"As pequenas coisas são por vezes as sementes das grandes obras. Neste caso, isso é verdadeiramente literal porque, se é de sementes que falamos, é também uma obra imensa que está em causa, um verdadeiro desígnio nacional que ocupou tudo e todos antes de a pandemia se instalar e que, sorrateiramente, pelo calor do estio e pelos ventos de verão, voltou a destruir florestas e bens, mas sobretudo, de novo dramaticamente, a ceifar vidas humanas. Falo de incêndios e de florestas que dimuem e se desqualificam a cada ano que passa. Infelizmente, as políticas públicas, por mais que se esforcem, com a sua complexidade e tempos de maturação, não acompanham nem o ritmo nem a simplicidade de um incêndio. Perante isto, não podemos continuar a olhar para o lado e a queixarmo-nos da lentidão das instituições nacionais, ou do 'país que temos', como se dele não fizéssemos parte. Esta é uma guerra que, tal como a covid nos ensinou, não se vence sem cada um de nós, pelo contrário, vence-se com cada um de nós, no dia a dia, semeando acções virtuosas e praticando comportamentos que previnam ignições, que ajudem as instituições na sua missão e que facilitem a implementação colaborativa das políticas públicas e a sua integração com a acção privada. Não tenhamos ilusões, este novo século trouxe-nos a evidente certeza de que a sociedade civil está convocada para todos os grandes desafios colectivos. Mais, sem ela nenhum será vencido. Nós, no Benfica, sabemos bem isso e valorizamos o exemplo, a inovação e a excelência. Por isso, quando o país ardeu como nunca, além de ajudarmos as forças de segurança na logística do combate e de contribuirmos activamente para a reconstrução, investimos em projectos socioeducativos capazes de modificar comportamentos de risco e regenerar a floresta. Num desses projectos, 'Faz da tua Escola um Viveiro', procuravam-se sementes vivas por entre a terra queimada, almejávamos árvores autóctones e gente local que as semeasse, em escola, em comunidade, em família. E foi assim que, por entre escombros, na martirizada serra da Lousã, encontrámos uma maternidade de árvores cultivadas há anos por uma pequena organização e activistas visionários. Encantou-nos esta Lousitãnea e, num ápice, nos fizemos parceiros numa grande obra de regeneração da floresta e das gentes que a sustêm, que dura até hoje e continuará certamente, recobrindo de verde o negro-cinza que sobra de cada incêndio e teima em querer eternizar-se na paisagem."
Jorge Miranda, in O Benfica
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