quinta-feira, 19 de outubro de 2017

ENTRE TUDO E NADA TUDO


"A Juventus está distante cinco pontos do Nápoles, tantos como os que separam o Benfica do FCP e também não está moribunda.

Introdução (triste)
Não é fácil escrever depois de mais uma tragédia que se abateu sobre parte de Portugal e que vitimou pessoas indefesas. Nesta alturas, percebemos melhor quão efémero são estas coisas da bola, perante a morte e a destruição. Agora o luto, depois os relatórios, logo a seguir a distribuição de culpas, por fim o corrosivo esquecimento. Nestas alturas lembro-me do que escreveu o pensador Emmanuel Levinas: «Somos todos responsáveis por tudo e por todos perante todos, eu mais do que os outros. Não devido a esta ou àquela responsabilidade, mas porque sou responsável de uma responsabilidade total». Bom seria que responsáveis políticos e institucionais reflectissem sobre estas palavras...

O campeonato ainda vai no balneário
Volta o campeonato no próximo fim-de-semana. Depois de três semanas de interregno. empo para reganhar forças, alimentar esperanças e consolidar objectivos. É a magia da incerteza que tudo alimenta e revigora. O Benfica, em particular, foi sujeito a uma proclamada terapia de confiança e vai ter, nestes próximos dias, desafios importantes para se saber que condições tem para recuperar o atraso e sagrar-se pentacampeão.
A propósito de campeões, uma breve passagem pelos principais campeonatos europeus evidencia-nos quanto está a ser ingrato esta fase vestibular da competição para os campeões incumbentes. Vejamos, através da tabela seguinte, do pior para o melhor:

Jornadas Realizadas-13; Clube em 1.ª lugar-Cluj; Clube Campeão-Vitorul; Série-campeão; Actualmente-8.º; Distância-15 pontos
JR-10; C-Brugge; CC-Anderlecht; S-campeão; Act.-5.º; D-9 pontos
JR-12; C-Zenit; CC-Spartak; S-campeão; Act.-5.º: D-9 pontos
JR-8; C-Manchester City; CC-Chelsea; S-campeão; Act.-7.º; D-9 pontos
JR-9; C-PSG; CC-Mónaco; S-campeão; Act.-2.º; D-6 pontos
JR-11; C-Young Boys; CC-Basileia; S-octocampeão; Act.-4.º; D-5 pontos
JR-8; C-FC Porto; CC-Benfica; S-tetracampeão; Act.-3.º; D-5 pontos
JR-7; C-Galatasaray; CC-Besiktas; S-campeão; Act.-2.º; D-5 pontos
JR-8; C-Nápoles; CC-Juventus; S-hexacampeão; Act.-3.º; D-5 pontos
JR-7; C-PAOK; CC-Olympiakos; S-heptacampeão; Act.-6.º; D-4 pontos
JR-8: C-PSV; CC-Feynoord; S-campeão; Act.-2.ª; D-3 pontos
JR-8; C-Borussia Dortmund; CC-Bayern; S-pentacampeão; Act.-2.º; D-2 pontos
JR-11; C-Shakthar; CC-Shakthar; S-campeão; Act.-1.º; D-0 pontos

Com excepção do campeão ucraniano treinado pelo português Paulo Fonseca, todos os outros treze campeões da passada época não estão, nesta altura, no primeiro lugar da classificação- Em condições normais, alguns mesmo estarão já até afastados do título. É o caso dos vencedores romeno, belga e russo! O crónico campeão helénico está agora na 6.ª posição. Já o Real Madrid que chegou a estar a sete pontos, reduziu na última jornada para cinco a distância para o Barcelona. O Chelsea dificilmente será campeão, agora a nove pontos do líder (ainda que na Inglaterra tudo seja possível...). Isto sem que daí se diga que merengues e ingleses estejam em crise. A própria Juventus está distante cinco pontos do Nápoles, tantos como os que separam o Benfica do FCP e também não está moribunda. A única situação racionalmente expectável é a do Mónaco, perante o todo-poderoso PSG.
Não que este comparativo me console muito perante o atraso (absolutamente recuperável) do meu clube. Mas evidencia uma lógica arduamente competitiva que se espalha pelos principais campeonatos. O que os torna mais aliciantes e menos sujeitos a regras consuetudinárias. Aliás, basta para isso, e em termos matematicamente probabilísticos, constatar a maior dificuldade em voltar a ser campeão quanto mais vezes um clube e for consecutivamente.
Senão vejamos em Portugal, considerando (simplificadamente) que um dos três chamados grandes é campeão. Num primeiro ano a probabilidade - matematicamente teórica - de vencer a prova é de 1/3. No segundo ano, será de 1/3x1/3=1/9. Para um tricampeonato, essa ocorrência é de 1/3x1/3x1/3=1/27. O tetracampeonato depara com uma probabilidade de 1/3x1/3x1/3x1/3=1/81. Assim, em 2016/2017, o Benfica dinamitou a probabilidade estatística. Para se alcançar um penta, teremos, teoricamente, 1/3x1/3x1/3x1/3x1/3=1/243. É claro que estas são as probabilidades ab initioe não no ano de cada uma das vitórias seguidas. Ou, por outras palavras, a probabilidade de o tetracampeão Benfica ser este ano pentacampeão é de 1/3.
Probabilidades à parte, o campeonato ainda só atingiu 23% do seu percurso. E, como gostam de dizer os puristas da bola, o Benfica só depende de si, pois que ainda não jogou com nenhum dos rivais e as distâncias são de cinco e três pontos. Só depende de si - repito - o que, porém, já não é nada pouco. Ou seja, apesar de algumas dificuldades notórias para ser igual à equipa de 16/17, a chave da solução está dentro e não fora. Por isso, acredito.

