quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

DA TIMIDEZ O ESPLENDOR

 


Benfica deu primeira parte de avanço e, nessa fase, bem pode agradecer a Otamendi e Trubin. Alarme ao intervalo acordou o suspeito do costume: Pavlidis resolveu, mas, pela segunda parte, 1-0 peca por escasso.

Tudo começou com uma grande surpresa no onze do Benfica e continuou com uma primeira parte de quase total ausência dos encarnados do jogo. Porém, após dois avisos ainda antes do intervalo, a águia surgiu na metade final com dinâmica e atitude diametralmente opostas e tudo mudou. De tal modo, que nesse despertar em todo o seu esplendor, o sonho de chegar aos oitavos de final da UEFA Champions League ficou bem mais perto de tornar-se realidade.
Mas vamos por partes. Apesar de dado como apto, Di María ficou no banco, por opção, como o próprio Bruno Lage admitiu pouco antes da partida. Algo que, perante a dinâmica de jogo do Mónaco - defesa sempre muito subida e tantas vezes no meio campo do adversário - poderia dar sentido à aposta na velocidade de Akturkoglu e Schjelderup, perfeitos para lançar nas costas da linha mais recuada dos monegascos. Ideia bem pensada, mas que, porém, não se refletiu na realidade, com o turco algo lento e a revelar certa inadaptação à ala direita (ele que, claramente, prefere andar pela esquerda) e o norueguês muitas vezes hesitante.
A isto juntava-se um Kokçu apagado nas compensações aos avanços de Álvaro Carreras pela ala canhota e, contas feitas, em campo estava um Benfica com sinal menos em quase toda a primeira parte e que mal se viu em jogo entre aquele lance logo ao minuto 5, quando Carreras atirou com perigo, mas ao lado, e os dois instantes mesmo a fechar a primeira parte, de novo com o espanhol como protagonista (44’) a rematar para a primeira defesa de Majecki e, depois, aos 45+2’, num toque de calcanhar de António Silva, com a bola, contudo, a sair ao lado.




Depois de uma sofrível exibição, demasiado cautelosa, de quase 40 minutos - que o Mónaco aproveitou para dominar e criar lances de perigo, muito bem travados ou controlados por Trubin e Otamendi, fundamentais a segurar o 0-0 –, aqueles dois momentos de Carreras e António Silva à beira do intervalo, acabariam por dar novo alento às águias para a segunda parte.
De tal modo que, decorridos apenas três minutos da metade final, e eis o suspeito do costume, Pavlidis, a ganhar a Salisu na garra e, com classe, de ângulo já muito apertado, a picar para o fundo das redes. O grego está mesmo de pé quente e, depois de abrir o ketchup frente ao Barcelona, soma agora oito golos nos últimos seis jogos. Imparável!
Tudo corria, entretanto, bem ao Benfica. E, tal como a 27 de novembro, na vitória por 3-2 no mesmo estádio Louis II na fase de liga, também na primeira mão deste play off de acesso aos oitavos da UEFA Champions League, os encarnados se viram em vantagem numérica, desta vez por expulsão de Al Musrati, aos 51 minutos.
Finalmente, a águia voava, mostrava-se dinâmica e dominante, de asas bem abertas, obrigando os monegascos a encolherem-se no seu meio campo, a caírem a pique. Os lances na área dos anfitriões sucediam-se, a pressão era cada vez mais alta, mas a mira, essa, estava torta. E que gritante aquele lance de Pavlidis (61’) na cara do golo, após excelente domínio e passe de Schjelderup, a atirar, contudo, para as mãos do guarda-redes.




Lage ia refrescando a equipa (com Leandro Barreiro no lugar de Florentino, que falha a segunda mão, e lançando Di María (o azarado da noite, que entrou aos 66' e saiu lesionado aos 86'), Amdouni e Belotti, em estreia absoluta na UEFA Champions League.
O tempo, esse, ia passando, o Benfica mostrava-se superior a este Mónaco, mas ia desperdiçando a oportunidade de fazer o 2-0 e resolver já a eliminatória... Todavia, a jogar como na segunda parte desta quarta-feira, decerto, não deixará escapar o apuramento para os oitavos de final no duelo decisivo de dia 18 na Luz.
  
