sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

PARTIDAS E CHEGADAS



 "O Benfica “partiu” do lugar a que tinha “chegado” na segunda-feira passada e fê-lo por causa de uma primeira parte que não deixará de merecer a necessária reflexão dos jogadores e da equipa técnica. Sem tirar mérito ao bom início de jogo do Sporting, a verdade é que das três oportunidades criadas nos primeiros 45 minutos (sim, não foram mais do que três, ao contrário do que alguns comentários querem fazer crer), todas elas resultaram de incompreensíveis passes ou desconcentrações da equipa. Escrevi na semana passada que o pior que podia acontecer ao Benfica era “pensar que a décima quinta jornada é o ponto de chegada e não, como é, apenas o ponto de partida” e na primeira parte temi que o meu conselho não tivesse sido ouvido, perante um Benfica de “pantufas” que se apresentou em Alvalade perdendo quase todos os duelos, sempre atrasado na disputa da bola e com enorme dificuldade em construir jogo. Depois do intervalo, garantindo o essencial (como aqui tenho escrito, Trubin está um senhor guarda-redes), a equipa soube dar uma resposta à altura, Lage substituiu bem (Barreiro, tal como Amdouni, justificam mais) e podia, se tivesse sido eficaz, ter saído de Alvalade com outro resultado. Diz-se frequentemente que “a última imagem é a que fica” e é com ela que vou deixar partir 2024 na convicção que essa reação, essa segunda parte, seja o ponto de partida para a chegada que todos os benfiquistas desejam em maio de 2025. E, porque o futebol é apenas a coisa mais importante de todas as coisas, pouco ou nada importantes, desejo a todos um ano de 2025 repleto de paz, saúde e sucesso!"

Nuno Magalhães, in Jornal de Notícias

O BENFICA QUE DESEJO PARA 2025

 


