Se não marcas é certo que não ganhas; se não marcas e ofereces presentes ao adversario é quase certo que perdes. Podemos estar o dia inteiro a discutir este jogo, mas dificilmente sairemos daqui...
Monsieur de La Palisse dificilmente diria algo mais assertivo, mas a verdade é que às vezes a realidade explica-se a si própria de forma tão veemente que há pouco de novo a acrescentar: uma equipa que domina quase sempre, cria várias oportunidades de golo e não consegue concretizar uma que seja — entre deméritos próprios e méritos contrários, pois claro — não ganhará o jogo mais simples e ao mesmo tempo mais complexo do Mundo. Se, ainda por cima, essa equipa tem uma distração fatal, então vai perdê-lo, a não ser que o adversário falhe rotundamente. Schick não falhou depois da oferta de Dahl e o Leverkusen colecionou a primeira vitória na Champions 2025/2026, deixando o Benfica com zero pontos em quatro jogos.
Manda a verdade dizer, vistas e revistas as imagens televisivas (aparentemente mais vezes que o videoárbitro), que fica um penálti por marcar a favor dos encarnados quando havia 0-0 e se adivinhava a qualquer momento o golo dos da casa. Tapsoba — o nosso especialista Pedro Henriques confirma-o — comete falta sobre Leandro Barreiro. Não sendo uma verdade concreta, manda a convicção de quem assistiu a esta partida com atenção dizer que a alergia do Benfica à baliza alemã foi tal que pouco nos garante a conversão da grande penalidade em golo. Mas enfim, deixemos a especulação.
Direitos aos factos, olhemos para a estatística e constatemos mais um dado óbvio: ao contrário do que sucede na maioria das outras modalidades, ela não ganha jogos. Pode até, no final, ganhar campeonatos, mas cada jogo tem a sua história e só o futebol traz esta democrática oportunidade de o menos bom ganhar frequentemente ao melhor. Porque, não restem dúvidas, o Benfica foi francamente melhor que o Bayer. A primeira parte pode até ter dado uma sensação de equilíbrio, nomeadamente porque a posse de bola até pendia para o lado alemão e o Bayer passou de facto largos momentos no meio-campo encarnado, mas no que toca a oportunidades os donos da casa levavam larga vantagem na ida para intervalo.
A pouco tempo do apito para descanso, Sudakov deu o mote para o que se esperava da segunda parte, correndo da esquerda para o meio a fintar alemães e isolando na direita Lukebakio, que não conseguiu ultrapassar o guarda-redes contrário; Aursnes ainda ofereceu segunda chance a Pavlidis, mas Badé fez corte milagroso.
Mourinho regressou a jogo com o mesmo onze, o que fazia todo o sentido porque as coisas estavam a resultar e o enguiço, dizia a lógica, haveria de ser quebrado. Só que veio uma oportunidade, veio uma segunda, chegou uma terceira... e nada. O Bayer ia fazendo pela vida, bem organizado e com o defesa-esquerdo Grimaldo a calcorrear campo inteiro procurando os desequilíbrios possíveis. E a verdade é que aos 65 minutos surgiu um, começado precisamente nos pés do espanhol ex-Benfica no flanco contrário ao habitual. Trubin defendeu uma bomba de Schick, mas uma tremenda infelicidade de Dahl fez com que o mau corte de cabeça fosse parar à cabeça do checo, e aí Trubin já nada poderia ter feito.
Mourinho mexeu. Entraram Schjelderup, Dedic e Prestianni. Veio maior velocidade, mas também atabalhoamento. A equipa sentiu em demasia a injustiça moral do golo alemão e não reencontrou frieza para prosseguir o seu jogo, estado progressivamente agravado pelas sucessivas perdas de tempo dos jogadores do Bayer e, obviamente, pelo andar do relógio. Pode dizer-se que o Benfica fez um bom jogo? Sim — porque o futebol tem uma lógica muito simples de entender mas também uma maravilhosa complexidade para compreender.
Alexandre Pereira, in a Bola
AS NOTAS DOS JOGADORES DO BENFICA
A figura: Tomás Araújo (6)
Tomás Araújo foi novamente titular no eixo da defesa do Benfica, deixando António Silva no banco dos suplentes, mas por vezes parecia que estaria a jogar como lateral ou médio, tal a ousadia e qualidade com que ajudava a alimentar o ataque. Rápido e tecnicamente evoluído, teve também de virar-se para trás e tapar buracos deixados por Aursnes: corte impecável logo ao minuto 11, quando Poku já tinha fugido ao norueguês. O Benfica viveu muito, sobretudo na primeira parte, da confiança em Tomás Araújo, que haveria de ter, todavia, a sua dose de responsabilidade no lance fatal do jogo: perdeu a marcação de Patrik Schick quando Grimaldo lançou o companheiro e o ponta-de-lança ainda disparou contra Trubin. O resto já não foi com ele e manteve o equilíbrio emocional até ao fim.
