"O 'caso' Superliga Europeia trouxe para a agenda mediática temas há muito laterais, que a pandemia veio acentuar, e que merecem um olhar atento.
A forte quebra de receitas deixou muitos clubes em situação crítica. E para gigantes já demasiado endividados, a viverem acima das suas reais possibilidades, a Superliga significaria uma fuga para a frente. Desde logo os adeptos, mas também jogadores, treinadores federações e restantes clubes, impediram, e bem, que tal aberração avançasse. Se é certo que as diferenças orçamentais já tornam hoje o futebol bastante desigual. Institucionalizar essa desigualdade e transpô-la para o próprio modelo competitivo seria contrariar a essência de um fenómeno que, há mais de um século, apaixona multidões.
O modelo da NBA, tão bem-sucedido além-Atlântico, não é exportável para o futebol europeu, onde as identidades regionais, locais e clubistas são muito mais acentuadas. No futebol não se procura um espectáculo, procura-se uma vitória. E não a simples vitória de uma equipa que apoiamos, mas sim a nossa vitória.
Por outro lado, a própria pandemia, a interrupção de campeonatos e os estádios vazios vieram também deixar a nu uma evidência para a qual muita gente talvez não estivesse suficientemente desperta: é que as pessoas não precisam do futebol e podem viver sem ele, o futebol é que precisa dos seus seguidores, sem os quais não sobrevive. Uma mercantilização excessiva que transforme adeptos em meros clientes pode, pois, trazer consequências devastadoras para os clubes, e representar um verdadeiro suicídio - ou seja, matar a galinha dos ovos de ouro."
Luís Fialho, in O Benfica
Sem comentários:
Enviar um comentário