"Terminou o ano de 2024 e mais uma vez o Glorioso acaba o ano civil de mãos a abanar. Nem um troféu para amostra. Tal como em 2020. Tal como em 2021. Tal como em 2022. Apenas em 2023 o clube conquistou 2 troféus oficiais no futebol masculino, o Campeonato e a Supertaça. Termina o ano no 3º lugar, depois de perder mais um derby para o Sporting, o 3º consecutivo em Alvalade nos últimos meses, isto já depois de ter despedido um treinador à 4ª jornada com uma indemnização milionária e depois de voltar a gastar consideravelmente mais em contratações que os seus rivais.
Na passagem de ano, há a tradição das 12 passas e de fazer os desejos para o Novo Ano e não tenho problemas em admitir que, entre desejos pessoais, profissionais, financeiros, amorosos, de paz no mundo e essas coisas, enfio/enfiava sempre lá pelo meio querer o Benfica Campeão. E dei por mim na madrugada de 1 de Janeiro a pensar "O que gostava que fosse o Benfica em 2025?". Vieram algumas coisas à cabeça...
- Que o Benfica seja Campeão Nacional, obviamente. E apesar de tudo, é perfeitamente possível. Até pela inconstância dos nossos rivais. Este parece um daqueles campeonatos "à Trapattoni" em que o menos mau vencerá. O Sporting de Amorim parecia imparável e inevitável, mas desde a saída deste para o Man Utd, as coisas alteraram. Veremos como cresce com Rui Borges, mas mesmo a vitória no derby não foi convincente. E o Porto também continua uma incógnita. Claro que o Benfica também não está propriamente uma máquina oleada e tem dado sinais de regressão, depois do entusiasmo com a entrada de Lage.
- Que o Benfica vença a Taça de Portugal e a Taça da Liga. É uma tristeza e uma vergonha reparar que o Glorioso não vence a Taça de Portugal desde 2017. E que apenas venceu 4 nos últimos 30 anos. E que não vence a Taça da Liga desde 2016. Este clube devia fazer-se de conquistas, mas as conquistas têm sido poucas.
- Que o Benfica faça uma boa participação na Liga dos Campeões e no Mundial de Clubes. Não falo em vencer, porque é irrealista, mas o clube pode e deve chegar longe em ambas as competições. Honrando o seu palmarés e lustro internacional.
- Que em Outubro tenha eleições livres, esclarecedoras e democráticas, à Benfica. E que Rui Costa não as vença e que quem o suceda (seja João Diogo Manteigas ou Noronha Lopes, os nomes que se perfilam, ou alguma candidatura ainda desconhecida) faça a limpeza de alto a baixo que o clube precisa. Que acabe com o Vieirismo de vez e traga sangue novo àqueles corredores da Luz e que a sua primeira medida seja uma auditoria profunda a tudo o que se passou no clube nos últimos anos.
- Que a reformulação dos estatutos seja aprovada e finalizada, mesmo que fique o lamento que o nº de votos de cada sócio se vá manter inalterável. Sócios com 3 votos e outros com 50 é algo difícil de entender. Mas houve avanços muito importantes com os novos estatutos.
- Que se aumente a lotação do Estádio para os 70.000 lugares anunciados, que se comece a dar uma roupagem nova ao seu exterior, que se faça o safe standing para a bancada onde estão os No Name, que se incentive cada vez mais o regresso das bandeiras à Luz, que se baixe os décibeis da música nas colunas e que o clube entenda que menos é mais. Menos música, menos speaker, menos instruções aos adeptos de como fazer a festa. Um jogo do Benfica tem que ser uma festa dos Benfiquistas e não uma festa do departamento de Marketing do Benfica em que os adeptos são adereços e joguetes na bancada.
- Que se retire as três estrelas no emblema do clube (uma gabarolice sem sentido), que se coloque a águia de novo a segurar a fleuma e não sentada em cima da roda, que se arranje maneira da vénia dos jogadores no relvado aos adeptos ser muito mais visível e valorizada e não perdida no meio do cântico do hino e que o clube faça esforços para que a entrada dos jogadores volte a ser como antigamente. Primeiro entra a equipa adversária sozinha no relvado e depois o Benfica. Quem se lembra do estrondo no antigo Estádio da Luz quando estas entradas das equipas eram à vez, sabe do que falo. Isso sim, é futebol. E não a coisa sem sal e sabor de entrarem as duas equipas ao mesmo tempo.
- Que o Benfica não apoie Pedro Proença na sua candidatura à FPF, esteja muito atento a quem se quer seguir na Liga (Artur Soares Dias? Lord have mercy) e lute afincadamente pelos seus direitos e grandeza no que diz respeito à centralização dos direitos televisivos, porque se for manso, tem tudo para ser de longe o maior prejudicado nessa negociação.
- Que o Benfica acerte muito mais nas contratações, tanto no futebol, como nas modalidades. É chocante o dinheiro que o clube gasta em tiros ao alvo, de forma recorrente. Ou precisa de novo diretor desportivo ou de repensar o seu sistema de scouting. E que com isso passe a não andar sempre tão desesperado por vender jogadores, com ou sem pressões de Jorge Mendes e consiga reequilibrar as suas finanças, que ainda pioraram mais na Presidência de Rui Costa, em vez de melhorarem. E já agora, que uma visão não tão mercantilista do clube ajudasse a mudar também o paradigma na cabeça dos nossos jogadores, mesmo os que são da nossa formação: que tenham vontade de brilhar mais do que 6 meses no clube e cresçam a pensar na glória do Benfica e não nos milhões lá fora. Aqui estarei a ser muito romântico, eu sei, mas nem é Francescos Tottis que estou a pedir. Só que, sei lá, em vez de irem embora 6 meses depois de explodirem, fossem passados 3 anos. Pronto, vá, 2 anos. Alguém acha que Gyokeres ficava 2 épocas no Benfica?
- Que quem dirige o clube sirva muito mais o Benfica, em vez de se servir, defenda muito mais o clube, em vez de se defender, seja muito mais proativo em vez de reativo e que saiba passar muito melhor aos seus atletas a mensagem e o significado do que é ser Sport Lisboa e Benfica. Que quem apoia o clube seja muito mais exigente, inconformado e revoltado com a ausência de títulos e valores que tem sido a norma no Glorioso de há umas décadas para cá.
Tudo isso acontecesse e seria um Benfiquista feliz. Não acontecendo...lá estarei à mesma. Em todos os jogos, sentado na minha cadeira, pagando todas as quotas e vivendo o Glorioso de forma intensa, na mesma maneira. Nasci Benfica, cresci Benfica, vivo Benfica, morrerei Benfica. Sempre a querer o melhor para o clube."

Filipe Inglês, in ZeroZero

"DEVEMOS COMEÇAR A SONHAR COM UM NOVO ESTÁDIO"

 

Rui do Passo, vice-presidente dos encarnados, falou com entusiasmo de um sonho, de um desafio para
as próximas décadas.

