quarta-feira, 6 de junho de 2018

DIGNIDADE ESQUECIDA


1. Quando Bruno de Carvalho foi a votos, apresentou a sua equipa, a sua comissão de honra, o seu programa e os seus apoiantes.
Foi nesse conjunto que os sócios votaram.
São conhecidas as renúncias de parte importante dos órgãos sociais, a retirada de indefetíveis, as clivagens na base social que suportava a candidatura, a desmobilização, as críticas públicas - e muitas vezes contundentes - à sua atuação.

Os pressupostos sobre os quais, a atual direção do Sporting alicerça a sua legitimidade, deixaram de existir, pelas razões mencionadas. O Brunismo de hoje, é uma versão mirrada e pálida, da euforia "bardamerda", da noite das eleições.
2. Os lamentáveis acontecimentos da Academia foram muito mais do que um ato de terrorismo.
Aquelas agressões, feriram muito mais do que jogadores e equipa técnica; atingiram o âmago dos valores sportinguistas, permanecem como uma chaga dolorosa e sobretudo, levantaram uma série de dúvidas profundas e sistemática, sobre os métodos de governance do clube, a relação com as claques e a sua manipulação, a política de relacionamento com os jogadores e muito mais.
Mesmo que a direção do clube e a administração da SAD não sejam responsáveis pelo que sucedeu em Alcochete, numa pura ótica de relação causa-efeito, nem por isso podem sacudir responsabilidade institucional, porque o que aconteceu não foi por acaso, foi antes o perverso corolário de um modelo de gestão, centrado no voluntarismo comportamental e comunicacional do presidente da direção.
Os acontecimentos da Academia não podem ser, como os fogos de Pedrogão, culpa de ninguém, porque um clube como o Sporting, mesmo com a gente que o dirige, deve rege-se por imperativos éticos, que a política, infelizmente, parece já ter perdido.
3. Dos fatos que integram a justa causa de rescisão unilateral do contrato do Rui Patrício, ressalta uma cristalina evidência: o atual presidente da direção é parte de um grande problema e não é parte de nenhuma solução.
A forma e o conteúdo das comunicações, que o presidente da SAD se arrogava o direito de dirigir aos jogadores - pergunto ao abrigo de que modelo de governance ? - não podem deixar de criar junto destes justificado mal-estar e ressentimento.
Tanto mais, provindas de quem cavalgava, com colagem adesiva, os êxitos desportivos da equipa de futebol; ou já nos esquecemos das voltas olímpicas e dos agradecimentos arrebatados no final dos jogos?
Enquanto a atual direção se mantiver, a SAD corre o risco de mais rescisões, porque - agora percebemos porquê - os jogadores não vão com a cara do Bruno.
A política de relacionamento com os profissionais falhou e o risco de permanência da direção, é o risco de perda irremediável de ativos valiosos e da solvência da SAD.
Compreendem agora, porque falo em dignidade?
Carlos Barbosa da Cruz, in Record

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