Acompanho o futebol português há mais de 40 anos e habituei-me às guerras Norte-Sul. Sou do tempo em que os presidentes dos três grandes eram Pinto da Costa, Fernando Martins e João Rocha. A escaldante década de 80 do século passado, com constantes ataques e contra-ataques entre os três grandes. Como a célebre mudança de Paulo Futre de Alvalade para as Antas, que coincidiu com a contratação por parte dos leões dos azuis e brancos Sousa e Jaime Pacheco.
Isto depois de um Euro-84 simplesmente singular. A Seleção Nacional brilhou em França, terminando num inglório 3.º lugar, depois da cruel eliminação, no prolongamento, diante dos gauleses. O tal Europeu de Portugal com quatro treinadores: Fernando Cabrita, Toni, António Morais e José Augusto! E uma guerra aberta no grupo, com nove jogadores do FC Porto e… oito do Benfica, a que se juntaram o sportinguista Jordão e os dois guarda-redes suplentes, Vítor Damas e Jorge Martins.
Uma Seleção dividida ao meio e que só se juntava dentro de… campo. A combinação, que tinha tudo para ser explosiva, foi surpreendente, mas acabou por terminar, dois anos depois, de forma… natural, no Mundial do México, com o caso Saltillo. Outra guerra, esta entre jogadores e Federação.
FC Porto, Benfica e Sporting digladiavam-se pelo poder, com os clubes a terem mais força e a tentarem controlar a FPF, mais concretamente, a arbitragem.
Uma década depois surgiu na equação a Liga de Clubes e tive esperança que a mudança de poderes de uma entidade para outra melhorasse a situação. Puro engano. Tudo continuou na mesma. Foram apenas mudando os protagonistas, com exceção do eterno Pinto da Costa.
Durante anos deixei de acreditar em qualquer tipo de pacificação, união, trabalho conjunto, que o bem comum prevalecesse sobre os interesses individuais. Tinha apenas a convicção que um dia tudo poderia ser diferente. Que com uma nova geração de dirigentes tudo melhorasse. E durante muito tempo disse que com novos líderes — as minhas apostas eram Vítor Baía no FC Porto, Rui Costa no Benfica e Luís Figo no Sporting — tudo poderia ser diferente. Enganei-me.
Apesar das mudanças na liderança dos três grandes, curiosamente com três homens do futebol, o ex-treinador Villas-Boas, o antigo futebolista Rui Costa e o médico Frederico Varandas, nada mudou. Os velhos hábitos mantêm-se, as estratégias, por mais antigas que sejam, continuam a ser utilizadas e os objetivos são os mesmos. O que interessa é ganhar, seja como for. Se é necessário pressionar os árbitros, pressiona-se, se é preciso destabilizar os rivais, destabiliza-se. Ou seja, o fim justifica todos os meios.
André Villas-Boas surgiu esta semana a mostrar-se preocupado com a polémica entre Pedro Proença e Fernando Gomes. «Temos um país único em termos de jogadores, treinadores, agentes. Para uma população tão pequena criamos tanto talento, mas teimamos em não sair desta zona de conflito da qual ninguém sai beneficiado», disse, esquecendo-se de fazer referência aos… dirigentes, nos quais agora se inclui.
O presidente do FC Porto aproveitou para marcar posição quanto à sucessão do novo presidente da FPF na Liga, frisando que está preocupado com as eleições. «Cheguei há cerca de um ano à presidência, tentei lançar-me neste desafio também para tentar renovar o ar do futebol português, sentar-me à mesa com os três grandes e procurar algum alinhamento de estratégia para o futuro. Mas a realidade é que as coisas continuam a caminhar no mau sentido», disse, acertando no diagnóstico: «O futebol português está doente. Andamos a enganar-nos uns aos outros há tanto tempo.»
Villas-Boas perdeu foi uma oportunidade para marcar a diferença. Não lhe basta dizer que «há agora um certo desalinhamento entre os três grandes», que continuam «a adiar resoluções sobre a centralização dos direitos televisivos e sobre o VAR» e que «não defender os interesses do futebol português é uma patetice absoluta» e, passados dois dias, passar a atacar o Benfica e o presidente dos encarnados, com as eleições da Liga como pano de fundo.
O FC Porto tem toda a legitimidade em apoiar a candidatura de José Gomes Mendes, tal como o SC Braga, assim como Benfica e Sporting a de Reinaldo Teixeira. Já se percebeu que a guerra Norte-Sul está de volta. Já há troca de comunicados e tudo. Só já falta o clássico corte de relações. E isto em vésperas do… clássico. Com Villas-Boas e Rui Costa bem distantes na tribuna presidencial do Estádio do Dragão. Afinal, nada mudou. Pela minha parte, desisto.
Hugo do Carmo, in a Bola
O CLÃ CORRUPTO
ResponderEliminarForam muitos anos, com dominio do FCP, na arbitragem, na liga, na FPF, e Fernando Gomes fazia parte desse polvo, do qual o Benfica, também alinhou, e recebeu alguns presentes envenenados. Agora o Proença, desalinhou um pouco, aparecem logo os sonsos como o FG, a morderem, com um modus operandi mafioso, prejudicando o nosso futebol, tudo que não seja por eles é contra, bom era continuar tudo na mesma,. Pena o Benfica não ser peixe nem carne, RC tem telhados de vidro, de migalhas e algumas cumplicidades, por isso agora não pia, ou vai de uma forma tipo português suave.