Rui do Passo, vice-presidente do Benfica, deu uma entrevista na BTV na qual falou de vários temas e em particular do Estádio da Luz, no âmbito dos 120 anos do clube.
Partindo do princípio de que o Benfica é «o maior e melhor clube do Mundo», o dirigente, quando questionado sobre desafios para o futuro, defende que o clube deve «continuar com um plano estratégico que assenta em três pilares: sócios e adeptos, títulos e prática desportiva». Diz que o objetivo deve passar por ter «mais sócios, ganhar adeptos» e por «ganhar mais» porque está no «ADN» do Benfica. «Continuar a promover a prática desportiva, mesmo enquanto função social» deve ser igualmente um fio condutor.
Mas é em relação ao Estádio da Luz que Rui do Passo aponta de forma mais entusiasmante para o futuro, para um sonho, um desafio para as próximas décadas, mas que por enquanto não está na agenda da SAD dos encarnados.
«Neste estádio, não podemos ir mais além dos 70 mil, por questões de segurança, comodidade e regulamentação. Temos de começar a pensar num novo estádio. Este estádio começa a esgotar-se», assumiu, olhando para uma capacidade de 120 mil lugares com ilusão e reforçando uma ideia que ainda demorará a ganhar contornos concretos, seguramente, mas que, defende o dirigente, mais cedo ou mais tarde surgirá no horizonte das águias.
Para Rui do Passo esta viragem e a construção de um novo estádio é algo que, tendo em conta o crescimento do clube e a adesão dos adeptos e sócios no futuro, ganhará forma. E até aponta um destino possível para o atual recinto, agregado a outro sonho que tem: «Pode ficar como casa do futebol feminino e do râguebi. Quero sonhar com assistências de 40, 50 e 60 mil a ver jogos de râguebi e futebol feminino. Devemos começar a sonhar com um novo estádio.»
Rui do Passo também falou com determinação sobre o aumento do número de sócios. « Estamos a caminho dos 400 mil sócios. O último [número] de que tive conhecimento foi o 392.202. Acredito que até à data do nosso aniversário estaremos nos 400 mil. Se não estivermos, andaremos lá perto.»

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

DAN.



 "Eusébio, Simões, Humberto Coelho, Coluna, Jonas, Dan.

Conheci o Dan na segunda-feira, 23/Dez, antes do Benfica x Estoril (3-0). Contou-me que passou por Portugal há uns anos e acabou por se apaixonar pelo Benfica. Não me lembro exatamente dos detalhes que levaram um irlandês a ceder ao feitiço das camisolas encarnadas, esta conversa foi acompanhada por várias cervejas, mas sei que não é o primeiro nem será o último estrangeiro a guardar o nosso clube num local especial do seu coração. Como o Dan, e referindo apenas os mais mediáticos, temos vários exemplos: Markus Horn, alemão; Toni Gutierrez, espanhol; Jumpei Fujita, japonês; Pete Domican, inglês. Certamente existirão muitos outros espalhados por esse mundo fora que, por um motivo ou outro, se apaixonaram pelo nosso clube.
Explicou-me num português irrepreensível que aprendeu a nossa língua especificamente para poder acompanhar a vida do nosso clube e, por esta altura, já eu estava de boca aberta. Para ele não basta acompanhar um jogo de vez em quando ou ver um resumo pelo Youtube, sente-se benfiquista e faz questão de acompanhar o dia-a-dia do clube. Nos primeiros tempos através do jornal A Bola e, mais recentemente, assistindo aos programas do Benfica Independente que passou acompanhar com maior frequência. A nível pessoal, não vos consigo transmitir com exatidão o que sinto ao ouvir testemunhos destes. É um misto de orgulho e enorme responsabilidade porque sei que muita gente depende deste tipo de projetos (não só o nosso, certamente) para conseguir estar mais próximos do Glorioso. Mas isto não é sobre mim ou o BI, é sobre o Dan. Voltando ao assunto.
Falámos sobre jogos antigos e expliquei-lhe que já tinha visitado o Reino Unido para ver o Benfica várias vezes, e ele sabia todos os resultados e os marcadores dos golos dessas partidas. Estava estupefacto. "Este rapaz é tão benfiquista como eu", pensei. E é mesmo. Depois descobri que tem esta paixão marcada na pele. Não uma, mas duas tatuagens associadas ao Benfica!
Quando me deparo com situações destas, não consigo deixar de pensar no privilégio que tenho por morar perto do estádio e conseguir acompanhar o nosso clube com relativa facilidade. Estou perto para os jogos de futebol, assembleias, museu, modalidades, etc. Sou um privilegiado e nem todos têm esta sorte, mas esta introspecção leva-me também a meditar sobre a eterna discussão da falta de militância benfiquista no que diz respeito às assembleias gerais e ordinárias. Somos tantos para apoiar as nossas equipas, mas muito poucos para os assuntos mais massudos que se discutem nos nossos pavilhões... e isto gera conflitos. Quanto mais penso nisto, mais acredito que simplesmente temos de aceitar que nem todos temos vidas iguais. Algumas pessoas têm menos disponibilidade e o pouquinho que conseguem dedicar ao Benfica acaba por ser direcionado para aquilo que mais apreciam que é, naturalmente, tudo o que diz respeito à vida desportiva do nosso clube. E não devemos levar isto a mal, cada um vive o Benfica como pode. Da minha parte, tentarei sempre sensibilizar para a importância dos assuntos extra futebol porque é isso que estabelece o caminho que percorremos, mas também me parece óbvio que não se mobiliza ninguém através de insultos, insinuações ou, pior, medições de benfiquismo.
E tudo isto para dizer o quê? Que a minha paixão pelo Benfica desenvolveu-se com as histórias gloriosas contadas pelo meu pai e avô sobre Eusébio, Simões, Humberto, Coluna e ao ver jogar craques como Jonas. Mas hoje em dia é também alimentada por histórias como a do Dan, do Markus, do Toni e do Fujita. Este clube é do caralho, mesmo com todos os seus defeitos. Perdoem-me a grosseria, mas esta é a palavra correta.
Viva o Benfica!"
Nuno Picado, in Benfica Independente

