segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

DE ISTAMBUL A GONDOMAR


"Como escreveu o escritor espanhol Francisco Quevedo «o que se aprende na juventude dura a vida inteira»

1. Comecei a escrever este artigo na manhã da passada sexta-feira em Istambul. Olhando para o Bósforo e sentindo a vibrar a cidade que liga a Europa e a Ásia. Na história também é referenciada como Constantinopla e nela encontramos, entre outros, o Obelisco de Teodósio, a Cisterna da Basílica (ou Palácio Subterrâneo) ou a emblemática Mesquita Azul, um dos marcos na história otomana. E foi em Istambul que, na chuvosa e fria noite anterior, o Benfica fez história. Por duas razões. Desde logo pela primeira vitória frente a clubes turcos. Depois, por Bruno Lage ter apresentado o onze inicial mais jovem entre as quarenta equipas que entre terça e quinta-feira participaram nos dezasseis e nos oitavos de final da respectivamente Liga Europa e Liga dos Campeões. E estou certo que com os jogos da próxima semana nestas duas competições europeias - com as outras oito equipas da Liga dos Campeões - continuará a ser o onze mais jovem deste momento das competições europeias. É uma grande notícia para o Benfica e, também, para o futebol português. A média de idades foi de 22,9 anos. E a seguir só Borussia Dortmund, Ajax e Dínamo Kiev. Com a particularidade deste clube ucraniano ter utilizado sete jogadores da sua formação e o Benfica e o Ajax seis. E, no polo contrário, deparamos, no que concerne ao onze inicial o Galatasaray, o Fernerbahçe, o Eintrach de Frankfurt, o Porto e o Inter de Milão com zero jogadores e o PSG, o Tottenham, a Lazio e o Nápoles, entre outros com apenas um jogador da respectiva formação. Constamos que os grandes e mais ricos clubes da Europa compram grandes nomes. Os clubes que, sendo grandes, estão em ligas periféricas se apostaram, em tempos próximos, em formação de qualidade estão a recolher os primeiros frutos de uma aposta consistente e estratégica. E acredito que esta aposta no Seixal e na sua Academia - em que importa salientar e cumprimentar a persistência, diria que por vezes a resiliência, de Luís Filipe Vieira! - permite que o Benfica, este Benfica, sem euforias e com efectivo realismo, possa sonhar, com plena legitimidade, num futuro sustentado e sustentável em termos de futuro próximo quer em termos internos quer em termos europeus. Ao recordar aquela espinha central no jogo da passada quinta-feira - Rúben Dias e Ferro, Florentino e Gedson, mais o João Félix e o Yuri Ribeiro - não deixei de enaltecer a coragem e a ousadia consciente de Bruno Lage - que esteve pouco tempo, mas com uma impressionante dignidade, no Sintrense quando  estive a liderar o Município! - e de sublinhar estes miúdos coragem que não se perturbaram com o ambiente, bem turco, de um Estádio em que cinquenta e dois mil turcos tentaram condicionar a equipa adversária e a espanhola equipa de arbitragem e a quase abafar o apoio e os aplausos de poucas centenas de portugueses(as), e entre eles e elas a simpática e eficiente tripulação da TAP que nos transportou de Lisboa a Istambul. Foi mesmo, em termos de futebol, um grande manjar. Depois de uma longa visita ao singular e único Grande Bazar. Bazar e manjar foram duas notas relevantes nesta visita do surpreendente jovem Benfica a Istambul. Com a esperança que na próxima quinta-feira, com a mesma sabedoria e sem nenhuma euforia, conquistemos, com todo o mérito desportivo, a passagem aos oitavos de final desta Liga Europa. Para já, e com este onze de Istambul, a Europa do futebol fixou, uma vez mais, os olhos no Benfica e, logo, no futebol português. O que implica o reconhecimento deste papel de verdadeiro embaixador do Benfica. Mesmo que tenha recebido, com um efectivo sentido de oportunidade a notícia da interdição do Estádio da Luz por quatro jogos na véspera deste jogo em Istambul. O sentido de oportunidade tem de ser entendido com efectiva consideração. E, logo, as cautelas que surgem e são solicitadas e, também, as calmas sugestões de alguns intervenientes que evidenciam uma estratégia de não confronto que só alguns distraídos não percebem ou porventura, não querem entender! Mas o essencial é que, amanhã, o Benfica, com o colinho dos seus milhares de adeptos, ultrapasse o Aves - agora liderado pelo sagaz Augusto Inácio - e continue a motivar toda a sua imensa massa associativa. Sabendo todos nós que a combinação entre a juventude e a sabedoria dos mais velhos - ou diria menos jovens! -  é mais do que meio caminho andado para ambicionada reconquista. Mas como escreveu o escritor espanhol Francisco Quevedo «o que se aprende na juventude dura a vida inteira». E este jogo de Istambul para estes jovens jogadores vai durar a vida inteira! Como a acrescento para nós! Do Bazar ao manjar no Estádio!

2. Gostaria de fazer uma anotação ao acórdão de 12 de Fevereiro de 2019 proferido pelo Pleno da Secção Profissional do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol e que impôs a sanção disciplinar de interdição do Estádio da Luz por quatro jogos e a sanção pecuniária de 28888 Euros. Sei que uma competente - competente e com grandes capacidades e sagacidade jurídicas - equipa de juristas apresentará uma providência cautelar de suspensão da eficácia de acto e não deixará de suscitar interessantes questões jurídicas, incluindo, digo-o, questões de não conformidade constitucional de normas - por exemplo do artigo 24.º - da Lei 39/2009 na redacção que lhe foi dada pela Lei 52/2013 de 25 de Julho. Fica prometida para um próximo artigo com a certeza que haverá tempo para descortinar da bondade dos argumentos que constam de um longo acórdão e de algumas pertinentes questões jurídicas nele ou abordadas ou outras, decerto por opção, não afloradas ou, até, suscitadas. Mas como escreveu George Sand «a recordação é o perfume da alma»! E nós no que concerne a recordações, incluindo jurídicas, já temos algumas... Que cada vez podem ficar mais tempo escondidas!

3. Duas notas finais. A primeira para sublinhar a goleada do Nacional ao Feirense. Não gostei nada, mesmo nada, de insinuações suscitadas a respeito do profissionalismo dos jogadores do Nacional. Cada um de nós já teve dias infelizes. Muito infelizes. Diria, assim, e acompanhando o grande Virgílio Ferreira que importa, por vezes, fecha «os olhos para não seres cego». A segunda para sublinhar a final d Europeu de futsal feminino que decorrerá no final do dia de hoje no esgotado e atractivo Pavilhão Multiusos de Gondomar. Tal como há quase um ano - foi a 10 de Fevereiro de 2018 - poderemos conquistar este Europeu. Voltamos a defrontar a Espanha e seria mais um grande momento da nossa Federação, do seu Presidente e de uma estrutura competente e eficiente. E um momento histórico para um grupo de jovens jogadores - como Janice Silva e Inês Fernandes, Ana Catarina e Pisko, Carla Vanessa e Jenny, entre outras e entre elas, e com os seus risonhos 18 anos, a benfiquista Filó! Também, aqui, se sente que «a mocidade é temerária». Mas há certa qualidade e há muito talento. E também intensa vontade e verdadeira fé. E «onde há vontade forte não pode haver grandes dificuldades»."

Fernando Seara, in A Bola 

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