segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

À BEIRA DO ABISMO


"Metia dó ouvir os adeptos sportinguistas à saída do Estádio de Alvalade após o Sporting-Benfica de sexta-feira passada. A equipa sportinguista até tinha jogado bem, batera-se de igual para igual com o adversário, mas não tivera a chamada “sorte do jogo”.

Nos jogos entre grandes, a sorte do jogo acaba quase sempre por decidir a vitória: é o momento de inspiração de um jogador, uma bola que bate na trave e não entra, uma entrada infeliz de um defesa que provoca penálti, etc. E assim aconteceu mais uma vez: o Sporting atirou um remate ao poste, o Benfica contou com dois momentos de inspiração de Rafa que fizeram o resultado.
Pois bem: os sportinguistas que saíam do estádio, em vez de valorizarem a exibição da sua equipa, em vez de elogiaram os seus jogadores que não se haviam mostrado inferiores aos do líder do campeonato, desmereciam a equipa, atacavam o presidente (o seu alvo favorito), alguns clamavam pelo regresso de Bruno de Carvalho. Como é possível desejar o regresso de um homem que prometeu muito mas acabou por deixar o clube em pantanas? Um homem que directa ou indirectamente esteve por detrás da invasão de Alcochete?
As cenas ocorridas dentro do estádio já prenunciavam o pior. No início da segunda parte, quando ficou mais perto da sua claque, a equipa leonina foi “apedrejada” com tochas durante cinco longos minutos, e nas bancadas viam-se focos de incêndio. É assim que os fanáticos sportinguistas apoiam os seus jogadores? Perante estas cenas, eles até foram uns heróis, impondo-se no segundo tempo ao adversário e fazendo um belo jogo. Deve ser muito difícil um profissional de futebol actuar num clube que tem adeptos destes.
Esta gente já pôs o Sporting à beira do abismo. É muito difícil um clube sobreviver a uma guerra como esta, que está a esfacelar-lhe as entranhas. Aplaudo com as duas mãos a coragem de Frederico Varandas ao decidir enfrentar as claques. Mas pergunto: terá ele condições para as vencer? Não estará a fazer o papel de D. Quixote? É que, como a História mostra com frequência, não basta ter razão para ganhar batalhas. É preciso ter força. E de que lado estará a força neste momento: do lado do presidente ou do lado das claques?
O Sporting tem de fazer uma profunda reflexão interna. E das duas uma: ou Varandas mostra força para submeter os rebeldes e os reconciliar com o clube, ou tem de abrir o diálogo com eles e chegar a um acordo. E, se ele não o quiser fazer, terá de ser outro a fazê-lo. Assim é que não é vida. O Sporting já não está muito forte. Se parte dos adeptos ainda se divorciam do clube e fazem guerra à outra parte, daqui para a frente, o clube irá sempre a cair. Até chegar a um ponto de não retorno."

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