REFLEXÃO, RUMO À MUDANÇA



 "Confesso que me debati comigo mesmo, durante algum tempo, relativamente à realização deste texto aqui. Mas sinto que cada vez mais é difícil não dizer nada, por ver das únicas coisas que realmente prezo na vida à deriva, e continuar com o sentimento de impotência, sendo que neste caso, refiro-me ao nosso estimado Sport Lisboa e Benfica. Custa-me imenso, dado que cada vez mais, vejo um clube extremamente burguês, onde cada vez menos se luta, e espera-se mais que as coisas venham do céu, sem que entenda lá muito bem, internamente, os passos que se deve seguir, em prol da fórmula de sucesso.

No futebol masculino, sai Roger Schmidt e entra Lage. Ao início, confesso que ainda defendi o Lage, seja porque era necessário treinos aquisitivos, seja porque tinha um discurso aparentemente mais condizente com a realidade, comparando com a primeira passagem. Visto este após contra os nossos eternos adversários da segunda circular, eu questiono-me se realmente a culpa estará nos jogadores e no treinador, uma vez que entre Lage e Schmidt, a má gestão mantém se praticamente igual, não se muda o futebol deficiente da equipa, e os discursos continuam longes da realidade, sendo que a diferença, é que Lage não diz que não tem de pedir desculpa nem diz que temos de aceitar. Será mesmo culpa dos jogadores e dos treinadores?
Porque muda-se tudo e mais alguma coisa, e os frutos que tenta-se colher no futuro acabam sempre por ser os mesmos, sem nenhum sinal ao fundo do túnel, onde infelizmente passamos a ter uma vitória a menos que o Sporting em Alvalade, a contar para o campeonato.
Do que adiantará "assumir a responsabilidade", e termos alguns que ainda vêm para as redes sociais ofender e tentar tapar-nos os olhos, se acabamos sempre por ter perda de qualidade e de investimento, juntando-se ao lançamento de dinheiro pra cima dos problemas, e gastando-se balurdios, pondo a causa a saúde financeira do clube, entre futebol masculino, feminino e modalidades?
Do que nos adianta serem poucas as modalidades que ainda ganham algo, se chumbamos orçamentos, e não tem consequências? Do que lhes adianta dizerem que nós temos de nos limitar a apoiar, se depois nem expulsam antigos presidentes de sócio, por apertarem pescoços? Do que adianta manter o ego de alguns, se no fim não conseguimos acabar com os 50 votos? Do que adianta isto tudo, se no fim, seja nos pavilhões ou no estádio, meterem música aos altos berros, ao ponto de ninguém se fazer ouvir, para o bem como para o mal? Mais que contratar treinadores e/ou jogadores, há que lutar, a outubro de 2025, pelo nosso verdadeiro Sport Lisboa e Benfica, para que se acabe com os interesses, com a má gestão, e com as ligações a "parceiros estratégicos", que vêm desmentir o nosso presidente, passado um mês, dizendo que independentemente das cláusulas, que António Silva quer sair. Pela saúde, vitalidade, democracia e bem-estar do nosso amado Sport Lisboa e Benfica!"
Nuno Rosado, in Benfica Independente

