Está calor. O Benfica procura um central, como se não soubéssemos já a falta que ele fazia, o Sporting tem os pontas de lança condicionados, e são nada menos de três, e o FC Porto, em êxtase, lambe ao sol as feridas cicatrizadas. Pelo Minho, o Sp. Braga e Abel parecem ter conseguido estabilizar a equipa, ao contrário do V. Guimarães, onde os sócios se viram ao presidente e o bruxo de Fafe lidera a amostragem de lenços brancos a Pedro Martins.
É neste clima quente na temperatura do ar, mas brando na emoção futebolística, que tivemos de novo de nos concentrar na Seleção e nas escolhas de Fernando Santos, sempre erradas para muitos entendidos de bancada – televisiva ou de cimento – mas sempre vitoriosas. Aliás, a pálida exibição em Andorra teve pouco a ver com as opções do engenheiro, com o estilo de jogo ou, sequer, com as lamentáveis condições daquele terreno forrado a alcatifa de má qualidade.
Queiramos ou não, é a cabeça dos jogadores que decide o que se faz dentro do campo, e muito mais quando se reúne um lote de profissionais que, em termos de capacidade técnica, dará uns 20-0 aos amadores pirenaicos. Vêm aí semanas terríveis nos clubes, com desafios de três em três dias e uma competição duríssima pela titularidade e pelos resultados desportivos que resultarão em maiores ou menores proveitos financeiros. Alguém podia sentir motivação para correr desesperadamente atrás da bola, numa partida contra amadores acampados, sabendo que amanhã, na Luz, vai ser mesmo preciso esticar a corda e sofrer? Foi cumprir os serviços mínimos e, ainda assim, palmas para Fernando Santos. Para jogar metade do tempo, Cristiano não deveria ter alinhado de início – como logo criticaram as arvéloas do costume – mas entrar, como entrou, para a segunda parte, altura em que as pernas dos toscos teriam de começar a ceder.
O último parágrafo tem dedicatória tripartida. Primeiro para Raul Meireles, um dos jogadores que mais me encheu as medidas em décadas a ver futebol. Injustamente não incluído na convocatória para a fase final do Euro’2016 – ele que soma quase 150 jogos ao serviço das seleções nacionais – nesse mesmo verão, aos 33 anos, pôs fim a quatro épocas de ligação ao Fenerbahçe. Antes, havia tocado o topo do Mundo ao atuar no FC Porto, no Liverpool e no Chelsea – o Boavista que me perdoe. Desde então, tem estado parado, circulando agora rumores de que poderá voltar a Inglaterra, onde o seu nome tem cartaz. Oxalá se confirme! A segunda dedicatória vai direitinha a um príncipe do futebol, pela inteligência, capacidade de liderança e postura: Lito Vidigal, em boa hora regressado ao campeonato português. Que seja de novo feliz, como merece. Finalmente, o aplauso para um talento puro, Bryan Ruiz, pela magistral jogada que iniciou e que, terminando em golo, qualificou a Costa Rica para o Mundial. Chapeau, génio!
Alexandre Pais, in Record
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