Os equipamentos
semana passada referi-me, de passagem, à camisola do Lusitano de Évora que, como verifiquei no jogo da Taça, continua a ser a que era há 50 ou 60 anos. Uma espécie de Vitória de Setúbal com listas verticais de mais magro orçamento. Entretanto, entretive-me a pensar em velhinhos equipamentos de equipas que, no meu tempo de menino e moço, jogavam na primeira divisão. Lembrei-me logo da CUF do Barreiro, tal e qual o arsenalista Braga, mas de verde equipado. E do Caldas e Sanjoanense que faziam da cor das cores - o branco - e da não cor das cores - o preto - belíssimos e austeros equipamentos.
Hoje, impõem o marketing, as vendas comerciais e a televisão a cores que os equipamentos, sobretudo os alternativos, mudem todas as épocas, com direito a acontecimento. Sinceramente, não é coisa que me entusiasme. Porto-laranja ou Porto-chocolate? Sporting-amarelo fluorescente tipo polícia de estrada? Benfica-rosa ou Benfica-cinzento pardo? Por mim, dispensaria. Mas compreendo que impulsione vendas e entusiasme coleccionadores.
Há anos escrevi na minha anterior coluna em A Bola que o Benfica tem nas suas três cores fundacionais (vermelho, branco e preto) muitas alternativas, pelo que não compreendo as cores mais ou menos indefinidas e até tristes e pouco arrebatadoras, senão mesmo indefinidas. Mesmo sem daltonismo, imagino a discussão sobre o actual equipamento alternativo: cinzento-escuro, cinza-ardósia, cor de rato, etc. E há outro aspecto que, confesso, tenho dificuldade em compreender: o emblema do clube na camisola, em cor branca e cinza! Mas agora será que o emblema original se pode mudar em função de merchandisingou de uma moda transitória? De todo, não concordo.
Até a Selecção muda constantemente e, não raro, para pior. Já não chega termos uma bandeira que não favorece os equipamentos, e ainda por cima não há preocupação de unidade na representação do país: no futebol é vermelho a cheirar a salmonete, no atletismo é verde, no hóquei às vezes é azul e branco tal qual a bandeira da monarquia, etc. No futebol, temos, aliás, a originalidade de o equipamento vermelho ou verde não respeitar até as cores da bandeira. Do vermelho já falei, do verde desmaiado não podia ser mais feio. Pode ser que melhore agora que o campeão europeu vai, nessa qualidade, ao Mundial da Rússia.

Contraluz
- Número: 18 anos, 1 mês e uns dias
A idade de Svilar, novel guarda-redes do Benfica. Hoje, arrisca-se a ser o guarda-redes mais jovem desde sempre na Champions, destronando o seu ídolo Iker Casillas. Será que vai tirar o lugar ao Júlio César que podia ser pai dele?
- ProtestoO Illiabum.
Clube da minha cidade natal - Ílhavo - está a fazer um início de Liga, em basquetebol, absolutamente notável. Três vitórias em três jogos, duas das quais como visitante contra o FC Porto e CAB Madeira. Acontece que, no passado domingo, em A Bola, se escreveu em referência ao Illiabum «a equipa do concelho de Aveiro...». Já nos chega o farol de Ílhavo (Barra), que muitos chamam abusivamente farol de Aveiro!
Expressão«Dormir com bola»
Ora aqui está um jargão do futebolês, ainda que com aproximação anatomicamente fálica. Se bem interpreto esta neófita expressão, o melhor sítio para 'dormir com bola' é na linha de cabeceira, se possível chegado ao canto. Não sei, também, se o excesso de «dormir com bola» não estará relacionado com a cafeína para tal se impedir. Confesso que dormir com bola é coisa que, não raro, me acontece em jogos de indisfarçável desinteresse. Só acordo com aquela sinalética do árbitro a desenhar com os dedos um ecrã televisivo."

Bagão Félix, in A Bola

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