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

FOI UM DÉRBI VIBRANTE E CABE AGORA AO BENFICA REAGIR



 Foi um dérbi vibrante, repartido, interessante e correto este a que assistimos no último domingo, mas que já passou. Outros virão no novo ano e cabe agora ao Benfica reagir. Para as equipas técnicas, entretanto, o último jogo só fica fechado, especialmente quando as coisas correm mal, depois de detalhadamente analisado, para aproveitamento futuro. Como sempre eram grandes as expetativas e sempre diferentes, à partida para este novo confronto. Desta vez, a recente troca de lugares entre os dois clubes na tabela e a proximidade pontual eram condições para confirmar ou inverter. A estreia do novo treinador do Sporting e como iria estruturar a sua equipa era também uma curiosidade extra.

Relativamente ao jogo e a todos os jogos, a maneira como se começa determina muitas vezes a maneira como acaba. Neste último exemplo, o Benfica começou a perder bem antes de sofrer o golo. Se tivéssemos o poder de escolher uma parte de um jogo para sermos melhores, eu escolheria sem dúvida a primeira, porque condicionamos o adversário para a segunda parte, mais ainda quando se chega em vantagem ao intervalo. Foi o que o Benfica não conseguiu evitar.
Mesmo com a inversão da tendência que deu um Benfica melhor na segunda metade, a reação tem sempre muito de emocional e quem traz desvantagem do início, traz também o stress associado à necessidade de marcar. A perna pesa mais e o coração acelera. O discernimento não é o ideal e a urgência cresce a cada minuto que passa. Os dados lançados quanto antes definem, em muitos casos, o que acontece depois. O Sporting entrou mais agressivo no ataque, com espírito renovado tirando partido essencialmente do entendimento e poder dos seus dois avançados. A diferença, pareceu-me, acabou por mostrar-se na relação da dupla antagonista Trincão e Florentino.
O médio do Benfica não fez diferença como terceiro homem do meio campo. Já Trincão, com o espaço que lhe foi permitido, foi influente no peso atacante que representou no apoio a Gyokeres. Já do lado encarnado, Amdouni esteve na primeira metade muito solitário, não se conseguindo impor nem segurar a bola, frente à forte dupla que o guardou. A alteração de Lage ao intervalo deu um Leandro Barreiro influente na mudança deste cenário. Tanto na cobertura da zona de Trincão, que desde então pouco mais se viu, como no apoio e presença que conseguiu acrescentar na frente, que ajudou a libertação de Amdouni, embora sem reflexo no resultado.
Agora, pela frente espera-nos uma longa segunda volta, depois de cumprida a próxima jornada. A verdade é que os vencedores não se declaram tão longe da meta...
Segue jogo
Confesso a minha preferência pelo perfil do árbitro inglês. Característica simples, que aprecio e que faz diferença: na dúvida, mais vale não apitar do que o contrário. Sendo a Premier League considerada a melhor liga do planeta, além da qualidade dos jogadores, essa distinção assenta muito na intensidade do jogo e nas paragens que quase não existem. Por cá, os nossos massagistas estarão mais em forma do que alguns jogadores, tal a frequência com que entram em campo para perder tempo, quando dá jeito.
A nossa Liga é a quarta em que mais se apita e menos se joga, entre trinta ligas europeias estudadas. Os números não mentem. À atenção dos árbitros portugueses e de quem tem a responsabilidade de os formar. Em último caso, a Premier League está disponível na televisão. E nunca é demais lembrar que o futebol é um desporto de contacto... Ano novo, vida nova? Era bom.
IPO
Saúdo a feliz iniciativa da Liga com as Fundações de Benfica e Sporting associadas ao IPO (Instituto Português de Oncologia), socorrendo-se de dois jovens ídolos de clubes rivais, em vésperas do dérbi lisboeta. Em época natalícia, quando os corações mais se abrem aos que nos rodeiam e passam dificuldades, a iniciativa contou com a participação solidária de Tomás Araújo e de Eduardo Quaresma. Marcante uma das imagens que ilustram este evento a de um jovem acamado equipado à Porto, entre os dois jogadores dos rivais de Lisboa. Ver as camisolas mais representativas do nosso futebol unidas numa realidade em que a saúde e as doenças graves são os temas, é bonito e um exemplo para muitos que confundem o que é realmente importante.
Rui Águas, in a Bola

MAIS OTAMENDI DO QUE LAGE

 


Há mérito indiscutível de Rui Borges na estreia vitoriosa no banco do Sporting, mas o dérbi diz mais sobre o processo de Lage do que sobre o impacto das ideias do recém-chegado treinador leonino.

