"1. Esta semana tem sido cansativa. Todas as semanas monotemáticas são sempre cansativas. Tem sido assim nos últimos dias: Que opinião tem sobre isto do Enzo? Como é que isto do Enzo vai terminar? Isto do Enzo é uma grande chatice, não é? O que acha disto do Enzo?
2. E também tem sido assim: Isto do Enzo não me sai da cabeça nem de dia nem de noite. Curioso, ocorre-me a mesma coisa ainda que exactamente pela ordem inversa. Como? É que isto do Enzo não me sai do pensamento nem de noite nem de dia. Olhem, para mim, o pior têm sido as tardes, as malditas tardes é que me têm dado cabo do juízo com isto do Enzo.
3. E deste modo tem prosseguido o espírito monotemático da semana: Isto do Enzo está a fazer-me perder a paciência. Perder a paciência não á nada comparado com o que se passou comigo, pois perdi uma coisa bem maior. E perdeu o quê por causa disto do Enzo. Quando o 58B passou para recolher passageiros, estava eu de tal modo embrenhado a pensar nisto do Enzo, que nem dei por aquele bicho parado à minha frente, e o autocarro foi-se embora sem mim.
4. Tem sido assim a semana do benfiquista comum. Mal põe um pé na rua, é interceprado por conhecidos e por estranhos que o obrigam a emitir uma opinião sobre isto do Enzo. Em casa, porém, o sofrimento não é menor. No remanso do lar e, naturalmente, sem pressões do exterior, tudo se resume ao assolamento por intermináveis episódios introspetivos em que a monocórdica expressão 'isto do Enzo... isto do Enzo... isto do Enzo' anda às voltas nos nossos pensamentos sem fazer tenções de sossegar nem de dar sossego.
5. Perante esta cenário proponho uma abordagem diferente à matéria. Acabemos com isto do Enzo. Tenhamos o bom senso necessário para reconhecer que o que está em causa não passa de um 'isto'. E coloquemos os 'istos' no seu lugar. 'Isto' do Enzo, aconteça o que acontecer, é simplesmente a medida do sucesso da contratação do jogador argentino no último verão.
6. É verdade que foi tudo muito depressa - e não o tínhamos previsto? -, mas 'isto' do Enzo é apenas um 'isto' que deve ser olhado como uma coisa boa e não como uma coisa má.
7. Relendo o que escrevi, não posso deixar de me censurar. Que autoridade moral é a minha para dar estes conselhos de ainda não me confirmei com a saída de Fernando Chalana para o Bordéus em 1984? Que desculpa tenho? Para além de muitas outras qualidades, desconfio que o Chalana passava todos os seus fins de ano no Barreiro. Carrega, Benfica!"
Leonor Pinhão, in O Benfica
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