DESTAQUES:
O golo do grego não foi golo, foi golaço. Se fosse de Di María correria Mundo. Talvez este corra Mundo na mesma. Classe pura na finalização com o pé direito.
Melhor em campo: Pavlidis (8)
Merecia 10 pelo golo, 9 pelo empenho e 5 pelo resto da exibição. Média: 8. Correu 30 metros logo no início do jogo e, quando devia fazer passe vertical para a entrada de Aursnes sobre a direita, fez passe quase lateral e o lance, bem perigoso, perdeu-se num corte de um adversário. Grande trabalho, perto do intervalo, junto à quina esquerda da área do Mónaco, oferecendo o golo a Carreras. Que rematou sem força e demasiado colocado às mãos de Majecki. Ao minuto 48, transfigurou-se de Di María e, de pé direito, como se fosse um tecnicista ao nível de Messi ou Salah, por exemplo, enviou a bola para o fundo da baliza: 0-1. Brilhante, brilhante, brilhante. Aos 62, porém, voltou a ser Vangelis e já não Ángel: recebeu a bola de Schjelderup e encostou tão frágil que Majecki defendeu sem esforço. Mas aquele golo, não é golo: é golaço.
Trubin (7) - Guarda-redes de equipa grande é assim: pouco jogo, total segurança. Estou aqui, disse ele aos 9 minutos quando Akliouche sobre a esquerda, o obrigou a desviar a bola pela linha de fundo. Estava frio, sim, mas o ucraniano esteve em grande logo desde o início. As mãos pareciam ter cola. Também no remate de Golovin, aos 43’. Passou mesmo frio na segunda parte, sem grande coisa para fazer. Só mesmo para ver.
Tomás Araújo (7) - O menos exuberante dos defesas do Benfica. O que se compreende. Apesar de já levar muitos jogos na lateral direita, uma coisa é ser central, outra é ser lateral. E Tomás, acima de tudo, é central. Porém, a abrir a segunda parte, transformou-se mesmo em lateral e abriu, de forma soberba, em Pavlidis para o golo do grego, ficando nós tentados a apagar do texto a ‘menor exuberância’. Mas fica. Saiu com fadiga muscular.
António Silva (7) - Se até Beckenbauer cortava bolas para onde estava virado, por que não António Silva fazer o mesmo? E fez. Já na compensação do primeiro tempo, desviou a bola, quase de calcanhar, como se fosse Ricardo Quaresma. Era bonito, sim, mas não teve efeito prático. Perto do final do jogo, voltou a quase marcar.
Otamendi (7) - Completou ontem 37 anos, mas pareceu sempre ser erro do ano de nascimento: não foi em 1988, antes em 1998. Pelo menos fica ideia que sim. Imperial a defender e impetuoso a atacar, sobretudo de cabeça, em lances de bola parada.
Carreras (6) - Correu, correu, correu e, logo ao minuto 5, enviou tiraço rentinho ao poste esquerdo da baliza monegasca. Ficaria condicionado por ter visto, logo aos 15’, um amarelo? O futuro diria que não. A um minuto do intervalo, a bola endossada por Pavlidis foi para o pé direito de Carreras. Se fosse para o esquerdo, seria golo quase certo. Assim, o remate, relativamente frouxo, foi para as mãos do guarda-redes dos monegascos. Já na segunda parte, entrou na área como se fosse um atacante, mas a bola ficou emparedada num defesa. Esteve sempre prestes a explodir, mas nunca verdadeiramente explodiu.
Aursnes (6) - Foi extremo-direito, médio-direito e defesa-direito. Se houvesse um guarda-redes direito também o teria sido. Não fez jogo enorme, mas teve competência suficiente para não ficar ligado a nada de errado. Ponto alto? Tiraço, já na parte final, desviado para canto pelo peito de um adversário.
Florentino Luís (5) - Pareceu sempre um pêndulo, mas, desta vez, pêndulo de menor amplitude. Cumpriu e, após ter visto cartão amarelo aos 56’, pareceu afetado por saber que não jogaria a segunda-mão. Saiu nove minutos depois, não fosse o senhor Maurizio Mariani mostrar-lhe um segundo amarelinho.
Kokçu (6) - Começou por fechar muito bem o lado esquerdo da defesa, sempre que Carreras decidia subir. Quase parecia um lateral-esquerdo ou mesmo um terceiro central, compensando as aventuras do espanhol. Muito mais ousado na segunda parte, sobretudo a partir da expulsão de Al Musrati, aparecendo diversas vezes em posição de remate. Sempre sem sorte.
Akturkoglu (6) - Apagado em quase todo o primeiro tempo. Melhorou muito após o descanso. Grande trabalho antes do quarto de hora da segunda parte, rodando sobre dois adversários e rematando para grande defesa de Majecki. Nem o fora de jogo assinalado retira beleza à jogada do turco. Muito bem a oferecer o golo a Amdouni, perto do fim, demonstrando não ser egoísta.
Schjelderup (6) - Cresceu muito na segunda metade da segunda parte. Meteu a bola, redondinha, redondinha, redondinha, em Pavlidis e o golo parecia certo. Mas o encosto do grego foi frágil e para a mãos de Majecki. O norueguês era para sair para entrar Di María, acabaria por sair, mais tarde, para entrar Amdouni.
Di María (3) - Pouco mais de 15 minutos em campo e, de novo, a bandeira vermelha levantada: lesão muscular. No mesmo local ou não, ver-se-á. O vírus de Alcochete parece ter contaminado o Seixal.
Leandro Barreiro (5) - Entrou já com o Benfica a jogar com mais um homem e limitou-se a cumprir no lugar de Florentino. Controlou o jogo e ajudou a defender.
Belotti (3) - Entrou com a segunda parte bem alta e não se viu. Um ou outro contacto com os defesas do Mónaco, mas ainda sem poder expressar-se ao mais alto nível.
Amdouni (4) - Minuto 83: quase golo. Mas quase golo não é golo e o suíço falhou o remate, que saiu enrolado. Pouco depois podia ter voltado a rematar, mas, talvez lembrando-se do lance anterior, preferiu oferecer o golo a Belloti. Que estava demasiado adiantado para poder finalizar.
Arthur Cabral (-) - Entrou a frio para o lugar do lesionado de Di María e não teve oportunidades para mostrar serviço.

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