Entre as análises de Nico Otamendi e Bruno Lage ao dérbi de anteontem, em Alvalade, tendo a concordar mais com a perspetiva do capitão do Benfica, manifestada na zona de entrevistas rápidas e alinhada com aquilo que o compatriota Ángel Di María declarou depois nas redes sociais.
O Benfica ofereceu a primeira parte — para utilizar a expressão do central — e com isso permitiu que o Sporting, que tinha trocado de treinador três dias antes, recuperasse parte da confiança perdida nas últimas semanas.
Há mérito de Rui Borges, indiscutível, mas se Bruno Lage foi surpreendido, é de estranhar. O treinador do Benfica até podia estar a fazer contas a um rival em 3x4x3, mas isso era compatível com a habitual organização defensiva encarnada, em 4x4x2, com Aursnes ao lado de Amdouni. Aquilo que desequilibrou verdadeiramente a primeira metade do dérbi foi a forma como o Sporting condicionou a primeira fase de construção das águias, desde logo, e depois o posicionamento de Trincão, que em dia de aniversário teve direito a jogar completamente sozinho durante 45 minutos.
Essa pressão leonina em zonas altas era expectável, tendo em conta as dificuldades que o Vitória de Guimarães, então ainda orientado por Rui Borges, tinha imposto na Luz, no início do mês, e a zona de influência de Trincão não fugiu muito ao habitual, embora Catamo, protegido pelo lateral Eduardo Quaresma, tivesse mais liberdade para subir, o que fez com que Carreras fosse apanhado muitas vezes em inferioridade numérica, já que Trincão fugia ao raio de ação de Florentino e Kokçu.
Lage corrigiu bem ao intervalo, ao decidir colocar Kokçu como pivot do meio-campo, deixando Leandro Barreiro como médio-interior, com liberdade para aparecer na área a tentar tirar proveito da forte impulsão. O Benfica foi consideravelmente melhor na etapa complementar, mas fez menos do que o Sporting para sair feliz do dérbi.
O dérbi só vale três pontos, mas o resultado diz bem menos sobre as ideias de Rui Borges, recém-chegado à equipa leonina, do que sobre o processo de Bruno Lage. Significa isto que, para o treinador do Benfica, mais importante do que lamentar a derrota que afastou as águias da liderança da Liga, é combater a ideia de estagnação tática que o jogo veio recuperar. Ultrapassada a fase de estabilização da equipa, pós-Schmidt, o Benfica tem de mostrar-se uma equipa muito mais ligada em ataque posicional.

Nuno Travaços, in a Bola

BENFICA: NOTAS DE UM DÉRBI ATRAVESSADO

 


"O desempenho do Benfica em dérbis e clássicos confunde-se frequentemente com a história da Fundação Benfica, tal é a generosidade tantas vezes demonstrada para com os nossos principais rivais, em especial quando vivem o seu pior momento ou quando a proverbial estocada final parece estar a 90 minutos de distância. Foi assim algumas vezes com o FC Porto, com especial destaque para um penta que não chegou a ser e terminou com um título perdido em casa. Este domingo, ainda que em diferente proporção, voltou a registar-se um fenómeno semelhante contra o Sporting, perante mais de 40 mil adeptos do rival que não sabiam quantas Avé-Marias rezar na noite anterior ao dérbi.

Desta vez, a Fundação Benfica ofereceu à equipa adversária e aos respetivos adeptos de um clube com menos 20 títulos nacionais a oportunidade de jogarem praticamente livres de oposição durante os primeiros 45 minutos do jogo. A iniciativa seria comovente, feita à medida de um daqueles vídeos que fazem toda a gente chorar no TikTok, se isto não fosse afinal a ironia amargurada por mais uma oportunidade mal perdida. Não é a primeira vez que acontece, antes pelo contrário. Há muito tempo que o Sporting não ganhava tão frequentemente ao Benfica. Deve ser mera coincidência que isso tenha acontecido durante o mandato da atual direção.

