"A última bolacha do pacote
Andam por aí umas bolachas de marca branca a que chamam Belgas que não passam de massa de ovos, farinha, manteiga, açúcar e uma pitada de baunilha, portanto, meio enganosas aos paladares que já tenham passado por alguma confeitaria de Antuérpia.
Diz a publicidade que a última bolacha do pacote é tão boa que nos faz chorar por mais e desejar abrir um novo pacote e que o segredo da receita, em vez do chocolate belga, é o amor de quem amassa os ingredientes.
Devem ter sido mal interpretadas as lágrimas dos portugueses no final do último Mundial, para os pasteleiros da Federação Portuguesa de Futebol recorrerem agora, com um amor esquisito pelas tradições nacionais, à mesma receita pobre dos “waffles” crocantes para degustar os amargos de boca deixados pelos biscoitos FEMACOSA, com a contratação de Roberto Martinez. Trocam-se as últimas bolachas, mas o pacote é o mesmo.
Roberto Martinez, treinador de currículo muito pobre, protegido pela poderosa plataforma de emprego da FIFA, tinha já provocado horror e estupor de francófonos e neerlandófonos quando foi nomeado selecionador da Bélgica para seis anos em que se equilibrou com uma falsa sensação de êxito no topo do absurdo ranking Coca-Cola, em contraste com os repetidos fracassos nas grandes competições: nem no Europeu e nem nas duas Ligas das Nações correspondeu a tal responsabilidade. Seis anos à boleia do 3.º lugar na Rússia, à frente da geração de Courtois, Vertonghen, Witsel, Hazard, de Bruyne e Lukaku, todos então no auge das suas carreiras e ainda sob a liderança de Kompany. À semelhança do que aconteceu a Fernando Santos com Portugal, a qualidade dos jogadores era tanta que a Bélgica chegou perto da final do Mundial, o que ajudou a manter Martinez no posto por mais um ciclo, até cair com estrondo no Catar.
Ele era a manteigada desenxabida a que a Federação belga mais tarde teve de ajuntar o chocolate, tentando, com Thierry Henry, dar ao pacote o equilíbrio que faltava numa mistura de egos e vedetismo que terá redundado em caos no último Mundial, num balneário ainda mais problemático do que o de Cristiano Ronaldo. Respondem-me: a Bélgica tem dominado o ranking Coca-Cola.
Sim, nos meses em que não há grandes competições para disputar, nas fases de qualificação, a selecção de Martinez chegava a impressionar, com uma espinha dorsal que absorvia e disfarçava muitos jogadores de qualidade média, embora com um sistema táctico de 3x4x3 que não se enquadra na escola da Cidade do Futebol - o que ainda adensa mais o mistério desta aposta.
O belga até disse, ao despedir-se no Catar, que os “verdadeiros adeptos” da Bélgica adoravam a maneira como a seleção jogava e que isso era um legado mais importante do que os títulos. Talvez seja o que a FPF procura: agradar aos "verdadeiros adeptos” e compensá-los por seis anos de futebol abaixo do nível. Portugal tem ingredientes futebolísticos para servir doçaria “gourmet” que acompanha melhor com chá do que com coca-cola. Só lhe falta o “topping” do carisma de um confeiteiro de cinco estrelas que, obviamente, Martinez está longe de ser."
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