segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

HISTÓRIAS SEM INTERESSE NENHUM (1)

 


"A velocidade da notícia Antes da invenção do jornalismo de rabo sentado e pés de microfone pelos censores prévios das agências de comunicação, os repórteres tinham uma vida atribulada e aventureira à caça da informação, em que a sorte jogava um papel muito importante. Estar à hora e no sítio certos, com olhos e ouvidos bem abertos, fazia a diferença e influenciou a carreira de muitos jornalistas.
A morte do grande goleador Roberto Dinamite remeteu-me hoje para um desses momentos inesperados, vivido há 40 anos, em Sevilha, quando as comunicações jornalísticas eram feitas por telex e uma telefoto internacional demorava 17 minutos a “passar”.
Ao deslocar-me à sede do Comité Organizador do Mundial de Espanha para tratar da acreditação, deparei-me com os dirigentes da seleção do Brasil que procediam à substituição formal do goleador Careca, lesionado gravemente num treino, precisamente por Roberto Dinamite.
Por sorte pura, transparência das fontes e liberdade de movimentos dos jornalistas, pude dar o que constituiu uma “caxa” mundial, ao confirmar a autorização da FIFA, sem precedentes até então, dois dias antes de começar a prova. Uma coincidência transformada em notícia, muito importante, que chegaria a toda a gente na manhã seguinte.
Deve parecer bizarro à geração das redes sociais e das “stories” instantâneas que as notícias se confirmassem nos locais e presencialmente, sem margem a especulações nem a filtros de comunicação: perguntas, respostas, factos com interesse público, notícia, um ciclo informal mas incontornável.
Por telex, escrito diretamente ao teclado, cheio de gralhas e em caixa alta para alguém, do lado de cá, “picar” e enviar para a “linha” dos clientes da agência e através destes aos leitores, era assim que circulava uma informação várias horas até chegar ao consumidor final.
Na ANOP, fui ensinado a dar a informação correta o mais rapidamente possível e nunca perderei o frenesim de correr para o teclado sempre que tiver uma notícia confirmada. Nem que seja a que não gostei de partilhar hoje, da morte prematura de Roberto Dinamite, maior ídolo do clube mais português do Brasil."

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