Ver o que mais ninguém viu
Há uns anos deu-se uma grande polémica nas redes sociais, daquelas que dividiram as pessoas e suscitaram longas discussões. A simples fotografia de um vestido tornou-se viral porque o mundo não conseguia decidir. Algumas pessoas viam um vestido azul, enquanto outras viam um vestido dourado. Provavelmente houve quem visse um vestido de outra cor, e houve até quem não visse vestido nenhum. Lembrei-me deste exemplo no domingo à noite, quando ouvi Bruno Lage na sala de imprensa contrariar as opiniões de dois argentinos conceituados, Nico Otamendi e Ángel Di María, por sinal seus jogadores.
Não é bom sinal quando Bruno Lage decide contrariar aquilo que toda a gente viu, incluindo o seu capitão de equipa e o melhor jogador do plantel, ambos capazes de, com a honestidade que o momento pedia, constatar o óbvio: o Benfica ofereceu 45 minutos de um jogo que podia e devia ter ganho. Vir falar no antijogo dos outros, num jogo que, pelos vistos, controlámos praticamente do princípio ao fim, ou, pior ainda, vir falar em «injustiça», como fez a comunicação do clube num rescaldo sportinguizado enviado por email aos sócios no dia seguinte, é aquele delírio argumentativo das vitórias morais que talvez fique bem a outros clubes, mas que me enjoa um bocadinho quando vejo ser usado no Benfica para justificar a incompetência de quem deveria responder por noites como a de domingo, não porque alguma tragédia se tenha abatido sobre nós, mas porque é isso que os líderes fazem.

O banco que não resolve jogos, a liderança inexistente
Bruno Lage começa a parecer curto de ideias quando os jogos não correm de feição. Isso, ou é o Bruno Lage que já conhecíamos. Curto ou incerto, não sei qual das hipóteses me preocupa mais. As competições em que o Benfica joga e o mundo em que o Benfica existe exigem longevidade, regularidade, consistência, ambição, grandeza e uma grande confiança naquilo que temos para apresentar. Exigem preparação sólida e ideias de jogo que, em alguns sentidos, reflitam também o que é o Benfica (daí a exibição em Munique ter sido tão embaraçosa). Também exigem jogadores à medida dessa dimensão e exigência, que não podem vir de qualquer lado nem podem achar que estão só em mais um clube. A todos os que treinarem é-lhes devida uma oportunidade.
É um facto que este plantel não foi idealizado por Bruno Lage, que aceitou alistar-se quando outros treinadores disseram não. O que deixou este plantel sem dono. Apesar de ter as suas forças, é um plantel que vai relevando lacunas graves. Quando assim é, a culpa morre solteira. Em rigor, não sabemos bem a quem pertence este plantel: se a Roger Schmidt, a Rui Costa, a Rui Pedro Braz, ao Fabrizio Romano, ou a todos em alguma medida. Quando alguma coisa corre bem neste Benfica, grande parte dos mencionados aparecem de imediato como responsáveis, nem que seja preciso acenarem até algum jornalista reparar. Quando as coisas correm menos bem, ninguém sabe deles. Ninguém os vê. Da sua boca, nem um pio. Às vezes, se correr muito mal, ouvimos falar de uns murros numa mítica mesa que deve ser de madeira maciça, tal é a violência a que foi sujeita nos últimos anos.
Esta direção e estrutura vão gerindo os tempos da sua comunicação de forma bastante óbvia. É por isso que só voltaremos a saber o que Rui Costa pensa ou pretende fazer acerca de algum tema, seja qual for o tema, quando Sporting ou FC Porto perderem pontos e o Benfica vencer o seu respetivo jogo. Foi uma pena não termos ganho este fim de semana, porque talvez tivéssemos visto nos dias seguintes uma casa do Benfica ser inaugurada ou celebrar o seu aniversário, isso ou, quem sabe, e admito que esteja a ser ambicioso, talvez tivéssemos tido a oportunidade de saber, pela voz do presidente da direção, como se posiciona o Benfica no ciclo eleitoral que se avizinha na Federação Portuguesa de Futebol e na Liga.
Feito o desvio e retomada a trajetória: foi com este plantel que Lage aceitou trabalhar e, deste, disse apenas que lhe dava todas as garantias. Mais uma vez, a comunicação vai revelando a sua importância. Desde que chegou ao Benfica, Bruno Lage ainda não perdeu uma oportunidade de dizer aquilo que ele acha que os Benfiquistas querem ouvir. Esquece-se, no entanto, que algumas palavras voltam para nos assombrar. Há muitas formas educadas de dizermos que não reunimos todas as condições ideais para uma tarefa, e os adeptos são suficientemente adultos para o compreender.
Seria mais fácil interpretar as últimas semanas, de declínio exibicional flagrante, se todos tivessem tratado o tema com franqueza. Não sendo o caso, a realidade encarrega-se de o demonstrar. Quando rodámos a equipa contra o Aves, perdemos pontos de forma absolutamente escusada. Este domingo, quando precisámos que o banco produzisse impacto num jogo importante que parecia enguiçado, recuperámos algum equilíbrio depois do desastre da primeira parte, mas acabámos à procura do Leandro Barreiro na mesma área em que estavam Pavlidis e Arthur Cabral. Talvez os otimistas digam que descobrimos um craque em Leandro Barreiro. Lamento não comungar desse otimismo na semana em que voltámos a ressuscitar um rival.
É esta a mediania a que parecemos vergados neste momento, a que está na origem do planeamento deficitário da presente época e a que, tudo indica, será a base do planeamento da próxima época, a não ser que alguém tenha o bom senso de antecipar as eleições, cenário que deveria ser discutido agora e não mais tarde. O calendário do Benfica e os desafios que o clube e a SAD têm pela frente não são compatíveis com eleições apenas em outubro. Mais sobre isto na próxima semana, que se faz tarde."