Trubin (5) — Jogo estranho para o ucraniano: não fez praticamente nada de difícil e perdeu com um golo esquisito. Ainda defendeu a primeira bola de Patrik Schick, mas a segunda tinha o selo. No jogo de pés não foi brilhante. Os mínimos.
Aursnes (3) — Fraco desempenho defensivo na primeira parte, sendo ultrapassado em velocidade ou em habilidade por Poku. Foi aparecendo com um bom passe aqui e ali — aos 43' e aos 61' entregou bem a Pavlidis —, contributo pobre em função das asneiras constantes e variadas. Não é um rematador nato e atirou muito mal quando estava em boa posição, já no segundo tempo, pouco depois errou um passe que obrigaria Lukebakio a cometer falta para amarelo. Era candidato fortíssimo à substituição, mas terminou o jogo como lateral-esquerdo, sem sinais de melhoras.
Otamendi (6) — Acertou na trave ao minuto 33, com uma boa cabeçada, e foi visto mais do que uma vez a apostar no passe ofensivo. Bem servido por Barreiro em cima do intervalo, rematou fraco, desperdiçando o que poderia ter sido um penálti em movimento. Até levou as mãos à cabeça. Do ponto de vista defensivo terá exagerado no jogo faltoso.
Dahl (3) — Estava relativamente seguro no jogo, parecia ter a situação controlada, foi visto inclusivamente a contribuir no ataque, mas cometeu um erro incrível, assistindo Schick para o 1-0, quando o obejtivo era simplesmente tirar a bola da frente da baliza.
Dahl (3) — Estava relativamente seguro no jogo, parecia ter a situação controlada, foi visto inclusivamente a contribuir no ataque, mas cometeu um erro incrível, assistindo Schick para o 1-0, quando o obejtivo era simplesmente tirar a bola da frente da baliza.
Richard Ríos (6) — Excelente passe de 50 metros a isolar Lukebakio aos 11 minutos, um disparo enquadrado ao minuto 13, mas à figura de Flekken, aos 26' deu largas ao seu jogo vertical e construiu um belo lance de ataque do Benfica. Na segunda parte sofreu mais, mas esteve sempre entre os melhores da sua equipa. No esforço e não só.
Barrenechea (4) — Nem sempre conseguiu ser tão esclarecido na recuperação e no passe quanto a equipa necessitaria. Não correu riscos ao nível do passe ou do remate, tornando o jogo da equipa bastante previsível.
Lukebakio (4) — Com um bocadinho mais de arte e discernimento teria saído do jogo com dois ou três golos. Para começar, acertou na trave, mas errou no gesto técnico, na reta final da primeira parte fez drible a mais e quando disparou já tinha Flekken em cima da bola. No segundo tempo, mais do mesmo, um pouco mais desastrado: perto do fim parecia em posição de fazer o 1-1, mas escorregou. Combinou algumas coisas boas com várias coisas más.
Barreiro (5) — Bruno Lage e José Mourinho têm gabado a capacidade para aparecer na área do adversário, mas na Alemanha era mesmo um 6. Por vezes falta arte para finalizar, mas sobra energia e generosidade. Fez bom passes, um deles a deixar Otamendi em posição de marcar, mas também perdeu uma boa ocasião frontal. Saiu quando era preciso inovar.
Sudakov (5) — Dois bons passes ofensivos e uma excelente jogada individual a deixar Lukebakio em posição de marcar. Mas passa muito tempo desaparecido.
Pavlidis (4) — Ficou zangado com Lukebakio aos 43', pois esperava o passe do belga, mas também não pode estar satisfeito com o seu jogo, claramente desinspirado, na finalização e não só.
Dedic (5) — Entrou aos 69', com vontade de acrescentar. Não se notou a paragem de 3 semanas e até passou mais tempo de olhos na área do Leverkusen do que na sua.
Prestianni (5) — Entrou aos 69', aos 86' deixou Lukebakio em posição de marcar, mas o belga não acertou na bola. Teve o mérito de enfrentar a coluna alemã mesmo correndo riscos.
Schjelderup (5) — Entrou aos 69' e foi muitas vezes procurado, mas o espaço não era muito. Não obstante, fez um bom passe para Prestianni aos 86' e aos 90+6' executou um cruzamento bem medido para Lukebakio.
Nuno Reis, in a Bola







Sem comentários:
Enviar um comentário