quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

ALÉM DO INÍCIO

 


A equipa do Benfica tem sido por vezes penalizada por inícios hesitantes, que condicionaram alguns dos seus jogos. Ultimamente tal ideia tem sido revertida com uma abordagem mais enérgica no início das partidas. O Benfica começou bem e a marcar, nos seus dois últimos confrontos, em tudo diferentes, sendo as competições e os adversários incomparáveis. De comum só mesmo o resultado final adverso.

Com o Barça, o resultado desiludiu, mas não beliscou o orgulho da equipa, mesmo num claro desperdício pontual. Frente ao Casa Pia, o Benfica deu mostras de reação positiva, mas um par de erros precipitou o empate e com ele destapou as mazelas físicas e emotivas que o desaire europeu deixou.
Ante um Casa Pia personalizado, o Benfica foi incapaz de responder às falhas cometidas. Quem diria que um começo de jogo forte e inspirado, que levou a um golo madrugador, ainda daria em depressão.
Abrir a porta
Ninguém ignora a delicadeza do momento, muito menos quem conhece bem a realidade como Lage.
Abrir a porta ao momento ou fechar a cortina e assobiar como se nada fosse?
Pasmo a arrogância com que se julga, na maioria dos casos com pouco conhecimento e vivência prática nula.
Sabemos que na atualidade comentadora o lado negativo das questões é sempre mais produtivo. Mas valorizar alguns desabafos num momento de alta tensão ou esmiuçar a maneira como foram ditos, em que o nervosismo é evidente, é justo?
Voltando ao tema do momento, será assim tão descabido o responsável criticar comportamentos táticos dos próprios jogadores, quando isso é mais que evidente num espetáculo público e tão popular? Será mais aceitável no final dos jogos os jogadores irem bater palmas aos insultos de que são invariavelmente alvo quando perdem, só porque sim? Porque não alargar o sentimento crítico do treinador ao público que não conhece a parte de dentro do fenómeno?
O treinador tem a responsabilidade (grande) de globalmente preparar a equipa, escolher os jogadores e substitui-los, quando acha por bem. Aquilo que Lage fez, expõe, mas humaniza a figura do treinador e a sua responsabilidade específica. O sucesso é a cara de quem faz golo. Já a derrota tem obrigatoriamente a cara do mister. Lage promoveu espontaneamente ou não, mais ou menos refletido, o encontro com um grupo de adeptos que de alguma maneira representavam o universo de quem acompanha o Benfica. A verdade é que o universo alargado recebeu a mensagem. Os jogadores é que jogam e como tal também devem ser responsabilizados como o seu líder o é, continuamente.
Público e privado
Outro exemplo complicado do dia a dia de um treinador prende-se com as substituições. Também aqui o assunto se divide entre o público e o privado. Este é mais um tema interessante e bem complexo da gestão do treinador na competição e na sua relação com os jogadores.
A prová-lo, a quantidade de episódios que este fenómeno provoca e a sua diversidade, que dão origem a diferentes situações, algumas delas difíceis de gerir pelo líder.
Poucos são os temas sobre os quais tenho escrito que não me trazem memórias que vivi ou que recordo ver outros viverem, que agora partilho com quem se interessa pelo futebol no seu todo.
Substituições públicas: Recuando algum tempo (...), lembro o meu colega e eterno amigo António Pacheco, ainda no tempo das duas únicas substituições. Embora ótimo jogador, o António era dos mais frequentemente sacrificados. Reguila como ninguém, dizia em voz alta para os treinadores ouvirem, que no banco só havia a placa com o número dele, o oito. «Sou sempre eu! Não há mais placas?» Dá para perceber, como o caso do Pacheco, que ser o escolhido em dez, afeta o orgulho de qualquer craque, ainda mais quando aos olhos do público.
Substituições privadas: algo bem diferente é ser substituído durante o intervalo. Avisar o jogador que vai sair nunca é um momento simpático. Não incluindo a mesma exposição pública, também cria por vezes um ambiente que não se quer no balneário, quando ainda há uma parte por jogar. Nada que não se resolva, mas são frequentes as indisposições e revolta dos escolhidos para sair. Faz parte.
Rui Águas, in a Bola

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