Vasco Mendonça, in a Bola

BOM ANO NOVO!




"1. O Benfica saiu da 15.ª jornada do campeonato nacional de futebol na qualidade de líder isolado da prova. Não queiram roubar ao Benfica valor por se encontrar onde se encontra que é no lugar por todos mais desejado. O Benfica iniciou a temporada imerso em problemas e soube resolvê-los e, a partir daí, começou a somar pontos atrás de pontos. Os problemas dos outros são os problemas dos outros, paciência.

2. Falou bem Bruno Lage no fim do jogo com o Estoril no sentido de desarmar o desvario dos otimismos em excesso. Faltam 19 jornadas para o fim da corrida e não há ninguém que não saiba que só com 19 jornadas de trabalho, entrega, foco e inspiração conseguirá o Benfica o seu 39.º título.

3. Diogo Prioste, Diogo Spencer e Hugo Félix são três jovens jogadores formados na nossa casa. Na semana antes do Natal assinaram novos contratos que os ligam ao Benfica até 2029. Não, portanto, é uma boa notícia. São três boas notícias. O Benfica espera muito de Prioste, de Spencer e de Félix. É, e será sempre, uma grande alegria para os benfiquistas ver os nossos jovens progredir e atingir o patamar do futebol adulto cumprido as suas expetativas, as expetativas do clube e os sonhos dos adeptos.

4. O intervalo do jogo Moreirense - FC Porto demorou 23 minutos por demora da equipa visitante em regressar ao relvado. O árbitro, coitado, farto de esperar no centro do terreno, viu-se obrigado a regressar ao caminho dos balneários a fim de solicitar ao FC Porto o obséquio de regressar ao relvado para a segunda parte.

5. A primeira vista trata-se, muito simplesmente, de um episódio folclórico na Liga portuguesa que é fértil em episódios anedóticos. Tanto uma equipa pode demorar quase meia hora para cumprir um intervalo estipulado em 15 minutos como pode acontecer que um jogo comece a ser disputado a 6 de Outubro, em tempo de vindimas, e só termine a 19 de Dezembro, nas vésperas de Natal tal como aconteceu com o Nacional - Benfica. Mas voltemos ao intervalo do Moreirense - FC Porto e aos seus 23 minutos de duração a fazer lembrar os anos 80 do século passado quando o FC Porto utilizava recorrentemente este truque ridículo da demora do intervalo com o objetivo de 'desestabilizar' a equipa adversária. Os mais velhos lembram-se, com certeza, desta 'tática' de guerrilha psicológica dos tempos de José Maria Pedroto. Hoje, francamente, cheira a bafio.

6. Desta vez aconteceu num restaurante. O execrável comportamento dos elementos de uma claque organizada que ninguém consegue desligar do Benfica foi mais um motivo de embaraço para todos os benfiquistas que se espelham neste tipo de atividades lúdico-delinquentes. Até quando vamos ter de suportar isto?

7. Feliz Ano Novo para todos os benfiquistas. Viva 2025!"

Leonor Pinhão, in O Benfica