"Já sem bola, mas sempre com o cérebro, Pablito Aimar continua a espalhar magia, não com passes de letra, fintas incríveis ou assistências que rompem qualquer equipa, mas com palavras e com a inteligência que sempre primou. Aimar foi um jogador fenomenal, um dos maiores criativos que passou pelo nosso campeonato e que, mesmo não tendo o rendimento que atingiu na sua carreira, deixou saudades pelo seu carisma, pela sua diversão em campo e pela criatividade com que abordava cada lance. Já retirado, hoje é um excelente treinador e formador de jovens jogadores, mostrando virtudes que já apresentava dentro do campo: inteligência, a priorização pela tomada de decisão, e o foco na alegria dentro do campo, contribuindo com reflexões importantes e muito acertadas sempre que fala sobre o jogo.
Pablito é o treinador dos sub-17 da Argentina, e também adjunto da Seleção A albiceleste. Ao contrário de muitos outros ex-jogadores, Aimar admite que o seu fascínio e a sua paixão é o futebol de formação, mais do que pelo futebol profissional. Num mundo e desporto cada vez mais mecanizado e uniforme, Aimar apela à criatividade, liberdade e felicidade dos jogadores como ponto de partida para o jogo e treino. Afinal de contas, pessoas felizes trabalham melhor, e o jogador de futebol não é exceção. Para formar jogadores, temos que deixar os jovens jogar. Cada vez mais, como treinadores, queremos que os jogadores aprendam a jogar futebol a ouvir, e não a jogar, a descobrir o jogo por si mesmo e, de forma natural, criarem soluções e opções que os levarão a ser melhores:
“Creo que a los chicos les haría muy bien jugar más, aprender al fútbol jugando y no tanto escuchando esa nueva terminología. Dejándolos jugar, equivocar, crear , inventar. Divertirse y tomarlo como un juego”
“Mas Pablo, para ti e fácil falar quando treinas uma seleção nacional e os melhores jogadores do país, onde não precisas de te preocupar com os resultados”. Mas quais resultados? Quais os resultados mais importantes no futebol de formação? Parece-me óbvio que não é o mesmo formar a ganhar do que formar a perder, mas quando o nosso trabalho é formar pessoas, e só depois jogadores, focarmo-nos principalmente nos resultados irá enfraquecer e ignorar todo um processo que é feito de 11/12 anos de formação. Num jogo de futebol só uma equipa pode ganhar, mas durante 90 minutos TODOS os jogadores podem evoluir, podem aprender, podem tronar-se melhores do que no dia anterior para, e caso o pretendam, ficarem mais perto de chegar a uma equipa sênior, a uma divisão superior, a uma equipa com outros meios para os formar e levar aos seus objetivos, sejam eles quais forem. Esses sim, são os principais resultados que importam na formação: o bem-estar e o desenvolvimento dos jogadores:
“El resultado en juveniles es que esos chicos jueguen en primera. Para nosotros eso es un triunfo ese es el resultado lo vemos solo nosotros. El objetivo es q esos chicos crezcan con armas y autoestima para jugar en primera y algún dia en una selección superior o mayor”
Caminhando para o ponto final deste texto, não nos podemos esquecer que o mais importante no futebol é que os jogadores desfrutem, independentemente de quererem tornar-se jogadores ou não, de praticarem desporto só para serem pessoas saudáveis, ou se aspirarem a jogar no Real Madrid. São estas bases que nunca nos podemos esquecer, como treinadores, pais ou dirigentes: o futebol é deles. O futebol é dos jogadores, eles são os protagonistas, eles são a prioridade de todos nós. Ninguém desfruta de um jogo em que não toca na bola, ninguém desfruta de um jogo em que só ouve gritos a dizer-lhe o que fazer, ninguém desfruta de um jogo em que os pais se insultam uns aos outros, aos árbitros ou aos jogadores/treinadores adversários. Falamos muito de clubes centrados nos jogadores mas, como Aimar diz, “ao sábado esquecemo-nos e gritamos muito”. Por muito bons treinadores que sejamos ou queiramos ser, por muita ambição e vontade que temos que os miúdos evoluam, esta pressão constante sobre eles não os beneficia. Deixemo-los jogar, deixemo-los desfrutar:
” El tema de disfrutar es algo que se dice mucho y después el sábado se les grita mucho. Yo entiendo al entrenador que grita todo el tiempo, porque tiene aspiraciones y quiere crecer.Pero es difícil jugar al fútbol y hacer cualquier cosa cuando te están diciendo que hacer “"
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