sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

GUERRA DOS SEXOS: TREINO NO FEMININO


Nas últimas décadas a diferença nos recordes do mundo entre homens e mulheres, dos vários desportos “cronometrados” tem vindo a diminuir, cifrando-se entre os 10 e os 12 % nas provas de atletismo acima dos 100m, entre 20 e 30% em provas em que predominem os membros superiores, como o remo e a canoagem, mas podendo chegar a apenas 5 % nas provas mais longas de natação em águas abertas. A maior participação das mulheres no desporto de alto rendimento neste período parece ter uma influência decisiva (a participação olímpica feminina aumentou de 4 para 45% entre 1924 e 2016), no entanto, será que a adaptação dos modelos de treino ao sexo feminino não terá contribuído para esta “aproximação”?
Mais do que entrar na comparação entre sexos importa realçar a necessidade de adaptar o treino às diferenças fisiológicas entre eles. Ou seja, o treino das mulheres não deve ser apenas uma replicação condensada ou “mais lenta” do treino dos homens. Infelizmente, a investigação Mundial em Desporto e Medicina do Exercício é assimétrica e apenas cerca de 35% dos estudos publicados contemplam atletas do sexo feminino, ou seja, ainda há lacunas no conhecimento que a investigação científica atualmente não consegue colmatar.
No entanto, para além das diferenças psicológicas, que não serão abordadas neste espaço, em termos gerais, há diferenças fisiológicas que são incontornáveis. Por exemplo: as mulheres têm menos massa muscular, corações e pulmões menores, maior percentagem de massa gorda, menores concentrações de hemoglobina por peso corporal, entre outras. Por outro lado, estudos recentes apontam que as mulheres são mais económicas e resistem mais à fadiga do que os homens em determinadas tarefas. Em termos de performance as diferenças advêm sobretudo dos níveis de testosterona e de estrogénio e da composição e tamanho corporal.
Uma das grandes condicionantes parece ser o ciclo menstrual que implica diferentes respostas ao longo de um mês de treino ao nível da regulação dos fluídos, temperatura corporal, pressão arterial e metabolismo dos substratos energéticos, entre outros. Por exemplo, dependendo da fase do ciclo menstrual as mulheres podem estar mais disponíveis para metabolizar hidratos de carbono e por isso mais recetivas a treinos de alta intensidade do que noutras fases.
A resposta não passa por segregar fisicamente as equipas por sexo, o que acontece naturalmente pelas especificidades do calendário competitivo nas modalidades coletivas, mas sim adequar o treino às necessidades fisiológicas de cada sexo, para que os resultados sejam melhores transversalmente. Nas modalidades individuais, condicionantes de espaço ou de recursos humanos podem dificultar a tarefa de responder às necessidades específicas do indivíduo. Por exemplo, na natação é comum encontrar-se a treinar no mesmo grupo homens e mulheres (uma vantagem para este desporto) que realizam a mesma tarefa indiscriminadamente, porque o clube não tem pistas ou treinadores suficientes para individualizar o treino. No entanto, ao nível do alto rendimento, em certos momentos, esta individualização é indispensável para que possamos capitalizar os talentos desportivos que ainda vamos apresentando.
Longe vão os dias da ideia do “sexo fraco” que devia ser protegido de cargas elevadas ou no extremo da prática de algumas modalidades (maratona) ou componentes de treino (treino de força, por exemplo), mas as diferenças fisiológicas entre sexos que condicionem as respostas ao treino das capacidades físicas determinantes para uma dada modalidade devem ser levadas em conta no planeamento a curto e longo prazo dos treinadores.
Joana Reis, in a Bola

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