinto título consecutivo?
- Primeiro é preciso vencer este campeonato. O Benfica fez uma travessia no deserto de 11 anos, de 1994 a 2005. Nesse período cometeram-se muitos erros na construção dos plantéis, abriram-se as portas a muita mediocridade. Ao invés o FC Porto, com a estabilidade de ter o mesmo presidente, foi mais certeiro na construção de plantéis. O Sporting cometeu os mesmos erros. O Benfica só estabilizou quando montou esta estrutura. Agora, se o Benfica continuar com esta estrutura montada, ficará sempre mais perto da glória."

Entrevista de Rui Miguel Melo, a Toni, in a bola

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